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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

06 fevereiro 2013

QUEM MATOU SAMORA MACHEL?


Quem matou  Samora Machel?

UMBERTO CASADEI 'RUMBA' APONTA O DEDO A MAPUTO TAL COMO GRAÇA MACHEL



QUEM SÃO OS DOIS GENERAIS CITADOS NOS TEXTOS?
O acidente aéreo que em 1986 vitimou o Presidente Samora Machel terá sido comandado de Maputo, acusa o advogado italo-moçambicano Umberto Casadei, que trabalhou desde 1970 para os serviços de contra-espionagem da Frelimo.
«Eu descobri, com base nas revelações de um soviético, como tinha sido possível, tecnicamente, ao operador das ajudas de terra à navegação aérea tornar (aquelas) ineficientes, sem deixar qualquer rasto e sem sequer o controlador da torre se aperceber disso», afirmou Casadei, numa entrevista publicada  em Maputo pelo diário «Imparcial». «Adverti todas as entidades interessadas, mas ninguém quis ouvir-me, o que me deixou com a clara sensação de que eles sabiam muito mais do que eu, mas o que queriam é que eu ficasse bem calado e tranquilo», acrescentou.
Machel e a sua comitiva, bem como a tripulação soviética, perderam a vida na noite de 19 de Outubro de 1986, quando o Tupolev em que viajavam no regresso de uma cimeira em Lusaca, embateu contra uma montanha em Mbuzini, na província sul-africana do Transvaal.
Apesar de a comissão internacional de inquérito ter declarado não haver provas de que o acidente fora provocado, as autoridades moçambicanas persistiram na suspeita de que os sul-africanos tinham programado a morte de Machel, interferindo no sistema de orientação da aeronave. A versão oficial nunca teve a aprovação da viúva, Graça Machel.
Umberto Casadei decidiu fazer estas revelações pouco antes do seu regresso a Itália. Ao fim de um quarto de século de colaboração com a Frelimo, o ex-agente diz-se amargurado com as injustiças que alegadamente sofreu em Moçambique.

  
EXTRACTO DO LIVRO 'DAYS OF THE GENERALS"



 A Case of Assassination? President Samora Machel and the Plane Crash at Mbuzini. O papel de CHIPANDE, CHISSANO, GUEBUZA, MATSINHE, MABOTE

 by David Alexander Robinson - ler documento completo em PDF


(...) Far more startling and significant, however, was Patta’s assertion that she had interviewed one of Machel’s close confidants, a well-known Italian resident of Maputo named Casadei, who claimed that he had stumbled on a plot by South African and Mozambican agents to kill the President. According to Patta, those  on  the  Mozambican  side  had  offered  their  support  for  the  plot  in  exchange  for assistance in gaining power, while the South Africans would oversee the technical aspects of the operation. Casadei said that he informed Machel of the identities of two Mozambican Generals who were involved in the plot, but the President refused to take action against them. Patta  also  maintained  that  she  had  viewed  an  intelligence  document  that  named  South African, Mozambican and Malawian agents involved in the plot.9  Then in January 2003 it was reported by the Sowetan Sunday World that a former Civil Co-operation Bureau (CCB) agent serving  a 28-year  term in Baviaanspoort  Prison near Pretoria,  a Namibian  national
named Hans Louw, claimed he was involved in Samora Machel’s death. According to Louw, military intelligence operatives positioned a false airport beacon to lure the plane off-course and he was part of a clean-up team that would ensure the President had died. As it turned out his team was never activated. A former Rhodesian Selous Scout operative, Edwin Mudingi, claimed to have been part of the same operation and confirmed Louw’s involvement. Louw also confessed to a number of other crimes, including a similar operation that used a VOR beacon to lure an Angolan  military plane off course in 1989 and killed a number of key
Angolan military figures. Only a few months later, on 6 April 2003, the Sowetan Sunday
World reported  that  former  Chief  of  South  African  Military  Intelligence,  General  Pieter
‘Tienie’ Groenewald, admitted in an interview with journalist Mpikelani Duma that Samora Machel’s plane had been brought down by a false navigational beacon. According to Joseph Hanlon, the article disclosed that,
 Groenewald also claimed that senior Frelimo officials were involved in the killing, and that senior ‘individuals and [then Foreign Minister Joaquim] Chissano were appraised of the details of the plot to kill Machel’.11
 Though the article provoked furious denials from members of the Frelimo leadership, veteran Mozambique analyst Hanlon’s assessment was that the allegations could not be so easily dismissed, especially since,
 Groenewald only said that Chissano knew of the plan, not that he organised it or was in contact with South Africa… [and] Samora Machel's widow, Graca Machel, now the wife  of  Nelson  Mandela,  has  publicly  accused  Mozambican  ‘generals’  of  being involved in the assassination.(...)


CASADEI ESCAPA EM TRÊS ATENTADOS A TIRO EM MAPUTO AO DESAFIAR O CLÃ GUEBUZA
O advogado tornara-se uma espécie de estrela mediática, ao escapar com vida a três atentados à bala. Na altura, Casadei atribuiu os ataques a colaboradores do empresário António Baessa Pinto, então a monte. Em 1993, um tribunal de Maputo indigitou Casadei como gestor do Grupo Pinto, proprietário de uma dezena de restaurantes, cafés e discotecas, em Maputo, e acusado de burla por um banco. Mas constava que Pinto agia como simples figura de fachada do seu tio Armando Guebuza, um dos homens mais poderosos de Moçambique e líder parlamentar da Frelimo, e entretanto tornado presidente do país.
Nascido em Itália numa família comunista, Casadei começou a colaborar com a Frelimo em 1970. Logrou infiltrar-se nos serviços de segurança da Rodésia de Ian Smith, o que lhe permitiu prestar grandes serviços aos guerrilheiros moçambicanos, como, por exemplo, a informação de que o Exército português estava a preparar a célebre operação «Nó Górdio».
José Pinto de Sá , em Maputo


07 AGOSTO 2001. BOMBA DESTINADA A CASADEI FAZ UM FERIDO EM ITÁLIA.
Ferito un operaio. L'uomo, autore di un articolo in cui raccontava di aver uccido dei fascisti, aveva respinto la busta Forlì, esplode pacco bomba destinato a un ex partigiano

FORLI' - Un pacco bomba è esploso ieri sera in una ditta di spedizioni, la Sda Express Courier, a Forlì mentre un operaio lo stava maneggiando. L'uomo, Rubens Gardelli, 23 anni, è rimasto ferito a un timpano ed è stato trasportato all'ospedale mentre un altro operaio, Paolo Pisu, 28 anni, che si trovava con lui, illeso ma cardiopatico, è stato ricoverato per accertamenti. Entrambi sono stati già dimessi e per ora non ci sono state rivendicazioni.

Il pacco bomba, che poteva uccidere o quantomeno provocare gravi danni, era destinato a Umberto Fusaroli Casadei, 72 anni, ex partigiano noto alle cronache per avere scritto nel maggio scorso a un quotidiano dicendo di aver ucciso fascisti nel dopoguerra. Casadei aveva rifiutato la consegna del pacco perchè gli erano stati chiesti due milioni per il pagamento.

QUEM É UMBERTO FUSAROLI CASADEI?
LUNEDÌ 1 OTTOBRE 2007 - Stefio sotto accusa. Ed il partigiano "Rumba" ? IN SANTOSEPOLCRO1.BLOGSPOT.PT
Venerdì ho scritto sul rinvio a giudizio di Stefio. Ci ritorno perchè mi è venuto in mente il caso del partigiano "Rumba", deceduto il 19 Settembre in un incidente stradale in provincia di Forlì.

Umberto Fusaroli Casadei, questo era il vero nome di "Rumba", 81enne tornato negli ultimi anni a far parlare di sè per alcune sue lettere od interviste su alcuni quotidiani, dalla Stampa al Giornale. Proprio l' articolo di Stefano Zurlo del Giornale del 2002 è illuminante. Nell' intervista il simpatico vecchietto ricorda alcuni episodi della sua guerra partigiana. Come quando uccise a sangue freddo un Ufficiale Tedesco arrivato a parlamentare con tanto di bandiera bianca. Pum, Pum, due colpi in testa, e via. Senza alcun rimorso, nè allora nè oggi. Centinaia le persone che ammazzò, "Nel periodo della guerra e anche dopo”. Alla domanda di Zurlo:"E lei non si commosse mai ? Mai un momento di esitazione ?", così rispose il bravo partigiano: “Mai. Nemmeno davanti alle donne”. Come per la Strage di Schio, dove a morire furono parecchie. In seguito, poi, davanti ad un Magistrato, Rumba negherà la partecipazione a quella pagina vergognosa della Storia Italiana:

"Lasciai il compagno Piastrina a custodia del camion, fuori mano, e raggiunsi il carcere. Portavo una giacca con i gradi da colonnello, prestatami dal comandante che era rimasto altrove, per precostituirsi un alibi. Per rendermi meno riconoscibile mi ero oscurato la faccia con una speciale tinta usata dagli inglesi nelle operazioni notturne. Indossavo inoltre un copricapo e un fazzoletto rosso al viso. Mi accorsi che gli altri erano già entrati, in anticipo sui tempi stabiliti. Così penetrai all'interno: c'era il caos. Partigiani che vagavano senza sapere bene cosa fare, i prigionieri radunati in uno stanzone. Occorreva accelerare i tempi, c'era il rischio che qualcuno desse l'allarme. Allora mi rivolsi a quelle persone ammassate: "C'è qualche prigioniero comune? Nessuno rispose. Diedi l'ordine di aprire il fuoco. Svuotai tre caricatori sparando con uno Sten in una babele di urla, strepiti, lacrime. I proiettili saettavano da tutte le parti, rimbalzavano sul pavimento, tornavano indietro. Fui colpito più volte di rimbalzo alle gambe, senza altro danno che leggere striature rossastre, larghe come una moneta d'argento del tempo. La permanenza si faceva troppo pericolosa e altri partigiani entravano sparando raffiche all'impazzata. Era saltata la luce, non si distinguevano nemmeno più le vittime da noi che le colpivamo. Uscii”.

Ebbene, qualche anno più tardi, Umberto Fusaroli Casadei sarà in Africa, in Mozambico, al fianco di Samora Moisés Machel, a combattere nella guerriglia antiportoghese comunista. Come si definiva lui, "combattente contro il colonialismo in Africa.".

Nonostante sia rientrato negli anni '90 in Italia, aderendo a Rifondazione Comunista per poi uscirne, Rumba non è mai stato indagato per l' Art. 288 CP.


JUNHO 1998 - O REGRESSO A ITÁLIA - DADOS SOBRE A MORTE DE MACHEL
La storia Licenza di uccidere - Stanco, dopo le molte guerre d'indipendenza combattute in Africa, Umberto, a 72 anni, è tornato a casa. Col segreto sulla morte di un capo di Stato...
di Pietro Veronese

Il vecchio rivoluzionario è tornato a casa con più anni, più delusioni e un cupo segreto, la chiave di un grande mistero africano: la morte violenta di un presidente.
"Non è un segreto", dice lui, scaldandosi e ricordando che lo ha gridato ai quattro venti, laggiù, solo che nessuno ha voluto ascoltarlo.
A 72 anni Umberto Fusaroli Casadei non è un uomo facile da raccontare. Ha vissuto almeno due vite, una in Italia, da partigiano, l'altra a sud dell'Equatore, tra guerriglie e rivoluzioni africane.
La prima cosa che fa vedere di sé è il monumento ai Caduti per la Libertà di Bertinoro (Forlì). Sul cippo di pietra bianca ci sono i nomi di suo padre Antonio, dello zio Gaetano e di altri familiari e compagni partigiani massacrati dai nazifascisti il primo maggio del '44.
Umberto aveva allora diciott'anni e diventò a sua volta un cacciatore di fascisti. Combatté nell'ottava Brigata Garibaldi e poi nella 29esima Gap, fu promosso comandante di compagnia. "Quando prendemmo Forlì, e poi nei mesi successivi, ne uccisi a centinaia", rievoca sgranando gli occhi, dietro i quali si stenta a vedere il giustiziere. Non ha pudore a rivendicare che per lui la guerra non finì il 25 aprile del '45.
La caccia ai fascisti continuò, anche dopo la Liberazione. E continuò l'attività clandestina, che doveva far sorgere in Italia il Sol dell'avvenire e invece tramontò in un dedalo di guai giudiziari. Ma lui risorse e partì per la sua seconda vita.
Nel '70, con la moglie Marisa, arrivò nell'Africa dei movimenti di liberazione e delle nuove indipendenze. Divenne confidente e consigliere di giovani africani rivoluzionari come lui, ricchi di idee e poveri di quattrini.
A Dar es Salaam, la capitale della Tanzania che era all'epoca rifugio di tutti i fuorusciti dell'Africa nera, la Marisa prese in gestione la mensa della Raffineria dove quegli smunti idealisti, paganti o no, trovavano comunque da mangiare. Così nascono le grandi amicizie.
Passò qualche anno, i ragazzi affamati di Dar es Salaam combatterono e vinsero, divennero i leader dei loro Paesi e Umberto si ritrovò amico di presidenti e primi ministri. Più di ogni altro, di Samora Machel, carismatico capo della guerriglia mozambicana e, dal '75, capo di Stato.
Fu da lui che Umberto e Marisa si trasferirono: a Maputo, la capitale del Mozambico abbandonata dai portoghesi. Una delle più belle città dell'Africa, affacciata sull'Oceano Indiano e - così pareva allora - sull'avvenire.
Ma la sera del 19 ottobre 1986, il bireattore Tupolev sul quale viaggiava il presidente mozambicano si schiantò al suolo disintegrandosi in mille schegge di metallo. Il luogo della catastrofe si trovava 35 miglia nautiche (65 chilometri) a ovest dell'aeroporto di Maputo, verso il quale l'aereo era diretto, e 150 metri all'interno della frontiera sudafricana.
Dieci anni dopo, su quella stessa collina, si è svolta una breve cerimonia per scoprire un monumento alla memoria. Un tumulo di mattoni sul quale si leggono i nomi delle vittime e poi: "Samora Machel, architetto dell'indipendenza nazionale, fondatore della Repubblica popolare del Mozambico, eroe dell'Africa, vivo in ciascuno di noi". A inaugurarlo è venuto il presidente del Sudafrica, Nelson Mandela. E con lui, ormai divorziato dalla moglie Winnie, la sua nuova compagna: Graça Machel, la vedova di Samora.
"Gli assassini avevano previsto tutto", ride Umberto Casadei. "Tutto, meno che questo amore".
Quando il presidente del Mozambico volò incontro alla morte una notte di dodici anni fa, non c'era tra Sudafrica e Mozambico amore alcuno. Tutto opponeva allora i due paesi: regimi, ideologie, alleanze. Gli accordi di pace firmati due anni e mezzo prima erano stati più volte violati dai sudafricani e Samora lo aveva denunciato. Il pensiero istintivo, appena si seppe che l'aereo era precipitato, fu: sono stati loro. Si disse che su quell'altura i servizi del Sudafrica avevano installato un potente radiofaro, per attirare il Tupolev sulla rotta sbagliata. Questa ipotesi aveva un solo difetto: non c'erano prove. Le due commissioni d'inchiesta scartarono entrambe la pista del falso radiofaro.
La prima giunse alla conclusione che la responsabilità dell'incidente era dell'equipaggio, di nazionalità sovietica, il quale "aveva ignorato tutte le procedure regolamentari". Il pilota e i suoi uomini commisero in verità una serie di errori madornali, senza i quali probabilmente Samora Machel si sarebbe salvato. Da bravi russi non avevano lesinato le birre, e quando si trovarono nell'emergenza non seppero reagire. Malgrado dubbi, perplessità e domande rimaste senza risposta, questa fu la versione comunemente accettata sul disastro. Non da tutti, però. Graça Machel non l'accettò mai. Chiusa nella sua casa e nel suo lutto, sapeva che c'era, da qualche parte, un'altra verità. Suo marito aveva molti nemici non solo nel governo del Sudafrica, ma anche in quello del Mozambico.
Avversari politici, avversari soprattutto sulla questione morale, che nel credo personale di Machel era il comandamento numero uno. Samora morì povero. Narra la leggenda che poco prima della fine, mosso da un presentimento, chiamò il suo segretario per farsi dare l'elenco degli oggetti ricevuti in dono dai dignitari stranieri. Alcuni erano ufficiali e dovevano restare alla Repubblica; altri personali e il presidente li voleva, per avere qualcosa da lasciare alla famiglia.
Graça Machel contattò i rivoluzionari del Sudafrica molto prima del giorno in cui diventò chiaro che presto anche loro sarebbero arrivati al potere. Gli chiese l'impegno a riaprire il dossier sulla morte di Samora, a far luce sull'eventuale responsabilità del regime bianco sudafricano. L'impegno divenne promessa personale quando Graça diventò la compagna di Mandela. Il nuovo governo sudafricano ha istituito già da tempo una Unità investigativa speciale che ha appunto il compito di indagare e raccogliere prove sui crimini del passato regime.
La Special Investigative Unit è guidata da un giovane sostituto procuratore, si chiama Torie Pretorius, è un bianco e ha meno di quaranta anni. È stato lui a riaprire nel maggio scorso le indagini sulla catastrofe aerea nella quale morì Samora Machel. Gli indizi che ha raccolto sul coinvolgimento sudafricano sono tantissimi. È saltato fuori anche il nome in codice dell'operazione: "Icarus", come il personaggio della mitologia greca che provò a volare, ma precipitò in mare. Nulla di più appropriato.
Lo schema è proprio quello che s'era sospettato fin dall'inizio: un falso radiofaro in grado di emettere un segnale identico a quello dell'aeroporto di Maputo e di dirottare il Tupolev verso la sua fine. A questa teoria manca però un tassello fondamentale. Per convincere pilota e navigatore dell'aereo presidenziale che il segnale del falso radiofaro era quello vero, non bastava imitare quello emesso sulla frequenza di Maputo. Bisognava anche che Maputo non trasmettesse: altrimenti i segnali sarebbero stati due. Ci volevano dei complici nella torre di controllo mozambicana. Pronti a spegnere il loro radiofaro nell'attimo in cui l'altro avrebbe iniziato a funzionare.

È qui che s'inserisce la testimonianza di Casadei. Nel 1982 il companheiro Umberto viene interpellato da un altro italiano residente a Maputo, proprietario di un'impresa edile. Conoscendo la sua intimità col presidente, gli propone di farsi assoldare dai servizi segreti sudafricani. Casadei riferisce a Samora e gli chiede: "Che faccio? L'ammazzo?".
Machel gli ferma la mano. "Il Mozambico è un colabrodo per i servizi sudafricani", ragiona, "questa è la nostra occasione di rendere la pariglia". E convince l'amico ad accettare la proposta e a diventare, per 600 rand al mese (all'epoca più o meno mezzo milione di lire), informatore del Sudafrica. In realtà, Umberto fa il doppio gioco. Il primo incontro avviene a Gaborone, nel Botswana, in un ristorante fuori città. Il suo contatto è una bella bruna che si fa chiamare Maureen, ha anche un cognome e una casella postale.
Il nuovo "lavoro" di Umberto Casadei - che a Maputo, come a Dar es Salaam, ha aperto un ristorante - diventa routine. "I 600 rand li consegnavo al ministero della Sicurezza, in cambio di regolare ricevuta. Ma presto mi accorsi che al ministero non facevano alcun uso dei miei rapporti. Così cominciai a riferire direttamente a Samora". Quello che Maureen gli disse in uno dei loro incontri a Pretoria, circa un anno prima della morte del presidente, Umberto non lo avrebbe mai messo per iscritto. Lei gli chiese che ne pensasse di due generali mozambicani, uno altissimo responsabile delle Forze armate, l'altro politico rampante (tutt'oggi in posizione di grande potere). Umberto volle sapere la ragione della domanda e Maureen: "Ci hanno contattato. Dicono che sono in grado di eliminare il presidente ma hanno paura del dopo, di trovarsi isolati di fronte a una reazione favorevole a Samora. Perciò, se vogliamo che agiscano, chiedono da noi aiuto e copertura".
Ancora una volta il compagno Casadei si precipita da Machel e invoca da lui licenza di uccidere. Ancora una volta l'altro lo ferma: "Se muoiono, si capirà subito che tu hai parlato, sarai bruciato. Aspetta, li prenderemo in trappola". Adesso sappiamo come andò a finire. Secondo Umberto Fusaroli Casadei, dunque, non furono i sudafricani a uccidere Samora Machel. Fu un complotto mozambicano-sudafricano, di cui facevano parte alti responsabili del regime di Maputo.
Altro che equipaggio sovietico ubriaco (fatto del resto smentito dalla relazione della seconda commissione d'inchiesta, quella ufficiale, basata sulle autopsie). Questo spiega perché, quella notte, non c'erano due radiofari, ma uno solo, nel posto sbagliato. Perché anche il potente radar militare della base aerea accanto all'aeroporto, quella sera, era misteriosamente spento. Perché il controllore di volo, invece di dare istruzioni chiare e forti via radio all'equipaggio smarrito, aggiunse confusione a confusione. Perché certi ministri, all'ultimo momento, rifiutarono di salire sull'aereo presidenziale (altri andarono e vi trovarono la morte).

"In Mozambico, a quell'epoca, Samora ordinava e nessuno obbediva", ricorda Casadei. "A Maputo era il caos, l'aeroporto un manicomio, lo so bene io che ci stavo tutti i giorni. Era una porta aperta. La corruzione imperava, tutto aveva un prezzo. Facevano traffico d'armi nei gabinetti, era una centrale di contrabbando. Vidi bene le cose strane di quella notte fatale e iniziai subito a esprimere i miei dubbi ad alta voce". Troppo alta, forse. Le denunce, i memoriali, gli articoli sui giornali cominciarono ad attirargli guai.

È stato dopo il secondo tentativo d'omicidio che Umberto Casadei ha deciso che Maputo era diventata una città troppo calda per lui. Se n'è tornato in Italia con le sue carte e l'amarezza di vedere un'altra rivoluzione tradita. Anche lui, forse, aveva pensato a tutto meno alla possibilità di riporre le sue ultime speranze in un magistrato sudafricano, bianco, per niente di sinistra, solo uomo di legge. A lui ha riferito nomi, cognomi, tutto quello che sapeva. Adesso aspetta di vedere fin dove arriverà la verità.


Submitted by Lorenzo (non verificato) on Mar, 20/04/2010 - 23:18.
Ho incontrato Umberto Fusaroli Casadei in due occasioni: la prima, nel 1976, quando ancora ragazzino di 7 anni andavo in giro per le strade di Maputo con mio fratello a sparare ai passeri con la carabina ad aria compressa... quella mattina eravamo in Avenida Kenneth Kaunda, una macchina ci vede, inchioda in uno stridere di pneumatici assordante, ne scende furibondo l'autista, ci acchiappa ambedue per un braccio, strattonandoci ci sbatte in macchina ed insultandoci ci dice che adesso aveva capito chi faceva strage di uccelletti in giro per Maputo (con mio fratello, mai riusciti a centrare un passero in mesi e mesi di tentativi, aimé!!). Noi piangiamo, gli chiediamo dove ci porta, "Al commissariato per denunciarvi"... noi eravamo amici dei poliziotti del commissariato di quartiere, a cui avevamo anche prestato la carabina... glielo diciamo, lui risponde: "Ah si? Allora vi porto in un commissariato lontano, dove non conoscete nessuno!"... e cosi fece... ci venne a recuperare mio padre e la storia finì lì... ma ricordo come se fosse ieri il velo di terrore che calò sull'udienza di amici Italiani accorsi la sera stessa a casa nostra per consolarci e ascoltare il racconto della brutta vicenda: quando fra un singhiozzo e l'altro mio fratello disse "poi il Signor Casadei, perché cosi ha detto di chiamarsi..."... Casadei? Improvvisamente calò il gelo e dopo un breve incrocio di sguardi preoccupati, ognuno tornò a casa propria in fretta ed in silenzio...
La seconda volta fu altrettanto casualmente, a dicembre del 2002 quando, tornato a Maputo dopo 25 anni, mi ritrovai a cena a Villa Italia... il ristorante di Casadei... ma non lo sapevo... fu una sorpresa quando venne a fare il giro dei tavoli come ogni buon ristoratore ed arrivò al nostro, presentandosi: "Umberto Fusaroli Casadei, come trova i ravioli?"... sgranai gli occhi... era irriconoscibile, zoppicante, appesantito, col suo bastone... gli raccontai l'episodio della carabina, ovviamente non ricordava, si sedette al nostro tavolo, parlammo di politica, di Samora, della Frelimo, della Renamo... e mi raccontò per filo e per segno tutto quanto riporta qui sù Black_cat... Black_cat complimenti... un racconto preciso e fedele delle parole che ho sentito da Casadei... quello che manca però è che Casadei mi disse che era incastrato, che aveva già provato a rientrare in Italia... ma i fascisti (si, nel 2002 ancora parlava di "fascisti"), al suo primo tentativo di rientro in Italia, dopo anni di esilio, avevano subito provato ad ammazzarlo, con un pacco bomba, finito poi con lo scoppiare rocambolescamente nell'ape del postino... mi disse che gli anni di piombo in Italia non sono affatto finiti... che lui, rientrando in Italia, rischiava la vita e per quel motivo era dovuto ritornare di corsa a Maputo... solo che anche lì avevano tentato di fargli la pelle... mi fece vedere i buchi dei proiettili, gli avevano sparato ancora un paio di annetti prima a Maputo, nella strada del Polana, dietro il suo ristorante... mi disse che tanto sarebbe finito morto ammazzato e che stava lì lì per decidere di tornare in Italia, perché almano lì, lo avrebbero ammazzato in patria... ma ancora non si era deciso... parlammo fino a tardi, chiudemmo il ristorante... non credo alla tesi dell'incidente di macchina...


19 SETEMBRO 2007. MORTE DE CASADEI EM ACIDENTE DE VIAÇÃO EM ITÁLIA
"E' morto il Comandante Umberto Fusaroli Casadei"
E' morto oggi in un incidente stradale il partigiano Umberto Fusaroli Casadei, commissario politico e comandante nell'8° Brigata Garibaldi di Romagna, poi guerrigliero in Mozambico. Per molti versi dimenticato dalla storia ufficiale, soprattutto quella di partito, perchè uomo scomodo, spero che la sua memoria non si spenga mai nei cuori di chi lo ha conosciuto e di chi come lui combatte ancora oggi i "mostri".


Post subject: Re: A case of assassination?Posted: 2011.09.12. 15:25 

Nzhou wrote:
So whats your view on the air crash....accident or assassination?

CASSIUS (in http://www.newrhodesian.net/viewtopic.php?f=36&t=2383)
Well, if that question is directed to me, here is my view:

The Truth is out there, and I don't think it will ever come out.

No doubt the death of samora machel was "Welcome news" for South Africa. And for the Rhodesians too (although did not existed anymore). And for me too, because I had to flee from my birth country for the simple fact the colour of my skin is white.

The idea to get rid of samora, germinated in Mozambique itself. Frelimo was not sophisticated enough to pull something like this. And South Africa did not have proper connections inside Mozambique Frelimo structures. Overtime this connection got stronger (just) enough for Mozambican and South African agents to get together to plan and plot this incident.
While the Mozambicans and South Africans are holding discussions, the Russians/Cubans became aware of what is brewing. What a greater opportunity for the Russian/Cuban side to assassinate samora, and accuse South Africa. They are one step ahead and promote samora to the status of "Businessman" - making bricks 5 feet under.
Was the Russian/Cuban connection happy the way samora was flirting with South Africa? No.

Is there concrete evidence that S.A did? NO
Is there evidence that the idea was germinated by some members of the Frelimo structures? Yes, ask Mr.Casadei.
Is there evidence the Mozambicans did it? No
According to all evidence collected, it points out a lack of basic airmanship and incompetence. But I personally I'm not convinced about it alone. Yes, it shows a lack of basic airmanship and incompetence. But the web of deceit is so dense, it distorts the image of those from the other side - The Russian/Cuban connection.

My verdict: Assassination, and look east.

_________________
The Alterverse Of Willful Ignorance.
Let's face it. This isn't reality. It's a fleeting world of voluntary make believe only adopted by self-numbing drones too afraid to even ask questions any more.

And they do it willfully. We all do.


How Samora Machel signed his own death
There was motive for the then South African government to kill Mozambique’s Samora Machel, and there is plenty of evidence to back up these claims, writes Debora Patta (Radio 702, South Africa)

Robert Kirby’s article on the Samora Machel crash (June 19 to 25) is devoid of any context. He writes as if South Africa in 1986 was a perfectly normal society, with a judicial system above reproach and a defence force that would never stoop to dirty tricks. Those at the receiving end of apartheid’s evil deeds need no convincing as to what this country’s former rulers were capable of.

South Africa was perfectly capable of killing Mozambican president Samora Machel, and in fact had tried on several occasions to assassinate him. Furthermore, the South African Defence Force (SADF) was equipped with sophisticated beacon equipment that was part of its covert operations used during the Angolan war.

One has to ask why South Africa always hauled out Judge Cecil Margo whenever it needed to conduct a sensitive aviation inquiry. At the time of the crash, the SADF was under suspicion. The mere fact that Judge Margo was an honorary colonel with ties to the old South African Air Force was reason enough for him to excuse himself from the inquiry into the Machel crash. But during the apartheid days it was customary for the accused to investigate themselves.

Kirby dazzles and bamboozles readers with complicated, technical jargon. But he has only regurgitated the findings of a 12-year-old commission of inquiry that - at best - chose to ignore critical evidence.

What did the South Africans have to gain by killing Machel? Kirby argues that “with Samora Machel’s death South Africa was much diminished. We lost a neighbour of imagination, purpose and optimism. With the Nkomati Accord signed, a new chapter of co-operation had been opened. There was nothing to gain, even for the apartheid regime.”

In terms of the Nkomati Accord, the African National Congress was unceremoniously booted out of Mozambique and South Africa agreed to stop all military and logistical support for the rebel Mozambican group Renamo.

But history tells a different story. Machel had entered into a pact with the devil and signed what many would argue was his own death warrant.

The accord was a charade. South Africa had no intention of living up to it. Even as leaders of the two countries were shaking hands, supplies were being flown to Renamo. Pretoria was beefing up its Casa Banana base in Gorongosa. And when Casa Banana was captured by Frelimo a year after the accord, documents left behind showed that Machel had been cheated.

Supplies continued to be flown into the base, an airstrip had been built there and one of its most frequent visitors was South Africa’s deputy foreign minister Louis Nel.

South Africa also initiated Renamo operations out of bases in Malawi, which had become a focal point for destabilisation. Mozambican protests to Malawi culminated in a visit to Blantyre on September 11 1986 by Machel, Zambia’s Kenneth Kaunda and Zimbabwe’s Robert Mugabe.

In his book Machel of Mozambique Ian Christie writes: “When Machel set out on that trip he was angry. He detested [Malawi president Hastings] Banda and had on several occasions described him in my presence as a fascist.”

During a two-hour meeting, a furious Machel presented Banda with a dossier containing evidence of active support for Renamo by Malawi and South Africa. The documentation included a photocopy of a Malawian passport issued to Renamo leader Afonso Dhlakama.
On his return to Maputo, Machel let off steam at a media conference where he told journalists: “We will place missiles along the border with Malawi if support to the bandits is not ended. And we will close the border to traffic between Malawi and South Africa going through Mozambique.” That was a serious threat: an average of 70 trucks a day were passing through Mozambique’s Tete province on the international route to the ports of South Africa.

Shortly after the meeting, Renamo launched a three-pronged conventional military invasion of Mozambique from Malawi. The invading military columns were led by white soldiers believed to be members of the South African Special Forces (reccies).

And that’s when Machel drove another nail into his coffin. During a visit to the province of Tete, which borders Malawi, he said: “The Malawian authorities have made their country a base for mercenaries of various nationalities, but principally South African soldiers. I think president Banda is not responsible. I think ministers, soldiers, members of the police and the Malawian security have been bought by the South Africans and other countries I don’t want to name now, although there is evidence of this.”

Machel was planning to fire several of his generals for profiting from the war with Renamo, but never lived to carry this out.

On October 6 1986, General Magnus Malan threatened Machel personally, following an alleged landmine explosion near the area where Machel’s plane would crash 13 days later.

“If president Machel chooses landmines, South Africa will react accordingly. If he allows a Moscow- inspired revolutionary war against South Africa, he must also be prepared to take responsibility. If he chooses terrorism and revolution, he will clash head on with South Africa,” warned the general.

The stage had been set for an attempt on Machel’s life, but as his widow Graça Machel has said: “We never expected South Africa to attack the presidential plane.”

And so it was on October 19, on a dark, still night in Mbuzini, a Tupolev 134 crashed into hilly terrain, killing Machel and 34 others. Only nine people survived the accident.

One of the first people on the scene of the crash site was a local resident who, fearing for his safety, will only give his name as Mike. Because he knew the area well and was able to negotiate the difficult mountainous terrain, he was taken to the scene of the crash by local police.

To his surprise, he found security police already on the scene. “The injured were crying and moaning, the plane wreckage was scattered all over. I was the only one who was a civilian.”

Nobody seemed particularly concerned about providing much-needed medical assistance, he says. Instead, police combed through wreckage, demanding that survivors tell them where Samora Machel was. “I don’t know what they told them, but they went back to the wreckage and came back with a briefcase and they put it on top of one of the car’s boots and started searching it. I knew if they found me I would be in big trouble because what they were doing was unlawful. They were not supposed to search the briefcase.”

The next day Mike was forced to go into hiding because SADF soldiers repeatedly visited his home looking for him.

A crash survivor, Machel’s chief bodyguard Fernando Manuel Joao, echoes Mike’s words. He had walked a considerable distance in search of help, and at midnight had managed to contact the Komatipoort police through the radio of a local religious mission.

When he returned to the crash site, he found that “the South Africans were not at all concerned with the lives of the wounded. They were just messing around with the other things there.” Joao was furious with the South Africans for “refusing to take the wounded to hospital.”
The then foreign affairs minister, Pik Botha, later admitted documents had been removed from the wreckage, providing details of a planned Mozambican strike against Malawi. Botha says: “Yes, technically that would have been a violation of diplomatic practice, certainly. But this was done probably to find out what was being discussed, but with respect this has nothing to do with the crash or the causes of the crash.”

Colonel Des Lynch was seconded from the South African Air Force to assist with the probe into the crash. For the record, he says he’s convinced the crash was caused by pilot error. But he has strong words about the way police and the Department of Foreign Affairs conducted themselves.

“From the first moment that the news was broken by the minister of foreign affairs on the SABC at 7am that led to confusion ... Even the minister ... who called impromptu press conferences, who leaked information to the press, made allegations about drunken behaviour and unserviceable equipment, things he knew very little about, only confused matters.”

To this day there are many people who believe the Russian crew on board the Tupolev 134 were drunk, although there was not a shred of evidence to support this. “Those allegations made an impact ... For a long time [they] contaminated the investigation,” he says.

Another bone of contention was the critical cockpit voice recording, known as the black box. On the day of the crash, civil aviation investigator Piet de Klerk handed the black box over to police for safekeeping. It would be nearly six weeks before he saw that crucial piece of evidence again. The black box was passed on to General Lothar Neethling, who headed the police forensic laboratory - and is shown, in original police footage of the accident, tramping through the wreckage.

In the days and weeks that followed the accident there was much political posturing between South Africa and the Soviet Union, until it was eventually agreed that accident investigators would fly to the Soviet Union to listen to the black box in the presence of their Russian counterparts.

But, says Lynch, literally days before they were due to fly to Moscow, police forensics were still refusing to part with the precious evidence. “We’d now got to the stage where we had to sue the police to give us the boxes back ... Not until lawyers’ letters were served on the police did they release the boxes.

“De Klerk ... described how he put [the boxes] in black plastic bags and sealed them and they were muddy and dirty and whatever - and the day that we arrived here they were spotless. There are little holes and things that are plugged with wax, and the wax was gone. We did not know whether they’d been opened or X-rayed and the more questions we put to the police the more obtuse they became. So we left here just hoping they would work and ... everything we got from the boxes was excellent.”

So we have a motive and a contaminated investigation. But let’s go one step further and look for a suspect, a modus operandi and a smoking gun. For that we travel to Italy to meet Umberto Fusaroli Casadei.
If you saw Casadei walking down the street, you would hardly give him a second glance. He looks like every other kindly old Italian man you find in the villages of Italy, who adores his grandchildren and passes the days hanging out at the local espresso bars or cheering for his favourite soccer team. But behind this apparent ordinariness is a remarkable story. He has rubbed shoulders with some of Africa’s greatest leaders and survived more than one assassination attempt.

Casadei was just 16 years old when he was forced to watch his father and two uncles being publicly executed by Franco Mussolini’s fascists during World War II in northern Italy. This scarred him for life, and he vowed then to fight oppression in every corner of the globe.

It was this that led him to Samora Machel, whom he fought with against the Portuguese colonialists. After independence he became one of Machel’s most trusted lieutenants, operating in the dangerous world of counter- espionage. Casadei was a double agent, pretending to work for South African military intelligence (MI) while secretly passing crucial information directly to Machel. He was paid R600 a month by South Africa for his false MI reports, money that ironically went straight into Mozambican government coffers.

One of his regular contacts was a female MI agent whom he has identified but asked that we call simply “Maureen”. It was during a routine meeting with Maureen that Casadei stumbled on the information that South African and Mozambican agents were plotting to kill Machel.

He described how “she asked me if the South Africans could trust the Mozambicans. Because they had asked the South Africans: if they assisted in killing Samora, what would the South Africans do to help those who’d assisted in the murder to take over power in Maputo?”

Now that he knew the identities of the Mozambican officials planning on betraying their leader, Casadei went straight to Machel and begged him to let him kill the two generals. “Samora now knew who was plotting against him, but he refused [to let] me kill them, he did not give me the permit to kill them. And so he gave them time to kill him. This was the big problem,” said Casadei, shaking his head regretfully.

It was not long after this that the crash occurred.

Devastated by the loss of one of his dearest friends, Casadei dedicated himself to investigating the cause of the crash. By 1994 he had collected enough information to go public with his story, speaking out in Mozambican radio interviews and newspaper articles. He linked top Mozambican and South African government officials to the conspiracy to kill Machel and provided critical technical information.

He paid a heavy price for his courage. Assassins opened fire on him on two occasions. The first time, convinced they’d killed him as he sat at the wheel of his Landrover, they taunted him by saying the bullets were a message from the Mozamibican generals he’d named as accomplices in the president’s murder. But he survived, driving himself, badly wounded, to hospital.

Several months later another round of bullets was emptied into Casadei’s body and again miraculously he survived. But by now things had become too dangerous, and this time he was forced to flee Mozambique and return to the town of his birth in Northern Italy.

Casadei’s story is reinforced by a foreign intelligence document from a neighbouring country in the possession of Radio 702. The document names the Malawian, Mozambican and South African agents who conspired in the plot to kill Machel. The Mozambicans named in the report are the very same ones who sent assassins to kill Casadei.

The document states that South Africa was charged with the responsibility of overseeing the technical aspects of the crash. Senior South African generals and a Cabinet minister are named in the report.

South African military intelligence was given the task of recruiting an airport official from Mozambique. According to the report, the airport official was paid a total of R1,5- million to assist the South Africans by switching off either the Maputo radar system or the beacon.

The report states that this person “travelled to Zimbabwe to close the deal with his foreign counterparts with the help of a Mozambican official who got him a medical certificate to justify his absence. Payments were made in two parts ... After the deal the Malawians and the South Africans started to monitor the control tower and the communications in it.”

(Radio 702 is in possession of the dates those payments were made and the banking institutions where the money was deposited. However, this could not be double-checked because the banks concerned do not keep records going that far back.)

The airport official would later ensure that the Maputo beacon and radar system was/were switched off, making it easier to operate a decoy beacon transmitting a signal on the same wavelength as the Maputo beacon.

The report states that on the night of the accident a decoy beacon was used to divert the plane off course.

The weather was extremely cloudy in Mbuzini that night, which provided optimum conditions for a decoy beacon to work successfully. The document also claims South African special forces were in Mbuzini on the night of the accident.

But the Margo inquiry found there was no evidence of SADF soldiers anywhere in Mbuzini on the night of the crash. Judge Margo was satisfied that “the SADF platoon commander in charge of the area from September to November 1986 was emphatic in his evidence that no SADF personnel were at the site”. What did Margo expect - that the SADF would readily admit it was in the area?

A former 32 batallion member who was on duty along another part of the border on the night of the Machel crash stumbled on the presence of soldiers in Mbuzini while he was monitoring his freqency-hopping radio.

That night, he said, “I was a member of special forces which was actively busy with another operation and using a C21 military radio. We heard pieces of messages coming through from 1 Reccie in the vicinity of the place where the plane went down of Samora Machel.” No mention was made over the radio of the nature of the special forces operation; the soldier said a blackout of information always meant it was a “black op” - a highly secret operation, details of which would only be known at a presidential and senior general level.

Another former national serviceman based at military headquarters in Pretoria has come forward to say on the night of the crash he was told he had to work late. His job was to provide refreshments for the military top brass, led by General Joubert. “He was there, [General] Kat Liebenberg arrived, Magnus Malan arrived. It was unusual because we had to work late and take refreshments up to them. These guys had an appetite, they were hungry,” said the national serviceman, who has asked that his name be kept out of this report.

Also there that night was former electronic warfare head Lieutenant- Colonel Mossie Basson. He has confirmed the presence of Joubert, and says by some strange coincidence there was a secret operation under way that night. However, he says it had nothing to do with the Machel plane crash.

The South African Air Force has admitted it was tracking the Russian aircraft on its radar system that night, and saw the plane making a wrong turn. One has to wonder why it never bothered to communicate with an enemy plane heading for South African territory. Surely the obvious thing to have done was to point out that the Russian plane had made a wrong turn and warn the pilot he was about to encroach on South African airspace.

The Renamo and special forces link is given weight by another piece of evidence from former Renamo operative Paulo de Oliveira,who was based in Lisbon at the time. He was the man South African military officials in Phalaborwa would radio whenever they needed Renamo to claim responsibility for operations executed by South African special forces.

Several days before the crash, De Oliveira’s South African military contact in Phalaborwa sent him an urgent message: “Pay attention to the news and stay near the telephone and so on, because something big is going to happen.” That was two or three days before the crash.

Several hours after the crash, De Oliveira received further orders telling him to remain on standby as “Renamo might have to claim responsibility for shooting down Machel’s plane”. By midday that instruction had been withdrawn and the accident was never spoken about again.

De Oliveira handed himself over to Frelimo in 1988, and he provided details of South Africa’s ongoing support for Renamo long after the Nkomati Accord had been signed.

A senior military colonel now retired from the army has confirmed there were also members of the signal intelligence division (Sigid) in Mbuzini on the night of the crash. He describes a Landrover that he says was in the area over the period of the crash, under the command of Sigid. Inside the vehicle was sophisticated electronic equipment used to unscramble frequencies, monitor signals, etc. Residents in Mbuzini spoke of seeing a Landrover in Mbuzini at the time of the crash.

A former national serviceman in the air force working at Snake Valley 4AD says in the weeks preceding the Machel crash he saw a beacon being built. He describes a piece of equipment powered by a Kawasaki motor, mounted on a small trolley with a klerkmast attached to it. When he asked why it was being built, he was told: “It’s a secret operation that has nothing to do with you.” It disappeared over the weekend of the crash.

Compare these descriptions of communications systems contained inside a Landrover and an electronic device mounted on a small trolley to the technical information provided in the Mozambican report attached to the Margo inquiry.

A British-based VOR manufacturer states that transmitting a false signal that mimics the Maputo beacon is “a simple task and an effective method of boosting the output of the required radials from a given power source. It could be readily accomplished with a vehicle-mounted unit using two standard motor-vehicle batteries in series as a 24-volt supply and a directional horizontally polarised antenna ...The simplest and most effective way to produce accurate radials would be to switch off the Maputo DVOR during the period any mobile decoy VOR was activated.”

Kirby dismisses this technical information contained in the Mozambican appendix to the Margo report and casts aspersions on the source of the information, stating it was “acquired from an un-named British VOR manufacturer”.

One wonders if Kirby actually bothered to read the full Margo report. It clearly states in a letter from Mr R Chippendale, an accident investigator from New Zealand, that the information is gathered from Bill Eastwood, the technical director of the reputable London-based Racal Avionics, and his associate, Ron Hazel. Both letters are signed by the two men and their full addresses are supplied. Racal Avionics was the manufacturer of the Maputo VOR and well acquainted with the product in question.

Both Casadei’s allegations and the intelligence documents indicate the Maputo beacon was indeed switched off.

According to Casadei, ground-control staff were removed from their posts shortly before the plane was due to land, the radar was not working and it’s possible that the Maputo beacon was also switched off. If the Maputo beacon and/or the radar was switched off and the crew deliberately confused during descent, said Casadei, optimum conditions would have been provided for a decoy beacon to be used to lure the plane off course.

The Russian Civil Aviation report backs up the theory of a decoy beacon. It provides a body of technical information arrogantly rejected by the Margo inquiry. It is also dismissed in a couple of sentences by Kirby, who seems to fall into the old “reds under the bed” trap that portrays Russian pilots as stupid and their inquiry as nothing more than communist propaganda.

The Margo inquiry blamed the Machel crash on pilot error. A key aspect of the Russian investigation is documented evidence that another plane flying along the same route as the Tupolev intercepted the signal of a false beacon.

The report states: “Pilots of the commercial aircraft Boeing 737-200 C9BAA of the LAM airline stated that the board navigation equipment on their aircraft picked up the Maputo beacon unusually early ... The same signal of the false VOR was received by the board equipment on the Boeing 737 aircraft of the LAM airline.”

This evidence is not conclusive, but it casts sufficient doubt on Margo’s findings to call for a new inquiry. It also raises questions about the failure of the commission to adequately probe key issues like the presence of the military in Mbuzini.

Certainly there is no doubt that the crew of the Tupolev 134 made some serious errors, most notably when they ignored the ground warning signal shortly before impact. But by then it was too late. At that stage they believed they were landing at Maputo airport, even though it was pitch black. These pilots, who had thousands of miles of flying experience, were used to landing in darkness, as the electricity at the airport was frequently switched off by the South Africans.

Even if the crew had realised that they had made a wrong turn, I am convinced they had no chance of surviving. There is strong evidence to suggest the presence of highly trained special force members in the area. If the plane did not crash, the military would always have had a plan B and be prepared for every contingency. Perhaps they were waiting to shoot down the plane if the decoy-beacon plan failed.
But the plane crashed in South African territory and South Africa was then able to control the accident investigation .

(1998) Debora Patta is the news and special assignments editor of Radio 702 and Cape Talk. She has been investigating the Samora Machel crash for the past 10 months, and this report is a compilation of special reports broadcast on 702 and Cape Talk from October last year


05 fevereiro 2013

ANATOMIA DE UMA BEM-SUCEDIDA GUERRA REVOLUCIONÁRIA: EXÉRCITO PORTUGUÊS VERSUS PAIGC E O ASSASSINATO DE AMÍLCAR CABRAL


ANATOMIA DE UMA BEM-SUCEDIDA GUERRA REVOLUCIONÁRIA: EXÉRCITO PORTUGUÊS VERSUS PAIGC E O ASSASSINATO DE AMÍLCAR CABRAL


Ressalvando-se um período caracterizado em 1971 por um impasse militar no teatro das operações, genericamente, o desequilíbrio da situação militar, desde o começo da guerra, foi sempre favorável ao PAIGC, até para os comandos-chefes portugueses, mercê da sua permanente melhoria estratégico-táctica e, também, da perfeita combinação de acções de guerrilha com as da guerra convencional (sobretudo a partir de 1968), para além de uma manifesta superioridade em termos de arsenal bélico, sem ainda contar com o conhecimento do meio e uma elevada moral combativa.
Esse desequilíbrio, a favor do PAIGC, foi no tempo uma realidade que evoluiu de forma quase inalterável porque, desde o início da luta armada, este movimento de libertação conseguiu adequar a estratégia militar e a consequente táctica às estruturas logísticas e ao próprio dispositivo, colmatando, aqui acolá, as situações que se impunham e fazendo face aos desafios próprios de crescimento que requeriam o confronto das estratégias de ambos os exércitos.

Com efeito, esta dinâmica foi impondo às FARP (Forças Armadas Revolucionárias do Povo) uma gradativa subida de patamar em termos organizacionais, para além de uma constante adequação dos desígnios militares aos estritamente políticos, sendo também de assinalar o facto de o PAIGC ter aproveitado este ascendente favorável para estender o seu controlo por quase toda a região Sul o que criou, por sua vez, condições ideais para o alastramento do conflito para a região Centro-Oeste, apesar das contra-ofensivas de Cantanhez e Quitafine, desencadeadas quase em simultâneo pelo Exército português, mas que não conseguiram debelar o ascendente militar do PAIGC que, ainda assim, consegue abrir novos corredores de infiltração e abastecimentos a partir da fronteira Norte, dos quais se destacam os de Sitató, Jumbenbem, Sambuiá e Canja, obrigando o Exército português, por isso, a uma nova e profunda remodelação do seu dispositivo táctico.
Foi, efectivamente, em 1971, após a chegada de Spínola que Amílcar Cabral e o PAIGC, em virtude da eficácia e da eficiência da política da “Guiné Melhor”, que o ascendente político-militar do PAIGC foi seriamente abalado e posto à prova, na medida em que a introdução de um novo conceito operacional, do lado do Exército português, baseado na combinação das acções psicossociais com a crescente africanização do conflito, contribuiu significativamente para uma espécie de equilíbrio e impasse militares, mercê sobretudo da formação de unidades de recrutamento local, de espírito marcadamente ofensivo, de pendor atacante e de procura de supremacia, mesmo que transitória, em todas as zonas em disputa, passando esta alteração estratégica a denotar, por parte de Spínola, uma profunda percepção dos aspectos doutrinários da guerra anti-subversiva, a qual, doravante, passa a ser direccionada no sentido da conquista das populações, por meio de acções socioeconómicas, de tal sorte que logrou espalhar, momentaneamente embora, o desânimo nas hostes combatentes do PAIGC.

Apercebendo-se ambos (Amílcar Cabal e Spínola) de que havia que tirar partido da situação de equilíbrio e impasse militares desde 1971, quer um quer outro, quiseram potenciar positivamente para o seu lado as oportunidades que surgiam, optando claramente o primeiro por uma estratégia global assente na internacionalização do conflito - para cujo fortalecimento era sumamente importante a componente militar -, enquanto o segundo apostava seriamente num trabalho cujo objectivo era minar a credibilidade da Direcção do PAIGC, visando igualmente forjar uma solução politicamente negociada, uma vez que era assente que o conflito só podia ser resolvido pela via política e não militar. Neste sentido, através da acção concertada da PIDE-DGS e da APSIC, as autoridades coloniais começaram a desenvolver, paralelamente e com um notável sucesso, todo um paciente e meticuloso trabalho de infiltração das estruturas intermédias e, em certa medida, da própria cúpula do PAIGC.
Perante este estado de coisas, Amílcar Cabral responde com uma modificação da sua manobra global, passando doravante a preocupar-se em manter, no teatro das operações, com grande economia de meios e de materiais, um estado de guerra que servisse a sua propaganda interior e exterior, visando também, especialmente, a adesão das populações e uma máxima restrição de mobilidade das unidades das tropas portuguesas.

A associar a estes dois aspectos, Amílcar Cabral introduz ainda um terceiro, a todos os títulos demolidor, que é o de permanentemente alimentar nos areópagos internacionais a ideia de uma possível e até iminente derrota militar do Exército português na Guiné, não apenas com o objectivo de assegurar que as questões relativas à justeza da luta do PAIGC se mantivessem em permanência na agenda internacional, mas sobretudo com a finalidade de criar um ambiente internacional favorável à sua intenção de proclamar o Estado da Guiné-Bissau e, assim, assestar o golpe diplomático fatal ao colonialismo português, pois para ele era ponto assente de que o Estado da Guiné-Bissau existia de facto, através de toda uma organização social, política e económica criada nas zonas libertadas, apenas precisando, por isso, de ser formalizada de jure, com a proclamação da independência e a adopção de uma Constituição que criasse os seus órgãos de governo, transformando assim a presença do Exército português, na Guiné, à luz do Direito Internacional, na de uma força invasora de ocupação.
Do confronto de duas convicções estratégicas muito claras, resulta, do lado português, o incremento de uma forte componente política na sua actuação, tanto junto das populações como na procura de uma solução negociada, optando também Amílcar Cabral, por seu turno, com uma inusitada acção psicossocial, amplamente realizada com o apoio da Suécia e articulada a mesma, no plano das operações militares, com acções coordenadas, quer atacando as guarnições com possibilidades de apoio simultâneo de artilharia e tirando o máximo rendimento da sua actividade, quer ameaçando zonas urbanas e os chamados reordenamentos populacionais organizados pelo Exército português em autodefesa, quer provocando intervenções junto da tropa portuguesa e montando de seguida emboscadas nos itinerários de acesso directo das forças de socorro.

O Exército português caiu assim numa fase desconcertante e o PAIGC, em virtude sobretudo da introdução, por parte de Amílcar Cabral e do PAIGC, de novas e potentes armas que colocam os aquartelamentos situados ao longo da fronteira sob permanente fogo de artilharia, correspondendo esta opção táctica a uma substancial melhoria das FARP em termos de organização militar, e, por outro, ao incremento da eficiência e da eficácia relativos a uma ampla acção psicossocial posta em marcha e que, cumulativamente, em boa verdade, revelaram-se capazes de contrabalançar a inteligente acção psicossocial de Spínola.
Na realidade, justamente pela ameaça que representava, Amílcar Cabral era já, desde essa altura, um sério problema para autoridades colonias de Bissau e da metrópole. Aliás, pelo menos desde 1972, o nome do general Spínola é falado para a presidência da República, e, por isso, não pode regressar derrotado. Era para ele imperioso tudo fazer para inverter a situação militar, pelo que não é de descartar a hipótese de que o assassinato de Amílcar Cabral se enquadrasse nessa espécie de obsessão que levaria o Exército português, no início de 1973, logo depois do seu assassinato, a realizar uma série de violentas operações militares contra as regiões libertadas e algumas bases do PAIGC no Sul que, no entanto, vieram a revelar-se desastrosas.
Acresce também que os sucessos militares e políticos do PAIGC, destacando-se, dentre os mesmos, a proclamação do Estado da Guiné-Bissau, só foram possíveis tendo em conta os trabalhos ainda realizados em vida por Amílcar Cabral, os quais, mutatis mutandi, se deu continuidade de acordo com as linhas estratégicas por ele gizadas. Portanto, ao contrário do que é lugar-comum afirmar-se, não foram os mísseis Strella, utilizadas pelo PAIGC após a morte de Amílcar Cabral, que configuraram uma alteração marcadamente significativa em termos estratégico-tácticos. Na verdade, ainda em vida, Amílcar Cabral tinha logrado alterar significativamente a situação do impasse militar, fazendo-a nova e favoravelmente pender para o lado do PAIGC, designadamente, com a utilização maciça de morteiros (82 mm e 120 mm), foguetões de 122 mm (Graad ou jacto do Povo), a peça de artilharia 130 mm e ainda o M-46 (novíssima arma de longo alcance capaz de atingir 30 quilómetros), os quais ocasionaram, do ponto de vista da correlação de forças no terreno, uma acentuada alteração favorável ao PAIGC.


Com efeito, a última mensagem de Cabral resume de forma perfeita a situação em que os portugueses se encontravam no teatro da guerra: Dizia ele que “ (…) o agressor colonialista enfrenta uma contradição principal, sem solução (…) Para ter a sensação de que domina o território, ele é obrigado a dispersar as tropas, levando-as a ocupar o maior número de localidades possível, mas, dispersando-as fica mais fraco e, assim, as forças patrióticas, concentradas, podem dar-lhe golpes mais duros e mortais. Então ele é obrigado a retirar para concentrar as suas tropas e evitar grandes perdas em vidas humanas, para melhor resistir ao avanço das forças nacionalistas, contra as quais pretende ganhar tempo. Mas, concentrando tropas, deixa sem a sua presença militar e política vastas áreas do país, que são organizadas e administradas pelas forças patrióticas”. [Cabral, Amílcar, “Mais Pensamento para Melhor Agir”, mais Actividade Para melhor Pensar” (mensagem de Ano Novo), Serviços de Informação do PAIGC, Arquivo do PAIGC, Janeiro de 1973, pp. 12 e 13]
Será assim em defesa da sua imagem pessoal – muito mais do que a imposição de quaisquer perspectivas negociais –, que Spínola desencadeia operações de grande monta no Sul, ainda antes do assassinato de Cabral, as quais este e o PAIGC respondem, no Norte, de forma igualmente violenta, obrigando assim o Exército português ao balanceamento de efectivos para o Norte, para logo depois atacar novamente e com assinalável sucesso os aquartelamentos do Exército português no Sul.
Portanto, para as autoridades coloniais, como acima se referiu, Amílcar Cabral e o PAIGC eram já um sério problema para as autoridades coloniais, na medida em que, para além da projecção e respeito internacionais que este líder africano granjeara, o PAIGC contava ainda com moderna e potente artilharia e ainda poderosos carros blindados no seu arsenal, pelo que tudo apontava que estava nos seus planos a consolidação da guerra convencional que, de resto, vinha sendo ensaiada com inquestionável sucesso, desde pelo menos 1968, e que transformou o teatro de operações da Guiné no mais sério dilema dos governantes portugueses: não podiam negociar, porque iriam abrir um precedente noutras colónias, mas também não encaravam de ânimo leve a possibilidade de uma derrota, que já se vislumbrava no horizonte, pois afectaria o moral dos seus soldados que combatiam noutras frentes, nomeadamente em Angola e Moçambique. A alternativa política era a de “aguentar o mais possível” que, ainda assim, só jogava contra Portugal.
Antes, porém, deste clima político em que o Portugal Imperial entre a espada e a parede, num primeiro momento, a Subdelegação da PIDE-DGS apostou fortemente na transmudação de elementos da estrutura clandestina do PAIGC em informadores dessa mesma polícia política, ao ponto dessa mesma estrutura clandestina vir a encontrar-se quase que completamente minada. O irónico da situação era que mesmo dentro da estrutura clandestina do PAIGC, em Bissau, os próprios agentes infiltrados da PIDE-DGS estavam, sem o saberem, encarregues de vigiar os movimentos de outros agentes, seus correligionários, o que de per si dá ideia do enorme grau de infiltração da PIDE-DGS junto de estruturas nacionalistas. A este grupo juntava-se ainda a grande rede de informadores que se contavam aos milhares, para além do nada desprezível contingente de desertores do PAIGC que a PIDE-DGS convertia em informadores e o próprio Exército português utilizou como guias privilegiados nas suas acções cirúrgicas.
Acrescem a tudo isso outros planos urdidos para desacreditar Amílcar Cabral e mesmo para a sua eliminação física, dos quais destacamos os seguintes:
·         A contratação do escritor Amândio César, em 1965, no tempo do governador Arnaldo Shultz, que se deslocou a Guiné para escolher elementos para a publicação de um livro de contrapropaganda contra o PAIGC, no qual, de resto, escreveu sobre Amílcar Cabral frases assaz indecorosas, evidenciando quase uma batalha pessoal: “ (…) Ele sabe o fim que o espera, e sabe melhor do que ninguém o que sucedeu a um seu amigo de subversão, aquele Humberto Delgado em cuja morte parece que também andou envolvido o nome da sua mulher. Esse fim à vista e a rivalidade dos outros comparsas, que suportarão mal, ou não suportam de todo, a sua ascendência cabo-verdiana, agravada com o seu casamento com mulher branca da metrópole – tudo isso leva Amílcar Cabral a apresentar-se optimista em L’ Humanité exactamente quando a imprensa estrangeira também começa a dar pela mentira do terrorismo na nossa província da Guiné (…) ” [César, Amândio, Guiné 1965: Contrataque, Pax, 1965, p. 31]
·         Em 1966 ter-se-ia registado uma primeira tentativa de abater Amílcar Cabral nas regiões libertadas, na sequência da qual Honório Sanches Vaz e Miguel Embaná, altos responsáveis do PAIGC (igualmente agentes da PIDE-DGS), foram julgados e condenados ao fuzilamento. Segundo os planos desse atentado, um atirador de bazuca deveria disparar contra a barraca onde Cabral devia pernoitar. Honório Sanches Vaz mantinha ligações com a Subdelegação da PIDE-DGS de Bissau, tendo inclusivamente enviado a Bathurst, Gâmbia, emissários que se encontraram com o inspector da PIDE-DGS, no Hotel Atlântico, onde alegadamente, ele próprio chegou a encontrar-se com agentes outros da PIDE-DGS para negociar a rendição dos elementos do PAIGC sob o seu comando.
·         Um outro plano que, desde 1967 vinha sendo urdido e discutido com minúcia, entre o Director-Geral da PIDE e o chefe da Subdelegação de Bissau, através de uma troca de ofícios com a chancela de “muito secreto”, acabaria depois por ser abandonado por inexequível.
Com efeito, o próprio Amílcar Cabral tinha uma aguda consciência da existência de planos que visavam a sua eliminação física. Produziu, por isso, um importantíssimo e premonitório documento no qual denunciava concomitantemente os planos do Governo colonial em face da guerra e, no qual, antevia o seu próprio assassinato. Curiosamente, tudo ou quase tudo veio a acontecer, como de resto ele previra neste documento. Com efeito, dizia ele que:
“ (…) Os colonialistas portugueses, para criarem a confusão na nossa terra, tudo farão para formar uma Direcção paralela do Partido para se opor à já existente, a qual deve incluir um ou dois agentes e alguns elementos responsáveis e entre os descontentes, em particular aqueles que, pelos erros cometidos ou pelas críticas que lhes foram feitas, estão descontentes com a actual chefia do Partido. A Direcção clandestina, criada exclusivamente para a sabotagem e a destruição do Partido, deveria aproveitar todas as possibilidades para manter contactos com Governos de outros Estados a fim de levá-los a pensar que existe uma cisão no seio do Partido e para ganhar o seu apoio. Nesta segunda fase, os colonialistas e os seus aliados, de acordo com o plano elaborado, devem desenvolver uma campanha de persuasão da opinião pública sobre a cisão do PAIGC em toda a África e ao nível internacional, propondo-se desacreditar o prestígio da actual Direcção do Partido e, em primeiro termo, do seu Secretário-Geral. No interior do país, as tropas colonialistas activariam as suas operações no intuito de desmoralizar e aterrorizar a população e os nossos combatentes. E, enfim, se os agentes dos colonialistas, infiltrados nas nossas fileiras, não forem desmascarados a tempo e conseguirem levar a cabo os seus planos, sobretudo recrutar aliados entre alguns dirigentes do Partido e encontrar apoio dos países vizinhos, em primeiro lugar da República da Guiné, iniciar-se-ia a terceira fase que prevê: a formação de uma nova Direcção do Partido (…) com base no racismo e, se for necessário, no tribalismo e na intolerância religiosa, a fim de fixar a divisão do nosso povo e torná-lo indefeso perante os colonialistas. Decerto mudarão também o nome do nosso Partido, a cessação de toda a espécies de acções antiportuguesas, tanto no interior do país como à escala internacional, particularmente na República da Guiné, o estabelecimento do controlo sobre os bens do PAIGC com o fim de paralisar as nossas acções militares e a manutenção do nosso Exército e a prisão e a liquidação física de todos os membros fiéis ao PAIGC. Realizadas essas metas, a declaração sobre o estabelecimento de contactos com Lisboa, por intermédio de Spínola, para o início de conversações falsas que terão por finalidade alcançar a autonomia interna da Guiné e o estabelecimento da chamada autodeterminação sob a bandeira portuguesa. A criação do Governo da Guiné que declarará a formação do Estado da Guiné como parte integrante da comunidade portuguesa. Em conformidade com os planos e promessas de Spínola e das autoridades coloniais portuguesas, a todos os agentes e membros do Partido envolvidos na realização do dado programa serão assegurados postos elevados na vida política e nas forças armadas do futuro Estado. Serão também bem pagos pela sua traição. Este é o plano diabólico elaborado por Spínola e pelas autoridades coloniais portuguesas e que tem em vista destruir o nosso Partido por dentro, recorrendo aos agentes já infiltrados ou a serem infiltrados no seio do Partido. Julgo que a veracidade destes planos não dá margem para dúvidas, pois foram recolhidos por gente nossa em Bissau. Como se vê, as intenções dos colonialistas são bastante sérias e os programas têm largo alcance. O nosso Serviço de Segurança fez um grande trabalho no sentido de neutralizar alguns agentes do inimigo e colher certo material referente a algumas pessoas que ainda se encontram em liberdade. Esta informação tem carácter meramente confidencial e, por isso, não vamos fazer agora debates”. [Cf. Cabral, Amílcar, “Vamos Reforçar a Nossa Vigilância, para Desmascarar e Eliminar os Agentes do Inimigo para Defendermos o Partido e a Luta e para Continuarmos a Condenar ao Fracasso Todos os Planos dos Criminosos Colonialistas Portugueses”, Serviços de Informação e Propaganda do PAIGC, Arquivo do PAIGC, Março de 1972.]

A 20 de Janeiro de 1973, porém, ocorre o assassínio de Amílcar Cabral em circunstâncias até agora não completamente esclarecidas, apesar de começar a ser possível descortinar-se, as várias tentativas, quer as anteriores como as mais recentes, todas da directa responsabilidade moral e material da PIDE-DGS, tendo todos eles or objectivo a eliminação física de Amílcar Cabral e o enfraquecimento da Direcção do PAIGC.
Contudo, apesar de não serem suficientemente claras as circunstâncias que levaram ao assassínio de Amílcar Cabral, é hoje possível, na perspectiva de indagação “Quem é o Inimigo”, demonstrar que para a conspiração que culminou no assassínio de Amílcar Cabral, concorreram forças de natureza díspar, desde os circunstancialmente correligionários aos ocasionalmente entrincheirados no mesmo lado da barricada, sem esquecer, obviamente, as históricas rivalidades étnicas atiçadas pelo sistema colonial, para além de uma infinidade de outras linhas de demarcação, ao ponto de podermos comparar essa conspiração a um polvo gigante cujos tentáculos compreendiam: os milhares de agentes da PIDE-DGS, recrutados na Guiné, os agentes duplos da rede clandestina do PAIGC em Bissau; os inimigos internos do PAIGC; os guineenses “inimigos da união com os caboverdianos; os caboverdianos “inimigos” da união com os guineenses; as clivagens étnicas que se manifestaram sob diversas formam na luta de libertação; os “comprometidos” (infiltrados) do lado do PAIGC mobilizados pelas autoridades colonias; os “comprometidos” do lado das autoridades coloniais (descontentes) mobilizados pelo PAIGC; e, finalmente, os agentes da PIDE-DGS naturais da Guiné-Conakry. [No complot contra Amílcar Cabral foi referenciado o nome de dois cidadãos da República da Guiné, a saber, Alpha Coubassa, funcionário Público e Gueladou Bah, funcionário administrativo (Vide Arquivos da PIDE-DGS, ANTT, PAIGC, SR 64/61 – nt 3073 (Pasta 8), fls.421)].
Com efeito, enquanto nas hostes dos caboverdianos do PAIGC que se encontravam em Conakry e que foram presos na altura pelos conspiradores reinou e, em certo sentido ainda reina, por um lado, a convicção unânime de que a quase generalidade dos guineenses em Conakry estavam a par da conspiração que conduziu ao assassínio de Amílcar Cabral, por outro, as informações hoje disponíveis permitem-nos assinalar a realização de várias reuniões discretas efectuadas, logo após o assassínio de Amílcar Cabral, pelos guineenses notáveis do PAIGC que tinham a preocupação de ver um guineense a suceder a Amílcar Cabral, tendo inclusivamente sido aventado, num primeiro momento, o nome de Rafael Babosa, para logo depois se construir um difuso consenso em torno da figura de Nino Vieira. Conclui-se, portanto, que, independentemente da acção da PIDE-DGS, o grupo dos conspiradores tenha surgido como resultado de várias clivagens, dissidências e tensões criadas no PAIGC ao longo dos anos da guerra, catalisadas as mesmas por motivações individuais, mas igualmente diversas e mesmo diferenciadas.  
Acresce também, na perspectiva de indagação “Quem é o Inimigo”, a participação das autoridades da Guiné-Conakry na conspiração, pois é difícil convencermo-nos da sua não-participação se atendermos ao facto de que os cabecilhas da conspiração chegaram de ser triunfalmente recebidos no Palácio de Sékou Touré. Aliás, na mesma linha de raciocínio, é possível hoje provar-se a directa ou indirecta participação dos Serviços de Inteligência de vários países ocidentais que, na altura, apoiavam a política colonial de Portugal.
No entanto, Spínola recusa terminantemente a sua implicação na morte de Amílcar Cabral, enquanto certos sectores politicamente mais conservadores do Exército Português consideravam que “ (…) o mal-estar permanente gerado entre cabo-verdianos e guineenses do PAIGC e o seu reflexo na população foram dando origem, no decorrer da guerra, a aproximações e contactos entre responsáveis daquele movimento e autoridades portuguesas. Talvez que o assassínio de Amílcar Cabral tenha sido consequência de tudo isto e também do peso da subordinação soviética de que ele sentia necessidade de se libertar. (…) ”. [Silvino Silvério, Marques, A Vitória Traída (Quatro Generais Escrevem): J. da Luz Cunha, Bethencourt Rodrigues, Editorial Intervenção, 1977, p. 263.]
Do nosso lado, porém, não temos dúvidas de que Amílcar Cabral teria sido vítima das manipulações das autoridades colonias e da PIDE-DGS, mas igualmente de uma série de entidades e interesses que pareciam gravitar em círculos concêntricos, todos eles inquestionavelmente manietados pelos Serviços da PIDE-DGS em Bissau e Lisboa (o núcleo central da conspiração), sem margem para dúvidas, os autores morais e matérias do assassinato de Amílcar Cabral.
Aliás, para nós, reportando-nos ao estado das pesquisas e das investigações sobre o assassínio de Amílcar Cabral, as únicas dúvidas atém-se com a dificuldade em determinar, com exactidão, o grau de infiltração do PAIGC pela PIDE-DGS, e, na mesma linha, os diferentes níveis de responsabilidade moral, uma vez que são conhecidos os autores materiais, como se segue: Inocêncio Cani; Comandante de Marinha; Estêvão Lima; da Marinha; Mário Cá, da Marinha; João Tomas Cabral, agente da PIDE-DGS desde a altura em que desempenhou as funções de responsável pela logística e reabastecimentos em Koundara; Alda Djassi; Coda Nabonia, um dos guarda-costas de Amílcar Cabral; Momo Turé, ex-preso político em Tarrafal; Baciro Turé; Inácio Soares da Gama, comandante da região Leste; Emílio Costa, da Marinha; Luís Teixeira, da Marinha; Mamadu N’Djai, comandante de infantaria e, na altura, chefe da segurança do Secretariado do PAIGC; Marcelino Ferreira, vulgo “Néne”, radiotelegrafista em Conakry; Aristides Barbos, ex-preso político em Tarrafal; Ansumane Bangurá; Abdulai Djassi; Valentino Cabral Mangama e Bocoda (ou Coda) Mabogma.
Segundo um artigo publicado por Basil Davidson em Abril de 1973 (Sunday Times de 15 de Abril de 1973), o autor descreve em pormenor os acontecimentos que teriam precedido a morte de Amílcar Cabral, atribuindo o atentado às autoridades portuguesas. Nesse artigo, Davidson afirma que o programa de promoção social de Spínola só poderia vingar se o PAIGC fosse destruído por um duplo golpe que decapitasse a sua chefia e ao mesmo tempo enfraquecesse a sua principal base logística, proporcionada por Sékou Touré. Depois evoca a incursão contra Conakry, em Novembro de 1970, e fala de Momo Touré e Aristides Barbosa, “que regressaram ao PAIGC depois de terem passado vários anos encarcerados nas prisões portuguesas e que, uma vez acolhidos pelo PAIGC, teriam então procurado aliciar recrutas, tendo conseguido audiência local entre uns quantos descontentes. O número de tais aderentes teria atingido cerca de três dúzias, tendo, porém, a tentativa de golpe sido levada a cabo apenas por nove (…) ” [Davidson, Basil, citado também por uma nota da PIDE-DGS – Arquivos da PIDE-DGS/ANTT, Proc. PAIGC, SR64/61 – NT 3073, Pasta 8, fls.762].
Quanto ao assassínio de Amílcar Cabral, corroboramos das palavras de Costa Pinto que afirmou: “(…) muito embora seja ainda difícil fazer um balanço das várias acções desempenhadas pelos serviços de informação e nomeadamente da PIDE, parece não oferecer dúvidas de que esta, quer através de informadores próprios quer através de outras polícias, controlava de perto as actividades dos movimentos de libertação nos países onde tinham santuários, desde os primeiros tempos do Congo-Kinshasa e de Conakry. As acções mais espectaculares que lhe foram atribuídas estão, no entanto, ainda longe de ter uma resposta satisfatória no que toca à sua responsabilidade, até pela alta promiscuidade entre tensões étnicas e pessoais no interior das próprias organizações guerrilheiras ou, por vezes, entre estas e as facções políticas dos países de acolhimento. Casos como o assassínio de Amílcar Cabral ou de Eduardo Mondlane, por exemplo, apesar de já serem passíveis de reconstituição com muito maior base informativa, repousam ainda neste limbo interpretativo (…)”.
Para nós, contudo, é dado assente que o assassínio de Amílcar Cabral não dissipou a encruzilhada de dissensões múltiplas que se geraram à montante e a jusante da guerra colonial/guerra de libertação, antes pelo contrário, catalisou uma circunstancial e inaudita união de esforços, ditada pela emoção colectiva suscitada pela súbita perda de um líder da dimensão de Amílcar Cabral, aliás, estado de espírito esse que se traduziu, do lado do PAIGC, no endurecimento da guerra, propiciando assim na Guiné-Bissau uma situação que quase levou o Exército português ao colapso militar e que, de alguma maneira, terá catalisado inclusivamente a ocorrência do 25 de Abril em Portugal, para além da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde e de outras ex-colónias africanas de Portugal, nomeadamente Angola e Moçambique
No caso da Guiné-Bissau - já o escrevemos algures - o período pós-independência contrasta com esta herança dourada que foi a luta de libertação nacional, superiormente dirigida por Amílcar Cabral, de resto, uma luta que entrou a justo título para a galeria dos povos do Terceiro Mundo que ousaram enfrentar e vencer o colonialismo. Foi, certamente, o caso do PAIGC. Foi, inquestionavelmente, por isso, que Amílcar Cabral pagou com vida o preço por ter ousado enfrentar e vencer uma potência colonial.
Contudo, esta herança histórica, inolvidável a todos os títulos, porque é nela que se forjou as nações guineense e caboverdiana, não foi infelizmente gerida de maneira a suprimir as matizes culturais e ontológicas em que se fundaram e ainda fundam, paradoxalmente, as sobreposições e justaposições inconvenientes de historicidades várias em que, paradoxal e sintomaticamente, o próprio movimento de libertação se movera.





[1] Leopoldo Amado -Guiné-Bissau (1960). Licenciou-se em História em 1985 pela Faculdade Letras de Lisboa - Universidade Clássica de Lisboa. Antes de voltar à Guiné-Bissau em 1989, concluiu em 1987 o Curso de pós-graduação em Relações Internacionais (Estudos Islâmicos) pela extinta Universidade Internacional de Lisboa e frequentou entre os os 1987-1989 o curso de mestrado em Estudos Africanos no Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa. No  Guiné-Bissau, tornou-se investigador do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas). Nesse país, desempenhou, sucessivamente, as funções de: Director do mensário "Baguera"; Director Comercial do Geta-Bissau (empresa privada);Vice-Presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos; Director do "Tcholoná", única Revista Cultural então existente no país. Trabalhou ainda no Guiné-Bissau como consultor nacional e internacional, destacando-se, entre outros, os trabalhos em matéria de gestão de projectos e planificação estratégica, desenvolvidos com a UNICEF, PLAN INTERNATIONAL, PNUD, FNUAP, RADDA BARNEN e AMNISTIA INTERNACIONAL, para além das funções de correspondente e de comentador político da BCC, Rádio France International, Voz de América, RDP África e RTP África. No além-fronteiras, com sede em Cabo Verde, e cobrindo outros países como Senegal, Guiné-Bissau, Gana, Guiné-Conacri e Gâmbia, trabalhou ainda como Director do SPHAC - Projecto da UNESCO para a Salvaguarda do Património Histórico da África Contemporânea, entre os anos 1995 à 2001. Posteriormente, em Portugal, antes de concluir o Doutoramento em História Contemporânea pela Universidade de Lisboa (2007), trabalhou como Secretário Executivo da “Guineáspora” (Fórum Mundial dos guineenses na Diáspora), tendo posteriormente regressado a Cabo Verde, onde, desta feita, trabalha junto da Uni-CV (Universidade Pública local), desde 2008 à esta parte, desempenhando aí, designadamente, as funções de docência em cursos de graduação (licenciaturas em História e Ciências Sociais) e em cursos de
pós-graduação (mestrado em Ciências Sociais), para além de outras funções que assumiu, concomitante e alternadamente, como sejam as de Coordenador de Curso de História (Chefe de Departamento) e de Presidente do Departamento (Faculdade) de Ciências Sociais e Humanas. É actualmente inestigador pós-doutoral do CES - Universidade de Coimbra.


HISTORICÍDIO NO MALI?


HISTORICÍDIO NO MALI?



Cidade de Tombuctu foi saqueada por islamitas


Ainda é cedo para avaliar o que um ano de guerra fez a cidades como Tombuctu ou Gao, sobretudo agora que as tropas francesas e os soldados malianos tomaram Tombuctu, Gao e Kidal.
Durante meses sucederam-se notícias de mesquitas destruídas e bibliotecas saqueadas. No início da semana, chegou mesmo a temer-se que grande parte da importante colecção de livros e documentos do Instituto Ahmed Baba, com dezenas de milhares de manuscritos, talvez os mais importantes do século XII e outros até pré-islâmicos, tivesse desaparecido num incêndio. Os piores receios não se confirmaram, mas há muito a fazer no terreno.
A guerra começou em Janeiro do ano passado e, quase em simultâneo, surgiram relatos de que os rebeldes, muitos de grupos extremistas com ligações à Al-Qaeda, estavam a arrasar túmulos com centenas de anos que consideravam idólatras, mesmo que consagrados a santos muçulmanos. Tombuctu é conhecida como a “cidade dos 333 santos”, mas os islamistas que se revoltaram contra o Governo do Mali querem impor a sharia (lei islâmica) em todo o território e ela não permite que se venerem santos.
A cidade do Norte, que tem o título de “jóia africana” por ter sido um importante pólo de desenvolvimento económico - era paragem obrigatória para os negociantes de sal, ouro e gado - e protagonista de uma época de ouro na promoção da religião e cultura islâmicas no continente (sobretudo nos séculos XV e XVI), foi a mais afectada pelas acções contra o património, embora Gao, a mais populosa da região (60 mil habitantes), também tenha visto muitos dos seus túmulos profanados.
O conflito armado ameaçava de tal forma Tombuctu que, no Verão, a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura decidiu declará-la “em risco”. Os especialistas malianos e internacionais - em particular os franceses e sul-africanos - temiam que, além dos edifícios únicos construídos em adobe (lama, palha e madeira), verdadeiras jóias da arquitectura em terra que valeram a Gao e Tombuctu o selo de património da humanidade, os islamistas dirigissem os seus ataques aos fundos documentais.

MANUSCRITOS SALVOS
O presidente da Câmara de Tombuctu, Hallé Ousmane Cissé, chegou a dizer que as forças rebeldes tinham queimado praticamente todos os documentos históricos da cidade, naquilo que classificava como um “verdadeiro crime cultural”. Mas, afinal, os islamistas destruíram apenas um dos dois edifícios do Instituto Ahmed Baba - o inaugurado em 2010, pago pela África do Sul, cuja Universidade da Cidade do Cabo é das organizações que mais têm investido na preservação dos documentos de Tombuctu. Nele só estavam guardadas cópias digitalizadas dos velhos manuscritos e originais menos relevantes.
“Uma grande maioria foi salva. Penso que mais de 90%”, disse à AFP Shamil Jeppie, professor da Universidade do Cabo que dirige o projecto de catalogação e conservação dos manuscritos. “É claro que alguns sofreram desgaste, outros foram destruídos ou roubados, mas uma parcela muito mais pequena do que julgávamos à partida”, admitiu, explicando que o dano não foi maior porque, receando os ataques ao instituto, arquivistas e conservadores transferiram os livros e documentos mais importantes para Bamaco e para outros lugares seguros nos primeiros meses da insurreição islamista.
Nos “cofres” do instituto há verdadeiras preciosidades em pergaminho, pele de carneiro e até em omoplata de camelo. São livros, tratados e textos variados sobre astronomia, música, história, política, direito e matemática. Entre os mais importantes, diz Jeppie, citado pelo diário francês Le Monde, há muita poesia.
“Até há bem pouco tempo, dizia-se erradamente nos círculos ocidentais que a tradição cultural africana era em grande parte, ou por completo, oral”, disse ao diário norte-americano Los Angeles Times o especialista em manuscritos árabes Amidu Sanni. Os manuscritos de Tombuctu contradizem essa visão.
Para Adel Sidarus, professor de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade de Évora, os manuscritos da cidade dos 333 santos são o reflexo do papel que este centro teve na África Ocidental durante centenas de anos, como pólo de trocas económicas e civilizacionais. “À falta de uma palavra melhor podemos dizer que Tombuctu tinha uma espécie de burguesia letrada. Havia tertúlias, era um centro de cultura e de conhecimento”, diz ao PÚBLICO este académico cristão copta egípcio que e vive em Portugal há 35 anos.
IN «Jornal O País»5 de Fevereiro de 2013

30 janeiro 2013


“MEMÓRIAS DE UM REBELDE”

ANTIGO ESTUDANTE BOLSEIRO DA FRELIMO VAI LANÇAR AUTOBIOGRAFIA

Maputo (Canalmoz) – “Memórias  de um Rebelde” é o título de uma obra autobiográfica a ser lançada nas próximas semanas da autoria de um antigo estudante bolseiro da Frelimo, Antonio Disse Zengazenga. O Canalmoz obteve o manuscrito do livro de Zengazenga no qual o autor narra a sua experiência como estudante nos seminários católicos do Zóbuè e Namaacha, a sua permanência na Frelimo, o rompimento com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), a vida no exílio, as ligações à Renamo e outras actividades políticas.
O autor aderiu à Frelimo em Dar es Salam cerca de um mês apos a fundação do movimento que se propunha lutar pela libertação de Moçambique. Permaneceu poucos meses na capital tanzaniana, seguindo em Dezembro desse ano para o Cairo com a promessa de que iria prosseguir os estudos. Conta o autor de “Memórias  de um Rebelde” que ao ficar hospedado num hotel de Cairo, “informaram-nos que estávamos ali para treinar. Dos sete apenas quatro aceitaram a oferta. Os outros regressaram a Dar-es-Salaam. Os treinos tiveram início a 7 de Janeiro, em pleno Ramadão, e terminaram a 28 de Maio de 1963.”
Mas é na União Soviética onde finalmente Antonio Disse Zengazenga e outros jovens moçambicanos reiniciam os estudos. Permaneceriam neste país até 1971.  Segundo o autor, o grupo de estudantes moçambicanos em Moscovo “começou a desintegrar-se, sobretudo por falta de orientação vinda de Dar-es-Salaam. Daqui não se recebiam respostas às cartas que enviávamos, e as pessoas que vinham de lá não respondiam claramente às nossas perguntas. Por isso, todos os que estiveram em Moscovo e alguns em Praga foram para Berlim depois dos seus estudos. Depois de debates francos e livres, uns decidiram aí permanecer até que a situação desanuviasse, outros preferiram ir avaliar de perto a situação e, se necessário, melhorá-la. Dispersámo-nos no dia 28 de Agosto de 1971 em Berlim 21. Ao todo éramos: Eu, Semeão Massango, Paulo Emílio Marqueza, Arcanjo Faustino Kambeu, João Joaquim Unhay e Júlio Razão.” Nomes conhecidos, que depois da independência de Moçambique viriam a sofrer ar agruras do regime totalitário da Frelimo. Arcanjo Faustino Kambeu, João Joaquim Unhay e Júlio Razão foram alguns dos moçambicanos que passaram por Nachingwea em 1975 para o «Julgamento Popular» que os conduziria a M’telela, já no interior de Moçambique na província do Niassa, onde seriam barbaramente assassinados, juntamente com Urias Simango, Joana Semião e vários outros por ordens do Bureau Político do Partido Frelimo, que corresponde hoje à Comissão Política do Comité Central. (CanalMoz/Redacção-31/01/2013)