04 novembro 2012

CARLOS CARDOSO, CORAÇÃO INDEPENDENTE


CARLOS CARDOSO, CORAÇÃO INDEPENDENTE

Por  João Ribeiro
Jornalista Carlos Cardoso

Carlos Cardoso, jornalista, proprietário do Mediafax, brutalmente assinado em plena luz do dia numa das principais artérias da Cidade de Maputo, capital de Moçambique em 22 de Novembro de 2000, era um acérrimo defensor da Liberdade e um dos símbolos do Jornalismo Investigativo em África. Foi morto na sequência de uma série de trabalhos publicados por ele no Mediafax sobre uma enorme fraude ao maior banco moçambicano. Este documentário aborda a sua história e o período imediatamente após a sua morte. Realização de Rehad Desai e produção de João Ribeiro.
Assista o documentário clicando em   http://vimeo.com/43253334#.
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BIOGRAFIA DE CARLOS CARDOSO
Carlos Cardoso nasceu na Beira no ano de 1951. Estudou primeiro em Moçambique e depois a nível secundário e universitário na África do Sul, na universidade de Witwatersrand, onde foi expulso e deportado para Portugal pelas suas posições anti-apartheid. 
Após a independência de Moçambique, em 1975, ao contrário da família e da grande maioria dos elementos da comunidade branca, Cardoso resolve ficar e engaja-se profundamente nos ideais da Frelimo, revendo-se sobretudo nas posições do primeiro presidente Samora Machel. Em 1980, é nomeado editor da AIM (Agência de Informação de Moçambique). Anos depois, torna-se conselheiro de imprensa de Samora Machel e prevê que algo de muito grave está para se passar com o presidente, sendo um dos que desaconselha a viagem do presidente para a viagem fatídica, em Outubro de 1986. 
A morte de Samora marca-o profundamente e inicia nesta altura o seu afastamento em relação à Frelimo. Em 1989, desencantado, abandona o jornalismo e dedica-se à pintura. 
Porém, em 1993, está de volta à escrita, estando na origem da criação da Mediacoop, uma cooperativa independente de jornalistas que lança os jornais Mediafax e, pouco tempo depois, o Savana. 
Por divergências com outros jornalistas, abandona a Mediacoop e funda, em 1997, o ‘Metical’, diário electrónico versado sobre temas económicos. Aqui, os seus editoriais começam a incomodar as altas esferas do poder com constantes denúncias de casos de corrupção. 
À data do seu assassinato, investigava o maior escândalo financeiro do país desde a independência: o desvio de uma soma aproximada a 14 milhões de USD do Banco Comercial de Moçambique (BCM), entretanto extinto. Nos seus artigos, tinha citado Momade Abdul Satar, conhecido por Nini Satar, e Vicente Ramaya, dois homens de negócios muito influentes em Moçambique. 
Após a morte do jornalista, Nini Satar acusou o filho do ex-Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano de estar envolvido no caso. O empresário apontou ainda Aníbal dos Santos Júnior (Anibalzinho), como o chefe da quadrilha que executou Carlos Cardoso.
Em 2003, seis pessoas foram condenadas a penas entre os 23 e os 28 anos de prisão pela morte do director do jornal "O Metical". Anibalzinho nunca prestou declarações em tribunal, porque durante o julgamento fugiu da cadeia, pelo que foi condenado à revelia. 
O tribunal aplicou-lhe uma pena quase 30 anos de prisão por ter chefiado a quadrilha que assassinou Carlos Cardoso. 
Anibalzinho tem no seu currículo três fugas da cadeia. Entre os anos 2002 e 2004, o prisioneiro mais famoso do país chegou à África do Sul e ao Canadá, países de onde foi extraditado para Moçambique. Depois de mais duas fugas, está hoje encarcerado numa cela do Comando da Polícia na cidade de Maputo.
Durante o processo, Momade Abdul Satar acusou ainda o filho de Joaquim Chissano de ser o responsável pela fuga de Anibalzinho, para o impedir de dar o seu testemunho no caso Cardoso. 
Mas não foi só Nympine Chissano quem viu o seu nome envolvido no escândalo. A empresária moçambicana Cândida Cossa viu-se envolvida no caso, o que forçou as autoridades da justiça a instaurarem um processo autónomo.
Devido à lentidão da justiça, ambos perderam a vida sem ser ouvidos: Nympine morreu em Novembro de 2007 e Cândida Cossa em Novembro de 2010. O processo autónomo foi arquivado.
Em declarações ao semanário Savana, o jornalista Marcelo Mosse, colega de Cardoso no ‘Metical’ e co-autor do livro biográfico sobre Cardoso ‘É proibido pôr Algemas nas palavras’ (veja a capa do livro no fim do texto) afirmou: “Hoje continuamos a ter os problemas que tínhamos há 10 anos. Mas com outras roupagens. As elites já não pilham na banca ou no Tesouro”, disse Marcelo Mosse, indicando que o assassinato de Cardoso, e depois de Siba Siba, chamou a atenção para reformas drásticas nesses sectores, com muita pressão dos doadores que alimentam o Orçamento do Estado.
Hoje, critica, as elites refastelam-se nas preferências noutro tipo de património público, como no sector de concessões minerais, na manipulação do procurement, fingindo-se transparência e integridade. 

Livro sobre Carlos Cardoso, escrito por dois amigos pessoais e profissionais de Carlos


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