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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

13 novembro 2012

UMA FOTOGRAFIA COM HISTÓRIA


UMA FOTOGRAFIA COM HISTÓRIA

Presidente Joaquim Chissano e Vladimir Novoselov (mecânico de bordo do Tupolev 134-A que despenhou em Mbuzini)


A imagem que aqui se reproduz foi publicada na primeira página do diário «Notícias» de Maputo. A edição é de 6 de Novembro de 1986. Como se lê na legenda, o Presidente Joaquim Chissano está sentado ao lado de Vladimir Novoselov, Mecânico de Bordo do Tupolev 134-A, que se despenhara em Mbuzini cerca de duas semanas antes, com o Presidente Samora Machel a bordo. Segundo a reportagem do «Notícias», Chissano havia-se deslocado à Missão Comercial soviética em Moçambique para apresentar cumprimentos de despedida a Novoselov no mesmo dia em que este partiu para Moscovo.
Para a maioria dos leitores, a partida de Novoselov, a 5 de Novembro, não tinha significado especial. À primeira vista, tratava-se do regresso de um cooperante ao país de origem, se bem que em circunstâncias diferentes dos demais.
Cerca de 10 anos mais tarde, porém, a saída de Novoselov adquiria outros contornos.
Em 2007, Jacinto Veloso, ex-ministro da segurança e ex-membro do Bureau Político do Partido Frelimo, publicou em Maputo «Memórias em Voo Rasante». No livro, Veloso revela que quando elementos da comissão moçambicana de inquérito quiseram interrogar Novoselov, o pessoal da segurança da embaixada da URSS impediu-os.
Foram alegadas razões médicas óbvias e até houve a promessa de que, quando o tripulante estivesse recuperado e fora do estado de choque, a parte moçambicana poderia entrevistá-lo.”
Veloso, que era membro da Comissão de Inquérito nomeada pelo governo moçambicano para investigar as causas do acidente de Mbuzini, acrescenta que “dois ou três dias depois, um dos membros da comissão de inquérito foi ao hospital para saber como estava o tripulante.
Com enorme espanto, constatou que o pessoal da embaixada já o havia evacuado para Moscovo.
A Comissão de Inquérito de Moçambique protestou e pediu para ir a Moscovo falar com o tripulante, mas a embaixada informou que isso não era aconselhável e que as autoridades soviéticas iriam fazer o inquérito e transmitir as respostas às questões colocadas pela parte moçambicana.”
A concluir, Jacinto Veloso afirma que “até hoje, pelo que sei, a parte ex-soviética não transmitiu qualquer informação sobre o assunto. Haveria algo a esconder ou tratou-se de simples negligência?”
Nos finais de Novembro e princípios de Dezembro de 1986, encontravam-se em Moscovo, como parte das investigações do acidente de Mbuzini, peritos moçambicanos e sul-africanos. Apresentaram à parte soviética um pedido formal em nome das delegações do Estado de Registo da aeronave sinistrada (Moçambique) e do Estado de Ocorrência do acidente (África do Sul) para que fosse organizada uma entrevista com Vladimir Novoselov.
Os soviéticos impediram uma vez mais que Novoselov prestasse declarações, alegando não haver meios para levar os investigadores a Leninegrado, a cerca de 400 km de Moscovo.
Não era a primeira vez que Moscovo escondia provas no âmbito de investigações de acidentes aéreos. Três anos antes do acidente de Mbuzini, um Boeing 747 das Linhas Aéreas Coreanas (KAL), que seguia de Nova Iorque para Seul, era abatido por um Su-15 soviético por ter penetrado uma zona proibida do espaço aéreo da União Soviética.
De início, as autoridades de Moscovo negaram ter conhecimento do caso, mas mais tarde admitiram ter abatido o avião por alegadamente encontrar-se em missão de espionagem.
Não foi possível aos investigadores da ICAO determinar com exactidão as circunstâncias do desastre pois não haviam conseguido encontrar as caixas negras do Boeing 747 sul-coreano. Estas já haviam sido recolhidas pela marinha de guerra soviética no fundo do Mar da Japão, mas disso as autoridades da URSS não informaram a ICAO, nem o país de registo do avião abatido.
Nove anos mais tarde, já depois do colapso da União Soviética, o presidente russo, Boris Yeltsin, entregou ao governo da Coreia do Sul as caixas negras do avião. Na altura, Yeltsin divulgou cinco memorandos, com a classificação de «Muito Secretos», contendo comunicações do chefe da KGB, Viktor Chebrikov, e do Ministro da Defesa, Dmitriy Ustinov, para o secretário-geral do PCUS, Yury Andropov. Os memorandos recomendavam que a descoberta das caixas negras fosse mantida secreta uma vez que os dados delas extraídos não corroboravam a alegação soviética de que o Boeing 747 da KAL encontrava-se em missão de espionagem no momento em que havia sido abatido.
A decisão do governo soviético de não permitir que Vladimir Novoselov prestasse declarações a membros das comissões de inquérito moçambicana e sul-africana, tem uma explicação: Novoselov era a testemunha inconveniente, a testemunha idónea dos erros flagrantes cometidos por ele e pelos colegas que tripulavam o avião e que viriam a causar o desastre de Mbuzini; uma testemunha que não podia corroborar a existência do VOR falso, desde o início inventada pela União Soviética como forma de lavar as mãos de um acidente da exclusiva responsabilidade de uma tripulação que Moscovo havia fornecido ao Estado moçambicano.
Uma tese que nem sequer conjugava com as constatações dos investigadores da comissão de inquérito moçambicana, mas que seria avalizada pelo poder político em Moçambique: esse mesmo poder que foi cúmplice na ocultação de provas, permitindo que uma testemunha chave do acidente – o Mecânico de Bordo – partisse de Maputo para Moscovo quando sabia de antemão que ela era solicitada a prestar declarações à Comissão de Inquérito que ele próprio havia nomeado.
Está-se, pois, perante uma cabala envolvendo, ao mais alto nível, o poder político em Maputo, incluindo o actual Presidente da República, Armando
Guebuza, indigitado em Outubro de 1986 para encabeçar a Comissão de Inquérito moçambicana.
Uma cabala que o regime tem vindo a promover desde a primeira hora através da AIM, que segundo uma tese académica de Yvonne Clayburn (Soviet disinformation strategy as applied to Samora Machel death crash), agindo em consonância com o aparelho de propaganda soviético. Para melhor entender os contornos da cabala, é imprescindível a leitura de um outro livro de memórias, este da autoria de Sérgio Vieira, igualmente membro dessa Comissão de Inquérito e que à altura do acidente de Mbuzini era ministro da Segurança (SNASP).
A páginas 49 do livro, «Participei, por isso testemunho», fazendo tábua rasa da prova documental da saída de Novoselov de Maputo para Moscovo, tal como vem estampada na primeira página do «Notícias», diz o autor ao referir-se ao Mecânico de Bordo que havia sobrevivido ao acidente:
“Na saída do tripulante soviético para a URSS directamente da África do Sul, onde esteve hospitalizado, em nada houve envolvimento moçambicano, acordou-se entre as autoridades médicas soviéticas e sul-africanas.” E a rematar o exercício de desinformação, pergunta Sérgio Vieira: “Estariam os dirigentes de Pretória em conivência com Moscovo?”
Segundo o jornal «The Star» de Joanesburgo, edição da tarde de 29 de Outubro de 1986, Vladimir Novoselov, acompanhado da esposa, Nadejna Novoselov, e de um médico, seguiu para Maputo num voo regular da LAM que partiu do Aeroporto Internacional de Jan Smuts pelas 10h15 da manhã do mesmo dia.
A chegada de Novoselov a Maputo foi confirmada pelo «Notícias» na edição do dia seguinte.
A esposa de Novoselov havia chegado a Pretória no dia 22 de Outubro, tendo aparecido em público acompanhada de Nikolai Karpenko, segundo secretário da Embaixada da União Soviética em Maputo.
Funcionários desta embaixada, enviados a Pretória, impediram que membros da Comissão de Inquérito sul-africana entrevistassem, livremente, o tripulante soviético. 

Canal de Moçambique – 07.11.2012


“QUEREMOS DIZER A GUEBUZA VOCÊ COME BEM, NÓS TAMBÉM QUEREMOS COMER BEM”


- Afonso Dhlakama em entrevista à Agência France Press (AFP)

Maputo (Canalmoz) – A partir de Gorongosa, Afonso Dhlakama concedeu entrevista à uma das maiores agências de notícias do mundo, a AFP (Agence France Press) onde pela primeira vez desde que recolheu para as matas de Gorongosa, disse que está disposto a retornar a guerra.
“Eu preparo homens e, se for preciso, sairemos daqui e destruiremos Moçambique”, disse Afonso Dhlakama na entrevista que concedeu “em exclusivo” à AFP.
Na mesma notícia, Dhlakama é citado a dizer que “nós queremos dizer a Guebuza que você come bem. Nós também queremos comer bem”, numa alusão à partilha equilibrada da riqueza.
Aliás, a notícia da AFP, cujo título é “Ex-líder guerrilheiro ameaça voltar a pegar em armas em Moçambique”, inicia destacando que Dhlakama quer lutar pela partilha da riqueza do País que está a ser abocanhada pela Frelimo.
“O ex-comandante da guerrilha moçambicana Afonso Dhlakama ameaçou nesta segunda-feira retomar a luta armada para combater o governo da Frelimo, acusando a formação de se apoderar de todas as riquezas do país”, é assim como inicia a notícia.
Recorde-se que há duas semanas, um dos mais temidos estrategas de guerra ainda vivo em Moçambique, o general Hermínio Morais, concedeu entrevista o semanário Canal de Moçambique onde afirmou que a decisão de Dhlakama ir se alojar em Gorongosa não é uma decisão política, mas sim uma decisão militar tomada pelos ex-guerrilheiros da Renamo. (Redacçao/AFP - http://www.afp.com/pt/node/672347)


12 novembro 2012

OS ESQUEMAS DAS EMPRESAS FANTASMAS DAS ELITES DA FRELIMO*


OS ESQUEMAS DAS EMPRESAS FANTASMAS DAS ELITES DA FRELIMO*

Por Centro da Integridade Pública


Maputo (Canalmoz) - A corrida ao empreendedorismo por parte da elite política e económica nacional encontra-se no seu auge: diariamente acedemos a informações dando conta do surgimento de mais um empreendimento ou possível investimento económico por parte deste grupo privilegiado.
Recorrendo à Base de Dados de Interesses Empresariais como uma ferramenta útil da divulgação dos interesses empresariais da elite política, o Centro de Integridade Pública (CIP) saiu à rua ao encontro dos endereços físicos de algumas das empresas que constam na mesma e que possuem as suas sedes sociais devidamente identificadas no Boletim da República (BR) no acto da sua publicitação, como também procuramos estabelecer contacto telefónico recorrendo à lista telefónica da Empresa Telecomunicações de Moçambique, EP.

Aires Ali

A primeira sociedade que procuramos contactar foi a “Futuro Investimentos, SA (FUI, SA) ” que tem na sua estrutura accionista o ex-Primeiro-Ministro Aires Ali, segundo o BR nº 49, III Série, 4º Supl. De 15 de Dezembro de 2009 – pág. 1106 –(88). Esta empresa, que tem a data da escritura no dia 4 de Dezembro de 2009, possui a sua sede social na Av. Mahomed Siad Barre nº 821 r/c. No endereço físico referenciado existe uma empresa denominada SERMUNDO cujos colaboradores afirmam estar naquele local há mais de 5 anos e nunca sequer ouviram falar da “Futuro Investimentos, SA”.

Inocêncio Matavel

O BR nº 18, III Série, 2º Supl. de 6 de Maio de 2011 – pág. 426 – (42) apresenta a constituição da sociedade “Imobiliária Pequenos Libombos, Lda.”. A empresa em questão tem como um dos sócios o ex-Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Instituto Nacional de Segurança Social
(INSS), Inocêncio António Matavel e tem a sua sede social em Umpala, distrito de Boane, Província de Maputo.
O CIP procurou estabelecer o contacto telefónico com esta empresa, o que não foi possível pelo facto de os seus contactos não constarem da lista telefónica, o que nos obrigou a deslocarmo-nos ao distrito de Boane, mais concretamente à localidade de Umpala de modo a aferir como estão a decorrer as actividades da mesma. No local, ninguém soube informar a nossa equipa de pesquisa acerca da localização desta empresa, tendo as pessoas contactadas se pronunciado no sentido de nunca terem tomado contacto ou lido algo relacionado com a mesma. Um aspecto a tomar em consideração reside no facto de o INSS quando foi dirigido pelo Sr. Inocêncio Matavel ter negociado uma casa para o mesmo e nunca se ter sabido a designação da empresa imobiliária que liderou o processo.

John Kachamila

A sociedade “CCM General Mining, Lda.” cujo anúncio de constituição consta no BR nº 23, III Série, Supl., de 9 de Junho de 2011 – pág. 566 – (9), tem como um dos sócios o Sr. John William Kachamila, ex-ministro dos Recursos Minerais e actual PCA da Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos (CMH), empresa de direito privado, detida em 70 % pela companhia pública Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) e em 20 % pelo Estado Moçambicano. Esta sociedade apresenta no BR a sua sede social na Av. Vladimir Lénine nº 130/3. No entanto, a sociedade em causa, tal como as anteriormente mencionadas, não está no endereço físico mencionado e nunca ninguém ouviu falar dela.

Castigo Langa

Ainda na cidade de Maputo procuramos o endereço da “Mozouro Recursos, Lda.”, sociedade cuja data de escritura é de 19 de Abril de 2010, segundo o BR nº 21, III Série, 4 Supl. de 1 de Junho de 2010 – pág. 414 –(54), estando a sua sede social na Av. 24 de Julho nº 1391 R/C. Esta empresa tem na sua estrutura de sócios o ex-ministro dos Recursos Minerais, o Sr. Castigo José Correia Langa. Para não fugir à regra, a Mozouros também não é localizável no endereço físico constante no BR e muito menos na lista telefónica.
Compulsando a lista das empresas que constam da Base de Dados de Interesses Empresariais, poderíamos arrolar muito mais casos de sociedades ligadas a figuras da elite política e económica local que simplesmente são sociedades “James Bond(1)” ou de “mala posta”, não possuindo toda a organização de factores de produção para o exercício de uma actividade económica.

Sérgio Pantie

Um caso por demais elucidativo que pode ajudar a compreender toda uma lógica por detrás da formação destas sociedades pode ser encontrado na Base de Dados em referência, analisando o caso do recentemente eleito pelo 10° Congresso do Partido Frelimo como membro da Comissão Política o Sr. Sérgio José Camunga Pantie, este que no dia 10 de Maio de 2012 junto com mais dois sócios, Zahid Ahmedali Bandali e Fatimabay Amirali Kassamali Malú, constituíram 8 sociedades todas com interesses no sector mineiro, nomeadamente: Greenstone Geo Resources, Lda.; Golden
Globe Exploration, Lda.; Mozim Natural Resources, Lda.; Mozambique Minerals, Lda.; Mozambique Mines, Lda.; Manica Mining Corporation, Lda.; Golden Sands Minerals Lda.; Africa Exploration, Lda.
Na cidade de Nampula percorremos a Avenida Paulo Samuel Khamkhomba, endereço que consta no BR nº 21, III Série, de 23 de Maio de 2012, como sendo a sede social destas empresas. Como se afigurava impossível a localização das mesmas, deslocamo-nos à Direcção Provincial dos Recursos Minerais, mais concretamente aos serviços de cadastro mineiro, sendo que no local fomos informados que nenhuma destas empresas se encontrava registada, o que não poderia acontecer se elas já estivessem a operar, uma vez que, segundo a informação que nos foi possível recolher, é função desta direcção, após o registo e cadastro das empresas mineiras, conduzi-las ao local onde irão efectuar a prospecção de modo a apresentá-las à comunidade, procedimento realizado de forma a evitar conflitos entre as partes.
Os exemplos acima arrolados podem de certa forma mostrar o padrão de acumulação da elite política nacional, que se encontra intimamente ligada à detenção de licenças em sectores estratégicos para posterior leilão ou partilha com potenciais investidores estrangeiros numa clara estratégia de rent-seeking. (*Título da responsabilidade do Canalmoz)

(1) Sociedades cuja existência se resume na documentação oficial da sua constituição, não possuem escritórios, recursos humanos, materiais e muito menos financeiros para o exercício da actividade económico-empresarial.
Veja na integra o documento: www.cip.org.mz/cipdoc/171_Servi%C3%A7o%20de%20Partilha%20de%20Informa%C3%A7%C3%A3o%20n%C2%BA%2019_2012.pdf

A GUERRA COLONIAL (RTP), DE JOAQUIM FURTADO




O endurecimento da guerra em Moçambique vai determinar o aparecimento de situações novas e novos protagonistas. O caso de missionários espanhóis que acusam tropas portuguesas e rodesianas de atrocidades na zona de Mucumbura. Acabam por ser presos, tal como dois padres portugueses que reproduziram essas denúncias nas suas missas: Joaquim Sampaio e Fernando Mendes, párocos da Igreja do Macúti, que são julgados e condenados em Tribunal Militar. Eles e outros ex-reclusos contam como se vivia na Cadeia da Machava, a prisão da DGS por onde passaram milhares de pessoas ao longo dos anos e que podemos ver através de filmagens surpreendentes existentes no Arquivo da RTP. O governo português persegue e expulsa de Moçambique muitos missionários e padres que, com a sua atitude perante a guerra, entram em ruptura com a hierarquia da Igreja.
Veja em
http://www.macua1.org/guerrajf/guerrajf27.wmv


 A guerra chega a Tete!
Isso inquieta a Rodésia e a África do Sul que estreitam a cooperação militar com Portugal.
Para controlar as populações, os portugueses promovem o seu aldeamento forçado.
A Frelimo ataca…
A disciplina dos movimentos armados, inclui o recurso a fuzilamentos.

A GUERRA (RTP), DE JOAQUIM FURTADO - EPISÓDIO 25 (VIDEO)

Na Guiné, de destacar o período marcado pela morte de Amílcar Cabral e o subsequente recrudescimento do conflito.
Recebendo novos meios, como os mísseis terra-ar "Strela", o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) condiciona a manobra portuguesa.
Isola e ataca quartéis como Guidage e Gadamael e obriga ao abandono de Guileje.


A GUERRA(RTP), de Joaquim Furtado - Episódio 28 (Video)

A Operação Marosca, conduzida por comandos portugueses, ficou para a história como o massacre de Wiriyamu.
A enfermeira Djamila Dessai, acompanhava o director do Hospital de Tete, o médico José da Paz, a partir daí silenciado pela Pide/DGS.
Os relatos dos missionários chegaram à imprensa internacional, abalando o governo de Marcelo Caetano.

Veja em

Para ver  os episodios ( 1 a 24) clica em http://www.macua1.org/guerrajf/aguerra.html

LIVRO “FRELIMO 50 ANOS DE HISTÓRIA” LANÇADO NA AUSÊNCIA DA FRELIMO


LIVRO “FRELIMO 50 ANOS DE HISTÓRIA” LANÇADO NA AUSÊNCIA DA FRELIMO

 Memórias em livro.
“Frelimo 50 anos de história, 20 depoimentos que marcaram uma época” é título de um livro lançado, na última sexta-feira, pelo grupo Soico em parceria com a Texto Editores. Trata-se de uma obra de 303 páginas, que traz testemunhos de personalidades que viveram os primórdios da fundação da Frelimo e o desencadear da luta pela independência nacional, a construção do Estado moçambicano e as mudanças ideológicas até à instauração da democracia. É, na verdade, uma obra que deve servir de fonte de consulta de historiadores, por se tratar de um livro que retrata, de forma singular, as vivências dos 20 autores dos depoimentos nas várias etapas da história do país.
O veterano da luta de libertação nacional, Sérgio Vieira, em representação dos autores dos testemunhos presentes no acto, defendeu a necessidade da divulgação da história de Moçambique, através de testemunhos de quem participou na luta pela independência e na construção do Estado, para garantir que as gerações vindouras tenham referências (…). “se o nosso testemunho não for registado, o testemunho do inimigo será registado. Muitos oficiais, carrascos da Rodésia e da África do Sul do apartheid escreveram sobre a história de Moçambique. Nós não somos um povo sem história, o que necessitamos é que se faça o registo para que não se perca nas brumas do tempo”, afirmou Sérgio Vieira.
A mesma posição é fendida por outros camaradas seus que narraram as histórias reflectidas no livro. “Uma obra com estes depoimentos é um livro de memórias. Aquilo que ficou de história singular de cada um de nós é importante para as gerações vindouras, para que tenham ideia não das pessoas, apenas das situações daquilo que representou a luta do povo moçambicano pela sua independência”, frisaram os autores.
O PAÍS – 12.11.2012


11 novembro 2012

Mia Couto: activismo político também é feito com literatura


Mia Couto: activismo político também é feito com literatura
Público acompanhando a conversa do Mia Couto
Poeta, jornalista e biólogo moçambicano participou da luta pela independência de seu país

Sob a laje de um sobrado no Jardim São Luís, bairro de periferia na zona Sul de São Paulo, mais de cem pessoas se acomodavam para escutar atentamente e com confesso deslumbramento uma palestra informal do poeta, biólogo e jornalista moçambicano Mia Couto, autor de obras como “Terra Sonâmbula” (Cia. Das Letras, 1992 (1ª ed.), 208 pgs.), de passagem pelo Brasil para a divulgação de seu mais recente livro, “A Confissão da Leoa” (Cia das Letras, 2012, 256 pgs.).

Em meio aos populares do Bar do Zé Batidão, onde ainda participou de um sarau organizado pelo coletivo 
Cooperifa, na última quarta-feira (07/11), Mia parecia mais à vontade do que no dia anterior, quando conversou amigavelmente com um público mais elitizado, em uma sala de cinema do Conjunto Nacional, localizado nos Jardins, bairro ‘nobre’ da zona oeste. Nas duas ocasiões, conversou com a reportagem de Opera Mundi.

O perfil pacato e conciliador do escritor não esconde uma vida marcada pela militância, que começou nos anos 1970, quando participou da luta pela independência de Moçambique, quando se juntou à Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Hoje, desencantado, não participa mais da vida político-partidária do país (promete nunca mais voltar a se envolver com partidos), mas o ativismo está presente em suas atividades como jornalista, biólogo (dirige uma empresa de estudos sobre impactos ambientais) e, sem dúvida, em suas obras.
Activismo político

Mia Couto, escritor moçambicano


“Política é um assunto tão sério que não pode ser deixado só nas mãos dos políticos. Temos de reinventar uma maneira de fazer política, porque isso afeta a nós todos. Faço isso pela via da escrita, da literatura, já que me mantenho jornalista e colaboro com jornais. Também faço intervenções como visitar bairros pobres onde as pessoas não recebem meu tipo de mensagem. Essa é a minha militância”, explica.

Atualmente, afirma manter uma distância crítica do governo, controlado pela Frelimo desde a independência, em 1975. Para ele, a proximidade entre o discurso e a prática do partido se distanciaram, mas afirma não haver ressentimento ou sensação de traição, pois considera que esse fenômeno se reproduz em todo o mundo. Ao contrário, se diz grato por seu tempo de militância partidária. “Fazer política hoje exige grande criatividade, temos de saltar fora de modelos, mas o modelo de fazer política faliu. Em todo o lado do mundo. Então é preciso reinventar, ter imaginação. Para ter imaginação é preciso sair fora dos padrões que vemos”.

Nascido António Emílio Leite Couto, filho de um casal de portugueses que já viviam há muitos anos no país africano, Mia cresceu em uma casa colonial na Beira, terceira maior cidade de Moçambique, em um meio rural e próximo do ambiente místico encontrado em algumas de suas histórias.


Na juventude, já morando em Maputo (na época colonial chamada de Lourenço Marques) e começando a ganhar destaque por seus poemas, decidiu estudar medicina. Por diretrizes da luta revolucionária, foi escalado como jornalista na Tribuna, publicando matérias favoráveis à independência – até o jornal ter sido incendiado por colonos portugueses. Lembra que nunca pegou em armas durante a luta pela independência, pois, embora os brancos fossem bem-vindos no movimento, não eram autorizados a atuar como guerrilheiros, mas no serviço clandestino.

Em suas histórias de luta pela independência, Mia lembra de como se alistou clandestinamente na Frelimo. “Havia na época um ritual chamado ‘confissão de sofrimento’, onde cada pessoa para ser aceita contava sua história de vida e todos os fatos que o colonialismo os fez sofrer. Ouvi cada história e me assustava, porque não tinha sofrido tanto quanto eles. Temia que teria de inventar uma história muito sofrida para ser aceito. Quando chegou minha vez de falar, me perguntaram: ‘É você que escreve poesias?’ e respondi que sim. Daí me disseram: ‘Então tudo bem, você pode entrar’”, conta, sempre provocando risos.

Atuação ambiental

Sobre seu trabalho com estudos de impacto ambiental, Mia é mais um entre os muitos ativistas moçambicanos a relatar a dificuldade para se encontrar um equilíbrio entre o ativismo nessa área e a agenda desenvolvimentista. Perguntado sobre os problemas que as grandes obras, principalmente relacionadas à mineração, têm causado às populações e ao meio ambiente, ele afirma que o principal problema se encontra na aplicação das leis.

“Moçambique tem uma grande fragilidade institucional que é seguir o que está na lei. O país tem leis, mas não a capacidade para acompanhamento e controle. Isso tem de ser resolvido. Por outro lado, é preciso prestar atenção, pois Moçambique está em uma armadilha grande: entre ficar como está e aceitar aquilo que vem [de fora], o que nem sempre é o melhor. O país lutou muito para atrair investimentos, para que sua imagem criasse simpatia com o grande capital. (...) Deve-se lembrar que a miséria também é um problema ambiental. [Não se pode] deixar os países como Moçambique como estão, como se estivessem bem, quando na verdade eles não estão [Mia criticou em outras ocasiões, assim como  neste caso, a corrente que defende que a África deveria permanecer um ‘continente selvagem’]. A miséria gera problemas enormes em Moçambique, tão insustentáveis quanto aos atribuídos à indústria, que muitas vezes é cega”. Para ele, o meio termo deste conflito só pode ser alcançado com o diálogo.

Engajamento poético

Entre tantos trabalhos e engajamentos, Mia considera que sua atividade mais importante é dar conselhos e orientações aos jovens moçambicanos que o procuram e manifestam seu desejo de se tornarem poetas. “A condição para o poeta não é que ele escreva bem, mas que tenha uma história a ser contada. A falta de domínio da técnica não deve ser um impedimento para continuar, não deve ser a morte do sonho”, afirma, lamentando que um dos locais onde mais se procure desencorajar essa iniciativa sejam justamente as escolas.

Foi muito aplaudido quando disse essa frase na Cooperifa, já que estava cercado de um público que, por muitas vezes, vê o seu direito a produção intelectual ser alvo de preconceito. “Acredita-se que a periferia pode dar jogador, cantor, dançarino, mas poeta? No sentido de que o poeta não produz só uma arte, mas pensamento...Acho que o grande racismo, a grande maneira de excluir o outro, é dizer que o outro pode produzir o que quiser, até o bonito, mas pensamento próprio, não. E vi aqui que havia um pensamento que está muito vivo e está fazendo acontecer coisas”.
 

09 novembro 2012

A GUINÉ-BISSAU EM CRISE


A GUINÉ-BISSAU EM CRISE

Moema Parente Augel
Johannes Augel


Estamos lançando mão da via eletrônica na certeza de que não é mais possível ficar indiferente ao atual estado de desestruturação a que chegou esse pedaço da terra africana que tão gloriosamente conquistou sua independência do jugo colonial, a Guiné-Bissau de Amílcar Cabral. O país  está a esvair-se em lutas partidárias, étnicas, narco-interesseiras. Neste ano de 2012, a Guiné-Bissau passou por sucessivos golpes militares e sua população, totalmente desamparada, está mergulhada no lamaçal do narcotráfico e submetida a um regime abusivo e ilegal. 
Pedimos a atenção de todos para os desastrosos acontecimentos que estão abalando a Guiné-Bissau, pequeno país da África Ocidental, quando, a 12 de abril do corrente ano, um golpe de estado interrompeu o processo eleitoral para a presidência da república, instalando-se um regime ilegal de excessão, um regime de repressão pelo medo e pela arbitrariedades. Recentemente, em 21 de outubro, deu-se outra tentativa de subverter a ordem, numa encenacao de contra-golpe, com vários mortos, prisões, torturas, sob a responsabilidade de parte dos militares (a cúpula militar) e dos civis do “governo de transição”.

Tomamos uma tal iniciativa por nos sentirmos solidários e ligados por laços de amizade e respeito pela sorte da população guineense. Vivemos por alguns anos nesse país, trabalhando no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) e nos recusamos a assistir inativos ao desmantelamento de uma nação. Somos ambos professores acadêmicos aposentados, autores de artigos e livros sobre a Guiné-Bissau. O livro mais recente é O desafio do escombro. Nação, identidades e pós-colonialismo na literatura da Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Garamond, 2007, 422 p.

Pedimos a todos que repassem estas notícias, divulgando-as o mais possível. Alguns de vocês nada têm a ver com o assunto, mas leiam por favor até o fim. O "mundo" precisa pelo menos saber o que está acontecendo na Guiné-Bissau.

O que desejamos com esta mensagem é o seguinte: Que se proceda ao retorno imediato à legalidade na Guiné-Bissau, com restauração plena da ordem constitucional e a destituição do governo de transição o qual não foi reconhecido pelas instâncias internacionais (ONU, União Africana, CPLP, entre outras).

Que sejam tomadas providências concretas e enérgicas para combater o narcotráfico e evitar que o país continue a ser uma ponte direta entre a América Latina e a Europa para a distribuição e expansão da droga.
Para além de outras análises que podem e devem ser feitas, importa reter dois fatores condicionantes e que têm ditado o desaire de todo um povo: 
– o conluio entre certas forças políticas e certas altas patentes militares;
– e o alastramento do narcotráfico em todo o país.
O narcotráfico, cada vez mais intenso e determinante, é um importantíssimo fator que anula qualquer esforço para contrariar aqueles que detêm o poder. Eles detêm a força das armas, têm os meios financeiros e um amplo território que eles próprios são os únicos a controlar.

O narcotráfico tomou conta do país, com perfídias de dinheiro fácil, corrupção, lavagem de dinheiro, assassinatos, prostituição, ladroagem,inimizades entre os que ganham com isso milhões e os que ganham milhões e meio. O povo, de fato a maioria arrasadora da população, nada ou quase
nada tem a ver com tudo isso, mas sofre as consequências. A situação é degradante, o medo espalhou-se na Guiné-Bissau, reinam a vergonha, a humilhação, a repressão e a impotência.
Esse problema não afeta somente a Guiné-Bissau e sua solução interessa e atinge os países dos diferentes continentes. A Guiné-Bissau tornou-se sobretudo uma plataforma para a distribuição e a expansão do narcotráfico
na Europa – e não só.

É urgente que a comunidade internacional interceda para acabar de uma vez por todas com essa inversão dos valores, essa impunidade e esse estado de vergonhosa ilegalidade!

É urgente que políticos, jornalistas, escritores, artistas, intelectuais, jovens e velhos, mulheres e homens de todo o mundo tenham conhecimento do que está acontecendo na Guiné-Bissau e se solidarizem com o povo guineense!

Guiné-Bissau desmaia ma i ka muri! A Guiné-Bissau cai, mas ela não morre!
A crise atual fica mais clara com um rápido olhar sobre as principais etapas da recente história da Guiné-Bissau.
Proclamação da independência em 1974, separando-se de Portugal depois de 11 anos de guerrilha. Seu primeiro presidente, Luis Cabral, foi deposto em 1980 por João Bernardo “Nino” Vieira que governou até 1999, quando foi deposto depois de uma guerra civil de onze meses de duração, desencadeada após a destituição pelo Presidente Nino do chefe do Estado Maior do Exército, General Ansumane Mané.

O país passou então por diversos presidentes e diversas crises até que Nino Vieira retornou a Bissau, candidatou-se às eleições presidenciais, tendo sido eleito em julho de 2005.

O nacrotráfico entrou na Guiné-Bissau, devido à posição geográfica e à fraqueza da ordem pública do país, ampliando cada vez mais sua ação, espalhando insegurança, corrupção, desestabilizando as forças políticas e militares. Indignação, protestos, desaprovação de muitos órgãos internacionais e consequentes isolamento e descrédito do país.

Depois de muitas convulsões políticas, em 2008 deu-se a destituição do chefe do Estado Maior da Armada, almirante Bubo Na Tchuto e a 2 de janeiro de 2009, foi empossado o líder do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), Carlos Gomes Júnior, como primeiro
ministro. A 1 de março de 2009, o chefe Estado-Maior General das Forças Armadas Tagmé Na Waié foi assassinado, seguindo, como revide, no dia seguinte, 2 de março, o assassinato do Presidente João Bernardo ”Nino” Vieira. Assumiu interinamente a chefia do governo o presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, Raimundo Pereira. 
Em setembro do mesmo ano, Malam Bacai Sanha venceu as eleições presidenciais. Em janeiro de 2012, porém, depois de prolongada enfermidade, ele morre em Paris e novamente Raimundo Pereira, na função de
presidente da Assembleia Nacional, assume o governo.

Foi feita a convocação para novas eleições presidenciais, quando se apresentaram nove candidatos, tendo sido Carlos Gomes Júnior o mais votado, havendo, porém, a necessidade de um segundo turno que entretanto não aconteceu.

A 12 de abril deste ano, um golpe de estado entre os dois turnos das presidenciais depôs e prendeu o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior (candidato majoritário à presidência) e o Presidente da República interino Raimundo Pereira. Ambos encontram-se atualmente em Portugal.
Todos os ministros, e outros cidadãos ocupando cargos de confiança, foram depostos, alguns deportados, outros auto-exilando-se. Desde então, o país está nas mãos de um "governo de transição", com o apoio e proteção de militares das mais altas patentes, a despeito da insatisfação ampla e
crescente da população.

A 21 de outubro, deram-se novas perturbações devido a um alegado contra-golpe militar, duramente abafado,  e desde então reina uma atmosfera de amedrontamento, com perseguições e censura, prisões, espancamentos, torturas na Guiné-Bissau.


Moema Parente Augel
Marswidisstr.2
33611 Bielefeld
Alemanha
Tel: +49-521-870231

07 novembro 2012

ELEIÇÕES NOS EUA BARACK OBAMA REELEITO PARA MAIS QUATRO ANOS, DIZ QUE "O MELHOR AINDA ESTÁ PARA VIR"


ELEIÇÕES NOS EUA
BARACK OBAMA REELEITO PARA MAIS QUATRO ANOS, DIZ QUE "O MELHOR AINDA ESTÁ PARA VIR"
A família Obama comemorando a vitoria
Barack Obama foi reeleito às 22h13 (4h13 da manhã em Portugal). Não era ainda o resultado oficial das eleições presidenciais americanas, e sim a projecção das televisões, mas pouco importava: dez mil apoiantes e voluntários de campanha irromperam em gritos e aplausos no enorme centro de convenções em Chicago onde Obama fez o seu discurso de vitória.

“Para os Estados Unidos da América, o melhor ainda está para vir”, disse Obama duas horas mais tarde, depois de uma ovação de três minutos e um coro de “Mais Quatro Anos!” O Presidente Obama que fez o discurso foi conciliador e optimista como o candidato Obama nunca conseguiu ser ao longo de uma campanha que foi um referendo sobre o seu primeiro mandato e que sabia que podia perder.

Humilde e comovido, Obama disse que regressava à Casa Branca “mais determinado e mais inspirado do que nunca”. E o seu discurso procurou elevar-se acima das diferenças partidárias, centrando-se no que todos os americanos têm em comum. O tom reavivou memórias do homem que na convenção democrata de 2004 disse que não havia estados democratas nem republicanos, mas apenas os Estados Unidos da América – e marcou o contraste com uma das campanhas mais negativas e divididas de sempre.

Para os democratas, foi o final de uma eleição mais competitiva do que há quatro anos, disputada até ao último voto. Para os republicanos, uma pesada derrota num contexto económico que devia ser favorável ao seu candidato – taxas de desemprego acima dos 7,5% e um crescimento económico anémico não costumam reeleger presidentes – e que certamente conduzirá a direita americana a um período de introspecção. Para os americanos em geral, foi a constatação de que a noite eleitoral seria mais curta do que alguns cenários antecipavam. Havia duas grandes incertezas até às 22h13 de ontem: quem seria o vencedor e se haveria um vencedor claro antes da manhã de quarta-feira.

Barack Obama conseguiu ser reeleito graças à sua vantagem no colégio eleitoral – conquistou mais do que os 270 votos eleitorais necessários para qualquer candidato alcançar a Casa Branca. E também assegurou uma ligeira vantagem no voto popular

Numa corrida eleitoral marcada por uma caça agressiva ao voto em nove estados – Florida, Ohio,Virgínia, Iowa, Wisconsin, Colorado, New Hampshire, Carolina do Norte e Nevada – a contagem decrescente para o dia de eleições era mais optimista para Obama do que para Romney, porque as sondagens nesses estados davam uma ligeira vantagem ao Presidente e antecipavam que o candidato republicano teria uma batalha maior pela frente para atingir o número mágico dos 270 votos eleitorais. E os primeiros resultados da noite confirmaram esse cenário, com Obama a ser declarado vencedor bem cedo nalguns desses estados. E isso aconteceu sem que a Florida chegasse a ser um factor determinante. Quando Obama acabou o seu discurso de vitória, concluindo a noite eleitoral, ainda não havia um vencedor oficial na Florida, com 98% dos votos contados, mas Obama seguia ligeiramente à frente. Dos nove estados cruciais para os candidatos, Romney apenas ganhou na Carolina do Norte.

Mitt Romney emergiu na sede da sua noite eleitoral, em Boston, Massachusetts (o estado onde foi governador e onde Obama venceu ontem à noite), cinco minutos antes da uma da manhã, para um discurso breve de cinco minutos em que disse que tinha acabado de ligar ao Presidente Obama para felicitá-lo pela vitória. “Este é um momento de grandes desafios para a América e rezo para que o Presidente tenha sucesso em conduzir a nossa nação”, disse o candidato, que no último ano procurou retratar o primeiro mandato de Obama como um falhanço, numa das campanhas mais negativas e mais agressivas de sempre.

“Estou tão feliz que não sei como vou chegar a casa esta noite”, disse ao PÚBLICO Leopoldine Deugoue, 39 anos, uma das apoiantes de Obama presentes no seu quartel-general em Chicago. A multidão presente em McCormick Place, um centro de convenções em Chicago, era diferente da que compusera a festa de vitória de Obama há quatro anos, em Grant Park, na mesma cidade, porque era essencialmente formada por voluntários e pessoas que colaboraram na campanha de Obama.
Assista o discurso de Obama apos a vitoria:

In: http://www.publico.pt/Mundo/para-os-estados-unidos-o-melhor-ainda-esta-para-vir-diz-obama-1570384


Informação actualizada:
Obama foi eleito com 303 votos do Colégio Eleitoral equivalente a 50% e Romney com 206 votos correspondente a 48%.
No senado os democratas obtiveram 52 assentos e os republicanos  45 assentos.
Na disputa pela câmara dos deputados os democratas ocuparam 191 assentos contra 232 assentos dos republicanos.

In: www.nytimes.com -  7 de Novembro de 2012 (7h30 da manha- hora de Brasilia)



06 novembro 2012

LIVRO “ESTÓRIAS DE ESPIRITUALIDADE”, DE ALDINO MUIANGA: ESTÓRIAS DA NOSSA ESPIRITUALIDADE OU AS ESTÓRIAS QUE SE QUEREM PRESENTES


LIVRO “ESTÓRIAS DE ESPIRITUALIDADE”, DE ALDINO MUIANGA: ESTÓRIAS DA NOSSA ESPIRITUALIDADE OU AS ESTÓRIAS QUE SE QUEREM PRESENTES

Capa do novo livro de Aldino Muianga

Aldino Muianga, autor já incensado pela crítica mais rigorosa, aplaudido pela geração de escritores de que este prefaciador é parte e pregoeiro da limpidez dos seus textos, dispensa apresentações.

O seu nome é capital suficiente para se atestar a elegância das frases, a sonoridade dos parágrafos e, o que é profundo e lapidar, encontrar valores que resumam de histórias enraizadas num passado sem cidadania nestes tempos de construção de identidades sobre palafitas, longe do som das maracas nas pernas em delírio dos dançarinos macondes, do inconfundível coro das trombetas de cabaças dos tocadores nyanjas, das espantosas vibrações das palhetas de metal das mbiras, kalimbas ou njari, lamelofones largamente espalhados pela zona central dos país, dos cantares islamizados das mulheres macuas, ou do coro de flautas, chamadas chimvekas, dos jovens chopes. Em Aldino, e particularmente nestas estórias da nossa espiritualidade, encontramos esse secular lastro de vozes e cantares, de mitos e lendas, que em metamorfoses contínuas vão ocupando o periférico espaço das cidades dominadas por valores de outras racionalidades.
Os arrabaldes de Lourenço Marques, ontem, Maputo, hoje, são os cenários privilegiados das histórias de Aldino. Nado e crescido no bairro indígena da Munhuana, o autor é, ao lado de outros notáveis escritores de vivência suburbana, como Marcelo Panguana e Juvenal Bucuane e, mais distante, a roçar o campo, o Suleimane Cassamo, o grande paladino de temáticas da tradição em alteridade, de encontros conflituantes, de um modo de ser característico dos subúrbios. Mundo de histórias fantásticas, de enredos maravi-lhosos, os subúrbios de ontem são os intermináveis filões de estórias do Aldino, os alfobres de que não dispensa o interior da sua casa espiritual, pois a elas se socorre insistentemente, ora carregado de angústias, ora querendo deleitar-se, encantando-nos com as histórias que perduram ao tempo.
Nesta colectânea, Mitos – estórias da nossa espiritualidade, Aldino Muianga, médico de formação, resolveu trazer ao de cima o confronto entre a racionalidade materializada nos compêndios da medicina de que o autor/narrador é praticante e as fantásticas estórias que remontam da infância, num enredo em crescendo de conflitualidade, de exasperação: A Gina com Jota. Texto curto, aparentemente vulgar pela tecla já usada, a de contar a história de uma paixão da adolescência, aqui expressa, como era prática, numa carta sofrida: Minha querida e amada Jina/ O meu coração ficou em pedaços, quando ti descobri amor. O senhor é o senhor e só ele é que sabe e vê o meu sofrimento por você, amor. Quando passas pela rua ti vejo e sento o meu coração a bater. Os meus olhos ti vem e gostam de ti ver passar, mesmo assim quando já passaste fico com muitas dores de saudade. Mas o texto, tal como ciclone Claude que se abateu sobre a cidade de Lourenço Marques, nos finais de Dezembro de 65 e princípios de 66, muda completamente, ganha contornos inesperados, densidade imprevista.
O ciclone afasta famílias, aloja e desaloja, dispersa amigos e amores. O narrador da estória A Gina com Jota torna-se médico, aspira os ares da revolução, vive os primeiros anos da independência na nortenha província do Niassa e, de forma inesperada e sem pedir licença, aparece na consulta a Jina da adolescência, agora mulher marcada pelo sofrimento. A estória ganha outros ângulos no médico narrador. A Jina existe, esteve na consulta, o médico encaminhou-a à enfermaria; mas na pauta dos doentes consultados e internados, a Jina nunca existiu:Ontem não tivemos nenhuma  paciente com esse nome, nem me recordo de ter acompanhado alguém às  enfermarias.
É o ponto da história. O nó entre culturas, saberes que se cruzam, do cá e do além, tal como no Diálogo à beira da sepultura, onde o personagem, com flores murchas, pobres e baratas, rejeição das próprias sobras das vendas do negociante, se posta diante de uma campa, tendo, em redor, como cenário, a atroz paisagem de sepulturas em ruínas, mausoléus decadentes, desmoronados abrigos de almas, casas de foragidos, e aqui e ali, sofridos penitentes vergando as costas e dando punhadas no chão em orações. Nas lápides os epitáfios são desafios gramático-poéticos esculpidos no mármore, mensagens gravadas com tintas de lágrimas cristalinas. O personagem, neste cemitério de vivos e mortos, está em diálogo com um defunto que presume ser o pai, mas que no fim da curta e intensa história, apercebe-se que não se tratava do pai e, a consolar-se, diz para si: prestar tributo a um defunto é o mesmo que prestá-lo a outros. Mas uma voz, à saída, se fez ouvir.
Ao ler estas estórias que Aldino as confeccionou com ingredientes que só ele sabe dosear, senti-me em casa. Fui tocado pela curiosidade, pois longe estava eu de pensar na galinha como personagem de referência no mundo efabulatório, na Fala das Galinhas; e o requinte de malvadez que a Casa das Mambas faz emergir? E a triste estória do jovem que transpôs o afamado mundo dos prostíbulos da cidade de Lourenço Marques, em Uma Visita ao Prostíbulo? E a honra na Dama da Honor? E a velha sage Khissane que atraía à sua cabana A cabra do Soba com vagens partidas de matsimbe, cujo feijão emite essências que são um chamariz para determinados herbívoros?
Enfim, ler estas estórias é ir de encontro aos referenciais que o tempo presente tende a esbater, mais por nossa própria culpa, pois ao erguermos as nossas balizas não nos preocupamos com o material que compõe os postes dos nossos limites. É provável que a Alma Peregrina diga respeito a todos nós, desatentos ao mundo aos nossos pés, como a Selane, «sentenciada a regressar à terra para espiar o castigo pelas minhas faltas. (…) Sem morada ou piedade de alguém caridoso, eu espírito de Selane, vagueei por muitos caminhos, atravessei rios e florestas, colhi abrigo na serração dos matos, acoitei-me nas concavidades das rochas, em busca do meu eu verdadeiro, da reconciliação comigo mesma e com os meus defuntos. Sou uma alma penada, uma vagabunda à procura de um caminho para uma eternidade tranquila.»
Estou em crer que Aldino Muianga, nestas estórias da nossa espiritualidade, mais do que em outras obras suas de valor inquestionável, diga-se, encontrou-se com o seu mundo, não para exorcizá-lo, mas para o trazer à perenidade das letras de modo a que todos o partilhem sem espartilhos de qualquer espécie.
Leiam o livro com prazer, encontrem-se nos textos, e reergam as vossas próprias estórias.
  • Ungulani Ba Ka Khosa

Maputo, Quarta-Feira, 7 de Novembro de 2012:: Notícias