Escritora brasileira Madú Costa |
A escritora
afro-brasileira Madú Costa, que durante duas semanas esteve em Maputo a trocar
experiencias com artistas nacionais, especialmente escritores jovens
moçambicanos, traçou um balanço positivo da sua primeira viagem à África,
afirmando que concretizou em quase 100 por cento com aquilo que tinha
preconizado nessa deslocação a Moçambique.
Para esta escritora que
também é cantora e contadora de histórias, o ponto mais alto foi a sua
participação no Festival Nacional da Cultura que decorreu de 14-19 do corrente
na cidade de Inhambane, evento que celebrou a nossa moçambicanidade, Madú Costa
diz que saiu deste evento enriquecida pela enorme diversidade cultural do país.
No festival, foi palestrante de um tema sobre a “Democracia racial no Brasil” e
a questão da afirmação do negro.
Nesta festa da cultura,
a escritora aponta que, “fui recebida com muito amor, carinho, respeito e
admiração pelos moçambicanos. Ali deu para eu entender melhor a questão da
preservação e valorização das nossas raízes, daqui de África”.
A cantora destacou ainda
a importância do Festival Nacional da Cultura como um porto que no futuro
poderia aportar mais artistas do seu país, para que muitos tenham um maior
conhecimento sobre as suas origens. “Eu logo que pisei o solo moçambicano
tornei-me moçambicana. Agora sou moçambicana! Eu me moçambicanizei. No
aeroporto, fui recebido por amigos que me amarraram a capulana, um dos maiores
símbolos do país e ainda ganhei um ramo de flores. Foi tudo muito emocionante,
destaque para a escritora Fátima Langa, o Alex Dau e os jovens escritores do
Khuphaluxa”.
A passagem de Madú Costa
por Maputo, não passou despercebida. Ela deixou um pouco do seu perfume e marca
pessoal por onde passou. Isso aconteceu na Casa-Museu José Craveirinha na
Mafalala, onde foi recebida pelo filho do poeta, Zeca Craveirinha que descreveu
a trajectória de luta de José Craveirinha. A brasileira deixou-se encantar e
emocionou-se com quantidade de acervo decorativo na casa do poeta-mor. Madú
Costa, antes de deixar aquela casa, teve tempo de ler alguns versos da vasta
obra de Craveirinha.
Outro evento que superou
todas as suas expectativas foi o encontro com os jovens do movimento literário
Khuphaluxa que juntamente com o Centro Cultural Brasil e Moçambique dedicaram a
escritora um sarau cultural que comportou teatro, poesia, música e dança. Foi
uma festa animada em que, mais uma vez, afinada a brasileira, não deixou os
seus créditos em mãos alheias…cantou, dançou e declamou e foi ovacionada. Os
jovens fizeram uma homenagem merecida e ao nível de uma grande personalidade.
O mesmo aconteceu na
Noite de Poesia, organizado pelo Movimento Poetas D`alma, dinamizado por
Felling Capela, nosso colega de imagem. “Eu fiquei encantada com a pujança e
tanta energia dos jovens poetas! Aquilo sim, é um espaço de literatura de
intervenção, porque o poeta é um ser que se indigna e questiona as coisas do
seu tempo. Foi interessante ouvir eles declamarem combinando com a música. A
Shoodi que actuou lá naquele dia, foi fantástica. Quero um dia, se Deus quiser,
voltar àquele centro cultural. Amei o ambiente de casa cheia”.
Não foi só da palavra
que Madú Costa viveu em Maputo. As artes cénicas, nomeadamente o teatro,
fizeram parte do brinde desta artista. Com efeito, no Teatro Avenida, viu a
peça “Chapa100-My Love” e teve a oportunidade de privar com a decana Manuela
Soeiro, Directora Geral da Companhia Mutumbela Gogo. “È uma obra de intervenção
social, que cobra as autoridades governamentais para ter em conta esta questão
do transporte na cidade. Procura também humanizar o cobrador e o chapeiro que
são sempre vistos como profissionais de categoria subalterna. E o final da
obra, é interessante ver, a participação do público infantil a subir o
“chapa”…como forma de mostrar a dura realidade que a sociedade vive”.
Foi ainda ver a obra
“Niketche”, uma obra encenada por Alex Elliot a partir da obra da Paulina
Chiziane, com o mesmo nome. “Olha, na minha terra a poligamia é um fenómeno
raro, diferentemente da realidade moçambicana: homem casado com cinco mulheres!
Oba! Foi uma peça que para os estrangeiros e nacionais fazerem reflexão sobre o
papel da mulher na sociedade”. A peça passou no Centro Cultural
Franco-Moçambicano.
A Escritora apresentou
ainda uma palestra na Escola de Jornalismo, na Universidade Eduardo Mondlane e
na sede da Associação de Amizade e Solidariedade com os Povos (AMASP). E ainda
houve tempo para se despedir do seu amigos no espaço cultural “Clube 21” na
Feira Popular do músico Ildo Ferreira onde não faltou comida típica
moçambicana, música e boa conversa animada.
A cantora que regressou
a sua cidade ontem, já agendou nova visita a Moçambique para breve, desta vez,
segundo conta, “gostaria de sair para as zonas rurais, conhecer as crianças
moçambicanas e quiçá, montar um projecto educacional com criança.
FOTOS: ALBINO MOISÉS
In: Notícias, Quarta, 27 Agosto 2014
Havia dúvidas sobre se o M’saho iria acontecer, depois de Inhambane ter
sido palco do Festival Nacional de Cultura. Mas, imediatamente, a organização
do evento tratou de dissipar dúvidas e comunicou que, de facto, aquele festival
de timbila teria lugar no último final-de-semana do mês de Agosto, como
religiosamente acontece.
“Mas será que este evento teria o sucesso desejado?”, cogitavam muitos.
Porém, estas dúvidas foram se dissipando logo no início dos preparativos do
evento, na medida em que Zavala, particularmente Quissico, começou a “vestir-se
a rigor” para o M’saho.
Nem o mau tempo, que ameaçou descarregar violentas bátegas de chuva durante
o fim-de-semana, muito menos os fortes ventos, que espalhavam nuvens de poeira,
fizeram as pessoas desistirem de estar presentes no Miradouro de Quissico. O
palco do festival de timbila.
Mas o M’saho é M’saho. E não há nada, nem festival algum que vai impedir
que ele se realize. É assim como pensam os organizadores desta festa e é assim
como procederam. Vários grupos fizeram-se ao palco do Miradouro, ponto a partir
do qual é também possível observar um outro espectáculo criado pela natureza: o
longo lençol verde formado, na sua maioria, por palmeiras e que é
atravessado pelas límpidas e cristalinas águas das oito lagoas de Quissico que
se comunicam com o Oceano Índico. Beleza paradisíaca.
O Miradouro esteve cheio. Gente vinda de diversos pontos do país, mas
também de outras paragens do mundo. Ficaram
lá para ver a festa da timbila começar. E iniciou com o mkwaio, que é a
selecção dos melhores marimbeiros existentes em todo o distrito de Zavala,
convidado para cantar o Hino Nacional com recurso a timbilas. Depois se seguirá
a exibição dos ritmos e dos cânticos. Fortes Fortes. Onde os bailarinos exibem
coreografias estonteantes, e executam simulações guerreiras, com escudos,
flechas e cajados, que nos vão fazer viajar pelos tempos de Ngungunhane e
outros heróis, reis e imperadores.
Um espectáculo de encher os olhos. Depois foi o desfile dos grupos, sendo
que a surpresa para nós foi a entrada de Timbila ta Guilundo, do mestre
Venâncio Mbande. É que, quando anunciaram a subida desta orquestra, Venâncio
Mbande retirou-se do palco, como que a querer dizer: “Agora é a vez dos meus
filhos. Dos meus descendentes. Eu já fiz a minha parte. Por isso quero deixar
os meus meninos fazerem o que sabem fazer. Mostrar o que eu ensinei”. E
Venâncio Mbande saiu e foi sentar numa cadeira a ver os filhos tocarem e
dançarem loucamente. E aqui são os filhos, netos e demais familiares de
Venâncio Mbande quecompõem este agrupamento, que na linha do seu fundador,
continua a desfilar qualidade.
Foram subindo vários outros grupos, mas a orquestra Timbila de Chizoho,
criado pelo Professor Cremildo Pedro Nhantole, é um dos melhores da
actualidade. E eles conseguiram se impor. Fazem furor quando sobem ao palco.
Uma das coisas que impressiona é o facto de esta orquestra ser composta por
crianças. Na sua maioria meninas. E aqui queremos recordar que, no ano passado,
foi escolhido para representar Moçambique num festival internacional de
cultura, que decorreu na França. Este grupo infanto-juvenil tem uma alta
capacidade de criatividade e coreografias giras.
Vendo este agrupamento, fica claro que está em curso o processo de passagem
de testemunho dos mais velhos para os petizes, sobre os valores desta expressão
cultural. Mas também temos a Timbila de Muane, que é um grupo extremamente
forte e versátil.
FRANCISCO MANJATE, In:
Notícias, Quarta, 03 Setembro 2014
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