VOZES “SONANTES” JÁ DIZEM QUE OPOSIÇÃO AINDA
NÃO É ALTERNATIVA…
Engraçado, caricato?
Em 1975 a Frelimo estava preparada para
assumir o poder?…
Beira
(Canalmoz) - “Uma no cravo e outra na ferradura”? Há sinais de que alguns dos
nossos intelectuais andam atrapalhados com os seus próprios pontos de vista e
opiniões? Quando surpreendem pela positiva com posições inequivocamente a favor
de Moçambique, logo em seguida são como que obrigados a retratar-se e avançar
com proclamações preocupantes.
Essa
de que a oposição ainda não é uma alternativa ao actual poder pode ser
enquadrada nessa perspectiva.
Esta
de que a oposição em Moçambique ainda não está preparada para ser poder é
alarmante na medida em que induz o público mais ou menos distraído a aceitar
sugestões potencialmente desviantes e dissuasoras.
Pode
se afirmar o que se queira a respeito dos partidos políticos da posição e
oposição em Moçambique. Quando se fala de plataformas visionárias ou da
ausência delas de forma a convencer as populações ou reorientação de seu voto,
parece que estamos em presença de uma estratégia apurada de condicionar a
mentalidade dos leitores.
Quem
após décadas de governação um partido ainda tem de apresentar resultados
conflituantes quanto a situação nacional, estará sofrendo de que deficit? Será
que o partido no poder é visionário ou é antes uma camuflagem lubrificada de
utilização de recursos lícitos e ilícitos para a sua manutenção no poder?
Não é
sustentável afirmar que a intelectualidade nacional, incluindo a academia e
seus porta-vozes não estará demonstrando deficits graves de visão estratégica
ao alinharem consecutivamente por caminhos que consubstanciam mediocridade
programática, ética e moral sofrível e acomodação pura e simples a arranjos que
os favorecem materialmente? Onde está a intelectualidade empurrando o carácter
da governação no sentido de aumento de qualidade, de crítica acérrima a
mecanismos desviantes de declaradamente corruptos? Onde está a denúncia
sustentada de comportamentos e prática que prenunciam crimes contra a coisa
pública? Onde está a demarcação concertada e debatida publicamente para com
posições e praticas continuadas tendentes a lesar os interesses públicos?
Moçambique
na verdade precisa da opinião de todos os seus filhos, com maiores ou menores
qualificações académicas.
Gostamos
de ouvir reitores, académicos com créditos firmados, surgindo na praça pública
e actuando com toda a sua responsabilidade entanto que cidadãos deste
Moçambique. Mas também é legítimo dizermos que temos suspeitas fundamentadas do
que é dito por muitos dos mais credenciados membros da intelectualidade
moçambicana. Vezes sem conta nos dão a perceber e incentivam os moçambicanos a
desistirem de procurar melhores alternativas sob a justificação de que não
estamos preparados para ter outra liderança ao nível governamental. É como
coagir de maneira subliminar que se vote na continuação permanente de que tem
governado o país desde a sua independência. Que cada um tenha as suas
apetências ideológicas e que se posicione de acordo com elas não temos problema
nenhum em compreender e aceitar. Essa é uma prerrogativa de que todos os
moçambicanos gozam.
Outra
coisa já bem diferente é tentar encurralar os moçambicanos e levá-los a
acreditar que sem o partido actualmente no poder não temos qualquer hipótese.
Essa é a tese do “imperativo” que o anterior chefe da Informação e Propaganda
da Frelimo nos queria impingir. Essa é teses dos que se querem perpetuar no
poder.
Programar
palestras, organizar debates, lançar dados para que os moçambicanos embarquem
numa discussão profícua de sua situação é um exercício de saudar. Isso e o
envolvimento de todos levarão a um crescimento do entendimento que cada um de
nós tem sobre os problemas do país.
Sem
reducionismos e sem colocar a “carroça a frente dos bois” é possível melhorar o
diálogo no país, de forma abrangente, geograficamente distribuída por todo o
país, despertando consciências e promovendo a construção de uma visão
moçambicana dos problemas que apoquentam o desenvolvimento nacional.
Brilhantismos
na esfera intelectual devem condizer e significar contribuição efectiva na
descoberta das soluções mais eficazes para atacar o que são os nossos problemas.
Alguma
acomodação estratégica da intelectualidade nacional tem sido fatal para o
aprofundamento da democracia em Moçambique. Quantas vezes este segmento
esclarecido do país não se calou na generalidade sobre questões fulcrais como a
fraude e manipulação eleitoral? Quantas vezes tiveram oportunidade de se oporem
as práticas claramente ilegais, executadas por agentes partidários em período
eleitoral? Que dizer sobre por exemplo a persistência de exibição de material
de propaganda eleitoral partidária fora dos períodos para tal convencionados
pela lei?
Que
dizer da apatia ou silêncio da nossa intelectualidade em promover a
disseminação dos conhecimentos que mais falta fazem entre a classe política
nacional? Não é difícil atribuir culpas e acusar os outros de comportamentos
manifestamente insuficientes naquilo que fazem. Difícil também não é
diagnosticar doenças e outras mazelas no edifício político moçambicano,
especialmente as fraquezas dos partidos políticos entanto que tais.
É
conveniente e apropriado que se diga que os intelectuais moçambicanos não estão
desassociados do país e que como cidadãos são membros de partidos políticos ou
pelo menos tem as suas preferências.
Se
temos lacunas nos partidos políticos e estes não estão produzindo pensamento político
e análises pertinentes isso repercute-se na actuação de suas bancadas
parlamentares e do Parlamento como um todo.
Sabe-se
e é reconhecido que em Moçambique ao nível do Parlamento impera a ditadura do
voto. Toda a legislação aprovada tem o selo da maioria parlamentar. Nesse
sentido quando alguém vem a público defender que o pacote eleitoral deve ser
exclusivamente discutido naquele fórum está claramente vendendo “peixe podre”
aos cidadãos. Uma composição marcadamente definida segundo critérios partidários
dos órgãos eleitorais e nesse sentido, reminiscência dos entendimentos
alcançados aquando do Acordo de Paz de Roma produziu a actual estrutura da CNE
e STAE. Como a actuação destes dois órgãos tem sido questionado e criticado em
vários quadrantes da sociedade importa submeter a discussão popular, da
sociedade civil e dos partidos políticos todo o pacote eleitoral. Há que
descobrir-se uma fórmula em que as diversas forças políticas e organizações da
sociedade civil se vejam representadas nos órgãos que afinal organizar os
pleitos eleitorais, de onde sairão as decisões sobre quem governa o país. Quem
tem medo de incluir mais moçambicanos neste processo? Quem tem receio de que
uma paridade na representatividade no STAE, e CNE, sejam um meio para aprofundar
a democracia em Moçambique?
A
derrapagem da democracia e o progresso político estão e sempre serão em função
daquilo que os políticos fazem ao nível dos procedimentos visíveis. Não vale a
pena acalentar esperanças de que a situação evoluirá sem que haja um empenho
acrescido da parte de todos os interlocutores.
É
apreciável e necessário que mais vozes da intelectualidade nacional saíam da
comodidade de seus gabinetes almofadados e se coloque à disposição do público.
Aquela cultura de intervenção de cariz sociopolítico não é exclusividade dos
políticos e seus partidos.
Se é
importante seguir os bons exemplos deveríamos ver a intelectualidade e academia
moçambicana aparecendo nas páginas dos jornais com suas opiniões
periodicamente. Tony Blair e Brown ocupando ou não cargos governativos aparecem
com frequência com suas opiniões em órgãos de comunicação social de massas.
Mário Soares, antigo presidente português, não se inibe de escrever uma página
de opinião na imprensa portuguesa. Governar ou dirigir uma instituição
educacional de nível superior deve significar interagir cada vez mais e não um
isolamento programado das pessoas envolvidas nesses nobres actos.
Com
tendência defensiva ou orientados para uma crítica adulta todos são chamados
participar nos debates nacionais.
Na
capital do país e percorrendo o país todo, Moçambique quer e precisa de ver
seus intelectuais fazendo a diferença a partir do que realmente conhecem e
dominam.
Se
quisermos rebater uma suposta tese da inviabilidade estratégica da alternância
da oposição como poder para este país, pequenos exemplos locais, as autarquias
e todo o processo de descentralização decorrente de alterações legislativas no
país, tem provado que a oposição conseguiu ultrapassar o discurso urbano e
estabelecer formas de governo consentâneas com alguns dos interesses dos
cidadãos munícipes. As sucessivas demissões de governadores provinciais e
ministros não eleitos mas nomeados, pode ser utilizada como exemplo de que
algumas das escolhas do “experimentado” partido no poder em Maputo são pouco
visionárias. Não culpemos de falta de visão alguém quando esse não é o caso. Um
diagnóstico errado ou pouco acertado é o caminho mais rápido para erros na
terapia.
“Entupir”
os moçambicanos com teses e declarações fantasiadas de uma realidade que não
corresponde aos factos é enganador.
Espera-se
muito mais da intelectualidade do que servir de “correia de transmissão” de
visões erróneas e perspectivas dúbias.
Sem a
coragem dos partidos da oposição em batalharem em condições por vezes demasiado
desniveladas, a situação moçambicana seria decerto monocromática.
Aqueles
receios de que existam tendências ditatoriais se cultivando em determinados
quadrantes já estariam confirmados e em execução.
Da
mesma maneira que o governo tem responsabilidade pelo que acontece no país, os
partidos políticos da posição e da oposição tem a suas “culpas no cartório”.
A
academia e os intelectuais jamais se poderão eximir do que está acontecendo
porque parte da incapacidade de agir nos diversos sectores e segmentos resulta
da incipiência na formação que os moçambicanos obtêm nas universidades e
institutos superiores de Moçambique.
Importa
sabermos ler as culpas mesmo quando elas nos pertencem… (CanalMoz, 30 de Outubro de 2012