O LÍDER da Renamo, Afonso Dhlakama,
reafirmou ontem estar disponível para um encontro aberto e produtivo com
o Chefe do Estado, Armando Guebuza, mas colocou duas condições.
A
primeira, que o encontro poderá ter lugar em Maputo se houver garantias de
segurança que passam pela retirada da Força de Intervenção Rápida (FIR)
no perímetro de Satungira onde se encontra aquartelado. A segunda, que o
encontro se realizaria em Gorongosa, se as garantias da primeira condição não
fossem concretizadas.
Dhlakama
fez estes pronunciamentos, em Satungira, na serra de Gorongosa, Sofala, onde se
encontra a viver desde 15 de Outubro do ano passado, depois de receber, no
final da manhã de ontem, uma delegação do Observatório Eleitoral, uma
plataforma de organizações da sociedade civil de carácter religioso, da área
dos direitos humanos e de promoção de cidadania.
No
encontro, de cerca de duas horas que manteve com a delegação do Observatório
Eleitoral, chefiada pelo respectivo presidente, o bispo Dinis Matsolo, foi
tornado público que ainda neste sábado uma delegação da sociedade civil
constituída por Dom Dinis Sengulane e o Reitor do Instituto Superior
Politécnico e Universitário (ISPU), Lourenço do Rosário, que ele designou de
facilitadores, vai se encontrar com o líder da Renamo para também buscarem
formas de aproximação de posições entre Dhlakama e o Presidente Guebuza.
Falando
a jornalistas, Dinis Matsolo, disse que o importante é que há abertura
para um diálogo construtivo entre ambas as partes. "Tivemos uma conversa
totalmente aberta que nos mostra que há vontade de diálogo e temos que avançar
para encontrar os melhores caminhos para a paz. Como moçambicanos, temos que
nos articular mais num diálogo aberto. Encontramos uma abertura total em
qualquer que seja a possibilidade de achar formas de ultrapassar o impasse e
estamos bastantes satisfeitos com isso", sublinhou.
Aquele
prelado referiu que o Observatório Eleitoral ainda vai, igualmente, articular
com o Chefe do Estado, porque não há tempo para parar e que o impasse não
leve mais tempo. "O importante é que as pessoas falem honestamente sobre
os assuntos e com respeito mútuo num processo de diálogo, que não é
propriamente uma confrontação, mas uma oportunidade de ouvir-se a outra
parte".
Fundamentalmente,
Dhlakama considera que o problema essencial desta instabilidade deve-se à Lei
Eleitoral que, no caso de sua revogação, a Renamo irá participar imediatamente
no pleito autárquico de 20 de Novembro, sendo que os outros assuntos na
mesa do diálogo com o Governo podem ir sendo gradualmente resolvidos como forma
de garantir a manutenção da paz duradoira.
Entretanto,
o líder da Renamo voltou a dizer que não mais haverá guerra em Moçambique,
sublinhando que “quero tranquilizar a todos, mas quero convidar o Governo, em
particular ao Presidente Guebuza, que eu não tenho problema”.
“Já
dei esta garantia depois da guerra dos 16 anos e o Presidente Chissano pode
testemunhar isso. Não é hoje que vai ser difícil”, disse.
Na
conferência de Imprensa, Dhlakama assumiu a autoria dos recentes ataques
registados ao longo da Estrada Nacional Número Um e que resultaram no
assassinato de civis e destruição de seus bens. Ele disse que mandou os seus
homens atacarem como forma de eliminar a logística da aproximação do Exército e
que o alvo eram os soldados governamentais. Porém, indicou que as imagens
chocantes e confrangedoras das vítimas civis e indefesas, sobretudo a de
uma mulher desesperada e o seu bebé a chorar depois de cair na emboscada da
Renamo, levou-o a mandar parar com as incursões armadas.
Todavia,
declinou responsabilidade da Renamo quanto ao assassinato dos elementos das
FADM e do ataque ao paiol de Dondo, ao mesmo tempo que minimizava o impacto
sobre este assunto pelo facto de no local do assalto não viverem crianças, mas
sim forças militares.
Recordou
que os louros sobre o ambiente de paz que o país desfruta depois dos 16 anos da
guerra de desestabilização promovida pela Renamo também lhe pertencem, pois que
tal se deveu muito à sua postura política.
“Aquelas
medalhas que os outros ganham também me pertencem. Nunca as pedi, porque
reconheço o meu papel. Não tenho que fazer “lobbies” para isso. Gostaria, por
isso, que a Imprensa transmitisse correctamente que não à guerra no país e que
no dia em que Guebuza mandar retiras as forças que cercam Satungira e Gorongosa
eu vou imediatamente a Maputo. Pode ser já amanhã”, concluiu.
- Rogério Sitoe e Horácio João
In: Notícias, Maputo, Quinta-Feira, 4 de Julho de 2013::
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