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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

29 outubro 2012

VOZES “SONANTES” JÁ DIZEM QUE OPOSIÇÃO AINDA NÃO É ALTERNATIVA…


VOZES “SONANTES” JÁ DIZEM QUE OPOSIÇÃO AINDA NÃO É ALTERNATIVA…

Engraçado, caricato?
Em 1975 a Frelimo estava preparada para assumir o poder?…

Beira (Canalmoz) - “Uma no cravo e outra na ferradura”? Há sinais de que alguns dos nossos intelectuais andam atrapalhados com os seus próprios pontos de vista e opiniões? Quando surpreendem pela positiva com posições inequivocamente a favor de Moçambique, logo em seguida são como que obrigados a retratar-se e avançar com proclamações preocupantes.
Essa de que a oposição ainda não é uma alternativa ao actual poder pode ser enquadrada nessa perspectiva.
Esta de que a oposição em Moçambique ainda não está preparada para ser poder é alarmante na medida em que induz o público mais ou menos distraído a aceitar sugestões potencialmente desviantes e dissuasoras.
Pode se afirmar o que se queira a respeito dos partidos políticos da posição e oposição em Moçambique. Quando se fala de plataformas visionárias ou da ausência delas de forma a convencer as populações ou reorientação de seu voto, parece que estamos em presença de uma estratégia apurada de condicionar a mentalidade dos leitores.
Quem após décadas de governação um partido ainda tem de apresentar resultados conflituantes quanto a situação nacional, estará sofrendo de que deficit? Será que o partido no poder é visionário ou é antes uma camuflagem lubrificada de utilização de recursos lícitos e ilícitos para a sua manutenção no poder?
Não é sustentável afirmar que a intelectualidade nacional, incluindo a academia e seus porta-vozes não estará demonstrando deficits graves de visão estratégica ao alinharem consecutivamente por caminhos que consubstanciam mediocridade programática, ética e moral sofrível e acomodação pura e simples a arranjos que os favorecem materialmente? Onde está a intelectualidade empurrando o carácter da governação no sentido de aumento de qualidade, de crítica acérrima a mecanismos desviantes de declaradamente corruptos? Onde está a denúncia sustentada de comportamentos e prática que prenunciam crimes contra a coisa pública? Onde está a demarcação concertada e debatida publicamente para com posições e praticas continuadas tendentes a lesar os interesses públicos?
Moçambique na verdade precisa da opinião de todos os seus filhos, com maiores ou menores qualificações académicas.
Gostamos de ouvir reitores, académicos com créditos firmados, surgindo na praça pública e actuando com toda a sua responsabilidade entanto que cidadãos deste Moçambique. Mas também é legítimo dizermos que temos suspeitas fundamentadas do que é dito por muitos dos mais credenciados membros da intelectualidade moçambicana. Vezes sem conta nos dão a perceber e incentivam os moçambicanos a desistirem de procurar melhores alternativas sob a justificação de que não estamos preparados para ter outra liderança ao nível governamental. É como coagir de maneira subliminar que se vote na continuação permanente de que tem governado o país desde a sua independência. Que cada um tenha as suas apetências ideológicas e que se posicione de acordo com elas não temos problema nenhum em compreender e aceitar. Essa é uma prerrogativa de que todos os moçambicanos gozam.
Outra coisa já bem diferente é tentar encurralar os moçambicanos e levá-los a acreditar que sem o partido actualmente no poder não temos qualquer hipótese. Essa é a tese do “imperativo” que o anterior chefe da Informação e Propaganda da Frelimo nos queria impingir. Essa é teses dos que se querem perpetuar no poder.
Programar palestras, organizar debates, lançar dados para que os moçambicanos embarquem numa discussão profícua de sua situação é um exercício de saudar. Isso e o envolvimento de todos levarão a um crescimento do entendimento que cada um de nós tem sobre os problemas do país.
Sem reducionismos e sem colocar a “carroça a frente dos bois” é possível melhorar o diálogo no país, de forma abrangente, geograficamente distribuída por todo o país, despertando consciências e promovendo a construção de uma visão moçambicana dos problemas que apoquentam o desenvolvimento nacional.
Brilhantismos  na esfera intelectual devem condizer e significar contribuição efectiva na descoberta das soluções mais eficazes para atacar o que são os nossos problemas.
Alguma acomodação estratégica da intelectualidade nacional  tem sido fatal para o aprofundamento da democracia em Moçambique. Quantas vezes este segmento esclarecido do país não se calou na generalidade sobre questões fulcrais como a fraude e manipulação eleitoral? Quantas vezes tiveram oportunidade de se oporem as práticas claramente ilegais, executadas por agentes partidários em período eleitoral? Que dizer sobre por exemplo a persistência de exibição de material de propaganda eleitoral partidária fora dos períodos para tal convencionados pela lei?
Que dizer da apatia ou silêncio da nossa intelectualidade em promover a disseminação dos conhecimentos que mais falta fazem entre a classe política nacional? Não é difícil atribuir culpas e acusar os outros de comportamentos manifestamente insuficientes naquilo que fazem. Difícil também não é diagnosticar doenças e outras mazelas no edifício político moçambicano, especialmente as fraquezas dos partidos políticos entanto que tais.
É conveniente e apropriado que se diga que os intelectuais moçambicanos não estão desassociados do país e que como cidadãos são membros de partidos políticos ou pelo menos tem as suas preferências.
Se temos lacunas nos partidos políticos e estes não estão produzindo pensamento político e análises pertinentes isso repercute-se na actuação de suas bancadas parlamentares e do Parlamento como um todo.
Sabe-se e é reconhecido que em Moçambique ao nível do Parlamento impera a ditadura do voto. Toda a legislação aprovada tem o selo da maioria parlamentar. Nesse sentido quando alguém vem a público defender que o pacote eleitoral deve ser exclusivamente discutido naquele fórum está claramente vendendo “peixe podre” aos cidadãos. Uma composição marcadamente definida segundo critérios partidários dos órgãos eleitorais e nesse sentido, reminiscência dos entendimentos alcançados aquando do Acordo de Paz de Roma produziu a actual estrutura da CNE e STAE. Como a actuação destes dois órgãos tem sido questionado e criticado em vários quadrantes da sociedade importa submeter a discussão popular, da sociedade civil e dos partidos políticos todo o pacote eleitoral. Há que descobrir-se uma fórmula em que as diversas forças políticas e organizações da sociedade civil se vejam representadas nos órgãos que afinal organizar os pleitos eleitorais, de onde sairão as decisões sobre quem governa o país. Quem tem medo de incluir mais moçambicanos neste processo? Quem tem receio de que uma paridade na representatividade no STAE, e CNE, sejam um meio para aprofundar a democracia em Moçambique?
A derrapagem da democracia e o progresso político estão e sempre serão em função daquilo que os políticos fazem ao nível dos procedimentos visíveis. Não vale a pena acalentar esperanças de que a situação evoluirá sem que haja um empenho acrescido da parte de todos os interlocutores.
É apreciável e necessário que mais vozes da intelectualidade nacional saíam da comodidade de seus gabinetes almofadados e se coloque à disposição do público. Aquela cultura de intervenção de cariz sociopolítico não é exclusividade dos políticos e seus partidos.
Se é importante seguir os bons exemplos deveríamos ver a intelectualidade e academia moçambicana aparecendo nas páginas dos jornais com suas opiniões periodicamente. Tony Blair e Brown ocupando ou não cargos governativos aparecem com frequência com suas opiniões em órgãos de comunicação social de massas. Mário Soares, antigo presidente português, não se inibe de escrever uma página de opinião na imprensa portuguesa. Governar ou dirigir uma instituição educacional de nível superior deve significar interagir cada vez mais e não um isolamento programado das pessoas envolvidas nesses nobres actos.
Com tendência defensiva ou orientados para uma crítica adulta todos são chamados participar nos debates nacionais.
Na capital do país e percorrendo o país todo, Moçambique quer e precisa de ver seus intelectuais fazendo a diferença a partir do que realmente conhecem e dominam. 
Se quisermos rebater uma suposta tese da inviabilidade estratégica da alternância da oposição como poder para este país, pequenos exemplos locais, as autarquias e todo o processo de descentralização decorrente de alterações legislativas no país, tem provado que a oposição conseguiu ultrapassar o discurso urbano e estabelecer formas de governo consentâneas com alguns dos interesses dos cidadãos munícipes. As sucessivas demissões de governadores provinciais e ministros não eleitos mas nomeados, pode ser utilizada como exemplo de que algumas das escolhas do “experimentado” partido no poder em Maputo são pouco visionárias. Não culpemos de falta de visão alguém quando esse não é o caso. Um diagnóstico errado ou pouco acertado é o caminho mais rápido para erros na terapia.
“Entupir” os moçambicanos com teses e declarações fantasiadas de uma realidade que não corresponde aos factos é enganador.
Espera-se muito mais da intelectualidade do que servir de “correia de transmissão” de visões erróneas e perspectivas dúbias.
Sem a coragem dos partidos da oposição em batalharem em condições por vezes demasiado desniveladas, a situação moçambicana seria decerto monocromática. 
Aqueles receios de que existam tendências ditatoriais se cultivando em determinados quadrantes já estariam confirmados e em execução. 
Da mesma maneira que o governo tem responsabilidade pelo que acontece no país, os partidos políticos da posição e da oposição tem a suas “culpas no cartório”.
A academia e os intelectuais jamais se poderão eximir do que está acontecendo porque parte da incapacidade de agir nos diversos sectores e segmentos resulta da incipiência na formação que os moçambicanos obtêm nas universidades e institutos superiores de Moçambique. 
Importa sabermos ler as culpas mesmo quando elas nos pertencem… (CanalMoz, 30 de Outubro de 2012

EFEITO “DHLAKAMA-GORONGOSA” JÁ SE FAZ SENTIR…


EFEITO “DHLAKAMA-GORONGOSA” JÁ SE FAZ SENTIR…


- E os intelectuais moçambicanos começam a ouvir-se diferentemente…

Beira (Canalmoz) - Até é bom que haja e surjam vizinhos e membros da SADC se preocupando com o potencial de violência que pode deflagrar em Moçambique após o líder da Renamo ter retornado para as matas da Gorongosa.
Não se pode tratar de ânimo leve de um assunto como este. Se alguém está calado ou opta pelo silêncio talvez faça isso como acto deliberadamente estratégico. E nisso de estratégia há muito que se pode dizer. Alguns passos de governos vizinhos face a conflitos em outros países como se viu na RDC, envolveram exércitos da Namíbia, Angola, Zimbabwe. Mesmo depois de tanta intervenção externa a situação na RDC é tudo menos estável. Isso significa em termos práticos que uma estratégia baseada em alianças entre líderes políticos regionais, remanescentes da defunta guerra-fria não tem hipóteses de triunfar no novo contexto geostratégico internacional.
Em Moçambique, durante todo o período da guerra civil, viu-se tropas do Zimbabwe, Tanzânia, especialistas de Cuba, RDA, URSS assistindo o governo da Frelimo no seu confronto contra a Renamo. Mas os resultados de tanta concentração de meios e inteligência militares tiveram resultados em tudo pouco significativos na correlação de forças no país e na região em que se situa Moçambique.
Alguns dos pronunciamentos provenientes de Harare e presentes numa das últimas edições do “Herald” são prenúncio de uma opinião que pode consubstanciar contactos que já devem estar acontecendo entre facções do governo zimbabweano e o governo de Maputo. Ninguém está proibido de fazer conjecturas ou de fazer suposições. O passado recente da zona austral de África está intimamente ligado as alianças estabelecidas pelos antes movimentos de libertação, agora quase todos eles suportes de governos no poder.
Muitas das posições que tomam os governos tem a ver com considerações estratégicas geralmente associadas a sua manutenção no poder e não propriamente a alguma projecção estratégica de outro tipo.
Não pode fugir da mente dos cidadãos que um novo conflito em Moçambique conheceria rapidamente a intervenção de vários governos em socorro do governo de Maputo. As aspirações hegemónicas regionais de Angola poderiam rapidamente servir de suporte a acções combinadas das Forças Armadas do Zimbabwe com apoio em armamento e financeiro do governo de Luanda. A África do Sul, potência regional indiscutível haveria de querer manter o seu status e procuraria empurrar Angola para fora do conflito. Isto são tudo considerações ou opiniões sobre futuros cenários na região. Se nada é definitivo nem concreto num momento como este isso não deve significar e muito menos convencer-nos de que vivemos numa paz e estabilidade duradoura. Por causa de algum excesso de uma das partes a situação poderá conhecer outros desenvolvimentos e desembocar em acções militares de vulto.
Mas uma guerra em Moçambique e algo a evitar a todo o custo porque teria efeitos no processo de democratização do Zimbabwe para além de travar todo o processo idêntico no nosso país.
Começam a surgir vozes alertando para a repetição do cenário angolano em que Jonas Savimbi foi fisicamente eliminado depois de processos eleitorais mal concluídos. Em Moçambique pode ser que alguém esteja convencido de que a manutenção no poder, num quadro em que não se realizem eleições, pode ser conseguida pela via de recusa a um diálogo com a liderança da Renamo. Nada pode ser descartado no actual panorama.
Será que o silêncio de Maputo é sinal de que está concertando com outras entidades de relevo, nacionais e internacionais, que lhe terão sossegado quanto a um desfecho em seu favor deste imbróglio?
Quando em Maputo um académico da craveira do Dr. Lourenço do Rosário, habitualmente tido como próximo do regime, confirma a legitimidade de algumas das revindicações do líder da Renamo, seria desejável que o governo de Maputo o escutasse. Já não são aquelas canções repetidas de que Dhlakama é um “incendiário, anti-democracia, deslocado no tempo”. Os porta-vozes do regime de Maputo já foram desmentidos por algumas vozes locais, mas com gente do calibre do L. Rosário juntando-se àqueles que discordam deles, o jogo discursivo ganha outra consistência e significado.
Neste momento “a bola está definitivamente do lado” do governo da Frelimo. Não há como negar de que Dhlakama tomou algumas decisões estratégicas importantes. A sua validade e importância só poderão ser avaliadas a posteriori. Não há dúvidas de que se assistiam a manobras dilatórias de uma parte em detrimento de posições antes tomadas e divulgadas. O que discutiram antes em Nampula que é tao difícil de implementar?
Numa atitude habitual de desprezo, silêncio, adiamento, estratégia de “facto consumado” um a parte está abertamente consolidando suas posições na esfera económico-financeira enquanto um dos signatários do histórico AGP tem seus membros na maioria agonizando na miséria mais atroz.
A situação moçambicana tanto pode ser vista como simples como complexa. A verdade indica que existem todos os ingredientes para confeccionarem-se todos os tipos de “sopa”.
Seria sabedoria que as partes iniciassem-se no mais curto espaço de tempo conversações secretas do estilo Israel-Palestina em país seguro. Ou que de maneira aberta sem subterfúgios e “cartas na manga” esclarecessem aos moçambicanos que estão falando e tratando dos fundamentos para a manutenção da paz e estabilidade em Moçambique.
Portugal, Itália, EUA, China, Rússia, Reino Unido, Alemanha, entanto países influentes em Moçambique e com linhas de contacto no governo de Maputo e na Renamo, deveriam estar abertamente mais preocupados com o desenrolar dos acontecimentos. Não se pode permitir que um conflito potencial não seja prevenido. Nos EUA há eleições e em Portugal registam-se complicações relacionadas com uma profunda crise financeira. As preocupações daqueles governos está em problemas domésticos mas uma potência de cariz internacional ou um país como Portugal profundamente ligado a Moçambique e a outras antigas colónias em África, não se pode dar ao luxo de não emitir sinais visíveis e claros de sua posição, face aos novos desenvolvimentos em Moçambique. Não se iludam os estrategas governamentais nem seus consultores porque a situação moçambicana, dada a precariedade institucional, dúvidas abertas quanto a capacidade dissuasora efectiva do exército governamental e da PRM, reservas militarizadas da Renamo e reconfiguração da sua cadeia de comando militar, podem rapidamente degenerar em guerra aberta.
Não se trata simplesmente de deixar as coisas ao cuidado dos interlocutores internos numa situação com o potencial de explodir e passar para países vizinhos. Malawi, Zimbabwe, África do Sul, Tanzânia, RDC, Angola serão inexoravelmente empurrados para qualquer conflito armado que seja desencadeado em Moçambique.
Este é um momento em que friamente se devem tomar todas decisões que dizem respeito a Moçambique e aos moçambicanos. Convém que os políticos moçambicanos se compenetrem da importância vital e estratégica do diálogo franco e aberto numa situação como a que se vive neste momento.
Muitos anos passaram-se em que o engano e o protelar foram as armas ou instrumentos políticos utilizados.
A herança que Armando Guebuza recebeu de Joaquim Chissano foi um dossier jamais finalizado do AGP. E se algumas questões fulcrais dos AGP não foram tratadas atempadamente, terá sido por concertação no seio da Frelimo de que AEG também faz parte?
Hoje poderão surgir vozes acusando AEG de “casmurrice política” mas convém que se diga que foi toda uma liderança da Frelimo quem escolheu o caminho dos atalhos e dos jogos encobertos como forma de lidar coma Renamo.
Do lado da Renamo terá havido falta de traquejo diplomático e negocial contrariando abertamente sua capacidade militar estabelecida e reconhecida.
Os moçambicanos não podem continuar reféns de intenções e de práticas de políticos com objectivos confinados aos seus interesses pessoais.
Não queiram interromper o jogo democrático numa altura que se mostra claro que a correlação de forças tende a favor de novas forças políticas.
É altura de apelar a todos os políticos moçambicanos para que não se desenterre o “machado de guerra”. Nenhum deles por mais mordomias, regalias, mansões, contas bancárias, património industrial e de outra natureza terá oportunidade de gozar e beneficiar-se disso uma vez abertas as comportas dantescas da violência.
Moçambique clama por tolerância, responsabilidade, dialogo sem pré-condições, sobre todo o tipo de questões apresentadas por qualquer que seja o partido político.
Neste cenário em que os partidos militarizados, Frelimo e Renamo, pretendem voltar a bipolarizar o poder em Moçambique, importa que os outros partidos entendam a situação na sua magnitude e definam o tipo de acção política e diplomática a encetar para contrariar esta situação lastimosa.
Só nós moçambicanos é que podemos tratar dos nossos assuntos.
Os outros querem simplesmente nossos recursos minerais e o mais barato possível… (CanalMoz -29 de Outubro de 2012 -Noé Nhantumbo)

25 outubro 2012

CURSE ON THE LAND: A HISTORY OF THE MOZAMBICAN CIVIL WAR


CURSE ON THE LAND: A HISTORY OF THE MOZAMBICAN CIVIL WAR

By David Alexander Robinson, BA (Hons)

This thesis is presented for the degree of Doctor of Philosophy of History for The University of Western Australia (School of Humanities, Discipline of History,2006).

Preface
I would like to thank those who have supported and assisted me during the  production of this thesis, especially my friends and colleagues at the University of Western Australia, my family, and my partner Lindsay who has most closely witnessed and shared the joys and tribulations of my doctoral experience. I express my gratitude to my supervisors Professor Norman Etherington and Dr Jeremy Martens, who have given me guidance and feedback without smothering my initiative, to all the staff in UWA’s
Discipline of History who have facilitated my candidature, and to Convocation – the  UWA Graduates’ Association, who provided me with the 2003 Postgraduate Travel Award which greatly enhanced my experience of travel and research in southern Africa.
I would also like to thank all those scholars who have provided me with any level of assistance in my research, including: Ned Alpers, University of California, Los Angeles; João Cabrita; Michel Cahen, Montesquieu University, Bordeaux; João Paulo Borges Coelho, Universidade Eduardo Mondlane; Paul Fauvet, Agencia de Informação de Moçambique; Karen Harris, University of Pretoria; David Hedges, Universidade  Eduardo Mondlane; Carrie Manning, Georgia State University; Malyn Newitt, King’s
College, University of London; Carolyn Nordstrom, University of Notre Dame, Indiana; and André Thomashausen, University of South Africa. Special thanks must go to the  employees of the South African Foreign Affairs Archive, who went out of their way to make me welcome, and to Colin Darch at the University of Cape Town, without whose  advice and resources this thesis would not have been possible.
Writing this doctoral thesis over the last four years has been more than a research project; it has been a way of life and a period of personal growth. The journey has been intellectually challenging, exciting and enjoyable, but sometimes also stressful, lonely and  heartbreaking. Exploring Mozambican history has forced me to reassess my beliefs about ideology, religion, good, evil, misery and happiness, and gave me the opportunity to see some of the beautiful continent of Africa. I hope that my research will in some way  benefit the people of Mozambique, and will make a worthwhile contribution to the study  of African history.

Veja a tese na íntegra


DESTACADOS MEMBROS DA FRELIMO CONTRADIZEM-SE EM PÚBLICO


DESTACADOS MEMBROS DA FRELIMO CONTRADIZEM-SE EM PÚBLICO

“Processo de Nachingwea”

Sérgio Vieira confirma existência da «Ordem de Acção n. 5/80»


É sabido que as execuções das vítimas do conhecido Processo de Nachingwea, tiveram lugar nas cercanias da estrada que liga M’telela a Chiputo, no Niassa. Quem conduziu os presos ao local foi o comissário político do Ministério da Segurança-SNASP, Major Abel Assikala. Este integrava uma delegação de alto nível que se deslocou propositadamente a M’telela em viaturas oficiais do governo provincial do Niassa, na altura tutelado por Aurélio Manave. As ordens foram transmitidas pelo então vice-ministro da segurança, Salésio Teodoro Nalyambipano, em cumprimento de uma decisão tomada pelo Bureau Político do Partido Frelimo.
As recentes entrevistas que o jornalista Jeremias Langa da STV efectuou a destacados membros do Partido Frelimo trouxeram de novo à ribalta as execuções sumárias de  vítimas daquilo que já é conhecido no país e no estrangeiro como o “Processo de Nachingwea”. Reproduzidas no diário «O País», edição de 25 de Junho do corrente, as entrevistas com Óscar Monteiro e Sérgio Vieira demonstram que, no fundo, o regime continua a actuar de forma dolosa em relação a uma das páginas mais negras da história contemporânea da nossa jovem nação.
Questionado sobre a «Ordem de Acção n.º 5/80» do Ministério da Segurança-SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular), da qual consta o seu nome no âmbito da execução sumária de destacadas figuras políticas nacionais, Óscar Monteiro começou por afirmar tratar-se de “um documento fictício inventado por Jorge Costa”, o ex-director nacional da segurança que pediu asilo político à África do Sul em 1982. Monteiro foi peremptório ao afirmar perante as câmeras de televisão, e uma vez mais referindo-se à referida “Ordem de Acção”, que “esse documento não existe”.
Contrariando Óscar Monteiro, o coronel na reserva, Sérgio Vieira, afirmou no decurso da entrevista conduzida pelo director do matutino «O País» que a “Ordem de Acção” existia, pois, segundo as suas próprias palavras, “foi publicado na época”, para depois ser ainda mais preciso: “Não foi publicado agora, foi publicado na época. Foi uma decisão da Comissão Política (NR.: então Bureau Político) para a publicação dessa ordem face à gravidade dos acontecimentos”. Interrogado pelo entrevistador se a «Ordem de Acção n.º 5/80» teria aparecido antes ou depois da execução dos prisioneiros, Sérgio Vieira declarou que “possivelmente deve ter sido publicada depois”, repisando a seguir: “Mas existia”.
Tanto Sérgio Vieira como Óscar Monteiro tentaram durante a entrevista apresentar as execuções sumárias de M’telela como uma decisão tomada à revelia da direcção do Partido Frelimo. Segundo Vieira, “é que aquela foi uma decisão de uma camarada, que não interessa o nome agora”, acrescentando: “Ele próprio, sem consultar ninguém, teve a ideia de levar os prisioneiros para uma zona onde haveria um ataque da Rodésia e executar os prisioneiros”.
Recorrendo ao mesmo argumento, Óscar Monteiro declarou na entrevista a que temos vindo a fazer referência, que as execuções sumárias haviam sido uma decisão de “pessoas que tinham [os prisioneiros] à guarda, penso que seja da responsabilidade de quem esteve com eles lá”.
Na realidade, a decisão foi tomada pela direcção do Partido Frelimo. O próprio Marcelino dos Santos, número dois da hierarquia dessa formação política à altura das execuções sumárias, declarou de forma insofismável ao jornalista Emílio Manhique da TVM que tais matanças haviam sido um acto de “justiça altamente popular”. Na entrevista, transmitida por aquele canal televisivo a 19 de Setembro de 1997, Marcelino dos Santos explicou da seguinte forma o raciocínio da direcção do seu partido ao ordenar as execuções extrajudiciais:
“...e depois sobreveio a acção, a tentativa do inimigo de buscar elementos moçambicanos descontentes, em particular aqueles que pudessem ser-lhes bastantes úteis. Então, aquela consciência que nós tínhamos inicialmente de que são traidores e que, portanto, deveriam ser executados. Bom, numa certa medida podemos dizer que surgiram as condições que forçaram a implementação de uma preocupação e de um sentimento muito, muito, muito antigo...”
São, pois, claras as palavras de Marcelino dos Santos, e que lançam por terra as teses de Sérgio Vieira e Óscar Monteiro de que alguém, que convenientemente não identificam, havia agido isoladamente e à revelia da direcção do Partido Frelimo. É sabido que as execuções tiveram lugar nas cercanias da estrada que liga M’telela a Chiputo, na província do Niassa. Quem conduziu os presos ao local foi o comissário político do Ministério da Segurança-Snasp, Major Abel Assikala. Este integrava uma delegação de alto nível que se deslocou propositadamente a M’telela em viaturas oficiais do governo provincial do Niassa, na altura tutelado por Aurélio Manave. As ordens foram transmitidas pelo então vice-ministro da segurança, Salésio Teodoro Nalyambipano, em cumprimento de uma decisão tomada pelo Bureau Político da formação política, que à luz da Constituição em vigor, assumia-se como “força dirigente do Estado e da sociedade” e de cujo elenco constava o nome de Óscar Monteiro.
É destituída de qualquer lógica a afirmação de Sérgio Vieira de que o tal “camarada que não interessa o nome agora” tenha levado “os prisioneiros para uma zona onde haveria um ataque da Rodésia e executar os prisioneiros”. Chiputo, que dista cerca de 50 km do campo de reeducação de M’telela, é, portanto, uma zona muito aquém do teatro onde se desenrolaram as operações da guerra do nosso país com a Rodésia, aquando da luta pela Independência do Zimbabwe. Já antes, mais concretamente em 1988, Sérgio Vieira afirmara perante membros da comunidade moçambicana residente em São Francisco da Califórnia que as personalidades políticas abrangidas pelo «Processo de Nachingwea» haviam sido mortas no Niassa pela guerrilha da Renamo. Este movimento, note-se, apenas iniciou as suas acções armadas na Província do Niassa em 1983, mais de 4 anos após as execuções decretadas pelo regime do Partido Frelimo, à revelia dos tribunais e sem que a lei da pena de morte tivesse sido aprovada pelo parlamento então existente.

CANAL DE MOÇAMBIQUE – 14.07.2010

O GIGANTE DE MANJACAZE (1944-1990)


O GIGANTE DE MANJACAZE (1944-1990)

O Gigante no funeral de Salazar nos Jerónimos

Com o tempo, muitos acontecimentos que tornaram Moçambique referência para Portugal e mundo vão se perdendo. São vários eventos, alguns dos quais diziam respeito ao aspecto físico de moçambicanos que se tornavam distintos. Um deles foi o Gabriel Estêvão Monjane (Mondlane), apelidado de Gigante de Manjacaze. Media 2,45 metros de altura. Veio a perder a vida em 1990. O Gigante de Manjacaze foi notícias na imprensa moçambicana, que se tornou distinto justamente por ser gigante. Manuel da Silva Ramos, poeta e ficcionista português, com a obra “Viagem com um Branco no Bolso”, o romance, veio a marcar de forma documentada a vida de Gabriel Estêvão Mondlane. De acordo com fontes documentais, nesse romance Ramos analisa criticamente a exploração a que esteve sujeito o Gigante, explorado por empresários e promotores de espectáculos no período colonial. (In, Diário de Moçambique, 23-06-11).

24 outubro 2012

ENDURECIMENTO DE POSIÇÕES É IGUAL A POLÍTICAS OBTUSAS E INCONGRUENTES


ENDURECIMENTO DE POSIÇÕES É IGUAL A POLÍTICAS OBTUSAS E INCONGRUENTES

Corporações internacionais estão sendo uma das causas…

Beira (Canalmoz) – Os negócios dos recursos minerais em países como Moçambique podem ser olhados sob vários prismas. Quando se atribui importância estratégica a esses recursos minerais entram logo em jogo interesses de diversos actores e cada um procura de maneira activa “puxar a brasa para a sua sardinha”.
De um silêncio inicial quanto a existência potencial de recursos minerais estratégicos para a economia mundial, Moçambique foi como que descoberto pelos principais actores internacionais. E quem se julga ligado aos interesses corporativos julga-se insuflado e protegido. Mas Mobutu também estava e quando chegou a altura de ser considerado uma peça “avariada”, os contratos de exploração dos recursos começaram a ser assinados por Laurent Kabila mesmo antes das suas forças alcançarem Kinshasa…
Mas convém que os moçambicanos abram os olhos e reflictam sobre os assuntos de maneira adulta. Ninguém se preocupou e drenou fundos e recursos para que se alcançasse a paz em Moçambique, só porque os moçambicanos eram “meninos e meninas bonitas”.
Internacionalmente, os principais pesquisadores de minerais sabiam perfeitamente que o Canal de Moçambique e países como a Tanzânia e o Quénia, Moçambique, Sudão e outros estavam situados em bacias importantes e com potencial de possuírem carvão, gás natural, petróleo e outros minerais.
A diplomacia das chancelarias ocidentais envolvidas no processo de pacificação de Moçambique sempre esteve informada sobre o que existia e a importância estratégica das reservas dos diferentes minerais.
A implantação de megaprojectos por um lado traz algum desenvolvimento de infraestruturas, sistemas de comunicação e estabelecimentos habitacionais ou turísticos, algumas receitas para o Cofre do Estado mas existe todo um outro lado que importa estudar e conhecer. Só que todos os esforços empreendidos nessa direcção acabam jogando um papel que se entremeia entre a política e a economia.
O endurecimento de posições políticas em Moçambique, as reclamações relacionadas com os megaprojectos, a arrogância com alguns políticos se manifestam e se apresentam ao público, a relutância em dialogar abertamente e sem subterfúgios, podem em conjunto ser classificadas como o outro lado da moeda. Quando alguns dizem que os recursos minerais podem ser a maldição de um país possuem alguma razão pois isso tem sido o caso com a maioria dos países africanos onde se descobrem e exploram recursos minerais.
Toda a Primavera Árabe é uma amostra inquestionável de como um regime político autocrático, inflexível, procurando por todos meios perpetuar-se no poder toma conta dos recursos naturais de um país e controla toda a estrutura de exploração e exportação. Fortunas incomensuráveis constituíram-se e promoveram a emergência de ditaduras formidáveis baseadas e sustentadas pelo controlo dos recursos minerais de países como a Líbia.
Se um governo pode obter equipamento militar, gás lacrimogéneo, armas, munições, aviões de guerra, helicópteros, fardamentos e tudo o que se refira a logística militar, com base em créditos facilitados e garantidos por recursos minerais, concedidos por países como a China, rapidamente alguns dos integrantes de tal governo, podem começar a pensar e a julgar que são omnipotentes e omnipresentes. A megalomania é um fenómeno de rápida geração e desenvolvimento.
Se os financiamentos para o Orçamento Geral do Estado continuam a fluir a partir das capitais ocidentais e se as avaliações ou apreciações que são dadas ao país continuam a ser de elogios isso pode obscurecer a vista de algumas pessoas ingénuas. É fácil elogiar quem domina reservas de gás natural muito importantes, sobretudo quando tal elogio vem de quem possui uma das maiores companhias mundiais de exploração de gás e petróleo.
Quem se julga poder absoluto dificilmente terá a predisposição de escutar os outros ainda mais numa situação em que os financiamentos fluem e os agentes de créditos internacionais não param de bater a sua porta oferecendo isto e aquilo.
A deslocação de um núcleo da liderança da Renamo juntamente com seu líder, Afonso Dhlakama para as matas da Gorongosa é um sinal preocupante indicativo de que internamente não estão acontecendo aqueles diálogos difusores de tensões e com capacidade e potencial de reunir consensos. Todos os castelos e sonhos construídos com base nos recursos minerais descobertos e explorados em Moçambique podem rapidamente entrar em derrapagem.
Com infelicidade indisfarçável o mês de Outubro, emblemático simbolicamente, pois a 4 de Outubro, há vinte anos atrás o governo da Frelimo e a Renamo assinaram o Acordo de Paz. Terminava assim uma guerra fratricida alimentada por tendências hegemónicas, intolerância política e alguma cegueira política. Algum aparente poderio militar e apoios externos convenceram o governo da altura, de que poderia confrontar-se e ter êxito contra uma guerrilha embrionária. Esta guerrilha evoluiu com apoios multifacetados, desde Bona a Nairobi, passando por Pretória e Lisboa. A guerra civil revelou-se com o prolongamento ou sequela da guerra fria. Seus apoiantes situavam-se todos na esfera de influência ou dos EUA ou da Rússia.
Porque o fim da guerra não foi corolário da emergência de uma atitude e postura de debate e diálogo aberto dos problemas nacionais, a solução de questões importantes, contidas em alguns dos protocolos do Acordo de Roma foram sendo adiadas. Rapidamente se instalou um sistema de governação baseado na rapina do que tivesse algum valor. Os governantes aproveitaram-se das fraquezas institucionais e estabeleceram sistemas de corrupção eficientes que os levaram a acumular riquezas vistosas em muito pouco tempo.
Os cuidados e a atenção que assunto como a promoção da tolerância política, estabelecimento de instituições credíveis para organização dos pleitos eleitorais, a organização de um exército e polícia despartidarizados foram sendo adiados por conveniência de quem exercia o poder em Maputo. Mas assunto não resolvido não morre.
Ninguém em pleno uso de suas faculdades mentais e analíticas poderá afirmar que Afonso Dhlakama reclama sem sentido e razão quando se refere ao dossier militar, FADM e PRM. Foram ou não colocados na reserva grande parte dos oficiais provenientes da guerrilha? Onde está a maioria do oficialato proveniente da Renamo?
Que acções de reintegração social permanente dos ex-guerrilheiros ocorreram e ocorrem?
O discutido e suspeito pacote eleitoral pode e deve ser alterado para acomodar todos os interesses dos partidos ou não? Não é claro e evidente que com a actual Lei Eleitoral, com o STAE e CNE como são e estão o beneficiário é a Frelimo?
No importante sector económico e financeiro o que acontece é que o governo age e actua de maneira deliberadamente suspeita, ao encobrir todos os actos relacionados com a autorização de exploração de recursos minerais em Moçambique. Afinal quem restringe o público de ter conhecimento dos grandes dossiers da economia moçambicana não está de maneira alguma interessado em ver a democracia política e económica singrando no país. Em nome da verdade e da objectividade, alguns dos nossos proeminentes analistas políticos e comentadores televisivos tem de admitir pelo alguma vez que a razão também reside em outros quadrantes.
Há uma plataforma que foi instalada e lubrificada, que funciona em pleno na arena económica. Através do controlo da economia a liderança da Frelimo coloca-se em posição de “ditar regras” na esfera política.
Obviamente que os políticos de outros partidos mesmo que estivessem distraídos tomaram conhecimento da situação vigente no país. Participante no conflito que a opôs ao governo, a Renamo surge como a mais interessada em discutir os pontos que julga estarem a prejudicar seus membros e organização em si.
O governo da Frelimo terá fabricado ou moldado um pacote informativo para consumo público que apresente Afonso Dhlakama como “eterno desestabilizador”.
Mas nem todos os moçambicanos acreditam nas sucessivas montagens apresentadas nos órgãos de comunicação pública e daqueles afectos à Frelimo.
Há provas substanciais de que a Renamo possui alguma razão nas suas reclamações. Se a objectividade é o critério utilizado é obrigatório dar razão onde ela existe. A Deus o que é de Deus e a César o que a este pertence”.
Há que reconhecer e é de extrema importância que os políticos tenham ponderação e o cuidado necessário para abordar e tratar dos problemas do país conforme eles se apresentam. Posições de força ou a exibição da força podem fazer resvalar todos os ganhos recentes no capítulo do desenvolvimento país.
O Parlamento moçambicano é chamado a intervir e a manifestar posições em defesa dos cidadãos e da estabilidade nacional. Os representantes do povo são chamados a revelarem-se como moçambicanos eleitos para salvaguardar e defender os direitos dos moçambicanos. Os “toques subtis” de uma aparente legalidade nos seus actos devem conduzir o governo para o diálogo que se mostra urgente e necessário.
Não é altura de exibirem dotes retóricos ou qualidade verbal de vulto. O mais importante é trabalhar-se no sentido de conciliarem-se posições e respeitarem-se os direitos de todos os moçambicanos.
A macrocefalia actual, a base oligárquica que se estruma nos recursos naturais do país e nas facilidades de saque directo dos cofres do estado, as trafulhices que são toleradas e promovidas, a exclusão dos outros e o arregimentamento de boa parte da comunicação social do país, só servirão para adiar o que será o “Verão Africano” um dia… (Noé Nhantumbo- CanalMoz-24 de Outubro de 2012)

23 outubro 2012

CONSCIÊNCIA NACIONAL, DEMOCRATIZAÇÃO E CONFLITO POLÍTICO: SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE GUINÉ-BISSAU E MOÇAMBIQUE


CONSCIÊNCIA NACIONAL, DEMOCRATIZAÇÃO E CONFLITO POLÍTICO: SEMELHANÇAS  E DIFERENÇAS ENTRE GUINÉ-BISSAU E MOÇAMBIQUE

Por Ricardino J. Dumas Teixeira (UFPE, Brasil)
ricardino_teixeira@hotmail.com

Resumo 
Este trabalho debate a consciência nacional, a democratização e o conflito político vivenciados pela sociedade e pelo Estado guineense e moçambicano durante o processo de construção do Estado nacional, bem como suas implicações nas recentes experiências de institucionalização da democracia minimalista-liberal que resultou num acentuado processo de diferenciação e pluralização de identidades e de atores sociais e políticos. Queremos entender, especificamente, o conflito entre a identidade nacional e as identidades étnicas surgido das tentativas do primeiro em controlar politicamente
estas últimas durante a construção do nacionalismo. Não obstante a essa tentativa da homogeneização das diferenças étnicas e regionais,  o discurso proto-nacionalista que defendia, pelo menos em termos da retórica, a bandeira da unidade nacional, mostrou-se insuficiente com a proliferação e a reconfiguração identitária dos grupos étnicos que as ideologias nacionalista-revolucionárias tentaram abafar ou reduzir a meros instrumentos ideológicos da luta de classes dentro do Estado burocrático-autoritário.
Palavras-chave: Consciência nacional, Conflito, Democracia.

CONSTRUIR UMA NAÇÃO: IDEOLOGIAS DE MODERNIDADE DA ELITE MOÇAMBICANA


CONSTRUIR UMA NAÇÃO: IDEOLOGIAS DE MODERNIDADE DA ELITE MOÇAMBICANA


Por Jason Sumich

INTRODUÇÃO
Um dia, durante o meu trabalho de campo em Maputo, a capital moçambicana, tive uma conversa com uma amiga, Josina. Na altura eu investigava a formação da elite governante de Moçambique e os seus modos de auto-reprodução social. Os pais de Josina tinham estado envolvidos na luta pela libertação, tornando-se membros destacados da FRELIMO após a independência (1). Embora alguns membros da sua família tenham militado num movimento revolucionário socialista, Josina autodefine-se como uma capitalista fervorosa e durante a nossa conversa defendeu reformas neoliberais puras e duras para Moçambique. Quando exprimi as minhas dúvidas de que semelhante modelo pudesse ajudar os mais pobres, ou seja, a esmagadora maioria da população, Josina respondeu que o meu problema era estar profundamente equivocado em relação à natureza da sociedade moçambicana. Na sua opinião, os pobres não tinham falta de oportunidades — simplesmente, não estavam interessados nelas.

THE ORIGINS OF MOZAMBIQUE’S LIBERALIZATION, A REASSESSMENT OF FRELIMO’S EARLY YEARS


THE ORIGINS OF MOZAMBIQUE’S LIBERALIZATION, A REASSESSMENT OF FRELIMO’S EARLY YEARS

by Geert Poppe
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A Dissertation Presented to the  FACULTY OF THE GRADUATE SCHOOL  UNIVERSITY OF SOUTHERN CALIFORNIA In Partial Fulfillment of the   Requirements for the Degree  DOCTOR OF PHILOSOPHY  (INTERNATIONAL RELATIONS)


ABSTRACT
The recent history of Mozambique is one of turbulent change. Having moved  through colonialism, scientific socialism and civil war the country has now become a paragon of successful economic and political liberalization. Immoveable amid all  these transformations stands FRELIMO, Mozambique’s sole ruling party since independence. Its protean nature reflects the changes imposed upon Mozambican
society: erstwhile a broad-based liberation movement, first after independence it declared itself a Marxist-Leninist vanguard party, now it is widely credited for success of the liberal reforms. This study consists of three distinct parts that aim to contribute to a historical understanding of FRELIMO as an autonomous actor in its country’s development. Chapter I addresses the current state of Mozambique and  takes issue with deterministic accounts, whether describing FRELIMO’s liberalization policy as a foreign ploy or hampered by a culture of patrimonialism  alien incompatible with modern rationality. Instead it argues that liberalization is a profoundly political process whose understanding requires knowledge of the local  dynamics; its course not wholly idiosyncratic, typically African or Mozambican in
nature. FRELIMO was presented once in historiography as modern and nationalist;  qualities portrayed as depending on its commitment to Marxism. Such unitary view,  unsuited to explain the recent change and post-Marxist present, now requires reexamining. Chapter II reviews FRELIMO’s internal struggles, political and  administrative organization, economic and foreign policies prior to its Third Party  Congress of 1977. Marxist-Leninist vanguardism, generally presented as the result of  a collective evolution by the movement, appears from it far from a foregone vi conclusion suggesting an alternative tradition existed within FRELIMO. Chapter III identifies two groups with distinct ‘social trajectories’ that influenced their
respective world views and have continued to exist within FRELIMO: a small core of committed Marxist, mainly consisting of non-blacks, gathered around President  Machel whose ideological perspective was greatly influenced through their contact with the Marxist opposition to the Salazar regime while students in Portugal and a group of Africans associated with the Protestant Missions in Mozambique. The latter  represent a more liberal, nationalist modernizing strain within the party that became  the principal agent of Mozambique’s liberalization.

GUEBUZA DESTACA PAPEL DA IGREJA PRESBITERIANA DE MOÇAMBIQUE (IPM) NA AFIRMAÇÃO DO NACIONALISMO MOÇAMBICANO


GUEBUZA DESTACA PAPEL DA IGREJA PRESBITERIANA DE MOÇAMBIQUE (IPM) NA AFIRMAÇÃO DO NACIONALISMO MOÇAMBICANO

Centro Junod em Ricatla-Marracuene


O Presidente da República, Armando Guebuza, enalteceu hoje o papel da Igreja Presbiteriana de Moçambique (IPM) pelo seu papel na afirmação do nacionalismo moçambicano, elemento que foi fundamental para a libertação do país do colonialismo português. 
A IPM é a atinga Missão Suíça, organização que surgiu em Moçambique em 1887 na sequência das expedições de missionários europeus para África. Hoje, os milhares de crentes e simpatizantes da IPM provenientes de diversos pontos do país e do estrangeiro juntaram-se na Paróquia da Antioca, distrito de Magude, para celebrar o jubileu da igreja pela passagem dos 125 anos após a sua criação.
Igualmente, esta cerimónia, que foi celebrada sob o lema “125 Anos: Transformando Vidas em Jesus Cristo”, contou com a presença de membros do governo, encabeçados pelo Chefe do Estado, Armando Guebuza.
Falando na ocasião, Guebuza disse que a Missão Suíça desempenhou um papel fundamental na cristalização da matriz identitária e na forja do nacionalismo em Moçambique, ao despertar e acarinhar a vontade dos moçambicanos libertarem-se da dominação estrangeira.

“Desde os seus primórdios, a igreja realizou trabalhos que culminaram com o desenvolvimento e padronização da ortografia das línguas africanas com que entrava em contacto. O primeiro livro publicado em Tsonga foi o Buku la Xikwembu (Livro de Deus), em 1883”, disse Guebuza.
Segundo referiu, a publicação do livro foi um passo importante para o início de alfabetização nestas línguas, um programa em que esta igreja também foi pioneira. Nesse mesmo quadro, a Missão Suíça iniciou a formação de professores para a alfabetização e para o ensino primário.
Contudo, Guebuza lembrou que o Decreto 168 de Agosto de 1929 viria a impor muitas restrições à construção, localização e gestão dessas escolas e às qualificações para ser professor das mesmas. 
Em consequência disso desse decreto, segundo o presidente, muitas escolas foram encerradas e centenas de alunos perderam a oportunidade de ter alguma formação.
“É no contexto destas restrições que interpretamos a introdução dos ‘mintlawa’, em 1932, mecanismo que se viria a revelar como alternativa não-formal, mas eficiente, porque inspirado e informado pela nossa cultura”, disse o estadista moçambicano.
Na ocasião, o Chefe de Estado sublinhou que “os ‘mintlawa’ cultivavam o sentido de liderança; hierarquia; e de higiene e aprumo dos seus membros e organização interna do grupo; bem como a cooperação; o respeito mútuo; o sigilo; e a solidariedade entre os seus membros”.
Igualmente, a Missão Suíça realizou estudos etnográficos, sociológicos e antropológicos sobre a população que evangelizava, o que permitia a documentação dos sistemas de valores e as tradições dessas comunidades.
O Presidente da República disse igualmente que a Missão Suíça integrava as igrejas que comungavam do ecumenismo, uma prática que contribuiu para o florescimento da consciência de unidade entre moçambicanos crentes de diferentes igrejas.
A título de exemplo, ele disse que o Núcleo dos Estudantes Secundários Africanos de Moçambique (NESAM) foi fruto dessa unidade entre os moçambicanos. Esta organização foi criada em 1949 pelo nacionalismo moçambicano Eduardo Mondlane, obreiro da unidade nacional.
“Devido aos seus ensinamentos progressistas e libertadores, a Igreja Presbiteriana de Moçambique foi o berço de muitos nacionalistas que se juntaram à FRELIMO, a força política que este ano celebra o seu jubileu de ouro, a força política que mobilizou e enquadrou os moçambicanos para lutar pela liberdade e independência”, disse Guebuza.
O estadista moçambicano também destacou o facto de a IPM não se limitar a divulgação do evangelho, já que parte das suas paróquias possuem escolas, internatos e hospitais, o que permite a aquisição de novos saberes úteis na comunidade e locais de combate e tratamento de doenças.
Uma das maiores igrejas do país, a IPM começou as suas actividades em Moçambique na Missão de Ricathla, distrito de Marracuene, província de Maputo, na altura ainda com a designação de Missão Suíça. Por muitos anos, esta igreja esteve apenas a operar nas províncias de Maputo e Gaza, sul do país, mas agora está presente em todo o país, contando com mais de cem mil crentes.
No âmbito social, esta igreja intervém nas áreas da saúde, incluindo no combate ao SIDA, no abastecimento de água, bem como na educação através da construção e gestão de escolas, incluindo as do ensino vocacional e profissional e oferta de bolsas de estudo.
MM/le
AIM – 15.07.2012
NOTA:
Leia aqui, de Severino Elias NGOENHA, Lusotopie 1999, pp. 425-436,  “Os missionários suíços face ao nacionalismo moçambicano - Entre a tsonganidade e a moçambicanidade“: Download Missionariossuicos_ngoenha
Interessante esta passagem:
“Eduardo Mondlane, figura por excelência do nacionalismo moçambicano, era um chope, grupo que resistiu heroicamente, quer ao último rei nguni, Ngungunhane, quer aos portugueses. Mesmo depois da derrota, os chopes nunca aceitaram a submissão, preferindo muitas vezes um exílio voluntário na África do Sul. No Chitlango, filho de chefe (Clerc & Chitlango Khambane 1990), Mondlane, membro das elites inconformistas chopes, teria recebido da sua mãe o mandato de ir à escola dos brancos, para aprender o que Cheik Hamidou Kane (1961) na Aventura ambígua chama a « arte de ganhar sem ter razão ». Como Samba Diallo de C.H. Kane, Mondlane teria ido à escola europeia (a missão protestante) em obediência a lógicas nativas.”
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE