05 dezembro 2013

MORREU NELSON MANDELA: A LIBERDADE COMO OBRA
Nelson Mandela


O primeiro Presidente negro da África do Sul morreu nesta quinta-feira, anunciou Jacob Zuma, Presidente sul-africano. O líder da luta anti-apartheid tinha 95 anos.

Nelson Mandela foi um homem de gestos. Como este: apenas aceitou sair da prisão quando recebeu garantias de que todos os outros prisioneiros políticos seriam libertados como ele. O advogado e activista acreditou na luta pela libertação de todo um povo. Depois de 27 anos preso, foi eleito o primeiro Presidente negro na África do Sul. O seu legado vai muito além do seu país e do tempo em que viveu. Morreu nesta quinta-feira, com 95 anos, na sua casa em Joanesburgo.
Quando anunciou que deixava a política, Nelson Mandela fê-lo com a mesma naturalidade com que dizia: “Toda a gente morre.” Escolheu deixar a presidência da África do Sul no fim do primeiro mandato dois anos depois de decidir abandonar a liderança do Congresso Nacional Africano (ANC), que transformou num farol da luta de libertação do seu país. Na sombra, manteve uma actividade pública, por vezes próxima da política. Estávamos em 1999.
Cinco anos depois, com 86 anos, anunciou brincando que ia “reformar-se da reforma”. Era a sua maneira de dizer que desta vez era mesmo de verdade. “Não me telefonem, eu telefono-vos”, disse na altura num encontro com jornalistas. “Não lhe telefonámos”, escreveu o jornalista Ido Lekota em 2010 no jornal The Sowetan, “mas a sua figura ‘maior do que a vida’ continua a pairar sobre a nossa democracia e o panorama político” da África do Sul, acrescentou.
Hoje, três anos depois, Ido Lekota continuaria provavelmente a escrever o mesmo do líder da luta anti-apartheid, preso durante 27 anos por lutar contra o regime segregacionista da África do Sul, que foi Prémio Nobel da Paz (com  Frederik de Klerk) em 1993 e primeiro Presidente negro da África do Sul eleito um ano depois. “O estadista mais amado” do mundo, como se lhe referiu em tempos o New York Times, esteve internado este ano, com uma infecção pulmonar, como o foi várias vezes nos últimos dois anos. Deixa uma obra completa: um país que imaginou e criou a partir de um ideal.
Advogado, líder da luta anti-apartheid, defensor do uso de armas em nome de uma luta igual com o opressor, Nelson Rolihlahla Mandela conseguiu ter do seu lado pacifistas como o arcebispo Desmond Tutu, que foi Nobel da Paz antes dele, em 1984, e que, quando Mandela esteve internado, rezou pelo “conforto e dignidade” daquele que considera ser “o ícone mundial da reconciliação”. Também foi o arcebispo Desmond Tutu quem disse, num dos últimos aniversários de Mandela, a 18 de Julho, que a melhor prenda que ele podia receber era saber que as pessoas seguiriam o seu exemplo, fossem como ele.

De pessoa revoltada a magnânima
Tutu previu ser este um  momento “traumático”  para a África do Sul, o da perda de Mandela, figura que descreveu como “um ser humano fantástico”, numa entrevista em Junho de 2012 ao PÚBLICO, em Lisboa.
“Quando vai para a prisão, é uma pessoa zangada, revoltada, que acredita na violência como meio de conquistar a liberdade. E quando sai, emerge como uma pessoa extraordinariamente magnânima. O sofrimento por que passou ajudou-o a suavizar a sua posição. (…) Ele acreditava convictamente que se é líder pelas pessoas que são lideradas e não em benefício próprio. Fomos incrivelmente abençoados por termos Madiba [Mandela] aos comandos, num momento histórico para o nosso país. (…).”
Pelo menos até ao fim de 2010, o ex-Presidente sul-africano continuava, todos os meses, a receber quatro mil mensagens do mundo inteiro. Algumas com uma homenagem, outras a desejarem-lhe uma reforma tranquila e feliz, segundo a Fundação Nelson Mandela em Dezembro de 2010 que, na declaração também recebida pelo PÚBLICO, juntou um pedido a todos para se coibirem de pedir autógrafos, declarações, entrevistas ou aparições públicas em apoio a algum evento, de forma a “ajudar a tornar a reforma de Madiba um período de paz e tranquilidade”.
Seguiram-se meses e anos difíceis em que a sua saúde se deteriorou. E durante esta última permanência no hospital, à porta da sua casa em Joanesburgo e do hospital em Pretória, muitas flores foram deixadas com mensagens a desejar as melhoras ou a dizer: “Tata Madiba: Graças a ti, temos orgulho em ser sul-africanos.” Ou com promessas: “Prometemos viver em paz e harmonia.”

Descendente do rei Thembu
O desejo de Mandela, expresso na autobiografia Longo Caminho para a Liberdade, era ser enterrado junto dos seus antepassados em Qunu, no Transkei, província do Cabo Oriental, onde nasceu em 1918, e foi educado para ser, como o pai falecido, conselheiro do rei thembu, Jongintaba Dalindyebo.
Era descendente de Ngubengcuka, que tinha antes sido o rei dos thembu, incluídos no mais vasto grupo linguístico dos xhosa. Mandela descreve o rei, que foi seu pai adoptivo e do qual teria sido conselheiro se não tivesse partido para Joanesburgo, como “um homem tolerante e esclarecido que tinha alcançado o objectivo [que caracteriza] todos os grandes líderes: manter o seu povo unido”.
Este “grande líder” acolhera Mandela com nove anos, após a morte do pai que, anos antes, ficara desapossado de tudo por desafiar um representante da administração britânica. A mãe, sem condições para o criar, entregou-o ao rei. Mandela aprendeu a escutar os anciãos. 

Os vários nomes de Mandela 
Mandela é muitas vezes chamado, na África do Sul, por ‘Tata’, que significa ‘pai’, ou por ‘khulu’ que é ‘grandioso’ – ambos na língua xhosa. Mas Mandela é sobretudo referido, em sinal de respeito, por Madiba – nome de um chefe thembu que reinou no Transkei no século XVIII, o nome do clã de Mandela que é mais importante do que o apelido.
Na clandestinidade, a partir de 1961, vestiu a pele de um David Motsamayi; disfarçou-se várias vezes de motorista, cozinheiro, jardineiro.
Não foi conselheiro, nem rei, mas a sua educação de aristocrata, os estudos de advocacia, o carisma e dedicação à luta anti-apartheidfizeram dele o líder inquestionável do ANC e principal ícone da libertação da África do Sul. Não aceitou ser libertado da prisão enquanto não fossem instituídos o fim do apartheid e o fim da proibição do ANC, o levantamento do estado de emergência e a libertação dos outros presos políticos.
“Eu prezo muito a minha liberdade mas prezo ainda mais a vossa”, escreveu num discurso lido pela filha Zindzi, num comício no Soweto, em 1985, dirigido aos africanos e membros do ANC. 

Recolhimento nacional
Também por isso, a morte de Mandela é “uma perda tremenda para o país”, disse Ray Hartley, director do jornal sul-africano The Times numa entrevista ao PÚBLICO. “A África do Sul perderá aquele sentimento reconfortante de que existia este grande unificador”, disse, embora prevendo que "os processos políticos não serão afectados pelo seu desaparecimento.”
Também em entrevista, Thierry Vircoulon, investigador associado do Institut Français des Relations Internationales e co-autor de L’ Afrique du Sud de Jacob Zuma (L’Harmattan) considerou que “a África do Sul vai entrar num momento de recolhimento nacional”. E realçou: “A nova África do Sul não vai desaparecer com ele, precisamente porque ele fez um excelente trabalho enquanto pai fundador dessa nova África do Sul”.
Os seus actos são frequentemente lembrados como exemplo para outros. As suas palavras ressoarão durante muito tempo como lições de vida.
Frederik W. de Klerk, ex-líder do Partido Nacional, fala do líder que confrontou em duras negociações e com quem partilhou o prémio Nobel da Paz 1993, numa entrevista a propósito do livro Conversations with Myself , também lançado em Portugal, em 2010, com o título Nelson Mandela – Arquivo Íntimo (Editora Objectiva) e que junta notas pessoais, cartas e diários de Mandela escritos antes e depois da saída da prisão: “Independentemente de qualquer crítica que possamos fazer, o homem que emerge de Conversations with Myself é uma eminente figura, não só na história da África do Sul mas na história do século XX. Ele foi Presidente para desempenhar um papel exemplar na unificação e reconciliação do povo profundamente dividido da África do Sul”, disse aquele que foi o último Presidente branco da África do Sul (1989-1994).
Muitas vezes, admite na autobiografia Um longo caminho para a liberdade, Mandela se questionou sobre o sofrimento que infligira à família durante a clandestinidade e nos anos na prisão de onde só saiu com 72 anos.
Já em liberdade, numa entrevista à revista norte-americana Time em Fevereiro de 1990, disse acreditar no valor da dedicação quase exclusiva à luta: “Sim, valeu a pena. Ser preso por causa das nossas convicções e estar preparado para sofrer por aquilo em que se acredita vale a pena. É uma conquista para um homem cumprir o seu dever na terra independentemente das consequências”, considerou.
O difícil equilíbrio, nunca alcançado, entre a dedicação à família, por um lado, e à causa política da libertação, por outro, acompanhou-o durante a vida e é algo presente nas suas memórias do Arquivo Íntimo. Porém aceitou-o da mesma forma que se aceitou defender o recurso às armas como imprescindível para o sucesso da luta.

Em defesa das armas
“Nunca irei lamentar a decisão que tomei em 1961, mas gostaria que um dia a minha consciência estivesse tranquila”, disse referindo-se à decisão tomada nesse ano de passar à clandestinidade e formar o MK (Umkhonto we Sizwe – A lança da nação) de que foi primeiro comandante-chefe e que se tornou a ala militar do ANC. Viria a ser condenado a prisão perpétua em 1964 por sabotagem e conspiração.
Passou 18 anos na prisão de alta segurança de Robben Island. Esteve depois na prisão de Pollsmoor, e já no final foi transferido para a cadeia de Victor Verster perto da Cidade do Cabo. 
Nos 23 anos que viveu depois de libertado, concluiu a missão, iniciada ainda na cadeia, de negociar o fim do apartheid com o Governo do Partido Nacionalista e foi eleito primeiro Presidente negro da África do Sul. Depois de terminado o mandato de cinco anos, retirou-se da política e passou a dedicar-se, através da Fundação com o seu nome, a uma nova causa – o combate e a prevenção da sida – à qual se sentia especialmente ligado.
Em 2005, a morte do filho Makgatho, vítima de sida, levou Mandela a uma rara intervenção pública desde que deixara a vida política em 1999. Lançou um apelo ao fim do tabu, para que se falasse desta como de qualquer outra doença, por considerar que só assim a sida deixaria de ser fatal. 
Já antes, quando estava preso, tinha perdido o filho mais velho Thembekile, num desastre de automóvel, em 1969, e uma filha pequena ainda bebé Makawize, ambos do primeiro casamento com Evelyn Mase, de quem se divorciou em 1957.
Um ano depois conheceu e casou-se com Winnie Mandela, de quem teve duas filhas. Quando a viu pela primeira vez, “soube que a ia amar”, escreve na autobiografia. Durante os anos em que esteve preso, é a sua confidente e, durante muito tempo, quem melhor o compreende. A política, os métodos utilizados ou o rumo defendido para a luta acabam por separá-los. Mandela opta pelo divórcio em 1996.
Dos seis filhos que teve, acompanharam-no até ao fim as três filhas: Zindzi, Zenani e Makawize. E Graça Machel, com quem casou dois anos depois do divórcio com Winnie, a 18 de Julho de 1998, no dia do 80º aniversário.
Quando Mandela esteve esta última vez no hospital, Graça Machel agradeceu emocionada as muitas mensagens a desejar as melhoras do ex-Presidente vindas da África do Sul, do continente e do resto do mundo. Nessa mensagem pública e universal, Graça Machel dizia estar reconhecida a todos os que tinham, com isso, “feito uma diferença, na recuperação” de Mandela numa alusão às palavras do próprio: “O que conta na vida não é o facto de termos vivido. É a diferença que fizemos para a vida dos outros”.

PÚBLICO (Lisboa) – 05.12.2013


28 novembro 2013


Poeta Armando Artur (actual Ministro da Cultura em Moçambique)

Ei-lo assim mesmo, Corrompido pelo tempo e domado, Pelo devir. - Armando Artur
AO lermos o mais recente livro do poeta Armando Artur, As falas do poeta, deparamo-nos com uma poesia plena de pequenos mundos por onde o poeta transita com uma espécie de reverência, à imagem de uma alma que, com um espanador de memórias, aviva tempos, espaços, gentes ou personagens, ideias e atitudes. Por isso, parece-nos, esta poesia, errática.
Errática no verbo, na palavra, na fala que é o próprio Ser da poesia, principio e fim em si mesma, quiçá contrária às vontades do poeta, mas que assim sendo, irremediavelmente, o define. Quem poderá orgulhar-se de escolher as suas memórias? Não serão, antes, elas que nos escolhem? Como diria Lévi-Strauss, não serão os objectos socioculturais a comunicar através dos poetas e não estes através daqueles?[1]
Podemos identificar, em As falas do poeta, pelo menos três pequenos mundos através dos quais se pode construir uma imagem errática do poeta, nomeadamente, i) o mundo do poeta e da poesia, ii) o mundo do poeta e dos homens, iii) o mundo do poeta e do seu homem.
DO POETA E DA POESIA
Este é o universo da evocação da própria poesia, uma evocação que vai da literatura à música, destacando-se neste exercício a alma poética de Sophia de Mello Breyner Andresen, um nome, uma alma que se materializa, efectivamente, num dos mundos de um eu lírico incapaz, por isso mesmo, de resistir às confidências que com o tempo se impõem:
Teu signo, Sophia
É uma luz no fundo do nada
Que leva à verdade infalível
Das laudas da poesia. (p.15)

Como uma luz no fundo do nada, assim se pode definir a poesia de Armando Artur, ou, pelo menos, um dos veios da sua poesia (veja-se um livro como No coração da noite). Uma poesia que parece obcecada numa espécie de caos que, pela voz (filosófica) da própria poesia, se faz metonímia de um lugar e das suas coisas:
Terá Franz liszt descoberto
Que numa elementar partitura,
Flutuando na dimensão
Do nada,
Reside a essencialidade
Do ser? (p.20)

Do poeta e dos homens
Aqui o compasso é outro, também é outra a fala, menos filosófica, mais utópica, mais engajada, mais programática, atenta aos debates e às urgências dos ‘dias em riste’ ou ‘dos estrangeiros de nós próprios’, como acontece num poema como “Quando a Pátria que é nossa”:
Quando a pátria que é nossa
Quer-se assim esgravatada e repilhada
Até aos limites do seu interior,

Quando a pátria que é nossa
Quer-se assim regateada e leiloada
À taxa diária do sangue, suor e lágrimas
De milhões de braços, e uma só força,

Quando a pátria que é nossa
Quer-se assim assaltada pelos flancos
Da sua beleza e contornos da sua geografia,

Quando a pátria que é nossa
Quer-se assim reassaltada por gente
De outrora e de paragens distantes,

Quando a pátria que é nossa
É assim cobiçada por mercadores
De insónias e arautos do caos
E da precariedade,

Todo silêncio e todo exílio serão
Sempre iguais à pátria que é nossa. (p.33)

Trata-se, como se pode depreender, de um mundo conturbado, um mudo do presente, actual, que, se não espaça à atenção do pacato cidadão, do homem mais comum, parece encontrar na alma do poeta a urgência de denunciar, quando muito não seja, pela razão desse presente trazer-nos à memória as lições do passado.
DO POETA E DO SEU HOMEM
Este é um universo de dor, de silêncio, de ausência; um mundo, enfim, elegíaco, repleto de vida e de morte. Um mundo que nos reenvia, necessariamente, à intersecção, ao liame entre o homem e o poeta desta obra (a julgar pela dedicatória que leva um poema como “Estes dias sem a Milena”) e a uma memória que parece ameaçar “anoitecer” a fala a ambos:
Sob a luz difusa
E dependurada
Na parede dos dias
Procuro nos contornos
Da tua ausência
O sentido de ser
E continuar aqui (p.51)

Estas são As falas do poeta, uma voz da própria poesia, voz da pátria, voz do homem; voz por essas dimensões errática, mas ancorada numa memória umas vezes saudosa, outras vezes de dor e pesadelo:
O novo xiconhoca
É um personagem nosso
Mas da era contemporânea.
Difere em grande do xiconhoca
Original, tanto é que de originalidade
É o que lhe falta em demasia (...)
Possui várias tonalidades de carácter
Ideológico, religioso e fetichista
Que exibe em função das fases da lua
Ou do fluxo e refluxo da preia-mar (...)

O novo xiconhoca é um fingido
De se lhe tirar o guarda-chuva.
Faz de conta que está na mesma trincheira
Com os outros, ou na mesma procissão
De combate à pobreza absoluta.
Descobriu que no meio da maioria é mais
Fácil driblar tanto por dentro como por fora,
Pois goza da aura sagrada de homens e mulheres
Arautos da liberdade colectiva.
É ardiloso na conceptualização do abstracto
E ignora que o problema maior de momento
Esta na ausência total ou presença excessiva
Do odor milenar à terra molhada,
Que convoca a saudade da lua cheia
Ou do verde esperançoso das espigas de milho (p.34-47).

Lucílio Manjate


[1]Em DURANTI, Alessandro, (1997), Linguistic Anthropology, New York: Cambridge University Press.



24 novembro 2013


O candidato do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) ao município de Maputo, Venâncio Mondlane, disse hoje não reconhecer os resultados eleitorais na capital moçambicana e apelou à recontagem dos votos.

Numa nota publicada na sua conta no Facebook, Mondlane cita vários casos que, na sua interpretação, resultaram "na inversão dos resultados a favor do candidato" David Simango, da Frelimo, partido no poder.
"Onde claramente o MDM teve duas vezes acima de média, dizem que os editais desapareceram", acusa o candidato, em nota emitida pelo seu gabinete.
LUSA - 23.11.2013

Veja o vídeo:
 https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=0JKysQTXW8c


Nota do blog: Na cidade de Maputo, o MDM fala de total de 70 delegados detidos no momento da contagem de votos no dia 20 de Novembro. Lutero Simango disse que o partido submeteu ontem a sua reclamação ao STAE da Cidade de Maputo aguardando que este órgão tome a decisão. Não quis revelar o total dos delegados detidos, alegando que “isto é matéria a ser apresentado na justiça”.
Alguns detidos só foram restituídos a liberdade a partir do dia 23 de Novembro. É de realçar que esta situação ocorreu um pouco por todo o país. Porquê a Polícia comporta-se desta maneira? E quem os responsabiliza?


18 novembro 2013

FIR ATACA OS SIMPATIZANTES DO MDM NO COMÍCIO DE ENCERRAMENTO DA CAMPANHA DO MDM NO BAIRRO DA MUNHAVA (O MAIS POPULOSO DA CIDADE DA BEIRA)


VEJA ALGUMAS FOTOS DO DIA 16 DE NOVEMBRO DE 2013











VALENTINA GUEBUZA “INAUGUROU” JACTO DE LUXO

De Maputo a Joanesburgo para assistir a um desfile de moda. O jacto executivo L 39 recentemente adquirido pelo Governo de Moçambique para emprego em viagens de altas entidades, foi usado no anterior fim-de-semana para levar Valentina Guebuza a Joanesburgo. O motivo da viagem foi assistir a um desfile de moda, no qual participou o estilista moçambicano, Taibo Ismael, segundo escreve, na sua edição 797, o África Monitor Intelligence.



Media fax– 18.11.2013
  

14 novembro 2013

EM BUSCA DA NOSSA IDENTIDADE! AFINAL QUEM SOMOS NÓS?
A NECESSIDADE DE RESGATAR OS NOSSOS VALORES ÉTNICO-CULTURAIS PERDIDOS A MERCÊ DO COLONIALISMO, E HOJE, DA MODERNIDADE E DA GLOBALIZAÇÃO

Ivan Mausse[1]

Moçambique é um país politicamente” independente (ex-colónia portuguesa) desde o ano de 1975. Antes de sua independência todos os conteúdos no que concerne ao tipo ou modelo de educação eram absolutamente a moda portuguesa, o incrível de tudo é que mesmo encontrando-se em solos africanos, e neste caso concreto, em solos moçambicanos, a Geografia que se estudava não era moçambicana (não era de Moçambique), isto é, moçambicanos e filhos de colonialistas portugueses, todos eles eram obrigados a estudar a geografia portuguesa, enquanto isso a moçambicana constituía uma excepção naquilo que constituía o programa curricular colonial português.
Além disso, o povo moçambicano oprimido pelo regime colonial português era obrigado a “civilizar-se”, isto é, tinha que deixar de ser um homem “selvagem” e passar a comportar-se como um bom português. Para tal efeito, o moçambicano tinha que se tornar homem em primeira instância, e o meio para que este conseguisse se tornar homem passava necessariamente em ser submetido a escravatura, ao trabalho forçado, a humilhação, e não só. Assim, o moçambicano era obrigatoriamente envergado de cultura, valores, língua e das conquistas feitas pela “heroicidade” portuguesa.
Sendo Moçambique uma colónia cuja era directamente administrada pela sua metrópole, todos os seus filhos-habitantes eram ensinados a se envergonharem da sua cultura, das suas origem (etnias), da sua identidade, do seu passado (da sua história), da sua cor, da sua diversidade linguística, dos seus usos e costumes, da sua tradição, em geral de serem aquilo que eram, de serem africanos e moçambicanos, de serem filhos de antepassados que cujos na óptica do colonizador eram selvagens. Portanto ao moçambicano era ensinado a deixar de considerar como válidos todos os seus valores étnico-culturais passando assim a considerar como válidos os valores, princípios e regras de convivência autenticamente portuguesas: é daqui onde surgem os [2]pele negra, máscara branca” os assimilados e, os não-assimilados. Os não-assimilados eram também chamados indígenas. Portanto, no tempo colonial, havia uma espécie de dois tipos de moçambicanos, por um lado havia os assimilados cujos comportavam-se como portugueses, a esses era atribuído o direito de poder circular na cidade, de frequentar jardins, teatros, hospitais, escolas, praças e outros serviços públicos que o homem branco também frequentava.
Por outro, existiam os não-assimilados ou simplesmente indígenas que praticamente constituíam o inverso dos assimilados, isto é, esta classe de moçambicanos não tinha àqueles direitos que os assimilados e colonialistas dispunham, ou seja, aos indígenas era reservado nada, ou por outras palavras, não lhes era reservado algum direito humano senão a vida isolada e sofrida.
No sistema de ensino colonial português introduziu-se o ensino rudimentar que tinha como objectivo principal tirar “o moçambicano de uma vida de selvajaria para uma vida civilizada” isso passava primeiro em despersonalizar o moçambicano, desligando-o do seu país e da sua origem, levando-o assim a negar, desprezar, a envergonhar-se do seu povo e da sua classe, a perder a iniciativa criadora (não mobilizar resistência contra a exploração colonial) e reconhecer como válidos os valores do colonizador (cf. Cossa & Mataruca sa:152).
O colonialismo pretendia com isso separar alguns africanos dos seus povos e incutir os valores e mentalidade ocidentais através da política dos assimilados. Isso fez com que a partir de 1930, o governo colonial português procedesse à modificação do sistema educacional, assim passou a controlar directamente o ensino destinado à população negra, com o objectivo de habilitar o indígena para trabalhar na economia colonial.
Severino Ngoenha e José Castiano em sua obra “A Longa Marcha duma «Educação para Todos» em Moçambique” apontam que os africanos eram formados naquelas profissões que seriam úteis aos brancos e missionários no cultivo de terras e nas obras de construção. Pois, uma vez nas escolas, estas pessoas podiam se revoltar contra o sistema. A educação podia aumentar as expectativas de promoção social dos negros, que podiam resultar em atitudes críticas contra as próprias instituições coloniais. Assim,
“A escola devia, noutras palavras, ser uma instância de administração e política colonial. (…) As crianças e as elites escolarizadas eram endoutrinadas no sentido de reconhecerem a superioridade do branco, de, ao mesmo tempo, implicitamente, desprezarem a sua cultura, ou no mínimo, de reduzirem as suas culturas locais de origem a uma esfera privada, fora da vida pública” (NGOENHA & CASTIANO, 2013:210).
Tal como sublinhei no primeiro parágrafo deste artigo, em 1975 Moçambique alcança a sua vitoriosa independência, fruto de um combate que durou cerca de 6 (seis) séculos ou então cerca de 500 anos de colonização. Durante esses cerca de seis séculos ou 500 anos houve uma co-existência da colonização e resistência contra a mesma, ou seja, desde sempre os moçambicanos resistiram a opressão colonial.
Mas o porquê do colonialismo? Da escravatura e exploração humanas? Será uma punição pelo facto de ser negro? (preto tal como era chamado o negro pelo colonialismo português), de pertencer a um continente descoberto por eles enquanto faziam as suas navegações marítimas? (época dos descobrimentos). Porém, quanto à mim, não se trata necessariamente de uma descoberta, pois nenhum africano se encontrava coberto ou tampado por alguma coisa. Portanto, o melhor termo não é dizer o povo ocidental descobriu o continente africano e nem os africanos, mas sim «encobriu-os», ou seja, não se trata de uma descoberta, mas de um encobrimento: encobriram a escravatura, a exploração, a humilhação e privação dos direitos humanos dos africanos. De lembrar que a aquando da sua chegada a África, os europeus diziam que encontravam-se em solos extra-europeus: eles ainda consideravam que, enquanto na Europa há leis, em África há caos; enquanto a sociedade europeia tem história, a africana é a-histórica (pré-histórica); enquanto na Europa há Estado, em África existem chefaturas; enquanto na Europa há religião, em África há práticas mágico-religiosas; enquanto na Europa há médico, em África há curandeiro; enquanto na Europa a sociedade é civilizada, em África estamos perante uma sociedade selvagem e primitiva – assim considerava ocidente.
O povo moçambicano de antes da independência, ou simplesmente, o povo moçambicano colonizado tinha de se identificar e se inspirar nos ideais portugueses. Em certos estabelecimentos ou instituições tais como hospitais, mercados municipais, restaurantes e entre outros, era interdita a circulação de moçambicanos que na altura eram chamados por pretos tal como dizia Francisco Langa o mais conhecido por Chico-Nhoca, personagem real da obra literária do ilustre escritor moçambicano Albino Magaia intitulada “Yô Mabalane” de 1983. Como se o preto da pele fosse a essência e ao mesmo tempo nome de cada homem moçambicano.
As palavras, branco, asiático, goês - caneco, paquistanês, indiano - monhé, mestiço – mulato e indígena são termos que não exprimiam unicamente o grupo racial a que pertenciam, mas também o seu lugar na escala colonial social portuguesa.
A condição para frequentar as praças e serviços públicos, tal como disse, passava em ter um registo português ou então tornar-se num “pele negra, máscara branca”, num assimilado: homem de raça branca, mas num mero faz de contas pois apesar de ter registo português e fazer de contas que era um homem branco e por isso compartilhava quase que os mesmos direitos com o colonizador, no fundo continuava negro, africano e moçambicano, quer dizer, continuava 100% moçambicano como eu.
Conquistada a independência nacional e total a 25 de Junho de 1975, segundo alguns documentos oficiais, graças a homens tais como Samora Machel, Eduardo Mondlane, Felipe Samuel Magaia, nasceu a esperança de um futuro promissor principalmente à juventude daquela época. Todo moçambicano estava engajado de uma liberdade de sonhar, de sorrir e de poder portar-se de acordo com os valores da nossa moçambicanidade que já estavam enraizados nas veias do próprio passado moçambicano. Assim, cabia aos moçambicanos resgatar tais valores em prol da reconstrução da moçambicanidade que esteve em detrimento e submissa durante o período do regime colonial português.
É de recordar que, o homem negro moçambicano tinha que, sobretudo, respeitar o homem branco. Era também obrigado a se sentir racionalmente inferior ao branco, isto para dizer que o homem negro se sentia e/ou era um instrumento nas mãos dos homens brancos. Portanto, já deu para notar que o povo moçambicano não só é heróico pelo facto de ter conquistado a sua liberdade e independência, mas também pelo facto de ter resistido desde o início da escravatura e por ser dono de uma rica e emocionante história, quer de resistência, como de libertação, desde os impérios até a formação de movimentos independencialistas.
Hoje em dia ainda, assistimos cenas idênticas, ou melhor, semelhantes àquelas que outrora sucederam. Há casos de moçambicanos que até hoje e, mesmo depois dos seus antepassados terem morrido com o fim último de garantir uma vida melhorada às gerações que os procederia, neste caso concreto nós. Nos dias actuais, há pessoas que se envergonham de ter os pais que têm, de falar a língua que os pertencem, de vestir aquilo que lhes é digno, de comer aquilo comem (gastronomia), de seguirem as suas tradições, de viverem onde vivem, de assumir a sua identidade, de frequentar a religião que frequentam, de possuir a cor que possuem, de pertencer a etnia que pertencem, em geral de serem o que são.
Tais pessoas além de negar a sua identidade, ainda nutrem os ideais do colonizador, dizendo: o homem negro não vale nada, como se o homem branco valesse mais em relação ao primeiro, pois, ultimamente os homens de cor negra têm-se estigmatizado entre si mesmos, dizendo-se que ambos não prestam, isto é, que o homem negro não presta. Mas daí emerge uma pergunta muito interessante, quem colonizou, oprimiu e pôs a sofrer o outro? Será justo o próprio negro dizer ao outro igual a si que não presta? E ao dizer que o outro não presta não estaria a valorar o colonialismo? Não estaria a desvalorizar os nomes e a honra daqueles que tanto lutaram para libertar esta pátria que, por sua vez, eram igualmente negros? Portanto todos àqueles que incansavelmente lutam em dizer que o homem negro não presta ou então não vale nada, não estarão infectados pela doença da colonização mental Salazariana?
Em certos restaurantes em que está lá a trabalhar um grupo de serventes negros, quando chega um cliente que por sinal é negro, é mal atendido, mas quando lá chega o branco é atendido com simpatia e hospitalidade. E, há vezes em que quando chega o negro em primeiro e o branco em segundo, o último é o primeiro a ser atendido, funciona assim o provérbio “os últimos serão os primeiros”. Assim, um servente negro é hospitaleiro em relação ao branco e tolerante em relação ao negro.
Na nossa sociedade quem não sabe falar a língua de Camões, isto é, a língua portuguesa, é colocado à parte, ou seja, quem não tem noções da língua portuguesa é tratado de forma discriminatória, porque no lugar deste falar português, fala changana, chope, macua, ndau, sena etc., como se estas línguas não fossem válidas, e válida apenas a língua portuguesa, que por sinal herdámos do colonizador, Portugal.
Tal aconteceu uma vez quando estava no interior duma das bibliotecas existentes na capital Moçambicana (Maputo), na companhia de um colega, quando resolvemos em nos comunicar em nossa língua materna, mas foi-nos proibido de continuar a usá-la, isto é, foi-nos pedido, ou melhor foi-nos obrigado a ter que nos comunicar em português pelos funcionários daquela estância bibliotecária. E assim o cumprimos. Mas, pouco tempo depois, resolvemos em nos comunicar em inglês, e para a nossa surpresa, não disseram-nos nada. E daquele modo descobrimos que naquele lugar e noutras instituições do país é proibido usarmos as nossas línguas locais, mas as internacionais não. Tal acontecia ou talvez ainda acontece nas escolas, lembro-me que, quando estava no ensino primário nos anos 1999-2005 sempre que o professor nos ouvisse a falar a minha língua materna, o changana, submetia-nos a um castigo.
Actualmente, nas escolas moçambicanas estuda-se mais a história dos povos ocidentais do que a história dos povos africanos, razão pela qual muitos jovens desconhecem o passado histórico de África, e particularmente de Moçambique. Não sabem dizer com precisão quem era Eduardo Mondlane, Samora Machel, Felipe Samuel Magaia, qual a data: do início da luta de libertação nacional; da proclamação da independência nacional; da assinatura do acordo geral de paz, datas que deviam ser conhecidas por todos moçambicanos pertencentes à esta pátria amada. Assim, no lugar dos jovens estudarem conteúdos nacionais, estudam conteúdos ultra-nacionais.
Todos os dias canta-se o desejo de construir a identidade e orgulho moçambicanos: a moçambicanidade. Mas, como será possível construir a tão desejada moçambicanidade, se as gerações presentes desconhecem da heroicidade deste povo? Como poderão estes ter orgulho de serem moçambicanos, de serem filhos de antepassados moçambicanos, se nem sequer conhecem a história do seu povo, da sua tribo ou então da sua etnia? Portanto, quanto à mim, os jovens só terão orgulho de serem cem por cento moçambicanos quando envergados da heróica história do passado moçambicano e das resistências levadas a cabo pelas suas tribos no passado longínquo, médio e recente.
Qual é o jovem que não pode gostar de saber que há muito tempo, um jovem moçambicano de nome Eduardo Chivambo Mondlane, nascido na aldeia de Nwadjahane, distrito de Manjacaze, província de Gaza, por sinal numa zona totalmente rural, pastor de gado como qualquer outra criança daquela época, numa altura em que era difícil uma criança africana frequentar e concluir o ensino rudimentar. Apesar da constante perseguição da PIDE, este jovem fez de tudo e conseguiu estudar mesmo sendo órfão de pai e mãe, o pai e a mãe morreram quando este tinha dois e treze anos respectivamente. Das várias bolsas de estudo que este jovem conseguiu ganhar, destaca-se aquela que o possibilitou de ir aos Estados Unidos, onde, de 1951 a 1956, frequentou o Oberlin College e a Northwestern University, nessas escolas superiores obteve sucessivamente os graus de Bacharel, Licenciado e Doutor em Sociologia e Antropologia. Este jovem foi convidado para trabalhar na secretaria das Nações Unidas. Diga-se de passagem que, Eduardo Mondlane já tinha a sua vida feita, mas sentiu a necessidade de compartilhar aquele ambiente de paz e liberdade aos seus irmãos-compatriotas que estavam em Moçambique, que por sinal, viviam abalados pelo regime colonial português. Este jovem chamado Eduardo Mondlane, preferiu deixar os Estados Unidos, a secretaria das Nações Unidas, em fim, a vida boa que ele tinha, e, voltou a África, voltou a Moçambique para pegar em armas e lutar para que os seus irmãos pudessem um dia sentir o cheiro e o conforto de viver em paz, em liberdade, em independência. Um jovem que sabia do perigo que corria quando saiu dos EUA, ou seja, Mondlane sabia que podia morrer, pois onde há conflito ou guerra infere-se danos humanos, infere-se a morte. Portanto, digam-me vocês, qual é o jovem que não sentiria orgulho de fazer parte de uma pátria de um homem como este, de um homem como Eduardo Chivambo Mondlane?
Para podermos construir a tão desejada moçambicanidade, passa necessariamente em conhecermos o nosso próprio passado histórico, não essencialmente em conhecer o passado histórico alheio: àquele que não nos pertence; assim o passado histórico alheio tem de ser usado não como objecto de estudo do povo moçambicano, mas sim como objecto de referência na compreensão da nossa história, da nossa história entanto que povo moçambicano, entanto que entidades pertencentes a esta nossa gloriosa pátria amada, Moçambique.
Passados tantos anos de independência e liberdade, ou melhor, passados tantos anos de independência político-administrativa (o que também nem chega a ser), pois, quanto à mim, a independência que conquistámos em 1975 trata-se de uma independência política e administrativa que possibilita os moçambicanos a governarem o seu próprio país criando leis que facultem a paz, a liberdade, a solidariedade, ordem e segurança num Estado de direito que somos. Assim, trata-se de uma independência político-administrativa porque até nos dias actuais, vivemos economicamente dependentes do ocidente, vivemos pedindo “esmola” a Europa. Portanto, vivemos dando sentido e vida àquela expressão medieval segundo a qual: “o ser humano é independente se for dependente”.
Bem, talvez seja o preço que o ocidente deva pagar por tantos anos de exploração dos recursos africanos e do próprio Homem africano que outrora foi usado como um instrumento para a obtenção de capitais. Esse mesmo Homem africano teve de participar duma guerra que não lhe dizia respeito (II Guerra Mundial) só, e, exclusivamente, para defender os interesses do opressor. Além disso, grande parte da grandeza da Europa e da América derivam da exploração da raça negra. Portanto, o financiamento europeu para os povos ou países africanos de hoje, trata-se na minha opinião de uma restituição do que é devido, logo é algo justo, pois para Polemarco discípulo de Sócrates “...a justiça consiste em restituir a cada um o que lhe convém...” (cf. A República - no livro I nas páginas 10 e 11).
Todavia, o que dizer da forte influência que os líderes africanos recebem do ocidente? Parece que os líderes africanos não são cem por cento autónomos nas suas decisões. Se nos consideramos livres e independentes, então porquê até hoje somos coagidos por forças externas nas nossas decisões internas, como país, como nação, como povo e como continente?
Passados tantos anos de independência, tal como já referenciei, muitos africanos ainda se sentem inferiores em relação ao povo ocidental em quase tudo. Vivem ainda oprimidos. Quando se fala de desenvolvimento, refere-se aquilo que acontece no mundo ocidental, e, nós africanos temos que imitar aquele referido desenvolvimento, temos que «nos modernizar». E modernizar-se refere-se construir edifícios como aqueles que se constroem no ocidente, vestir-nos como vestem no ocidente, mobilar as nossas casas a moda estrangeira e com objectos luxuosos. Já agora, somos obrigados a ter que ratificar do novo acordo ortográfico para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Será que até quando teremos de viver colonizados, escravizados e globalizados não de maneira directa ou notória, mas de forma indirecta, ou se quisermos ainda, de forma moderna? Seremos nós “os condenados da terra”?
Não obstante, devido a esta intermitente tendência de plagiarmos de tudo e um pouco que vem do ocidente, como por exemplo os modelos de administração, de governação e de desenvolvimento ocidentais, maior parte dos nossos planos de desenvolvimento tem resultado em fracassos e insucessos. Neste sentido, enquanto os nossos governantes africanos não enveredarem segundo as realidades dos seus povos, é verdade que os fracassos jamais cessarão. Além do mais, é de competência que os governos africanos através dos seus tutelares da pasta da cultura (Ministério da Cultura) motivem a auto-estima dos seus povos e a sua auto-afirmação como negros e como pessoas.
É necessário que cada moçambicano, cada negro e cada africano tenha orgulho daquilo que é, tal como sustenta o filósofo Edward Blyden citado por Severino Ngoenha[3] na sua “Das Independências às Liberdades [4] (1993). Para Blyden,
«A nossa personalidade e a nossa raça pressupõem a existência de uma responsabilidade. O dever de cada um, e de cada raça é lutar pela própria individualidade, para mantê-la e desenvolvê-la. Portanto orai e amai a vossa raça. Se não fordes vós mesmos, se abdicares da vossa personalidade, não havereis deixado nada ao mundo. Não tereis satisfação, utilidade, nada que fascine os homens, porque com a supresão da vossa individualidade havereis perdido o vosso carácter distintivo. Vereis, então que ter abdicado da vossa personalidade, significará ter abdicado da missão e da glória particular a qual sois chamados. Seria de facto renunciar à nossa divina individualidade, o que seria o pior dos suicídios» (Blyden  apud Ngoenha, 1993:68).
Na verdade, não era àquele primeiro o meu propósito principal neste presente artigo, isto é, o meu objectivo não era contar-vos da história da colonização em Moçambique. Mas, resolvi descrevê-la de forma sucinta, uma vez que, o assunto que queria aqui abordar conjectura-se com a colonização sofrida pelos moçambicanos, ou seja, o actual quotidiano dos moçambicanos possui sintomas da colonização mental “Salazariana”. Portanto, trata-se fundamentalmente não de uma discrição da história da colonização em Moçambique, mas dos efeitos que a colonização mental trouxe e traz até agora às actuais gerações moçambicanas, que por sua vez, cria barreiras na construção da moçambicanidade e/ou seja, da identidade moçambicana que tanto a almejamos.
Nota do autor:
O que fiz no presente artigo não se trata de uma narração da história de Moçambique. Apenas usei da história do nosso passado como referência para melhor fazer compreender aos ilustres leitores o pulsar do meu cogitar. O que fiz devia-se fazer, outrossim, com a história ocidental para os moçambicanos, quer dizer, temos que usar da história ocidental como uma citação ou referência quando estivermos a estudar ou abordar a história de Moçambique. Portanto, se quisermos que as gerações vindouras possam ter orgulho deste belo Moçambique, o nosso objecto de estudo tem de ser em primeira instância, a heroicidade do povo moçambicano. Um outro aspecto não menos importante, seria incutir a história de Moçambique em todos sistemas de ensino nacional, ou seja, proponho que se institua o ensino de história de Moçambique nos ensinos primário, secundário e não só, mas também no ensino superior e independentemente do curso ou da faculdade que esteja-se a fazer, quero com isso dizer, tínhamos que ter no nosso currículo nacional de ensino uma disciplina que se ocupasse só e exclusivamente da história de Moçambique vigente em todas as classes, mesmo para àqueles estudantes que estejam a fazer a secção de ciências do ensino secundário médio (11ª e 12ª classes), bem como aos estudantes das faculdades de ciências naturais e matemática, pois, é fundamental que todos nós conheçamos o nosso passado histórico independentemente da classe ou da especificidade que estejamos a cursar no ensino superior. O melhor homem é aquele que conhece o seu passado, portanto, a sua história. É urgente dar a conhecer aos jovens a história do povo unido do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Índico cujo colhia e colhe os frutos do combate pela paz, diante do qual, cresce o sonho ondulando na bandeira, que vai lavrando na certeza do amanhã, tal como se diz na terceira estrofe do nosso hino nacional, «Pátria amada».

Bibliografia

CARRILHO, Maria, MONDLANE, Samuel. Português- 8ª Classe. 2ª edição. Maputo: Diname, 1990
NGOENHA, Severino. Das Independências às Liberdades. Maputo: Edições Paulistas – África, 1993.
HOFISSO, Narciso, Sitói, Lucas. A história da minha pátria, 5ª Classe (antigo currículo). Maputo: Diname, 1986
Cossa, Hortência Mataruca, Simião. Moçambique e sua história- 12ª Classe. Maputo: Diname
Ivan Dário Maússe
Estudante de Filosofia
E-mail: ivanmausse@gmail.com
facebook: ivan.mausse@1facebook.com




[1] Estudante de Filosofia na Universidade Pedagógica
[2] Título do livro de Frantz Fanon publicado em 1952. Este livro foi escrito para mostrar a interpretação psicanálitica do problema do negro (ontologia da raça). O ser do negro era avaliado em meras questões da cor da pele, assim quanto mais clara fosse a cor da pele signficava que o conteúdo desse mesmo homem era bom, todavia se a cor da pele fosse escura era sinal de que o conteúdo de tal homem é sujo. Neste sentido, o negro teve de negar da sua cultura e cor para adoptar a cultura e a cor do branco através da política de assimilados. Assim, o negro tornava-se num pele negra e máscara branca porque praticava o imitismo civil, preocupava-se em se comportar como um branco e como um burguês, renegando-se a si mesmo.
[3] Bacharel em teologia e Doutor em Filosofia pelas Universidades Urbaniana e Gregoriana de Roma respectivamente, nasceu em Maputo no ano de 1962, é autor de várias obras tais como: Pensamento engajado, Por uma dimensão Moçambicana da consciência Histórica, Duas interpretações  Filosóficas da História do Século XVII. É docente na Universidade Pedagógica lugar onde lecciona as disciplinas tais Filosofia Africana, Filosofia pós-modernidade. É também docente em outras Universidades nacionais e internacionais lugares onde lecciona diferentes disciplinas.
[4] Nesta obra, Severino Ngoenha discute muito a questão da liberdade e auto-determinação dos povos africanos. Depois de conquistadas as independências dos países africanos a partir da década sessenta, prevalece o problema de falta de auto-determinação, ou seja, os líderes africanos não chegam a ser livres nas suas decisões internas tal como deviam. Até hoje ainda recebem influência da Europa e do Ocidente quando desenham suas políticas. Isso reflecte-se nos modelos de governação, razão pela qual há insucessos e fracassos. Ele próprio diz: “deve-se conceber um modelo de desenvolvimento endógeno; isto é, deve haver uma interiorização de modelos técnicos pelas massas e a tomada de iniciativa no âmbito de grupos comunitários como os distritos” (cf. 171).