ATRIBUIÇÃO DOS APARTAMENTOS DA VILA
OLÍMPICA AOS ANTIGOS COMBATENTES: ACTO DA CONFIRMAÇÃO DE NEPOTISMO, CORRUPÇÃO,
ABUSOS DO PODER E ARROGÂNCIA POLÍTICA
Por Jorge Fernando Jairoce
Realmente a
notícia veiculada pelo semanário Canal de Moçambique na edição passada (nr.158,
de 25 de Julho de 2012), dando conta de que figuras da elite política e
económica moçambicana, entre ministros e ex-ministros, governadores e
ex-governadores, PCAs de empresas públicas ou participadas pelo Estado e deputados
ocuparam parte dos apartamentos da Vila Olímpica do Zimpeto, na cidade de
Maputo, a coberto de título de antigos combatentes, indignou muitos cidadãos
com mente sã. Só não ficariam indignados os indivíduos com demência confirmada pelos psiquiatras.
É caso para dizer que esta elite política e económica
necessita urgentemente de exorcismo
político com vista a expurgar todos os espíritos maus e demais demónios que
os acompanham. Analisando a nossa história económica desde o período pós
independência observa-se que esta elite política gananciosa passou por um
longo retiro e jejum económico que não
os permitia ter acesso aos bens públicos de forma fraudulenta no período de economia
centralizada dirigido por Samora Machel. Aliás, é preciso recordar que as
circunstâncias da morte de Samora ainda não foram devidamente esclarecidas
aventando-se a hipótese de conspiração interna até porque os demónios de
aburguesamento tomaram conta desta elite política logo após a sua morte aproveitando-se
de instrumentos políticos e económicos aprovados pela Assembleia Popular de
Moçambique-refiro-me aos Programas de Reabilitação Económica (PRE) e de
Reabilitação Económica e Social (PRES). Estes dois programas no contexto da conjuntura
política e económica vigente contribuiram para a emergência duma certa elite política
e económica que sob a capa da liberalização do mercado tomaram conta das
principais empresas estatais e demais bens
patrimoniais estatais para a satisfação do seu ego individual e transformando-se
em verdadeiros delapidadores dos recursos da Pátria e da coisa pública. Para
piorar o Governo ainda atribuiu fundos do tesouro público que muitos deles
nunca e jamais poderão reembolsar. É caso para dizer que o País virou a
capoeira onde pode-se buscar os ovos para qualquer festa ocasional. Lembro-me
com mágoa e nostalgia que muitos moçambicanos
foram executados, presos e desterrados nos campos de
concentração- que na altura eram denominados centros de reeducação (fenómeno
que a historiografia moçambicana deverá ainda clarificar) acusados de candonga. Hoje os mesmos que
desumanizaram estes cidadãos viraram os verdadeiros candongueiros do Pátria amada e gloriosa. Para elucidar o meu
argumento é só observar os nomes dos donos das várias empresas que exploram os recursos
naturais, alguns serviços públicos, as infra-estruturas públicas, etc. Realmente falta-lhes alguma vergonha. Hoje a
mesma elite política reclama por ter uma juventude que faz crítica a ausência
de políticas públicas consistentes nas áreas sociais como no acesso ao emprego,
transportes, educação e saúde de qualidade. O que poderia se esperar dessa juventude que não tem como
buscar nenhuma referência ético-moral dessa elite política? O fenómeno do
apossamento dos recursos e bens públicos também esta presente nas políticas de redução da pobreza
urbana e rural. Quem realmente têm acesso aos vulgo sete milhões de meticais? É
o cidadão que vive abaixo da linha da pobreza ou seja com 1,25 dólares por dia?
A resposta para questão é clara. Os vulgo sete milhões são atribuídos aos cidadãos que vivem acima
da linha da pobreza – refiro - me aos funcionários públicos, alguns
agricultores, comerciantes e indivíduos com cartão do Partido Frelimo. Estes
fundos estão a servir para revitalizar
as células partidárias adormecidas. É um fundo de exclusão e não inclusão. Esta
é a razão pela qual os cidadãos não devolvem o dinheiro emprestado e nenhuma
justiça é feita. Uma verdadeira candonguização
dos recursos públicos. Existem trabalhos de licenciatura, dissertações de
mestrado de alguns estudantes que confirmam esta vergonhosa situação de drenagem de dinheiro público para
satisfação do ego político. Os trabalhos a que me refiro chegaram a conclusão
de que critérios de atribuição destes fundos deixam a desejar porque para além
de não serem inclusivos, não respeitam as liberdades de escolha dos indivíduos
quanto as reais necessidades da comunidade local e como tal não estão a
contribuir para a redução da pobreza absoluta. E depois ficamos espantados
quando nos relatórios de desenvolvimento humano publicados pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) aparecemos no grupo de países com
baixo índice de desenvolvimento (é só observar o Índice de Desenvolvimento
Humano de 2010). Estamos cansados de ouvir falar do crescimento económico sem
referência ao desenvolvimento social, sabido que a renda (como valor monetário)
resultante desse crescimento apesar de
ser contabilizado no nosso Produto Interno Bruto não entra para os
cofres do Estado porque são drenados para o estrangeiro pelas multinacionais e
o pouco que entra é mal distribuído através de políticas exclusivas e
irracionais. Aliás, este é um fenómeno que se repete ano após ano minando os
esforços de desenvolvimento humano. Um dos grandes desafios do Ministério das
Finanças é identificar os acumuladores da renda e desequilibradores da economia
em Moçambique e obrigá-los a pagarem os impostos na medida certa visto que muitos deles não
pagam. Por fim gostaria de desafiar esta elite política e económica a virem ao
público desmentirem o que eu disse e justificarem honestamente os mecanismos
usados na acumulação da renda de que
dispõe. Por uma questão de sensatez seria bom que devolvessem os apartamentos em
sua posse ao Fundo de Fomento e Habitação para merecerem o devido destino - aos
grupos de renda baixa e média. Talvez esta seria uma possibilidade de se retratarem
diante desse Povo atento e em estado latente (não se esqueçam das famosas
manifestações populares que eclodiram na cidade de Maputo). Certamente que não
farão porque estão possuídos de vários demónios
e não conseguem livrar-se dos mesmos. É caso para dizer que é urgente o exorcismo político da elite política e
económica de Moçambique.
Muito bem colocado Jairosse. Apenas parabeniza-lo por esta contribuição na clarificação de certos sentidos em torno da nossa política, que não verdade está aliada à distribuição da renda em Moçambique.
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