05 setembro 2012

SUGESTÃO DE LEITURAS E FILMES

      SUGESTÃO DE LEITURAS E FILMES

Por Jorge Fernando Jairoce

Heidi Gengenbach . Memórias Encadernação: Mulheres como Makers e contadores de história em Magude, Moçambique . New York: Columbia University Press. 2005. Livro eletrônico. 
Magude era um lugar difícil de trabalhar quando Heidi Gengenbach chegou lá em 1995. Foi preciso alguma coragem para realizar cerca de 18 meses de trabalho de campo nesta parte do sul de Moçambique, logo após o fim da guerra civil. Ela também levou um pouco de coragem para comparar a disciplina de história como é ensinado em universidades americanas com a forma como o passado é concebido por mulheres idosas nesta parte da zona rural de Moçambique.  O formato eletrônico do livro fornece sons e emocionantes imagens visuais, mas também desafia tradições narrativas existentes. A sua abordagem pouco ortodoxa vai apelar para o aventureiro, mas que pode ser frustrante para aqueles que  buscam a história social de uma subclasse global.
      As mulheres idosas entrevistadas ressaltaram a importância das redes de mulheres e laços familiares em sua visão do passado. Ao contrário de seus parceiros do sexo masculino, elas mostraram pouco interesse por política, trabalho ou cronologia. Gengenbach tenta capturar esta visão nos capítulos que podem ser lidos de forma independente um do outro. A estrutura deste livro não gira em torno de documentos que  procura "recuperar" o passado ou uma narrativa que "se desdobra" perfeitamente. Ela vê os registros de missionários e funcionários coloniais, e até mesmo o testemunho oral de informantes do sexo masculino, como formas de expressão que compartilham algumas das preocupações com o passado realizada por mulheres de Magude. Historiadores profissionais também são culpados de organizar história oral ou textual em narrativas (do sexo masculino, ocidental, elitista e profissional) que seguem suas  preocupações com a cronologia da mudança económica e política, estruturas impessoais e de modernidade, e não aquelas das mulheres rurais no centro do estudo. Essas mulheres falaram sobre o passado da forma que serviu para reforçar os laços sociais de parentesco e experiência e elas inscrevem as suas memórias em atividades como tatuagens, histórias de vida e outros objetos artesanais.
Clica no link para ouvir as histórias: http://www.gutenberg-e.org/geh01/frames/fgehaud.html



 Allen F. Isaacman and Barbara S. Isaacman. Slavery and Beyond: The Making of Men and Chikunda Ethnic Identities in the Unstable World of South-Central Africa, 1750–1920. (Social History of Africa.) Portsmouth: Heinemann. 2004. Pp. xii, 370.

Pouco mais de três décadas atrás, Allen F. Isaacman autor de uma análise pioneira de mudança social e económica em Moçambique realizou um amplo estudo  focado no sistema de prazos e nas propriedades portuguesas localizadas ao longo do rio Zambeze. Ele ajudou a estabelecer uma agenda de pesquisa sobre temas que vão da escravidão à autoridade no sudeste da África. Agora Isaacman e sua colaboradora Barbara retornam a muitas das mesmas questões em um estudo de um grupo e de um gênero, homens Chikunda e sua história a partir de meados do século XVIII ao início do século XX. O resultado é uma abordagem que nos lembra do que de  melhor a história social tem para oferecer.
      O Chikunda emergiu como uma categoria social durante o século XVIII, no contexto de expansão do sistema de Prazos. O portugueses tinha feito uma série de concessões de terras para colonos que viajaram para o oeste da costa do Oceano Índico ao longo do rio Zambeze para moderno Zimbabwe e Malawi. Esses colonos europeus, muitos dos quais tomaram esposas africanas, criaram um exército de escravos do sexo masculino que comandaram os recursos de comunidades africanas que viviam nas fazendas.  O Chikunda também estava envolvido na captura de escravo. 


 FILME SOBRE RUANDA

Gacaca: Living Together Again em Ruanda? Dirigido por Anne Aghion. Produzido por Philip Brooks, Bocahut Laurent, e Aghion Anne.2002; cor; 55 minutos. Distribuído pela First Run /Icarus Films.

Esse filme retrata os desafios enfrentados em Ruanda, enquanto  tenta se tornar uma sociedade inclusiva. Autores de crimes estão retornando da prisão para viver ao lado de parentes de suas vítimas, os sobreviventes, enfim pessoas que sabem quem matou seus familiares.  O Gacaca apresenta entrevistas de criminosos e vítimas e mostra  um tribunal tradicional que tem de lidar com os 80.000 casos remanescentes do genocídio.

Gacaca (Ga-cha-cha), que significa, literalmente, "justiça na grama," é uma forma de cidadão baseado em justiça, que ruandeses decidiram colocar em prática em uma tentativa de lidar com os crimes de genocídio de 1994.
Filmando por mais de uma década em um pequeno vilarejo rural, a diretora Anne Aghion traçou o impacto que a experiência na justiça de transição teve nos sobreviventes e perpetradores.Uma história de medo e raiva, acusações e defesas, verdades borradas, tristeza inconsolável e esperança para vida renovada, enfim o filme capta a jornada emocional de convivência. Assista trecho do filme: http://www.gacacafilms.com/


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