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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

23 setembro 2012

A GRANDE MENTIRA DE KAULZA DE ARRIAGA


A GRANDE MENTIRA DE KAÚLZA DE ARRIAGA

Por  Jorge Fernando Jairoce
 
Em Abril de 1998, o General Kaúlza de Arriaga escreveu um texto descrevendo a trajetória da guerra colonial em Moçambique, porém, o seu texto revela uma verdadeira distorção da história. Arriaga afirma no seu texto o sucesso das operações militares portuguesas em Moçambique com destaque para operação Nó Górdio quando é sabido em Moçambique   (de acordo com os documentos históricos disponíveis) que os portugueses já não tinham condições de sustentar a guerra por mais tempo devido as várias razões: umas relacionadas com a acção da guerrilha da Frelimo que com o apoio da população alcançava bons resultados e outras relacionadas com o descontentamento das tropas portuguesas em Moçambique e Portugal. Aliás, não foi a toa que surgiu o golpe militar de 25 de Abril de 1974.  O texto por ele escrito representa uma manifestação do saudosismo colonial. Leia o texto  a seguir na íntegra  para perceber as mentiras de Kaúlza.

 
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A ESSÊNCIA E O SUCESSO DA CONDUÇÃO DA GUERRA  EM MOÇAMBIQUE NO PERÍODO DE 1969 /1973

Por Kaúlza de Arriaga -Abril de 1998

 
AS CAUSAS DA GUERRA EM MOÇAMBIQUE
A África Austral era sede de um conjunto de grandes jazidas de minérios essenciais à vida do Ocidente e ao seu esforço militar. Também, na África Austral, se situavam  posições geo-estratégicas das quais se podia dominar a rota marítima do Cabo, pela qual  navegava a maioria dos navios portadores de petróleo vindo do Golfo Pérsico, igualmente essencial ao Ocidente. A falta de tais minérios ou desse petróleo criaria dificuldades aos países ocidentais que se não sabia como ultrapassar.
Assim, e na estratégia ofensiva indirecta que a União Soviética, China Continental e seus satélites vinham a praticar, no âmbito da confrontação Leste-Oeste, a procura do controlo da África Austral não podia deixar de ser um objectivo importante e até prioritário. Esta a razão principal da agressão do imperialismo comunista a esta parte da África.
Semelhante agressão teve, como disposição prévia, concretizada em 1960, a infiltração e o predomínio desse imperialismo nos territórios adjacentes, a Norte da África Austral, à medida que se iam tornando independentes – Congo (Braza) depois República Popular do Congo, Congo (Kinshasa) depois República Democrática do Zaire, Tanganica depois Tanzânia e Rodésia do Norte depois Zâmbia. E logo, com base nestes países, se tentou o ataque a Angola e Moçambique, sob a forma de promoção da subversão das suas populações – 1º passo previsto da agressão em causa. Da queda destas duas Províncias Africanas resultaria a queda da Rodésia – 2ª passo previsto dessa agressão. Depois, satelizadas ou tele-satelizadas, a favor da URSS, Angola e Moçambique, estes territórios seriam excelentes bases de ataque à Namíbia e à República da África do Sul – 3º e 4º e último passos previstos para a mesma agressão.
Os países ocidentais que, com toda a evidência, deveriam em termos de justiça e no seu próprio interesse, ter apoiado, à priori e ab initio, Portugal, contra a subversão em Angola e em Moçambique, não o fizeram ou pelo menos, não o fizeram com grande clareza e empenho.
Por outro lado, a maioria dos Impérios Coloniais praticaram sistematicamente um colonialismo mais ou menos opressor e explorador, e não uma colonização fundamentalmente civilizadora e promotora da elevação, em todos os planos, das populações. Este facto deu legitimamente lugar ao desejo de auto governação das populações assim tratadas. E interesses que nada tinham com o colonialismo ou com a colonização, aproveitaram-no ampliaram-no e agudizaram-no, agora ilegitimamente, criando uma psicose, uma obsessão, terceiro-mundista, de independência, alheia à razão, a todo o custo e sob qualquer fórmula, descuidando consequências. A questão não dizia respeito a Portugal, em cujos territórios ultramarinos, depressa o colonialismo, onde e se e quando eventualmente existiu, foi substituído por uma sadia colonização. Razão pela qual as populações de Angola e Moçambique foram, na sua grande maioria, estranhas e contrárias à subversão, nunca tendo a parcela afectada dessas populações ultrapassado os 10% do seu total. Pela mesma razão, as tropas portuguesas acabaram por ter efectivos em que mais de 60% eram de etnias negras. Mas o mesmo não sucedeu com o Terceiro Mundo em geral que, impregnado das psicose e obsessão referidas, se constituiu em inimigo de Portugal.
 
A SUBVERSÃO E A CONTRA-SUBVERSÃO EM MOÇAMBIQUE

1º A SUBVERSÃO EM MOÇAMBIQUE
A) Como referi, o ataque a Moçambique do imperialismo comunista, no âmbito da  estratégia indirecta da URSS e da China Continental executada na confrontação Leste-Oeste, teve a forma da promoção da subversão naquele território.
Para tanto, elementos especializados, russos, chineses continentais e dos seus satélitas, trabalharam, do lado da Tanzânia e da Zâmbia, as etnias cujos "habitat" se verificavam de um e de outro lado das fronteiras daqueles países com Moçambique – como "Ajauas", "Macondes", "Sengas" e "Cheuas". Assim, faziam verdadeiras lavagens de cérebros à parte destas etnias não situadas em Moçambique, lavagens que com relativa facilidade contagiavam a parte das mesmas etnias situadas em Moçambique. Deste modo, formavam movimentos subversivos de que o mais importante, a partir de certo momento praticamente o único, foi a Frelimo.
E estes movimentos constituíam grupos, em regra pequenos, que, infiltrando-se noutras etnias do interior de Moçambique, procuravam subvertê-las. Esta tentativa de subversão incidia fundamentalmente nos chefes tribais ou chefes naturais, e seus acólitos, de etnias não subvertidas. E como, quase sempre ou sempre, estes chefes tribais ou chefes naturais e seus acólitos, não aceitavam subverter-se, eram logo ali assassinados – nos  quatro anos em que exerci o Alto Comando em Moçambique, sobretudo a Frelimo  assassinou cerca de dois mil daqueles chefes e acólitos. Era uma acção de terrorismo intensa e extensa.
Curiosamente este terrorismo, em Moçambique, não abrangia a população branca, não tendo, que se saiba, nos referidos quatro anos do meu Comando, sido morto ou sequer atacado branco algum da população moçambicana, nem tido lugar qualquer acto como  bombas em cidades e aviões ou desvio destes, etc.
Era um terrorismo de pretos das etnias fronteiriças, já subvertidas, contra pretos, de  etnias do interior, não subvertidas e que nunca chegaram a sê-lo.
B) Paralelamente, a esta tentativa de subversão e considerada dentro dela, a Frelimo procurava, também por impulso de russos e chineses e elementos dos seus satélites,  conseguir áreas territoriais, muito próximo das fronteiras, mas do lado de Moçambique,  onde, organizando-se muito fortemente do ponto de vista militar, pudessem resistir às  acções das nossas forças. Considerava essas áreas como bases, "áreas libertadas" e,  partindo delas, sonhava progredir significativamente para Sul.
De facto conseguiu que algumas suas chamadas "bases", menos de uma dezena –  situadas entre os rios Rovuma, fronteira coma Tanzânia, e o rio Messalo, a mais de dois  mil quilómetros a Norte de Lourenço Marques-, se mantivessem algum tempo. Mas  todas elas foram conquistadas, ocupadas e destruídas com a Operação "Nó-Górdio" e  outras operações que imediatamente a precederam e se lhe seguiram, no Verão de 1970,  em cerca de dois/três meses. E nunca mais voltaram, ali ou em qualquer outro ponto de  Moçambique, a ter lugar.
C) E, ainda naturalmente, a Frelimo procurava impedir as nossas acções de  desenvolvimento do território e de promoção e segurança das populações. O que, de  todo, não conseguiu fazer.
 
2º A CONTRA-SUBVERSÃO EM MOÇAMBIQUE
De acordo com a doutrina, que eu próprio estabeleci quando Professor no Instituto de  Altos Estudos Militares, a contra-subversão portuguesa em Moçambique tinha os  seguinte objectivos:
a) A eliminação, caso existissem, das chamadas "áreas libertadas". Foi o caso da  Operação "Nó-Górdio" e daquelas que imediatamente a procederam e seguiram.
b) A segurança e defesa de pontos especialmente importantes ou sensíveis, como foi o  caso de Cabora-Bassa.
c) O desenvolvimento do território e a promoção e segurança das populações, aquela  promoção sobretudo nos aspectos de educação, de assistência médica e para-médica,  económico-financeiro, cívico, político, etc.
d) O combate a quem procurava ampliar a subversão e impedir aqueles  desenvolvimentos do território e promoção e segurança das populações.  Em consequência:
a) Executou-se a operação "Nó-Górdio" e as que a precederam e se lhe seguiram, com  a eliminação total das chamadas "bases" da Frelimo – "áreas libertadas".
b) Defendeu-se Cabora Bassa com 100% de êxito.
c) Construiram-se Aldeamentos – mais de mil – com as suas escolas, os seus centros de  saúde, as suas explorações agrícolas, os seus centros de convívio, etc. d) Lançou-se a Operação Fronteira, de construção, em moldes modernos, de uma série de Vilas ao longo do rio Rovuma, fronteira com a Tanzânia.
e) Impulsionou-se fortemente o acesso às Escolas, incluindo a Universidade, de  africanos.
f) Desenvolveu-se um sistema eficaz de Assistência Sanitária Generalizada.
g) Nomearam-se vários Presidentes de Câmara africanos.
h) Constituiu-se uma Assembleia Legislativa Provincial, em Lourenço Marques,  formada por 50% de brancos e 50% de africanos.
i) Melhoraram-se e construíram-se milhares de quilómetros de boas Estradas, centenas  de Aeródromos e Pistas, e não poucos Portos de Mar.
j) Ampliou-se o sistema de Auto-Defesa das Populações, em que estas, com armas que  lhes eram fornecidas pelas nossas forças, tratavam de expurgar por si próprias o seu  "habitat" de quaisquer infiltrações subversivas ou grupos subversivos que ali se  tivessem formado.
k) Criaram-se os GE e GEP, Grupos Especiais e Grupos Especiais Paraquedistas,  constituídos por voluntários africanos das diversas etnias ou dos diversos aldeamentos,  altamente treinados no combate e no contacto com as populações.
n) Etc.
 
3º CONCLUSÃO
A subversão, tentada pela URSS, China Continental e seus satélites, através sobretudo  da Frelimo, foi um fracasso.  Esta Frelimo esteve na iminência do colapso total, logo após a Operação "Nó-Górdio",  e estava na eminência de igual colapso, quando eclodiu o "25 de Abril" em Lisboa.
Pelo contrário, a contra-subversão realizada por Portugal, como indicado, baseada nas  populações e em forças mistas brancas e africanas, constituiu um êxito total.
Assim, Portugal venceu, em Moçambique, a URSS, a China Continental e os seus  satélites, fomentou grande desenvolvimento do território, conseguiu muito significativa  promoção das populações e garantiu a segurança destas.
E, aquela contra-subversão, além do seu pleno sucesso, fez com que, em 1997, um  membro importante do actual Governo de Moçambique tenha declarado considerar que  a guerra, que eu, Kaúlza de Arriaga, ali, então, conduzia, correspondia à concretização  do sonho do Homem Africano Moçambicano. E fez com que, em 1998, o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Moçambique, estando em Lisboa, em jantar que me ofereceu, no Hotel Tivoli, me convidasse, em termos oficiais, para visitar oportunamente Moçambique.
 
2ª GERAÇÃO DA FRELIMO
A Frelimo, principal movimento subversivo e, a partir de certo momento praticamente o  único, foi criada, mantida, recreada, mentalizada, treinada e conduzida pela URSS,  China Continental e seus satélites – o imperialismo comunista. O pensamento da  Frelimo era o pensamento da URSS e da China Continental. E as suas acções eram  determinadas pelas mesmas entidades. Foi a 1ª Geração da Frelimo.
Havia, porém, na Frelimo quem não concordasse com tal subordinação à URSS e à  China Continental e com as acções decorrentes, e havia, mesmo, quem não concordasse com a sua existência na forma comunista que tinha. Contudo as imposições da URSS e da China Continental tudo dominavam.
Mas, a URSS desapareceu e a China Continental deixou de intervir em África. E uma 2ª  Geração da Frelimo, liberta de russos e chineses e seus satélites, começou a surgir e a  pensar e a agir por si própria.
E esta 2ª Geração apercebeu-se de quem tinha razão na luta que, de 1964 a 1974, teve  lugar em Moçambique. Apercebeu-se da razão de Portugal e do bem, enorme, que este  estava a fazer em favor de Moçambique e da sua População.
E a mesma 2ª Geração, da qual não poucos dos seus membros estiveram presos pela 1ª  Geração, tem já numerosos elementos seus nas chefias moçambicanas, como Ministros,  Generais, Embaixadores, etc. É um facto de importância histórica.
Assim, se explica a afirmação, atrás citada, de um actual membro do Governo de Moçambique – " A guerra, que o General Kaúlza de Arriaga ali conduzia, correspondia  à concretização do sonho do homem africano em Moçambique". Assim, se explicam as  excelentes relações que eu, Kaúlza de Arriaga, mantenho, em Lisboa, com o actual  Embaixador de Moçambique. Assim, se explica o calorosamente amigo encontro da  minha pessoa, Kaúlza de Arriaga, com o General Chefe do Estado- Maior da Força  Aérea Moçambicana e o Tenente-Coronel seu Chefe de Gabinete, ocorrido na recepção  oferecida pela Força Aérea Portuguesa, em Sintra, em Junho de 1997, e no almoço  oferecido pela mesma Força Aérea, na messe de Monsanto, em Julho seguinte. E, assim  se explica o tão significativo convite, atrás referido, que, em Março de 1998, me foi  feito, empenhadamente, pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Moçambicanas, para, oficial e oportunamente, visitar Moçambique.  

MASSACRE DE WIRIAMU


MASSACRE DE WIRIAMU

SÍNTESE
1.
No deslocamento de trabalho que os Comandantes-Chefes Ultramarinos faziam  anualmente a Lisboa, o General Kaúlza de Arriaga manteve-se, nesta cidade, as  primeiras semanas de Dezembro de 1972, regressando a Moçambique nas vésperas do  Natal, para o passar com as Tropas.  Neste período, exerceu interinamente o Comando-Chefe outro Oficial-General.
2.
Quando chegou a Nampula, o Brigadeiro Armindo Videira, Comandante da Zona  Operacional de Tete, informou-o de que havia rumores de, numa operação realizada na área de uma aldeia chamada Wiriamu, entre 16 e 18 de Dezembro, durante a sua estada em Lisboa, as tropas terem tido comportamento incorrecto perante as populações. Logo ordenou que se efectuasse, por entidade do Serviço de Justiça Militar, o normal e devido inquérito. Foi o 1º inquérito de Wiriamu.
Neste inquérito concluiu-se – 1º, que, na referida operação, tinham morrido umas seis dezenas de pessoas, entre terroristas e outros que o não seriam ou que o não eram, e, 2º,  que tudo tinha sido um incidente infeliz mas corrente de guerra, não havendo matéria de crime, nem motivo para maior procedimento. Em consequência despachou – arquive-se até melhor prova.
3.
E, durante 7 meses, ninguém de boa fé mais pensou em Wiriamu. Porém os Padres da Congregação de Burgos, actuante em Moçambique, para não "perderem o comboio", como eles próprios diziam, "alinhavam" com os terroristas, pelo menos dando-lhes refúgio nas suas missões e nelas escondendo material bélico. Teve, o General Kaúlza de Arriaga mesmo de ordenar o encerramento de algumas dessas missões.
Assim, instituindo-se inimigos da presença portuguesa em Moçambique, ou mesmo em África, e numa obcecação irracional e doentia, amoral, resolveram ir mais longe, promovendo, em ligação com a oposição interna ao regime de Lisboa, um golpe político contra Portugal, em Londres, quando da visita já programada, a esta cidade, do Presidente do Conselho de Ministros do Governo Português, Prof. Dr. Marcelo Caetano.
Neste sentido, convenceram um outro Padre, de nome Hastings, a escrever um artigo, falso e explosivo, e convenceram o conceituado jornal The Times a publicá-lo, em 10 de  Julho de 1973, véspera da chegada de Marcelo Caetano a Londres. No artigo, os  acontecimentos de Wiriamu eram, com plena má fé, deturpados, ampliados, agudizados  e mesmo forjados, por forma a torná-los num escândalo internacional, o que em parte  foi conseguido. Tudo isto levou o General Kaúlza de Arriaga a ordenar, por descargo de consciência, a realização de outro inquérito sobre Wiriamu, por outra entidade do  Serviço de Justiça Militar. Foi o 2º inquérito Wiriamu. As suas conclusões foram iguais às do 1º inquérito – um incidente infeliz mas corrente de guerra, sem matéria de crime, nem motivo para maior procedimento. E, decorrentemente, o seu despacho foi o mesmo – arquive-se até melhor prova.
Também e além de lhe ter concedido uma entrevista completa, o General Kaúlza de Arriaga autorizou um representante qualificado do "The Times", enviado por este jornal a Moçambique para averiguação da verdade sobre Wiriamu – o que o "The Times" deveria ter feito antes e não depois da publicação do artigo -, a visitar livremente o que entendesse e a contactar, também livremente, com quem desejasse. O consequente artigo publicado pelo "The Times" foi muito positivo para Portugal.
4.
Já após o regresso definitivo do General Kaúlza de Arriaga a Lisboa e em face de diligências, ainda não explicitadas, do Engenheiro Jorge Jardim, o Presidente Marcelo Caetano mandou, em fins de Agosto de 1973, que se fizesse um novo inquérito sobre Wiriamu, por entidade expressamente enviada de Lisboa, o Brigadeiro Henrique Nunes da Silva, com alguns auxiliares. E, antes deste inquérito finalizado, demitiu, inexplicavelmente e injustificadamente, o Comandante da Zona Operacional de Tete, o já citado Brigadeiro Armindo Videira. Foi o 3º inquérito Wiriamu e a destituição deste Brigadeiro.
O inquérito, como era de esperar, chegou a conclusões idênticas às dos 1º e 2º  inquéritos, sendo, naturalmente, mandado arquivar pelo próprio Presidente Marcelo Caetano. Contudo, em atitude, inexplicável e injustificada, errada e iníqua, foi mantida a exoneração do Brigadeiro Armindo Videira. Contra essa atitude se revoltou até o Engº Jorge Jardim.
5.
Perante três inquéritos com conclusões iguais, realizados por entidades diferentes, incluindo especialistas metropolitanos, nada mais havia a considerar e a proceder. Tudo estava, e por excesso, esclarecido. Wiriamu foi, pois, um incidente infeliz mas corrente de guerra.
6.
E, se alguém, especialmente um oficial das Forças Armadas, aparece, hoje, autoconfessando ter, então, cometido, permitido ou presenciado crimes, deverá ser imediatamente julgado e, se verdadeira a sua confissão, condenado e punido por esses crimes e pelo de os ter conseguido ocultar nos inquéritos. É assunto que compete ao Ministério da Defesa Nacional.
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ENTREVISTA COM ÓSCAR CARDOSO EX- SUB-INSPECTOR DA PIDE


ENTREVISTA COM ÓSCAR CARDOSO  EX-  SUB-INSPECTOR DA PIDE (1965-1974)

Oscar Cardoso- Sub-Inspector da PIDE, 1965-1974

Bruno Oliveira Santos (B. O. S): Como é que viveu o início do terrorismo em Angola?
Óscar Cardoso (O.C.) : Quando o terrorismo começa em Angola, eu estava ao serviço da GNR. O terrorismo em Angola não era mais nem menos do que a cobiça de quatro potências pela  África Portuguesa: a União Soviética, a China, os Estados Unidos da América e o Vaticano. Os  movimentos de libertação eram apenas marionetas manobradas por terceiros. (...)
B.O.S: O que eram os Flechas?
O.C: Eu fui para Angola em 1966 e, como era normal, fiz um curto estágio em todos os serviços da delegação - investigação, administrativos, etc. Depois disso, o director São José Lopes mandou-me fazer um périplo por todas as subdelegações do território. Isso permitiu-me ter um conhecimento profundo sobre todos os problemas que havia em Angola. A dado momento, fui para o Luso. Quem estava a chefiar a subdelegação era o inspector Fragoso  Allas, um homem que traiu a PIDE no 25 de Abril. O Fragoso Allas, que depois esteve na  Guiné, dava-se muito bem com o Spínola. No 25 de Abril estava feito com ele. Mas não era o único! O inspector superior Rogério Dias Coelho, antigo colega de Spínola no Colégio Militar, era outro que tal. No 25 de Abril já estava indigitado por Spínola para ser o novo director-geral!
O Fragoso Allas tinha organizado o chamado Corpo de Auxiliares, indivíduos recrutados e pagos por nós e que eram utilizados como intérpretes, guias e até mesmo como guardas prisionais. Ora, nessa altura eu conheci um velhote - o Manuel Pontes Júnior - que me fala nas Terras do Fim do Mundo, cuja existência eu já conhecia por ser referida em vários livros. Aliás, a designação de Terras do Fim do Mundo é da responsabilidade do Henrique Galvão, que assim as classifica no seu admirável livro Outras Terras, Outras Gentes.
B.O.S: Não estava à espera de o ouvir tecer grandes elogios à obra literária do Henrique Galvão!...
O.C: Eu sei, mas olhe que esse livro é extraordinário! Aliás, as pessoas estão mal informadas sobre o Galvão. Nos seus últimos anos de vida, ele arrependeu-se de tudo, estava mesmo muito arrependido de todas aquelas conspirações. Sabe quem é que pagou o funeral do Galvão? A PIDE. Mas eu estava a dizer que nesse livro do Galvão há referências às chamadas Terras do Fim do Mundo. Nessas terras habitavam os Bosquímanos. Eu comecei logo a idealizar o recrutamento desses homens para o Corpo de Auxiliares, até um bocado influenciado pela tropa de guardas de fronteira do KGB. Era conhecido o ódio que os Bosquímanos tinham aos negros. Foram sempre escravizados pelos pretos, trocados e vendidos como se fossem objectos ou cabeças de gado. Não era preciso gastar praticamente dinheiro nenhum em alimentação - os Bosquímanos encontravam comida em qualquer sítio. Eram rápidos, eram pequenos, conheciam bem o terreno.
Enviei um memorando ao São José Lopes a propor o recrutamento daqueles homens e ele lá me deixou ir para o Cuando-Cubango organizar tudo aquilo. Levei a minha mulher e um velho Land Rover. Foram os melhores tempos da minha vida! Os Bosquímanos detestavam mesmo os pretos! Olhe que, ainda em 1969, eram trocados e vendidos a abatidos pelos negros sem dó nem piedade. Bem, comecei por recrutar três ou quatro. No início, utilizavam apenas arcos e flechas, sobretudo flechas envenenadas, o que causava um grande Pânico entre os turras. É  por isso que receberam a designação de Flechas. Comecei a ter bons resultados com a  incorporação daqueles Bosquímanos, tão bons resultados que cheguei a ter mais de 400 flechas treinados, só no Cuando-Cubango. Mais tarde, criaram-se flechas por toda a província  de Angola e em Moçambique.
 B.O.S: Eram só Bosquímanos?
O.C: Depois foram incorporados homens de outras minorias. Os Bosquímanos eram uma  minoria do Cuando-Cubango, que era uma savana quase deserta. (...)
B.O.S: Foram recuperados vários guerrilheiros da FNLA, do MPLA e da UNITA?
O.C: Sim, sim. Muitos dos terroristas andavam lá contrariados - eram obrigados a fazer aquela  guerra para evitar que as famílias sofressem represálias.
B.O.S: É verdade que Jonas Savimbi foi assistido por médicos do exército português no  princípio dos anos 70?
O.C: É. A UNITA tinha sido abandonada pela China e sabia que não tinha quaisquer hipóteses  de implantação em Angola sem o nosso apoio. Como aspirava a integrar um futuro governo de  Angola, os seus guerrilheiros aceitaram colaborar com o exército português em diversas acções contra os outros movimentos. Vários portugueses com interesses económicos na zona  do Luso, sobretudo os madeireiros, pagavam à UNITA para não serem molestados no transporte de mercadorias. Isto ajuda a compreender as razões pelas quais Jonas Savimbi foi assistido pelo Serviço de Saúde Militar, no Luso. O oficial encarregado das ligações com Savimbi era o major Passos Ramos, da Zona Militar Leste. Foi ele quem tratou de tudo. Já não me recordo da doença de que Savimbi padecia...Julgo que era uma apendicite, mas não tenho a certeza.
B.O.S: A PIDE teve alguma participação no assassínio de Eduardo Mondlane?
O.C: A carta armadilhada que provocou a morte de Eduardo Mondlane foi preparada pelo Casimiro Monteiro, que era de facto um grande especialista em explosivos. Mas o Casimiro Monteiro não agiu sozinho, teve a colaboração do chefe de segurança do Mondlane, o Joaquim Chissano, actual Presidente da República de Moçambique. Portanto, esse trabalho foi feito com a própria Frelimo, que estava muito interessada em eliminar o Mondlane.
Casimiro Monteiro, agente da PIDE que preparou
a carta armadilha para Mondlane

B.O.S: Teve acesso aos relatórios sobre Wiryamu?
O.C: Não conheço essa história. De resto, na província de Tete, que eu conheci bem, não existia nenhuma terra chamada Wiryamu. Nem existia em Moçambique nenhuma terra começada por W. Eu não gosto de falar sobre esses assuntos, numa guerra há sempre massacres... O que lhe posso dizer é que nas instruções das Forças Armadas, da PIDE e demais forças da ordem havia a preocupação de evitar os massacres. As instruções eram muito claras: não molestar a população, evitar todo e qualquer tipo de barbaridad, etc. Era exactamente o contrário do que sucedia nos manuais dos terroristas, que aterrorizavam a população. É evidente que há sempre excepções. Um soldado, cansado de fazer a guerra, farto de ver os seus camaradas estropiados por minas, pode, às tantas, tomar tudo por igual e cometer um erro qualquer...
B.O.S: Que relações mantinha a PIDE com o general Costa Gomes?
O.C: O Costa Gomes era muito amigo do meu inspector superior, Aníbal de São José Lopes.
Era tão amigo que, a seguir à revolução, enquanto nós fomos todos presos, o São José Lopes foi mandado para Timor. O Costa Gomes arranjou maneira de ele ir para lá e escapar assim à detenção. Nem outra coisa era de esperar. O São José Lopes conhecia muitos dos podres do Costa Gomes. É que o Costa Gomes prezava muito o dinheiro e falava-se à boca pequena que gostava muito de umas pedrinhas, de uns diamantes, de que o solo angolano é fértil...É muito provável que o São José Lopes estivesse a par de umas negociatas quaisquer.  De resto, as relações que mantivemos com o Costa Gomes, quando ele era comandante-chefe em Angola, foram da maior cordialidade. Não havia festa para a qual não fosse convidado: o Dia do Flecha, o aniversário do São José Lopes, e por aí fora. Foi-lhe oferecido o crachat de ouro da PIDE, que ele aceitou com todo o gosto. Pessoalmente, mantive sempre as melhores relações com ele. Aliás, o Costa Gomes namorou a minha tia, irmã de minha mãe, e tratou-me  sempre com muito respeito. Como vê, para além de ter sido meu professor, podia ter sido meu tio.
B.O.S: A PIDE delineou algum plano secreto para matar Amílcar Cabral?
O.C: Não. Assim como lhe disse abertamente que a PIDE colaborou na eliminação de Eduardo Mondlane, também lhe garanto que nunca existiu nenhum plano para matar Amílcar Cabral. Quem matou Cabral foram dissidentes do PAIGC, a PIDE não teve nada a ver com aquilo. Essas histórias estão todas muito mal contadas. E na altura do 25 de Abril havia já um acordo entre o Nino Vieira e o nosso governo para aquele vir para Portugal, com a mulher e a filha, cuja colocação na Universidade estava já assegurada. Ora, quem conta essa história muito bem é o coronel Vaz Antunes, que estava então na Guiné, num opúsculo chamado Uma Diligência Interrompida. Os guerrilheiros do PAIGC estavam cansados, queriam acabar com a guerra e sobretudo não admitiam a sua subordinação aos cabo-verdianos.
B.O.S: A PIDE era um bom serviço de inteligência?
O.C: Como sabe, todas as Forças Armadas têm serviço de inteligência. Em África, a PIDE  desempenhou essas funções. O melhor serviço de informação que existia no país era o nosso. A GNR tinha o seu serviço de informação. A PSP tinha também um serviço de informação, mas o melhor de todos era o da PIDE.  Prestámos serviços importantíssimos às Forças Armadas. Salvámos muitas vidas. Alguns dos oficiais que se notabilizaram no 25 de Abril foram salvos pela acção corajosa e abnegada de funcionários da polícia. (...)  Os militares, por natureza, não gostam de informação. Aquilo para eles é uma chatice. Mas a verdade é que o nosso serviço de inteligência funcionava muito bem. É isso que explica que, já
depois do 25 de Abril e tendo em conta que as nossas tropas continuavam a fazer a guerra, alguns quadros da PIDE foram libertados para integrar a Polícia de Informação Militar (PIM), então criada.
Os militares revolucionários sabiam perfeitamente que, sem esse serviço de informação, era impossível continuar a guerra. Há até um caso, naturalmente pouco conhecido, mas que vale a pena contar: um dos quadros da PIDE chamado para integrar a nova polícia foi o inspector José Vítor Carvalho. Em 1975, em pleno PREC, foi promovido a inspector-adjunto!
B.O.S: Os serviços de informação da polícia dispunham de informadores nos países vizinhos?
O.C: A verdadeira história das nossas relações com esses países ainda está por fazer. Muito do que se tem dito não corresponde à verdade. O Malawi não nos era hostil. Era-o o Zaire, teoricamente, mas na prática obtínhamos tudo quanto queríamos desse país. De resto, dispúnhamos de vários informadores ao mais alto nível. Na Zâmbia era mais difícil, mas também tínhamos informadores. O mesmo acontecia no Congo-Brazzaville.
B.O.S: E na Rodésia?
O.C: Na Rodésia não precisávamos de informadores porque colaborávamos directamente com o CIO (Central Intelligence Organisation). O mesmo se passava em relação à Africa do Sul: havia uma colaboração estreita com as polícias e os serviços de informação sul-africanos. Repare que todos os países situados entre Angola e Moçambique não nos podiam ser hostis porque a sua sobrevivência dependia dos abastecimentos que chegavam, exclusivamente, pelas linhas-férreas da Beira e do Lobito.
(...)
B.O.S: Como é que reagiu à publicação de Portugal e o Futuro do general Spínola? O.C: Muito mal. Ficámos todos com a sensação de que aquilo era o princípio do fim. Aliás, não foi o Spínola quem escreveu o livro - foi o coronel Pereira da Costa. O Spínola era um oficial de Cavalaria, era um eguariço, como se costumava dizer. Tinha um vocabulário de duzentas palavras. Não tinha capacidade para escrever nada. Talvez as ideias tenham sido fornecidas pelo Spínola, mas quem redigiu o livro foi o outro.
B.O.S: E como militar?
O.C: Era bom militar.
B.O.S: Acha que sim?! Então não era só fachada? O Spínola era vaidoso como um  pavão, dispunha de vários sacos azuis para pagar a sua própria propaganda. Olhe, é à custa disso que ainda hoje o julgam um grande estratega militar...
O.C: Eu conheço essas histórias, mas pelo menos em Angola foi um bom coronel. Era, sobretudo, um militar com prestígio, tinha carisma, era o homem que aparecia lá em cima com pose autoritária, com as luvas e o pingalim... Sabe que as Forças Armadas vivem também da fachada, dos tambores, das cornetas.
B.O.S: Os missionários causavam-lhe problemas?
O.C: Em África, existiam missionários católicos e missionários protestantes. De um modo geral, aqueles que nos eram mais favoráveis eram os católicos. Entre os missionários protestantes havia de tudo - uns eram agentes da CIA, outros do MI6, alguns do próprio SDECE francês... Lembro-me de que na missão de Catata, perto de Serpa Pinto, existia um missionário que era- soubemo-lo através de intercepção de correspondência - um agente da CIA. Escrevia cartas para os Estados Unidos descrevendo a situação, o ambiente da população, as tendências da  população, os ataques, etc. Por tudo o que ele escrevia percebia-se que era hostil à presença portuguesa. Eu fiz esse missionário mudar rapidamente de ideias com a ajuda de alguns flechas. Vesti os flechas com fardas da UNITA e organizámos um ataque à missão:
provocámos uns distúrbios, partimos uns vidros. O certo é que o missionário mudou logo de ideias em relação à presença dos portugueses em África. Lembro-me também de que existia no Cuando-Cubango, numa terra chamada Chama Vera, uma congregação de frades franceses, na qual seguimos a mesma estratégia. Eles até estavam a fazer uma obra engraçada. Olhe, eram os únicos brancos que falavam correctamente o dialecto dos Bosquímanos! Mas a verdade é que também apoiavam claramente os terroristas: davam-lhes roupas, alimentação, etc. E, repare, numa altura em que nós tínhamos já alguns conflitos com a Santa  Sé, a simples expulsão desses missionários não era a melhor solução. Era preciso fazê-los mudar de ideias. Organizámos também um ataque, vestindo os flechas com as fardas dos terroristas, e os padres decidiram ir embora... Mas não se julgue que as missões tinham apenas aspectos negativos. Lembro-me muito bem da madre Cristina, da missão do Cuchi, uma missão linda, muito bem organizada. A madre Cristina era brasileira e dirigia naquela missão várias freiras, que tinham a seu cargo a educação de inúmeras meninas. Uma ou outra vez, os terroristas chegaram mesmo a entrar na missão, tendo mesmo violado algumas meninas (...), podemos dizer que os serviços de informação dos diversos países infiltravam agentes seus em diversas missões. Os americanos, os ingleses, os franceses, todos faziam isso. E se calhar o Vaticano também lá devia ter alguns! Aliás o Vaticano tem o serviço de informações mais bem organizado do mundo inteiro!
B.O.S: Qual era a situação militar nas três frentes de guerra, em Abril de 1974?
O.C: Na Guiné, havia um cansaço geral das duas partes. Era a mais dura das frentes de guerra. De qualquer modo, a situação não era desastrosa para os portugueses, como alguns tentaram fazer crer. Havia graves divergências no seio do PAIGC, onde a facção caboverdiana, mais intelectualizada, dominava os guineenses, que não se conformavam com essa situação.
Ao contrário do que se diz, nem os terroristas dominavam a maior parte do território, nem as nossas tropas abandonavam algumas zonas em favor do inimigo. O que se passava é que a Guiné não tinha população em várias áreas do interior e, a partir de determinada altura, entendeu-se retirar os militares que ocupavam essas zonas desertas. Os historiadores de pacotilha que temos vêem nessas retiradas a prova de que o nosso exército estava completamente batido. Não é verdade! Em Moçambique, a situação estava controlada. Havia alguns problemas com os Macondes, mas dominávamos o território.
Em Angola, a guerra estava ganha. A UNITA cooperava connosco, o MPLA estava falido e não fazia guerrilha e a FNLA limitava-se a fazer algumas incursões esporádicas no norte.

INFORMAÇÃO DA PIDE MOÇAMBIQUE SOBRE A FRELIMO -30/08/1968


INFORMAÇÃO DA PIDE MOÇAMBIQUE  SOBRE A FRELIMO -30/08/1968
Mondlane e Simango (Presidente e vice presidente da Frelimo)

A informação refere que no 2º Congresso da Frelimo os macondes não queriam Mondlane na presidência do movimento. Preferiam Urias Simango. Assim Mondlane consentiu  no referido encontro que aceitava receber ordens de Urias desde que os sectores de Educação, Saúde e Organização Interna  ficassem por sua conta. O 2º vice presidente da Tanzania Kawawa mandou prender Lázaro Nkavandame (da etnia maconde)  sob a acusação de ter instigado os macondes contra Mondlane. O Arquivo Torre de Tombo em Lisboa possui vasta gama de informações e relatórios da PIDE sobre Moçambique. Para mais informações clica o link a seguir:

D. JAIME E 4 DE OUTUBRO: A PAZ É DOS MOÇAMBICANOS
Dom Jaime Pedro Gonçalves

O MEDIADOR das conversações de Roma, na Itália, D. Jaime Pedro Gonçalves, considera que a paz que se vive no país, há já 20 anos, é para todos os moçambicanos do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico.

Falando recentemente na Beira numa “Aula Aberta” promovida pela Universidade Católica de Moçambique (UCM) sobre “A busca da Paz para Moçambique”, o antigo arcebispo da Beira fez uma longa descrição do período que antecedeu a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP), no dia 4 de Outubro de 1992, rubricados pelo antigo Chefe do Estado, Joaquim Chissano, e pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
D. Jaime começou por recordar que em 1987 o arcebispo de Maputo, D. Alexandre, e ele próprio, na sua capacidade de arcebispo da Beira, assumiram a missão de contactar a Renamo, enquanto o presidente da Conferência Episcopal, D. Paulo, e outros bispos entravam em contacto com o Governo.
Em Julho de 1990 iniciaram-se os contactos na procura da então guerrilha, o que culminou num encontro com o líder o seu, Afonso Dhlakama, nas matas da Gorongosa.
Mas em Fevereiro e Agosto de 1989 tinha havido dois encontros com representantes da Renamo, em Nairobi, capital do Quénia, cujo nome não adiantou.
O prelado revelou ter realizado várias viagens à Europa, sempre à procura dos elementos da Renamo, tendo, inclusivamente, travado um breve encontro, num restaurante de Lisboa, com aquele que apelidou de um esforçado político, Máximo Dias.
Depois de várias incertezas, D. Jaime Gonçalves disse que, finalmente, conseguiu realizar uma viajem nocturna para Gorongosa, utilizando para o efeito uma avioneta de tipo “Dakota” com apenas um piloto e no meio de muitas caixas, tendo encontrado Afonso Dhlakama numa pista iluminada com fogueiras feitas por antigos guerrilheiros da Renamo.
“Ele (Dhlakama) levou-me numa motorizada, circulámos pela mata adentro. Então, ele disse-me: Olha, senhor bispo, nós estamos cansados desta guerra. Veja isto está tudo destruído. Nós queremos paz, porque estamos a sofrer muito”-narrou D. Jaime, citando Dhlakama.
Tal afirmação, segundo ele, veio dar um grande alento à sua missão.
Regressado das matas, voltou-se à diplomacia com o Malawi e Portugal a serem apontados como os locais do diálogo, mas porque havia desconfianças mútuas, o Vaticano disponibilizou-se para albergar as conversações.
No dia 9 de Maio de 1989, o presidente Chissano anunciou oficialmente, em Washington, nos Estados Unidos da América, que estava disposto a negociar com a Renamo para paz em Moçambique.
Em Maio de 1990 houve então uma proposta oficial da Renamo para que D. Jaime Gonçalves pedisse ao Governo da Itália, através do Vaticano, para acolher as conversações com o Governo de Moçambique.
A primeira intervenção do Vaticano foi de disponibilizar uma sala para as conversações e a emissão de um passaporte para Dhlakama.
O problema de fundo, na versão do palestrante, é que havia desconfianças de ambos os lados mas “nós devíamos convencê-los a ultrapassarem esta dificuldade”.
Um segundo problema surgiu quando o mundo soube que Moçambique estava em conversações para a paz.
Apareceram, então, muitos interessados em acolher as conversações como americanos, ingleses, franceses, alemães e até sul-africanos, estes últimos identificando-se como potência africana.
Respondendo a algumas inquietações da plateia sobre a existência ainda de homens armados da Renamo nas matas de Marínguè, passados que foram 20 anos de paz no país, àquele dirigente da Igreja Católica indicou que a questão da formação das Forças Armadas em Moçambique mereceu muita atenção durante as conversações para assinatura do Acordo Geral de Paz.
Com efeito, revelou ter ficado decidido em Roma, entre os antigos beligerantes, que o novo Exército moçambicano devia ter um número igual de elementos provenientes das extintas Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM) e dos guerrilheiros da Renamo.
Na altura, segundo ele, foi definida ainda a nova designação em Forças Armadas da Defesa de Moçambique (FADM).
“Mas, na prática, o que aconteceu é que se voltou ao problema das desconfianças entre as partes”, enfatizou o antigo mediador para a paz no nosso país.
Maputo, Segunda-Feira, 24 de Setembro de 2012:: Notícias

21 setembro 2012


CAROS(AS) COMPATRIOTAS, JUVENTUDE ANGOLANA
CAROS AMIGOS (AS)


O Futuro das Crianças e Jovens de Angola, Senhores Juízes são a nossa CAUSA - Crianças que todos nós um dia já fomos, e que apesar da colonização cercar a vida dos nossos Pais, nunca nos faltou o pão que hoje indirectamente negais as CRIANÇAS e JOVENS da Angola Independente, e, com toda fartura e luxos nas vossas mãos, que a todos nós pertence! Tal como negais o pão também negais a justiça, para onde ajudais a levar a nossa Angola, a nossa Herança de consanguinidade?!

O Tribunal Constitucional do MPLA, demonstrou mais uma vez que não está adequado a representar os Órgãos de Soberania de Angola em defesa dos seus Povos, os donos do Poder.
É uma instituição nomeada pelo candidato José Eduardo dos Santos e logo, está ao serviço do Partido do MPLA e do seu "dono", o principal responsável pelo estado social em que  se encontra o País e a maioria dos Povos!
O mesmo aconteceu com a nomeação atípica da Dr.a Suzana Inglês, em que o Tribunal de Contas tentou ignorar a gravidade da situação ao não exigir o cumprimento da Lei com a celeridade exigida, valeu a dinâmica dos partidos e a denúncia internacional dos muitos Angolanos lesados nos seus direitos, consignados na Constituição.

Acusar os Povos de Angola de serem responsáveis pela má gestão Governamental, pela falta de organização, transparência e honestidade, ao não ter reunido as condições para o exercício de uma Eleição, justa e transparente, demonstra mais uma vez a parcialidade deste tribunal "comunista" em Angola.
Quem deve actualizar os cadernos eleitorais, quem deve preparar a normalização dos cadernos eleitorais, retirando da base de dados os falecidos, devia ser a Administração do Governo, a CNE competia conferir a qualidade assim como a quantidade de todo o material e condições exigidas para o Acto Eleitoral e, cumprir com rigor, todos os pressupostos, para que este exercício decorresse com legalidade e sem falhas.

Todavia, não aconteceu aqui se discute para além das falhas e faltas nas condições testemunhadas pelos Povos, Dirigentes Partidários e Representações Internacionais, que acompanharam de perto estas eleições, onde os partidos não tiveram condições semelhantes em qualidade e em quantidade que o partido no Poder, porquanto o mesmo, já beneficiado,  pelo facto de estar no poder há 30 anos e por isso conhecer todos os mecanismos internos a gestão do País, e por outro lado, o facto de abusivamente ter usado as instituições do Estado para propaganda eleitoral, tivemos um Candidato do Partido no Poder a ocupar o Palácio da República em momento eleitoral, observamos o uso ostentado dos órgãos de informação Públicas, Funcionários Públicos como o caso de Professores obrigados a apresentarem-se nos comícios e Crianças, as nossas Crianças que há muito perecem em consequência do desgoverno e ambição desmedida dos que actualmente governam o País.

Tais factos constactados por todos os cidadãos, denunciados e reclamados atempadamente pelos Partidos da oposição, Juventude Angolana e cidadãos solidários com a Causa dos Angolanos, recebendo em troca apenas a indiferença e  violência de quem devia exigir o cumprimento da Lei.
As faltas, graves de omissão, falta de isenção e a promiscuidade observadas e que segundo a Lei eleitoral “punidas muitas delas com prisão” por quem as violasse, ao que parece servem apenas para enfeite, iludindo todo um Povo sacrificado, mutilado fisicamente, parecendo que a indiferença dos Órgãos que os devia defender parecer querer mutilar-lhes também a Alma.
Ao virarmos “a esquina e ao continuarmos a observar e a analisar o enredo destas Eleições, nós os Povos de Angola, soubemos também pela Imprensa Internacional, e através de outros meios, através da constactação de Documentos, depoimentos de Cidadãos que assistiram alguns destes actos, bem como o esclarecimento dos Partidos da existência Fraude Eleitoral grosseira, porquanto foram cúmplices técnicos Chineses, Russos, e Empresa Portuguesa – empresa por si já altamente rentabilizada pelas ligações com certas pessoas afetas ao Candidato do MPLA, veio juntar-se a lista de quem parece pretender que os Angolanos continuem a viver saqueados e humilhados na sua Terra, na sua Pátria Herdada pelos seus Antepassados.

Esta semana, como sempre, me foram chegando as preocupações dos cidadãos Angolanos, Jovens principalmente preocupados com o que está a passar-se em Angola em torno destas eleições, e que estamos a ser alvos de notícia no mundo inteiro, mas não por sermos Povos Dignificados pelos dirigentes que gerem os Órgãos de soberania do País, mas pela humilhação da conduta destes mesmos Representantes.

O indeferimento as queixas apresentadas pelos Partidos da Oposição, dos Jovens Angolanos, inicialmente a CNE e por último dos Partidos ao Tribunal Constitucional parece demonstrar uma grande falta de insensibilidade e indiferença a realidade social em que vive a maioria dos Povos de Angola, onde as Crianças, Jovens e Velhos são os mais lesados, demonstrando que os Angolanos não vivem num Estado de Direito e que não há justiça imparcial que lhes devolva a esperança necessária para gerirem o seu País para que possam ter uma vida, como seres humanos Dignos.

Estamos a observar os sinais dos tempos, mesclados nas atitudes anti-humanas de certos Cidadãos, que assumiram responsabilidades Públicas ao mais alto nível, que é a Justiça, e que deviam representar com idoneidade, isenção e responsabilidade, os Povos de Angola, afinal também somos seres vivos, tão seres vivos como aqueles que pareceis “ajudar” e que existem em estrutura como Nações, a muito menos tempo que os Povos de Angola que têm milénios de existência e com uma Civilização espalhada por todo o mundo.
Com esta farsa de Eleições que de democráticas, livres e transparentes nada teve e não terá, caso se insista neste erro do poder imposto a “ferro e fogo e com malabarismos” que lembram os tempos da máfia noutros locais, fora de Africa, desvirtuando a vontade  dos Povos de Angola, os Senhores que omitem a missão de bem Servir os Povos, serão os responsáveis pelas consequências da degradação humana, notícias que alimentam os Relatórios Internacionais, quando citam Angola e a comparam aos índices de desenvolvimento Humano mundial.

Com uma justiça que se parece apresentar “fardada” de compromissos que não aos dos interesses dos Povos Angolanos, não precisamos dum Tribunal Constitucional, mas que se assuma de vez um “Novo mercado de tráfico Negreiro” aos olhos do mundo como nos outros tempos e dizimem-nos duma só vez, se o interesse é ficarem com as terras e seus recursos! Foi esta cumplicidade silenciosa que os Angolanos do passado foram traficados as portas das suas aldeias e cidades.
 Ai Senhores Juízes, Filhos e Netos de Avós Negras, como ainda nos dói a Alma, pelo sofrimento imposto na inquisição passada, e assim achamos que a consciência de muitos deverá também doer, pois não se maltrata eternamente este País de Povos Bons, Amigos e Construtores de uma Nação com Bases de Identidade Matriarcal, de Amor, Justiça e Assistência pelos mais frágeis, que são as nossas Crianças e Velhos. 
O Futuro das Crianças e Jovens de Angola, Senhores Juízes são a nossa CAUSA -  Crianças que todos nós um dia já fomos, e que apesar da colonização cercar a vida dos nossos Pais, nunca nos faltou o pão que hoje indirectamente negais as CRIANÇAS e JOVENS da Angola Independente, e, com toda fartura e luxos nas vossas mãos, que a todos nós pertence!
Nós Mulheres que sentimos todos os meses no ciclo de vida, que imana nos nossos corpos, todos os dias mutilados por esta indiferença ensurdecedora numa Angola que dá a felicidade a estranhos e a violência aos seus Filhos (as), estamos preocupados, Senhores Juízes, com o rumo que estais a dar a nossa Nação!
Pedimos por isso, que reponham a Dignidade onde está em falta, e, justiça se faça por estes Povos com Identidade Histórica de uma Civilização com milénios de existência, que não cabe a nenhum homem mortal desta era aniquilá-la!

Intervenção 20 de Setembro de 2012

Saudações, Rosa Mayunga
(Dirigente de ONGD/Humanista
Mestranda em Desenvolvimento e Saúde Global
Descendente da Autoridade Tradicional de Angola

Carta aberta ao Presidente da República e da Frelimo


Carta aberta ao Presidente da República e da Frelimo


Nunca corte o que você puder desatar” – Joseph Joubert

Wiliam James costumava pregar a «vontade de acreditar». Pela nossa parte, nós cidadãos atentos, gostaríamos de pregar «o desejo de duvidar.» Aquilo que é preciso não é vontade de acreditar mas o desejo de descobrir que é exactamente o contrário. Permita-nos, senhor Presidente, que em nome de todos os Cidadãos Atentos deste país, o saudemos primeiro pelo seu trabalho e, segundo, que nos conceda a “licença democrática” para escrever as linhas que se seguem. Era uma vez, senhor Presidente, dois países no Estado moçambicano: Um chamava-se Moçambique e outro Frelimo de  Guebuza. Às vezes os dois parecem-se um só, mas isso está claro que não passa de uma mera ilusão de óptica criada pelos chineses e pelos ocidentais e evidentemente pelas multinacionais que projectam a suas sombras ampliadoras sobre Moçambique, de tal modo que parecem mais importantes do que realmente são. O país da Frelimo, sim, da Frelimo de Samora, Chissano, a vossa Frelimo, tem a idade dos cartões de abastecimento, dos fuzilamentos sem justa causa, dos assassinatos sem rosto e nós, seus cidadãos, principalmente os atentos, estamos, primeiro já cansados da vossa história mal contada e de palavras como “Bandido Armado”, “Futuro Melhor”, “Força da Mudança” e, segundo, cansados de competir convosco, a Frelimo de Guebuza, e de tentar parecer maior do que vocês! No entanto, temos a certeza de que em breve, o Povo moçambicano se reunirá do Maputo ao Rovuma e pronunciará a única palavra mágica que vocês não conseguem suportar – a palavra NÃO – e assim os anos de faz de conta chegarão ao fim e o país da Frelimo de Guebuza será desfeito e um novo país tomará o seu lugar. Tudo dependerá, senhor Presidente, de uma reunião que terá lugar dentro de dias. É estranho, senhor Presidente, que o primeiro a prevenir Moçambique no tempo de Samora, quando o país caminhava na ilusória segurança atrás da linha entre o maoismo do tipo Deng Xiao Ping e o marxismo do tipo stalinista – foi o senhor e agora na sua liderança está entre uma espécie de mitológica linha entre o capitalismo selvagem e socialismo selvagem, atrás da qual repousa um país despreparado para enfrentar um mundo de moderna tecnologia e poderio económico assim como estava despreparada a Frelimo de 1980 para a guerra contra a Renamo. Mas o certo é que o senhor Presidente, com a sua presença, sempre teve o quase fantástico dom de impedir que o Povo percebesse a diferença entre os dois países – Moçambique e Frelimo de Guebuza. Em 1990, embora o país estivesse destroncado economicamente, com muitos moçambicanos apoiando a política do General Dlhakama, o senhor conseguiu convencer esses aliados do General de que Moçambique é igual a Frelimo. Falou desde 2004 em nome de milhões de moçambicanos que nem sequer sabiam que existe mas cometeu um erro: formou o seu governo com os melhores apanha-bolas do Governo da outra Frelimo. Quer dizer, não se preparou convenientemente para assumir a cadeira de Estado mas sim para assumir a cadeira partidária. Naqueles primeiros dias trágicos, o senhor era um homem que criou muitas expectativas, um homem que de certo modo tinha determinado apoio popular – mas graças à sua autoconfiança e inabalável determinação, em pouco tempo o senhor transformou a expectativa aos olhos do Povo em desilusão.  Caso único na história: um político “exilado internamente” na primeira República que conquistou à custa das fraquezas da liderança da segunda República, o seu próprio país – a Frelimo de Guebuza. Em 2004, o senhor era talvez a figura mais credível para colocar Moçambique no rumo certo e moderno. Só que o senhor se deixou levar pela palavra “empresário de sucesso”. Agora, depois de tanto tempo, nós cremos, senhor Presidente, que a sua demissão pelo povo moçambicano significaria algo mais que a sua decisão de permanecer como Presidente da Frelimo.  Para muitos o senhor não deve continuar a alimentar ilusões quanto à sua permanência de governar Moçambique a partir da Frelimo. É altura de deixar o poder para ir tomar conta dos seus netos e negócios. O Povo sente que a sua saída voluntária é um sinal de que, na era de Internet, os “grandes líderes” estão a ficar obsoletos. É que a sua presença no leme de Moçambique já faz cada vez menos sentido, porque as suas prioridades já se confundem com negócios e política, e isso é incompatível com as inspirações do Povo e com um mundo em que a técnica das soluções económicas tende cada vez mais a assumir o poder, independente de toda a ideologia e toda a política. O Povo quer coisas práticas. Ter saúde, boa alimentação e educação, coisas possíveis que o seu país – Frelimo – pode conceder ao Povo, naturalmente. Depois, é bem possível que a posteridade venha a considerar o senhor como o maior paradoxo do nosso tempo. Será que o capitalismo é a solução para o socialismo democrático? Nós, cidadãos atentos, já descobrimos atempadamente que a diferença entre o socialismo e o capitalismo está assente não só nos lucros excessivos do segundo mas está na influência social que o acompanha e que tende a aumentar. Senhor Presidente, o que o socialismo da Frelimo quer, entenda-se, é precisamente apanhar ambas as coisas. O lucro e a influência pois nesta fase, o seu país, a Frelimo como partido de índole socialista, acumulou e acumula todo o tipo de riqueza e influência mas descarrilou nos excessos. Perdeu-se entre os caminhos do capitalismo e socialismo. Depois, como se dedica inteiramente ao seu país histórico, político e mitológico – essa “Pérola do Índico” (Frelimo), como o senhor o denomina – o senhor fez mais do que qualquer outra figura nacional para romper com o seu próprio passado histórico e cultural. Temos consciência de que o senhor está a dar liberdade político-empresarial aos seus tentáculos para “capitalizar” Moçambique para resolver o problema do seu país – Frelimo de Guebuza. Por exemplo, quando o senhor Presidente se encontrou com o “Movimento muçulmano” estava a pensar em “tentáculos”. O encontro abriu um precedente grave e altamente perigoso. Porque é que nunca quis reunir-se com os Desmobilizados de Guerra, Madgermanes, trabalhadores dos Caminhos-de-Ferro e em menos de 48 horas depois de uma ameaça à “greve empresarial” fez o que todo o Povo pensava que não iria fazer, ou seja, reuniu-se com o “Movimento”? Para nós, senhor Presidente, isso significou uma grande fraqueza, afinal de contas, o seu calcanhar de Aquiles deve ser um segredo muito importante que o “Movimento” possui e que pode ser divulgado a qualquer momento. Ora, se com a sua atitude queria demonstrar que os muçulmanos lhe ficassem gratos e seguissem a sua orientação política, pode ter a certeza de que poderá ficar frustrado pois eles já consultaram os seus livros sagrados e concluíram que o senhor não é nenhum “Maomé”, é simplesmente um Presidente do seu país – Frelimo de Guebuza. O senhor esquece-se de que contribuiu no passado para que a Constituição da Republica do pais – Moçambique – fosse um instrumento que espelhasse as aspirações democráticas do Povo. Como é que agora, incompreensivelmente, pais – Frelimo de Guebuza – para poder mudar também a nossa Constituição? Para que fins? Será que pretende pôr fim às “brincadeiras políticas” da sua oposição interna porque a externa já a colocou no “bolso democrático”? O senhor Presidente sempre foi acusado desde o tempo do “24 horas-20 kilos” de ser anti-ocidental. No entanto, o maior serviço que hoje presta ao seu país – Frelimo de Guebuza – recolhendo recursos de outro país – Moçambique – é enriquecer o Ocidente e empobrecer as futuras gerações. E, agora, senhor Presidente, vamos de certeza absoluta, depois da realização do 10° Congresso do seu país – Frelimo de Guebuza – dar uma boa risada lembrando que as suas “ambições ditatoriais” foram confirmadas. O que vai restar amanhã, dessas “ambições”? Sabemos que o capitalismo durante a Luta Armada de Libertação Nacional sempre o repugnou. Como é que agora está aliado grosseiramente ao capital estrangeiro? Estará a pensar no desenvolvimento de Moçambique, no lucro ou na influência sociopolítica? Sabemos que tem, senhor Presidente, todas as suas raízes profundamente cravadas no marxismo maioista ao estilo Deng Xiao Ping – uma Nação com dois sistemas (capitalismo e socialismo). Temos a plena consciência de que foi o senhor que cortou o esquema do paroquialismo marxista tradicional – quebrou o centralismo democrático – fila pelo poder, de facto não era a sua vez de liderar o seu país – a Frelimo – era a vez do General Alberto Chipande. Essa situação foi vista como uma “reforma” embora seja hoje acusado de concentrar demasiado o poder, e é exactamente o seu esforço para manter essa concentração que lhe causará brevemente a sua derrota. É que para os quadros e militantes do seu país – reforma é algo popular como reformar nipa. Senhor Presidente, nós cidadãos atentos temos a certeza absoluta de que não dorme seguro porque se aproxima o ano de 2014. Um dia, vai ter que deixar a Ponta Vermelha, é uma certeza. Porque é que quer perpetuar-se no poder? Porque é que o seu secretário-geral diz as barbaridades políticas que diz? Qual é a intenção? Porque é que quer cortar a tradição do seu país – Frelimo?! Porque é que agora quer sobrepor o valor individual ao colectivo? O senhor por acaso foi escolhido porque Chissano o escolheu como seu sucessor? Depois da morte de Mondlane como foi? Depois da morte de Samora como foi? Temos a certeza de que foi o colectivo que o escolheu com a anuência da “quadrilha política”, ou não foi? Porque é que agora tem que ser diferente? Reformas? Parece-nos que não é isso? Senhor Presidente, diz um provérbio popular que os prudentes falam porque têm algo a dizer e os insensatos
porque gostariam de dizer qualquer coisa. Portanto, deixe que os seus camaradas escolham o seu sucessor agora no Congresso para desanuviar as vossas tensões internas. Não se intrometa pois se o vier a fazer, futuramente vai pagar muito caro. Se no tempo de Chissano prendia-se somente directores, hoje no seu tempo prende-se ministros e no tempo do seu sucessor a quem se vai prender? Presidentes da República, disso não tenha dúvidas e para o seu caso, esses seus camaradas que um dia traíram Chissano, caso não se comporte bem no Congresso, a partir de 2015 vai iniciar o seu “julgamento político atacando a sua filha,
perceba isso. Para tirar Chissano do poder atacaram politicamente o seu filho, quem não se lembra disso? O modus operandi é o mesmo. Fala-se agora de Nympine? Bastou o pai sair do poder para não mais se falar dele! Nós, cidadãos atentos, sabemos porque é que afirmamos isso. Fomos nós que publicámos a programação da sua Presidência Aberta em Inhambane que por prudência o senhor alterou. Assim como está a reagir, o senhor corre sérios riscos de levar um golpe de Estado, disso não tenha dúvidas e porquê?....Porque se esqueceu de que os conflitos internos são de base dupla. Primeiro, porque as pessoas designadas para novos cargos precisam de reconhecer que os conflitos são internos e, segundo,
precisam de certificar-se de que as suas acções baseiam--se na realidade. As acções do seu país – Frelimo de Guebuza - não são reais. Depois, as ordens que dá não são cumpridas! Porquê? Porque não tem na sua posse todos os factos pertinentes, daí que não tenha controlo sobre as decisões de comando porque não tem acesso à execução e à sua respectiva operacionalidade. Por isso mesmo notamos, senhor Presidente, este anarquismo pessoal, partidário e executivo. 

In: Jornal A verdade

AS RELAÇÕES ENTRE A IGREJA E O ESTADO DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA: NUANCES, DISCÓRDIAS E PERSPECTIVAS


AS RELAÇÕES ENTRE A IGREJA E O ESTADO DEPOIS DA INDEPENDÊNCIA: NUANCES, DISCÓRDIAS E PERSPECTIVAS

O debate sobre as igrejas e o Estado após a independência ganhou mais um contributo de João Cabrita a semana passada. Nas primeiras páginas do jornal, ele discorda fortemente com a minha análise das relações entre Estado e instituições religiosas após 1975.
O debate se enriquece assim com mais um contributo, mas parece-me que estamos a chegar a um ponto onde temos simplesmente de aceitar que discordamos. Para concluir, quero esclarecer no entanto alguns dos meus argumentos e contrastar as nossas perspectivas.
Na minha entrevista inicial no Canal de Moçambique, de Julho passado, eu afirmei que era difícil promover novas perspectivas na análise de alguns assuntos quando os debates sobre eles oscilam entre posições absolutistas (tudo é unicamente bom, ou unicamente mau). Falava eu da história do nacionalismo, mas está agora claro que é o caso da história da religião também. Sobre a política da Frelimo em relação às igrejas, João Cabrita argumenta que não pode haver nuances ou meio termos, pois “ou há combate, ou não há”. E já que eu trouxe nuances à análise, ele acusa-me de “levantar dúvidas sobre a natureza totalitário do regime após 1975”.
João Cabrita leu os meus textos e sabe muito bem que eu não ponho em dúvida a natureza totalitária do regime após a independência e ainda menos levanto dúvidas sobre o ataque contra religião no país como ele tenta insinuar. Documentei pormenorizadamente este período nos meus trabalhos científicos e até chamei o Estado no fim dos anos 1970 de “Estado Teólogo”. Portanto, o problema não esta aí. O problema é que, para Cabrita, a natureza totalitária do regime após 1975 é absoluta e indiscutível enquanto para mim foi variável e ela é para ser analisada, discutida e debatida.
A minha análise mostra que existiram em Moçambique diferentes períodos nas relações entre Estado e Igrejas após 1975 (o que significam diferentes graus e formas de totalitarismo). Podemos falar de dois, ou melhor, três períodos. Primeiro, entre 1975 e 1977, quando a Frelimo teve uma política de secularismo forte e de submissão das instituições religiosas ao regime. A seguir, o período entre 1978 e 1982, quando o regime tentou acabar com a religião e substitui-la com o ateísmo – a fase do “Estado Teólogo”. Finalmente, os anos após 1982, quando o Estado abandonou a sua pretensão teológica e passou a outro regime de secularismo, com forte controlo das instituições religiosas.
A controvérsia entre Cabrita e eu gira sobretudo em torno de saber se o regime era anti-religioso antes de 1977. Eu acho que não; Cabrita acha que sim. Ele diz que a Frelimo combateu as igrejas desde o início e que a questão dos graus não importa, pois “há combate ou não há”. Na minha perspectiva, a Frelimo não tentou acabar com a religião antes de 1977-78. Se tivesse, como se explicaria que religiosos pudessem ser membros da Frelimo até 1977? E como se explicaria que o regime esperasse até 1978 para fechar igrejas e começar a propagar oficialmente o ateísmo? Simples táctica? Podia ser, mas isso implicaria dizer que a Frelimo tinha tudo planificado desde o início, que sempre controlou tudo e que nunca mudou. E falta explicar porque é que foi preciso esta táctica.
Ainda na minha perspectiva, a Frelimo teve na altura da independência que reintegrar na sua liderança elementos na clandestinidade no país e fazer alianças internas para assentar o seu regime, e algumas destas alianças/reintegração foram com crentes, o que mudou a dinâmica da liderança da Frente. As coisas mudaram no entanto em 1977 com o III Congresso, quando a Frelimo se transformou em Partido-Estado e excluiu das suas fileiras e da sua direcção os religiosos. A Frelimo usou então a linguagem da “purificação das suas fileiras”, mas esta expressão foi usada precisamente para dar impressão que não havia mudança. Na verdade, houve uma radicalização e é esta radicalização que levou a Frelimo a tentar acabar com a religião no país e tentar converter o povo ao ateísmo durante 3 anos.
Outro assunto de controvérsia entre Cabrita e eu, é a “Circular” de 1975 do Comissário Político Nacional Armando Guebuza. Para Cabrita, a Circular mostra que o regime era anti-religioso desde o início. Na minha análise, a circular mostra que o regime exigia submissão e tencionava reprimir todos os que se opunham, ou não se submetiam, ao regime. A repressão das Testemunhas de Jeová e de pastores evangélicos e ziones (justificada ou não) se enquadrou nesta política – e não numa tentativa de acabar com a religião no país. Podemos concordar que as duas políticas foram negativas, mas não posso aceitar que é tudo a mesma coisa. Se ler os jornais nacionais e internacionais da época (e.g. 1976), há-de ver que, se alguns religiosos já gritavam à perseguição comunista à igreja, muitos outros (inclusive bispos católicos insuspeitos de simpatia de esquerda) diziam que havia problemas, mas não perseguição.
O terceiro elemento de discórdia tem a ver com as nacionalizações de 1975. Para Cabrita, isto foi o primeiro ataque à religião em Moçambique e não foi nada justificado porque já não havia mais concordata e a igreja católica tinha mudado com o Vaticano II. Na minha óptica, as nacionalizações não foram o primeiro passo dum suposto plano pré-estabelecido de acabar com a religião e as nacionalizações justificavam-se. Não foi plano pré-estabelecido porque a liderança da Frelimo teve que mudar para virar oficialmente anti-religiosa. E as nacionalizações justificavam-se porque se a concordata não existia mais, a igreja católica continuava a controlar quase toda a educação no país assim como uma boa parte da saúde. Ora isto não podia ser, porque ia comprometer a natureza laica do Estado, e ia causar problemas ao partido no poder. Não é por acaso que esta medida foi bem acolhida pela maioria dos protestantes, muçulmanos, ziones e outras instituições religiosas não católicas. Aliás, até dentro da própria igreja católica, havia grupos significantes que estavam a favor de acabar com o modelo duma igreja de poder!
Para concluir, qual é a importância das diferenças entre a minha perspectiva e a de Cabrita? Na visão de Cabrita, a Frelimo foi sempre totalitária e anti-religiosa. Todas as acções desfavoráveis à religião foram injustificadas e foram planificadas pela Frelimo desde o primeiro dia da independência com o grande objectivo de acabar com a religião. Nesta perspectiva, a Frelimo parece um monstro Gargamel! Em contraste, na minha perspectiva, a Frelimo foi totalitária, mas também dinâmica. Ela mudou internamente com o tempo e alterou as suas políticas, só chegando a ser realmente anti-religiosa entre 1978 e 1981. Será isto só nuances? Qualquer que seja a resposta, a minha perspectiva tem a vantagem de mostrar algo da dinâmica interna do regime e de explicar com subtilidade o que aconteceu em relação à religião no país após a independência (CanalMoz - 21/09/2012 - Eric Morier-Genoud).