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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

28 agosto 2012

HISTÓRIA ORAL: OS RISCOS CONSCIENTES - OU VALE A PENA ARRISCAR

HISTÓRIA ORAL: OS RISCOS CONSCIENTES - OU VALE A PENA ARRISCAR

Maria Manuel Cruzeiro

Toute l´histoire du monde ne me paraît souvent rien d´autre qu´um livre d´images reflétant le plus violent et le plus aveugle des hommes: le désir d´oublier - Herman Hesse Le voyage en Orient

Nada é verdade fora do tempo - Eduardo Lourenço
Se fosse objecto era objectivo. Como sou sujeito, sou subjectivo - Alçada Baptista

1. A História é feita por homens.Do lado de quem a faz e de quem a estuda, estão homens e mulheres com sentimentos, emoções, vivências. E o maior fascínio da História (que a torna única) é que o seu objectivo é a própria vida total do homem.
O outro é que ela é tão complexa e rica que são imensas as estratégias e os caminhos para a revelar ou esconder.
Entre eles está a HISTORIA ORAL. Crescentemente utilizada na história contemporânea, pode apresentar dificuldades: elevado grau de subjectividade do testemunho na primeira pessoa, confronto permanente do investigador com a dificuldade em discernir o verdadeiro do falso, o essencial do acessório.
Na maior parte dos casos, esta dificuldade leva à relativização dos materiais, obrigando à confrontação com outros.
Mas há um outro aspecto que lhe pode ampliar o valor: a lembrança do pormenor, a impressão subjectiva como dados caracteristicamente humanos, encontram‑se aqui em doses muito maiores, do que em qualquer outra fonte, suscitando uma impressão de vida e de totalidade que é muito sedutora e útil.


Alguns exemplos da importância da História Oral
1. Uns mais leves que outros, os cravos de Abril - a importância do testemunho de Celeste.
2. Outro mais cómico: o da forma como Salgueiro Maia levanta os homens para a saída: Há várias formas de o estado se organizar: Estado fascista, estado liberal, estado socialista... e o estado a que tudo isto chegou...
3. Finalmente uma outra mais dramática: A história da repressão e da PIDE: O exemplo da Exposição da Torre do Tombo: feita apenas com base em documentos escritos.
4. Organigrama da organização: Director, inspectores, agentes, informadores.
5. Mandatos de captura, autos de apreensão de material vário, relatórios, processos de acusação. A polémica sobre expor ou não a correspondência particular (Soares sim... Barreto não...)
E o que fica de fora?
O que não se passou por não haver documentos?
As violências, as chantagens, as torturas, os espancamentos, os julgamentos sumários, os assassinatos: Delgado, Dias Coelho, Catarina Eufemia, Alex, etc etc... Ou o militante que se atirou do 3º andar da António M Cardoso ou o anónimo morto na manifestação do 1° de Maio de 62. Ou as vítimas de morte natural ou suicídio nas prisões.
Enfim: a sórdida e mesquinha actuação de uma polícia onde chocavam tanto os crimes, como as pequenas e medíocres actuações dos agentes: vigiar, intrigar, chantagear, enfim, tornar as almas mais pequenas. Expedientes quase imperceptíveis: a prisão em determinadas épocas do ano: ( Louzã Henriques.)

Algumas questões metodológicas gerais:
Embora utilizada desde a Antiguidade, A Oralidade enquanto método de Investigação Histórica, só é recuperada na década de 20 do século passado com os historiadores dos Annales. Na verdade desde que a História se constitui como disciplina académica, (Sec XVIII), que a oralidade foi relegada para segundo plano, em relação à escrita. Juntamente com a escola, a escrita é a instituição de dominação por excelència da burguesia.( apesar do ex. de Michelet, )
A Historiografia Positivista reivindica a história como ciência, com base justamente no documento escrito, erigido como prova de objectividade. Esta seria garantida pelo documento ou mais precisamente pela tecnica de leitura do mesmo ( paleografia, diplomacia, epigrafia). Segundo Jacques Le Goff o termo Documento vem do latim DOCUMENTUM, derivado de DOCERE que significa ensinar. Para os positivistas o que o documento ensina, é o fundamento ou a prova do facto histórico.
O Conceito de Documento opoe-se ao de MONUMENTUM, que provém do verbo MONERE, que significa fazer recordar, avisar, iluminar, instruir, e é utilizado pelo poder não como documento objectivo, mas como intencionalidade. Daí que quando se utiliza o Documento se pretenda uma inocência que ele não tem. Como explica Le Goff e M. Foucault todo o documento é monumento, enquanto se não apresenta a si mesmo, antes contém uma intencionalidade que é, pelo menos nacionalista, quando não imperialista. “ O Documento é monumento. É o resultado do esforço feito pelas sociedades históricas, para impor ao futuro – querendo-o ou não – aquela imagem de si mesma. Em definitivo não existe um documento-verdade. Todo ele é mentira. Cabe ao historiador não fazer o papel de ingénuo.

A revolução historiográfica desencadeada pelos teóricos da Escola dos Annales, impulsionou o desenvolvimento da HO, como via privilegiada para a humanização da História.Apesardos contextos inibidores quer de natureza política, quer académica.
A Moderna História Oral surgirá na década de 40, pós 2ª Guerra Mundial. Com os sociólogos da Escola de Chicago, e a partir de então várias tendèncias se delinearam:
A primeira constituída por entrevistas com élites políticas ( a História de cima)
Depois, com Paul Thompson, a história dos excluídos, (A História de baixo) A Voz do Passado.
Embora a segunda tenha surgido para contrabalançar a influência da primeira, ambas podem e devem estabelecer relações e interacções na valorização dos diferentes e heterogéneos depoimentos, assim como na sistematização de novas áreas temáticas.

Mais recentemente Alessandro Portelli não encara a História Oral como instrumento para fornecer informações sobre o passado, o que lhe interessa é a subjectividade dos narradores. Não é, pois, o resgatar da fala dos dominados ou dominadores, o ineditismo, ou mesmo o preenchimento de lacunas, que lhe interessa, mas sim a recuperação do vivido, segundo a concepção de quem o viveu.
Nesta valorização da subjectividade se desenvolvem outras tendências que no diálogo com a semiologia de Barthes, a análise do discurso, e a poética de Bachelard, se assumem como Hermenêutica do Presente; isto é: uma leitura radical através do redimensionamento das acções, do ser, dos saberes, das existências, dos discursos, que conduzirá a uma outra reflexão.
Partindo de Karl Popper, e passando por Bachelard, os hermeneutas proclamam o carácter ilusório do conceito de objectividade, afirmando que não existe na ciência um movimento do real para o imaginário, e sim um imaginário fundante que cria e recria o que denominamos REAL.
Há quem pense contudo que a Hermenêutica do Presente já pouco tem a ver com a H O , porque se afasta radicalmente da História, e se aproxima da literatura. Na verdade o conceito de texto virtual abre para uma outra dimensão bem patente nesta citação de Meihy: “A questão da verdade neste ramo da história oral depende exclusivamente de quem dá o depoimento. Se o narrador diz, p ex, que viu um disco voador, que esteve noutro planeta, que é a encarnação de outra pessoa, não cabe duvidar. Afinal, este tipo de verdade constitui um dos eixos da nossa realidade social e, em último caso, não buscamos saber se existem ou não ovnis, ou espíritos. A nossa busca implica entender a forma de organização mental dos colaboradores” ( Meihy,2.000:63-64).

Esta brevíssima nota pretende apenas sublinhar a complexidade do método e as variadas correntes que dele se reclamam. Serve também para delimitar com clareza o nosso próprio caminho

Entre a História e o Jornalismo
  • Somos historiadores. A H O é uma forma de fazer História através documentação específica: História de Vida. E histórias temáticas. Na própria produção dessa história há já uma reflexão histórica, feita a partir da colaboração das subjectividades do entrevistador e do entrevistado.
  • Nisso nos afastamos da Hermenèutica do Presente, onde conta exclusivamente quem dá o depoimento.(domínio absoluto da subjectividade) Mas também da Historiografia tradicional que pensa sempre a subjectividade como obstáculo a evitar.
  • Aceitar a subjectividade não nos dispensa dos procedimentos inerentes ao trabalho do historiador ou mesmo do intelectual de uma forma geral: busca do rigor, maior aproximação à verdade dos factos analisados.
  • Esse é um dos principais desafios (e dificuldades) da HO : a necessidade de uma constante apreciação crítica do relato, para que seja fidedigno. Confronto do testemunho com todos os vestígios disponíveis, para que a análise do investigador seja consistente e esclareça incoerências históricas que provenham do próprio testemunho.
Outro aspecto que nos separa da historiografia tradicional diz respeito ao momento de constituição do documento: O entrevistado fala sobre o passado, posicionado no presente. Diversamente de um documento cartorial, a narração na entrevista é uma narração baseada na recordação, na rememoração de factos acontecidos. Ao contrário da análise de um monumento erigido a um facto heróico passado, ou de um quadro romântico retratando uma batalha medieval, não nos interessa tanto esse presente no qual foi feita a fonte, mas sim o que a fonte nos diz sobre o passado.
Este é um caminho tortuoso, pois somos refèns da Memória, que é um processo mutável, sempre em renovada construção. Lembrar nunca é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, ao contrário do que pensava Bergson: é trabalho. A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, a nossa disposição.
E a questão crucial que fica é: será que a visão do homem de hoje é a mesma que ele tinha no momento do acontecido? Obviamente que não. Como trabalhar com esta “evidência oral” no dizer de Thompson? Será atermo-nos aos factos narrados, aos acontecimentos descritos, aos números, datas, locais, para depois conferir? Ou ainda para usá-lo como faríamos com outro tipo de documentação?
A opção actualmente tem sido perceber como o discurso da pessoa se constitui, no presente, ao narrar o passado (Portelli). Muitas vezes estamos mais interessados em como a pessoa vê o seu passado, do que aferir se o que ela narra aconteceu realmente.
Isto não implica aceitar, de modo acrítico, a história de vida da pessoa, como uma narração do acontecido. Há um limiar entre compreender que existem versões e afirmar que só existem versões.
Em H O , menos do que afirmar o relativismo total da Verdade, trata-se é compreender a formação das verdades dentro das histórias de vida, para poder reflectir, num segundo momento sobre o passado:
Interessa, menos do que postular os factos verdadeiros do passado, entender os mecanismos de construção desse passado, buscando num segundo momento, o entendimento analítico-histórico dos factos acontecidos. Menos do que detectar mentiras, interessam- nos as versões. Que variam, inclusivé dentro das próprias narrações de cada um, ( A louca da casa Rosa Mantero)

2.Não somos Jornalistas
Para haver HISTÓRIA ORAL deverá haver uma interpelação objectiva, conduzida por um entrevistador, destinada a confrontar o entrevistado com recordações ou memórias de factos de que tenha tido uma experiência directa
Não somos jornalistas, apesar de o nosso trabalho ser considerado parente (às vezes pobre) do jornalismo. A confusão involuntária ou não nasce do facto de a HO se realizar através de um entrevista, aparentemente especialidade de jornalistas.
Daí o nosso trabalho ser frequentemente avaliado por estes como incursão em terrenos próprios. Não raro assistimos a críticas ora sobre a pertinência de certas perguntas, ora sobre a falta clamorosa de outras, ora sobre a rigidez do guião, ora sobre a sua demasiada flexibilidade, ora sobre o excessivo dirigismo do entrevistador, ora sobre o seu apagamento. Tudo conforme o estilo do jornalista que nos cabe em sorte. Desde o mais agressivo que gosta de encostar os seus entrevistados à parede, para o confrontar com factos ou opiniões que ele tem que confirmar ou infirmar, ao mais insinuante que “rouba” ao entrevistado confidencias ou revelações até então ciosamente guardadas. O primeiro achar-nos-á sempre pouco directos o segundo pouco ousados.
Na verdade, de comum com o jornalismo a HO tem o facto de usar a entrevista. Mas uma entrevista em tudo diferente.
1 A primeira diferença começa logo na relação estabelecida com a pessoa a ser entrevistada. A opção por colaborador, ( e não depoente, informante ou actor), para designar a personalidade que aceita dar o seu testemunho, é já bastante esclarecedora. O narrador é, dessa forma, sujeito/colaborador e não somente objecto de conhecimento. Diferentemente da entrevista jornalística, a HO encara o entrevistado numa relação de participação muito íntima. Há um vínculo de proximidade e há por parte do entrevistador um estímulo constante para que a memória progrida ao mesmo tempo que uma reflexão a respeito do seu conteúdo.
2. Essa relação vai muito para lá da simples duração da entrevista: Começa na preparação do roteiro e vai até à publicação da Entrevista , quando é caso disso. E para além dos procedimentos de método, envolve uma componente ética : Obrigação de sujeitar sempre à vontade do entrevistado a publicitação do conteúdo da entrevista. Obrigação de respeitar todas as alterações que entenda introduzir.
3 - Uma entrevista exige um conhecimento prévio do assunto que vai ser tratado. Exige, naturalmente, o levantamento da bibliografia existente. Não para conhecer mais do que o entrevistado, mas para ter uma visão diferente da dele. Se o acontecimentos encerram sempre uma visão unilateral dos mesmos, o importante de um Programa de H.O é permitir o registo de memórias de personagens, de lados diferentes do mesmo assunto. Enquanto um só, oferece uma visão unilateral, vários juntos oferecem uma análise multilateral.
  • Uma outra diferença tem a ver com a duração da entrevista. Em HO a entrevista deve passar em revista toda a vida do entrevistado, pois só assim pode ser cabalmente explicada a sua participação e o papel que desempenhou nos acontecimentos (Ex: o percurso militar dos envolvidos no 25 de Abril, ou a famosa história da candidatura de H. Delgado).
Há que notar que, acima de tudo, a entrevista vale pela qualidade e profundidade das respostas, e não pela sua quantidade. Por isso não tem limites rígidos quer de tempo, quer de conteúdo, ao contrário da jornalística, nem visa a sua utilização imediata, que é a divulgação do seu conteúdo de acordo com critérios de oportunidade e actualidade, impostos de fora

Difere também quer do questionário, quer do formulário:
Estes são padronizados e aplicados a pessoas indiscriminadamente, desde que façam parte de determinados grupos sociais estudados, objectivando a quantidade de respostas iguais e diferentes, a uma mesma questão. A sua técnica caracteriza‑se por uma pequena ou quase nula interferência do cientista sobre aquele que responde. Ao contrário essa interferência é sentida na entrevista, pelo mais íntimo contacto pessoal entre os dois pólos: entrevistador e entrevistado.
Mas difere também de outro tipo de entrevistas como sociológica.
Da entrevista sociológica difere, porque o método usado numa e noutra é completamente diferente: A entrevista sociológica usa o método indutivo, isto é, cada entrevista é integrada num conjunto de outras, e só esse conjunto permite concluir algo sobre determinado assunto.
Acontece que a H O é uma História de vida, em que cada uma vale por si. Por isso, um conjunto de entrevistas de H O. não serve para uma análise quantitativa, mas completa‑se entre si, com informações variadas, em função de vivências diferentes, e pontos de vista também diferentes.
Em resumo: a sociologia preocupa‑se em saber quantas pessoas pensam ou fazem igualmente determinada coisa, enquanto a HO se preocupa justamente pelo pensamento e acções diferentes relativos ao mesmo assunto.



O entrevistador
Dado que tudo se centra numa conversa (normalmente prolongada por vários dias ou meses) a relação que se estabelece com o entrevistador é decisiva para o sucesso ou fracasso do resultado.
Durante a conversa (e até antes, na sua preparação) os dois influenciam‑se, consciente ou inconscientemente, por gestos, expressões fisionómicas, olhares. Para além disso, como duas personalidades em confronto, é inevitável que, a cada momento determinem, a condução do diálogo num sentido ou noutro. Também esse risco, aliado aos silêncios, às hesitações, aos esquecimentos, ao prazer de algumas questões ou ao desconforto de outras, fazem de cada HO um documento único e irrepetível, revelador como poucos de uma vida, de uma personalidade, e não apenas o registo de um percurso frio e impessoal, e nem por isso mais verdadeiro.
De nada interessa um entrevistado com grande preparação, se o entrevistador não tiver condições de explorar esse manancial de informações. (Ex. Alteração do guião de Costa Gomes ou de Melo Antunes)
Daí que o relacionamento entre os dois se possa traduzir por dois elementos essenciais, segdo Willia K. Baum: Intuição e calor ou camaradagem: "O entrevistador deve ser alguém que tenha condições de se sentar calmamente, e escutar. Que esteja disposto a deixar o entrevistado expressar uma opinião contrária à sua, sem sentir vontade de o contradizer, ou de o convencer. Mas que, por outro lado, não tenha receio de interromper, com uma pergunta ou um comentário. Que consiga dominar sempre a situação, sem nunca perder o controle, mesmo remoto do assunto.
(Ex. A minha inpaciência face às delarações de Costa Gomes sobre a fortuna pessoal de V.G. ou a vontade de entrar em polémica com S. Maia, A oposição nunca fez nada, os exilados eram todos uns cobardes, a guerra colonial como o melhor tempo da sua vida)
Finalmente, que seja capaz de acompanhar qualquer tema inesperado que surja, com interesse e perguntas apropriadas.
Tipos de Entrevistador a evitar:
O falador compulsivo ‑ Extensas considerações e ainda mais perguntas.
O dominador ou autoritário ‑ conscientemente ou não pretende condicionar as respostas
O demasiado colaborante ‑ antecipa as próprias respostas com intenção de ajudar o entrevistado. (Ex. V.G Diga a senhora o que é que tem aí...)
  
O Entrevistado
Na imensa variedade, há que ter cuidado determinado tipo de personalidades:
O Cronista - descreve a sua experiência, ordenando os acontecimentos sem os explicar.
O Auto-defensivo - descreve e apresenta sempre uma justificação para todas as suas acções.
O Confessor - revela com todo o pormenor os dramas íntimos até então ocultos.
O auto-analista - disseca com rigor cada um dos seus actos e pensamentos.
O demasiado colaborante - o que começa logo a falar enquanto se prepara a entrevista, o que obriga a fazer depois as mesmas perguntas.
O desconfiado ou excessivamente modesto - que recusa. à partida, qualquer influência ou protagonismo.
O ressentido ou amargurado - evita falar de coisas que lhe são dolorosas ou de feridas não saradas.
O surpreendido ou indisponível - Por razões reais ou aparentes, alega falta de tempo, de memória ou de saúde.
(Ex. Meio Antunes recusa os factos, V. Lourenço, não esquece nada)

Conclusão :
Cabe ao entrevistador fazer surgir em cada entrevistado a faceta que lhe é mais característica, e explorá-la no sentido mais positivo. O entrevistado ideal seria o que tivesse todas estas característica juntas, sem nenhuma em erxcesso.
Cabe, finalmente ao entrevistador acompanhar, deslaçar os fios da memória, e, por vezes, desatar os nós em que este frequentemente se enreda. Um trabalho só possível numa atmosfera de respeito, cordialidade, e colaboração. De hostilidade amigável. Entre a passividade de quem só ouve, e a agressividade impaciente de quem não quer ouvir, ele terá, sobretudo, que saber ouvir.
  
A História Oral no CD 25 de Abril: Breve referência

Sendo um método relativamente recente no nosso país, necessita alguns esclarecimentos prévios:
Por vezes confunde‑se A HISTORIA ORAL com a TRADIÇÂO ORAL. Ambas são técnicas de investigação que assentam na oralidade como forma de comunicação e utilizam o mesmo tipo de materiais, para captação, gravação e armazenamento de informação.
Também o tipo de suporte de informação a que ambas dão origem é semelhante: registo sonoro, registo video. transcrição em suporte escrito, etc...)
O que verdadeiramente as distingue é o tipo de informação que visam recolher.. Já em relação à tradição não será necessária a experiência directa de quem reproduz a informação, sendo o conhecimento dessa informação resultado do método secular de transmissão oral.
O crescente recurso a estas técnicas de investigação determinou, nas últimas décadas, o aparecimento de documentos fixados em suportes materiais que designamos, de uma forma genérica, por produtos da aplicação de "novas tecnologias” surgidos com o avanço tecnológico da 2º metade do séc. XX. As gravações sonoras e os registos vídeo (videogramas) têm sido os mais utilizados.
Os arquivos e centros de Documentação especializados começaram assim, a ser confrontados com a necessidade de adaptar os métodos e técnicas de arquivística e biblioteconomia a esses novos tipos de suportes de informação.
Em Portugal não é ainda muito corrente a incorporação, nos Arquivos Públicos, de documentos desse tipo. Mas adivinha‑se, à semelhança do que já há muito acontece, em grande parte dos países europeus , da América do Norte e do Brasil, que, em breve, os serviços sejam confrontados com o aparecimento nos seus acervos de muitos desses novos suportes de informação (registos sonoros, registos vídeos, discos compactos, bandas magnéticas, etc...)
No CD25 de Abril, a par de um valioso acervo documental desse tipo, temos vindo a produzir o nosso próprio arquivo de HISTÓRIA ORAL com um objectivo concreto, e de acordo com um vasto programa de produção de fontes históricas.
A recolha de entrevistas de HO é uma tarefa metódica, que obedece a um plano prévio, estabelecido em função dos objectivos que a instituição visa alcançar. A esse plano chamamos Programa de História Oral. Teve como modelo o Programa de H O da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro.
Portanto: no caso do CD 25 de Abril, entendemos por PROGRAMA de H.O o conjunto planificado de entrevistas ou de depoimentos orais, recolhidos com vista a complementar os arquivos existentes, a suprir eventuais lacunas, ou mesmo a produzir nova informação, tão completa quanto possível, sobre factos que virão a ser objecto de futuros estudos científicos na nossa área de intervenção: Movimentação político‑social entre os anos de 1958‑1976.
  
Procedimentos metodológicos

Concilia a chamada história biográfica (História de Vida) com o depoimento ou testemunho sobre um tema específico. Assim, cada HO pretende conciliar uma História de Vida, com a abordagem mais sistemática e aprofundada de determinados acontecimentos decisivos para a história do 25 de Abril, de forma a esclarecer a participação individual específica nesses acontecimentos, possibilitando, ao mesmo tempo, uma reflexão pessoal sobres os mesmos.
Isto é: Por um lado recolhemos os testemunhos de personalidades sobre acontecimentos por eles vividos mas inseridos no próprio percurso biográfico e nos acontecimentos aparentemente menores que os contextualizam e lhe dão sentido.
Trata‑se de biografias eminentemente políticas, e nessas quase exclusivamente das elites políticas.
Esta recolha directa de informação não sendo, sob o ponto de vista metodológico, NEUTRA, deve evitar simultaneamente duas deformações de método muito frequentes:
Por um lado, o excesso de peso interpretativo, que, por vezes abafa o facto, sem nunca o recuperar na sua dimensão vivencial, exclusiva e original.
Por outro o culto exacerbado pelo pormenor, pelo fragmento, pelo irrepetível, em última análise, pelo puramente factual e descritivo.
Não deixa de ser interessante assinalar o interesse crescente que se vem notando, quer entre os estudiosos, quer entre o público em geral, pelos relatos na primeira pessoa, pelas biografias, pelas memórias, cuja publicação é quase sempre êxito garantido. É que a comunicação escrita, dados os avanços tecnológicos, reduziu drasticamente a sua forma: limitou-se, restringiu-se, tornou-se cada vez mais formal, perdendo as características pessoais. Um assunto que demoraria meses , e dezenas de páginas manuscritas explicativas, no passado, é hoje tratado em poucas e frias linhas dactilografadas. O documento escrito existe muitas vezes apenas como necessidade de um registo formal, ou mesmo oficial.
Por outro lado, as memórias escritas, as AUTOBIOGRAFIAS, também obedecem a lógicas e necessidades diferentes: o autor pretende sempre justificar determinados actos, ou simplesmente registar vivências, experiências, que possam servir de algum modo a posteridade. Mas seja qual for o objectivo, ele terá que seleccionar e dividir o material em capítulos, geralmente por ordem cronológica, e mais do que isso, escolher, cuidadosamente, as palavras e os factos, de acordo sempre com uma visão retrospectiva justificativa ou até auto-desculpabilizante. Na verdade um grande número de obras de carácter autobiográfico, não foge a esse carácter autojustificativo, oscilando entre a apologia quase heróica, ou a crítica demasiado azeda ou deceptiva. Ao contrário A HISTÓRIA ORAL apresenta outra espontaneidade, Nesta, mais do que a ordem cronológica, conta a ordem psicológica, o fio condutor da memória. Além de que a comunicação oral é muito mais livre e natural
A par do conteúdo desenha-se uma personalidade em que tão importante é o relato dos factos, como a forma única como são incorporados num percurso pessoal.

FASES DA HISTÓRIA ORAL

Com as modernas técnicas de gravação, por um lado, e por outro, com a investigação prévia que a prepara, a ENTREVISTA (até há bem pouco tempo confinada a dois elementos - entrevistador e entrevistado) passou a ter dimensão científica..
A partir dela se constituem dois documentos distintos: Entrevista Oral e Entrevista Escrita. (transcrita para papel)
Não são documentos coincidentes; não é possível a transcrição exacta da maneira como se fala, isto é, a dicção própria, a entoação das frases, os erros e vícios de linguagem, as hesitações, tiques de linguagem, silêncios, incomodidades, que fazem do documento gravado, um documento único, para a análise psicológica do entrevistado.
(Ex: Costa Gomes e os seus artifícios de linguagem: Nem sim nem não. Spínola era ou não um ditador? Ou De quem foram os erros de Otelo)
Sendo a entrevista o núcleo central da HO, elas não podem, no entanto, confundir-se. O momento da entrevista faz, sim, parte de um conjunto de técnicas utilizadas e que começam pela elaboração de um roteiro, terminando na transcrição.
  
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A IMPORTÃNCIA DA MEMÓRIA

Portugal tem um problema com a História e com a memória, talvez porque nos queremos imaginar um "Povo Feliz" e como alguém disse: os povos felizes não têm história. Por um paradoxal comportamento colectivo rasuramos episódios incómodos procedendo a releituras e actualizações de acordo com as conjunturas políticas, fugindo sempre ao confronto connosco próprios como memória, única forma de podermos construir um projecto, uma ideia e não um destino ou uma missão.
Dizem que os reis não têm memória; parece que os povos têm muito menos ainda. Proclamava Salazar em 1930. E se houve um traço genialmente perverso na ditadura que nos dominou durante 48 anos, foi a sábia gestão do silêncio, Um silêncio que Marcelo Caetano apodava de "seriedade e honestidade" em contraste com o "teatro" do congénere regime fascista italiano.
Passados todos estes anos, a nossa opinião pública parece ainda sujeita a princípios de secretismo e ocultismo incompreensíveis que, aliados a estratégias várias de branqueamento da história, conduzem a uma total incapacidade de compreensão e transmissão do passado às novas gerações. Do mais remoto e sobretudo do mais próximo, que é o que aqui nos interessa. Isto é :a memória, as memórias do 25 de Abril.
Basta lembrar uma das mais recentes sondagens, divulgada na RTP àcerca do grau de conhecimento dos mais novos sobre esse acontecimento: 86/º dos nossos jovens não sabe o que foi o 25 de Abril, contra os 11/º que sabem. Por outro lado, à pergunta sobre a quem cabem as responsabilidades por essa situação, as respostas são 40/º para a Escola, 20/º para os próprios jovens, 15/º para os pais, 4/º para a comunicação social.
Parece já tempo de definitivamente ultrapassar o obstáculo da proximidade temporal, que retirava ao 25 de Abril, a dignidade de um acontecimento de transcendental importância . Ao descaso a que tem sido votado (com particular destaque para as instituições de ensino, de todos os níveis), e só interrompido pelo assinalar do dia feriado, mesmo assim da forma menos participada e criativa, tem de substituir‑se a variedade de estratégias de aproximação, ditadas, obviamente, pela especificidade dos meios disponíveis. Aqui é inprescindível uma referência à verdadeira ofensiva comemorativista destes 30 anos pela primeira vez protagonizada pelo governo, mas rodeada de episódios polémicos e até lamentáveis.

Parecendo certo que os jovens mais do que comemorar, necessitam de compreender, o 25 de Abril tem que ser encarado na sua dupla vertente Histórica e Cívica.
Nelas se inscreve a indiscutível importância da Revolução REVOLUÇÃO como momento integrado na longa luta pela Liberdade e pela Democracia. O 25 de Abril e a Constituição de 1976 ficarão assim, para a História, como o fim violento e abrupto de um dos períodos mais tragicamente célebres da nossa História: 48 anos de Estado Novo ditatorial e Fascista. Tem, portanto, que constituir, por si, um conteúdo preciso de ensino nas escolas deste pais e nos manuais: E não uma espécie de póst-fácio ao próprio Estado Novo, ainda assim com erros e omissões clamorosos.
Contudo esse conhecimento não pode nem deve ficar por uma dimensão científica séria e rigorosa, antes deve ser completada com a "dimensão vivencial e valorativa. E aqui cabe todo um conjunto de iniciativas que valorizem e promovam a memória individual. Pela sua natural riqueza e consequente conflitualidade, ela não pode encolher-se tanto que caiba nos quadros normativos da memória colectiva, cuja função é defender a continuidade social, através das chamadas instituições da memória: monumentos, bibliotecas, museus, exposições, comemorações.
Significa isto que a história também se tem que fazer com os testemunhos directos de quem viveu os eventos. A memória viva, a quente do contemporâneos, é tão válida como a análise fria e analítica dos processos históricos. Como afirma Marguerite Yourcenar "os historiadores apresentam-nos do passado, sistemas excessivamente complexos, séries de causas e efeitos exactos e claros de mais, para terem sido alguma vez inteiramente verdadeiros:".
Dispondo ainda de preciosos testemunhos dos actores desse período central da nossa história, seria imperdoável dispensá-los. Dispensar as pessoas da História.
Além disso só eles nos ajudarão a perceber a enorme distância entre o momento de ruptura que foi a revolução e a estabilidade e o consenso anódino que a memória colectiva promove. Entre eles muita coisa aconteceu, que não sendo matéria de consenso institucional (escolar, ou outro) não pode deixar de ser matéria de conhecimento, de reflexão, e de memória. Descobrir como nasceram e porque morreram tantos e tão ambiciosos projectos de verdadeira mudança, é perceber que, apesar de vencidos, eles não são por isso menos importantes para o conhecimento do que somos como povo neste início de século de tão incertas e sombrias promessas.
AIém disso, pelo enorme capital simbólico que transportam, são momentos únicos, em que dizer do poeta "Todos chegámos a pensar que éramos maiores do que somos".

MARIA MANUELA CRUZEIRO (CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO 25 DE ABRIL)


A Vida não é a que uma pessoa viveu, mas sim a que ela recorda e como a recorda para contá-la.
Gabriel Garcia Marques


Se fosse objecto era objectivo.
Como sou sujeito, sou subjectivo.
Alçada Baptista


Os humanos são acima de tudo romancistas, autores de um único romance cuja escrita demora toda a sua existência.
Rosa Montero



Bibliografía


- ARRAES, Miguel -  O Jogo do Poder no Brasil. , 2 ed. S. Paulo : Editorial Alfa-Omega, 1982.

- ASSOCIAÇÃO DE ARQUIVISTAS DE SÃO PAULO - Bibliografia sobre arquivos: projectos de História Oral. S.Paulo : AASP, 2001. Disponível na Internet em : 
http://www.arqsp.org.br/bibliooral.htm 

- BARRETO, M. Luísa ; Lassance, Márcia M - Projecto para Implantação de um Centro Histórico Oral.  Rio de Janeiro, CMSB.

- BROWN, George ; PIAZZA, Walter F. - Documentação em História Oral.  Sep de "Anais do VIII Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História - Aracaju".  S. Paulo, 1976.

- CAMARGO, Aspásia - Os Usos da História Oral e da História de Vida: Trabalhando com Elites  Políticas.  Revista de Ciências Sociais :  Rio de Janeiro, 1984.

- CORREIA, Carlos Humberto P. - História oral: teoria e técnica. Florianópolis : UFSC, 1978. - 91 p. -  (Ensaios Catarinenses). - Policopiado. - Bibliografia p.91. 

- DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri - Trabalho com relatos orais: reflexões a partir de uma trajectória de pesquisa.  Santarém : Esc.Sup . de Educação, 1997. - 19 p. -  (Cadernos do Projecto Museológico sobre Educação e Infância., 47). Estudos).

- FODDY, William - Como perguntar: teoria e prática da construção de perguntas em entrevistas e questionário. Oeiras : Celta, 1996. - 228 p. -  (Métodos e Técnicas). - Bibliografia p. 215-228. 

- FUNDAÇÃO GETÚLIO VRAGAS  - Programa de História Oral: catálogo de depoimentos. Rio de Janeiro : CPDOC, 1988

- IGLÉSIAS, Esther - Reflexões sobre o que fazer da História Oral no mundo rural. "Revista de Ciencias Sociais". N º1. Rio de Janeiro

- MOSS, William W. ; MAZIKANA, Peter C. - Archives, histoire orale et tradition orale: une étude du ramp . ed.
Organisation des Nations Unies pour l'Education, la Science et la Culture. Programme Général d'Information et UNISIST. - Paris : UNESCO, 1986. - [8] + 84 p.. - PGI-86/ws/2.   

- NEHO 
- Núcleo de estudos de história oral on line. S.Paulo: Universidade, Dep. de História/FFLCH. Consult.: Julho 2005. Disponível na Internet em: http://www.fflch.usp.br/dh/neho/home.htm

- Sobre história oral: o NEHO e a experiência de pesquisa em história oral: artigos. S. Paulo: Universidade, Dep. de História/FFLCH. Consult.: Julho 2005. Disponível na Internet em:
http://www.fflch.usp.br/dh/neho/temporaes.htm

- THOMPSON, Paul - Construindo e reconstruindo histórias de vida: problemas e potenciais no arquivo de narrativas de pesquisa / Paul Thompson. - Santarém : Esc.Sup. de Educação, 1997. - 22 p.   (Cadernos do Projecto Museológico sobre Educação e infância ; 50). Estudos).  

- VIDIGAL, Luís
- A entrevista: o que é preciso saber para originar testemunhos orais. Santarém : Projecto Museológico sobre Educação e Infância, 1994. - 30+[6] p. -  (Cadernos do Projecto Museológico sobre Educação e Infância ; 20). Estudos).  
 - História oral e projectos pedagógicos. Santarém : Escola Sup. de Educação, 1994. - 40 p. -  (Cadernos do Projecto Museológico sobre Educação e Infância., 19). Estudos).

- A história oral: o que é, para que serve, como se faz. Santarém : Esc. Sup. de Educação, 1993. - 26 p. -  (Cadernos do Projecto Museológico sobre Educação e Infância ;16).
Estudos). 
- Memória oral da escolarização em Portugal nos anos 20 e 30. Santarém : Esc.Sup. de Educação, 1997. - 24 p. -  (Cadernos do Projecto Museológico sobre Educação e Infância., 53). Estudos). 

 - WALNE, Peter - Selected guidelines for the management of records and archives: a ramp reader. Ed. United Nations Educational Scientific and Cultural Organization. - Paris : UNESCO, 1990. - [12] + 214 p.. - PGI-90/ws/6.

- WIKIPÉDIA- História oral. Wikipédia,2005. Disponível na Internet em: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Historia_oral

VALENTINA GUEBUZA- A PRINCESA MILIONÁRIA SEGUNDO A REVISTA FORBES

VALENTINA  GUEBUZA- A PRINCESA MILIONÁRIA SEGUNDO A REVISTA FORBES DE AGOSTO DE 2012

Filhos do PR Armando Guebuza: Armando Ndambi, Valentina e  Mussumbuluko



Valentina: empresária emergente


O primeiro registo de Valentina nas lides empresariais data de 2001, quando, com o seu pai que alterava a estrutura accionista, o pacto, as quotas e os sócios, entrava com os seus irmãos, Armando Ndambi Guebuza, Mussumbuluko Armando Guebuza, na Focus 21, Gestão e Desenvolvimento, Limitada.


Quatro anos mais tarde, em 2005, em mais uma mudança da estrutura da mesma sociedade, com mais uma alteração do pacto, sócios e quotas, Valentina manteve-se na Focus 21 com o seu pai e irmãos, entrando a sua irmã mais nova Norah Armando Guebuza.


Em 2007, Valentina daria aquilo a que se chamaria de salto quantitativo ao constituir-se accionista da Beira Grain Terminal, SA. A ela se juntaram nesta sociedade várias instituições tais como os CFM – Portos e Caminho de Ferro de Moçambique, EP (empresa pública em que Rosário Mueleia é hoje o Presidente do Conselho de Administração depois de ter sido governador de províncias e mais recentemente vice-ministro do Turismo do Governo do seu pai cargo de que foi exonerado para exercer as suas novas funções); a Cornelder de Moçambique, SARL (onde o seu pai é accionista), Nectar Moçambique, Limitada, Sonipal, Limitada, Seaboard Moz, Limited, Rainbow Internacional, FZCO, CFI Holdings, Limited e a Merec Industries, Limitada. De salientar que nesse ano o seu pai cumpria o segundo ano do seu primeiro mandato como Presidente da República.



O principal objecto social desta sociedade, que se constituiu com um capital de dois milhões e setecentos mil meticais da nova família, é “a operação de um terminal de cereais a granel, no Porto da Beira, em Moçambique”. Dois e meio por cento do capital social desta empresa são de Valentina Guebuza..



No ano seguinte, 2008, Valentina da Luz Guebuza, junto com o seu irmão Mussumbuluko Armando Guebuza e do tio José Eduardo Dai – primo de primeiro grau de Tobias Dai, irmão de Maria da Luz – e das instituições Rachana Global Limitada e da também “sua” Focus 21, constituíram a Crosswind Holdings, S.A., uma sociedade que tem como principal objecto social “o exercício da actividade de construção e desenvolvimento de infra-estruturas”.



No mesmo ano (2008), Valentina da Luz Guebuza e o seu tio José Dai constituíram a Servicon, Limitada, que tem como objecto social a “actividade mineira”.



Ainda em 2008, novamente com o seu tio José Dai e o irmão Mussumbuluko e Carlos Nicolau Salvador Júnior, constituíram a Orbttelcom, Limitada, uma sociedade que tem por objecto social “a informática e telecomunicações (venda de serviços e equipamento, nomeadamente: instalação de infra-estruturas de rede, fibra óptica, back up de dados e recuperação de desastre de dados, fornecimento de internet banda larga por satélite, cablagem de corrente eléctrica filtrada, e cablagem telefónica) ”.



Em 2009, Valentina entra na Moçambique Desenvolvimento & Investimentos, Limitada, que pouco tempo antes havia sido constituída por Voo Chong Min e Lilla Szakmeister. Esta sociedade foi criada em Maio de 2009, e em Julho do mesmo ano, isto é, dois meses depois, Valentina e o seu tio José Dai entraram para a sociedade que alterou o seu pacto e criou quotas para os acomodarem.



O objecto social desta vai desde “o comércio geral de importação e exportação de equipamentos comerciais e industriais, incluindo viaturas, materiais de construção, peças sobressalentes de viaturas; indústria alimentar, como massas esparguete e produtos lacticínios (queijo e outros produtos derivados de leite); Indústria de embalagens plásticas (garrafas e outros utensílios); Promoção e controlo de projectos de construção; Serviços de transporte de passageiros e carga; Criação de banca; a Criação de campos desportivos”.



Este ano, de acordo com os registos publicitados pelo BR, isso no mês de Março, Valentina juntou-se a Luís Filipe Pereira Rocha Brito e constituíram a IMOGRUPO - Investimentos e Participações, Limitada. Esta sociedade, com um capital inicial de quinhentos mil meticais, tem no seu objecto social áreas que vão desde a imobiliária, elaboração de estudos de arquitectura, engenharia, construção civil, hotelaria e turismo, entre outros propósitos.

No ano passado, algum órgão de comunicação social referiu que Valentina tinha interesses no parque automóvel do mercado Central, concedido pelo Município de Maputo, e no jardim Tunduro.


As obras de reabilitação do Jardim Tunduro estão a ser financiadas, segundo tornou-se público, por algumas instituições, entre elas o CFM, parceira de Valentina Guebuza, na Beira Grain Terminal, SA.



Valentina deve ter nascido entre 1979 e 1980, segundo parentes próximos. Ela segue Armando Ndambi Guebuza, nascido em 1977, durante as cheias que fustigaram o arrozal do Chókwè, sendo por isso que o seu pai – então ministro do Interior e Comissário Político Nacional – conforme referido na sua biografia escrita por seu assessor Renato Matusse – enviado por Samora Machel a província de Gaza, decidiu baptizá-lo por Ndambi, que nas línguas bantu do Sul do Save significa cheias. (Luís Nhachote) (CanalMoz-25/03/2011)

Acaba de cair mais uma mentira da Frelimo sobre a história de Moçambique

Acaba de cair mais uma mentira da Frelimo sobre a história de Moçambique



EDITORIAL


“Bem-aventurado o dirigente político que não tem medo da verdade nem dos meios de comunicação, porque no momento do julgamento responderá só ante Deus, não ante os meios de comunicação” – Cardeal Francisco Javier Van Thuan, Bispo vietnamita que passou treze anos em uma prisão durante o regime comunista do Vietname.

Aqueles que conquistaram e se mantêm no poder à custa da mentira, da ocultação da verdade e recorrem às mais infames formas de manipulação da opinião pública estão nervosos e com medo. Vivem inseguros. Já não conseguem esconder a verdade. A cada dia que passa um novo facto se revela e uma velha mentira se desmorona. E, tal como as mentiras, desmorona a legitimidade de quem usou a mentira para açambarcar o poder.


A História de Moçambique que hoje é ensinada oficialmente nas escolas está feita de muitas mentiras.

Mentiras que a cada dia vão caindo. E quem as construiu vê-se obrigado a dar explicações ao Povo ou a se tornar arrogante e tentar descredibilizar quem trás as verdades que procuravam esconder.

A 03 de Fevereiro de 2006, um ano anos após deixar os 18 anos da presidência da República, Joaquim Chissano foi confrontado pelo Canal de Moçambique que viria a ser fundado a 07 de Fevereiro, então jornal diário electrónico e hoje semanário, sobre o local da morte de Eduardo Mondlane. Vendo-se sem espaço para continuar a contar a mentira que ele e seus camaradas instituíram e oficializaram em Moçambique, Chissano assumiu que Eduardo Mondlane havia morrido numa casa de praia de Bety King, secretária de Janeth Mondlane, esposa do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique.



Foi apenas uma revelação das várias verdades ocultas, omitidas ou escamoteadas.

Nesta edição do Canal de Moçambique trazemos em tema de capa mais uma revelação que destrona outra das muitas mentiras que um punhado de “camaradas” acumulou para se auto-proclamarem obreiros da marcha rumo à Independência Nacional.


Um documento dactilografado, datado e assinado pelos seus autores revela quem foram realmente os quatro cidadãos moçambicanos que ousaram unir seus dois movimentos (MANU e UDENAMO) para formar a FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique, em Accra, no Gana, e não em Dar-Es-Salaam, na Tanzania, como tem vindo a ser ensinado aos moçambicanos.



Esses cidadãos que realmente criaram a FRELIMO foram transformados em vilões, reaccionários e apagados da história, por quem está hoje no poder e a declarar-se dono da FRELIMO, desde há cinco décadas.



A história verdadeira de Moçambique está aos poucos a aparecer comprovada por documentos e aos poucos o Povo Moçambicano vai sabendo do que é capaz quem tanto fez para crermos que se tratava de gente com princípios.


Os meios de comunicação que veiculam informações não manipuladas, entre os quais o Facebook, é natural que criem aversão a quem nunca imaginou que seria contemporâneo de instrumentos que acabariam por devolver o mérito a quem o tem e expor a hipocrisia dos mitómanos compulsivos.


Valham-nos os que se recusam a serem apóstolos da mentira. Acaba de cair mais uma mentira da Frelimo sobre a história de Moçambique



Canal de Moçambique – 22.08.2012

DOCUMENTÁRIO GUERRA DE ÁGUA- LÍCINIO DE AZEVEDO


DOCUMENTÁRIO GUERRA DE ÁGUA- LÍCINIO DE AZEVEDO

Clique no link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wmmoZ_8SVoo#t=0s

FILME MOÇAMBICANO - TEMPO DOS LEOPARDOS

FILME MOÇAMBICANO - TEMPO DOS LEOPARDOS

Clique no link abaixo para assistir:
http://www.youtube.com/watch?v=oMp8rMqELyo&feature=player_embedded

Sobre Mozambique

 Sobre Mozambique

By Colin Darch´s




I moved to Mozambique at the beginning of 1979 to take up the position of documentalist at the Centro de Estudos Africanos (CEA) in the Universidade Eduardo Mondlane. At that time the director of the CEA was Aquino de Bragança, and the research director was Ruth First.


Decoration

Writings



♦ With David Hedges, ‘Não temos a possibilidade de herdar nada de Portugal': as raízes do exclusivismo político em Moçambique, 1969-1977. In: Territórios da língua portuguesa—culturas, sociedades, políticas: anais do IV Congresso Luso-Africano-Brasileiro, 1 a 5 de setembro de 1996, edited by Glaucia Villas Bôas (Rio de Janeiro: IFCS, 1999), pages 135-149.

♦ Problems in the training and education of LIS practitioners in Portuguese-speaking Africa: the case of Mozambique. In: Education for librarianship and information science in Africa, edited by Michael Wise (Uppsala: Uppsala University Library, 1999), pages 35-55.


♦ In the name of justice. African Agenda vol.1 no.5, 1995, pages 42-44.

Review of Bill Minter's book Apartheid's contras: an inquiry into the roots of war in Angola and Mozambique (1994).


♦ The book trade and publishing in Mozambique. African Book Publishing Record, vol.19, no.1, 1993, pages 9-12. Not yet available.



♦ A guerra e as mudanças sociais recentes em Moçambique (1986-1992): cenários para o futuro. Estudos Afro-Asiáticos no.23, 1992, pages 213-227.

♦ Are there warlords in provincial Mozambique? Questions of the social base of MNR banditry. Review of African Political Economy no.45/46, 1989, pages 34-49.


♦ The writings of Samora Machel: a bibliographic note. In: An African revolutionary: selected writings and speeches, translated by Michael Wolfers, introduction by Barry Munslow (London: Zed, 1985), pages 200-204. Not yet available.



♦ Notas sobre fontes estatísticas oficiais referentes à economia colonial moçambicana: uma crítica geral. Estudos Moçambicanos, no. 4, 1983 1985, pages 103-125.

♦ Cabo Delgado: fontes para uma história da luta armada e para uma economia política do Planalto de Mueda [by Colin Darch] Não vamos esquecer: boletim informativo da Oficina de História, no. 1, February 1983, pages 38-41. Not yet available.



♦ Published documentation of the Party FRELIMO: a preliminary study. Mozambican Studies, no. 2, 1981 [publ. 1983], pages 104-125.


 

♦ Migrant labour in southern Africa: a bibliographic note [by Colin Darch]. In: Black gold: the Mozambican miner, proletarian and peasant by Ruth First (Brighton: Harvester Press, 1983), pages 195-211. Not yet available.



♦ Writings and research on Mozambique, 1975 1980. Mozambican Studies, no. 1, 1980 [publ. 1982], pages 103-112.

♦ Trabalho migratório na Africa Austral: um apontamento crítico sobre a literatura existente. Estudos Moçambicanos, no.3, 1981, pages 81-96.

♦ As publicações da FRELIMO: um estudo preliminar. Estudos Moçambicanos, no. 2, 1981, pages 105-120. Click here for a PDF file (size 1.3 Mb).



♦ Escritos e investigação sobre Moçambique, 1975-1980. Estudos Moçambicanos, no.1, 1980, pages 111-120.  

FONTE: MOZAMBIQUE HISTORY NET

ENTREVISTA COM JOEL DAS NEVES TEMBE – HISTORIADOR MOÇAMBICANO E DIRECTOR DO ARQUIVO HISTÓRICO DE MOÇAMBIQUE

ENTREVISTA COM JOEL DAS NEVES TEMBE – HISTORIADOR MOÇAMBICANO E DIRECTOR DO ARQUIVO HISTÓRICO DE MOÇAMBIQUE




By Eric Boamah



A brief interview with Joel Tembe at a regional archives meeting:



Dr. Tembe is also the President of the Eastern African Branch, International Council on Archivists (ESABICA). In this interview, he described the Mozambique Historical Archives and his experience as a

director there. Human resources improvement has been one of his priority areas. Dr. Tembe emphasised how professional associations such as ESABICA have been contributing to providing training programme

and sharing of ideas in the region. However, language barrier has been their biggest challenges, even though other problems with storage, infrastructure and training needs are hindering their work.


Listen to full interview with Dr. Tembe:




27 agosto 2012

POLÍCIA SUL-AFRICANA INVESTIGA ACIDENTE DE AVIAÇÃO DE MBUZINI


POLÍCIA SUL-AFRICANA INVESTIGA ACIDENTE DE AVIAÇÃO DE MBUZINI

 

(Nelspruit) – As novas investigações sobre o acidente de Mbuzini, prometidas pelo chefe de Estado sul-aficano, Jacob Zuma, durante uma visita efectuada a Moçambique de 13-14 de Dezembro de 2011, estão a cargo da Direcção para a Investigação Prioritária do Crime (DPCI), soube o Canalmoz de fonte segura em Nelspruit. Também conhecida por «Falcões» (ou Hawks), a DPCI tem vindo a entrevistar entidades moçambicanas, sul-africanas e suázis ligadas ao sector da aeronáutica, entre outras. A unidade policial, «Falcões», é chefiada por Anwa Dramat, antigo combatente na clandestinidade do Umkhonto weSizwe, braço armado do ANC.

Prevê-se que os investigadores da unidade Falcões interroguem membros da Comissão de Inquérito nomeada pelo governo moçambicano na sequência do desastre de Mbuzini, em particular o Major-General Jacinto Veloso.

A nossa fonte referiu que o Maj. Gen. Veloso ʺé certamente uma das figuras na lista dos Falcões, em virtude das revelações que fez num livroʺ recentemente editado na África do Sul pela Zebra Press (Memories at Low Altitude). no livro, Veloso dá conta de que a União Soviética impediu que investigadores da Comissão de Inquérito moçambicana entrevistassem um dos tripulantes do Tupolev presidencial que havia sobrevivido ao acidente de Mbuzini e que se encontrava na altura hospitalizado em Maputo. O autor de «Memories at Low Altitude» refere que a Embaixada da URSS na capital moçambicana legou que o estado de saúde do tripulante, Vladimir Novoselov, não permitia que ele fosse interrogado a respeito do acidente, mas dias depois a missão diplomática soviética no nosso país tratou de evacuá-lo para Moscovo, sem disso ter notificado a Comissão de Inquérito moçambicana. A saída de Novoselov para Moscovo processou-se, porém, com o conhecimento do governo moçambicano.

Peritos sul-africanos e moçambicanos, que permaneceram na União Soviética entre Novembro e Dezembro de 1986 no âmbito das investigações sobre o acidente de Mbuzini, apresentaram um pedido formal à Comissão de Inquérito soviética para uma entrevista com Vladimir Novoselov, que havia partido de Maputo para Moscovo a 5 de Novembro, acompanhado da esposa, Nadja Novoselov. A Comissão de Inquérito soviética, presidida por Ivan Donstov, não satisfez o pedido, alegando a ʺinexistência de meios de transporte para uma viagem a Leninegradoʺ, cidade onde Novoselov residia. (CanalMoz/Redacção)

 

24 agosto 2012

O QUE HÁ DE ERRADO NA RECANDIDATURA DE GUEBUZA, À PRESIDÊNCIA DO PARTIDO?


O QUE HÁ DE ERRADO NA RECANDIDATURA DE GUEBUZA, À PRESIDÊNCIA DO PARTIDO?

Lázaro Mabunda
 
A acontecer a violação da tradição do partido, estaríamos perante uma situação semelhante à da Rússia, em que Vladimir Putin, após ter cumprido os oito anos de mandato, ao invés de abandonar o Governo, sugeriu que ocupasse o cargo de primeiro-ministro, entregando a presidência a um fantoche Dimitri Medvedev (...).

É este cenário que Guebuza está a desenhar, uma vez que o presidente da Frelimo e simultaneamente da Comissão Política do Partido é uma figura que estará acima de um eventual Presidente da República (...).

A Frelimo está em guerra silenciosa interna. Em causa está o poder. O problema é que o actual presidente da Frelimo e, simultaneamente, Presidente da República quer continuar a manter-se no poder para poder controlar e governar o país, através do partido, mesmo depois de terminar o mandato. E apoio de peso não lhe falta. Mas há também aqueles que defendem a manutenção da tradição, de que “só é presidente do Partido quem é simultaneamente Presidente da República”. Foi essa tradição que foi pregada por Guebuza e seus apoiantes para forçar a saída de Joaquim Chissano da presidência do partido.

Guebuza sabia que detém o poder, ao nível do nosso país, o presidente do partido que governa (Frelimo). Aliás, o secretário-geral da Frelimo, Filipe Paúnde, deixou bem claro, na entrevista de quinta-feira ao jornal “O País”, sobre quem tem o poder em Moçambique: “o partido é que orienta o Governo. (…) O presidente receberá instruções da Comissão Política, ele irá implementá-las na Presidência (da República)”. Ora, o partido e a Comissão Política são liderados pelo presidente do partido (Frelimo), o que lhe dá poder de influenciar as decisões a serem implementadas pelo Governo.

Nesse contexto, Chissano, sendo o presidente do partido, iria sobrepor-se ao Presidente da República, neste caso, Armando Guebuza, que ficaria desprovido do poder. Quer dizer, Chissano, apesar de ter deixado a Presidência da República, continuaria mais poderoso que o seu sucessor, Armando Guebuza. O que aconteceu é que Guebuza não queria sujeitar-se a esta situação. Ora, se não se quis sujeitar a esta dependência, também deveria ser coerente no sentido de rejeitar a decisão de se candidatar para mais uma presidência do partido; travar a onda de apoio a mais uma candidatura à presidência do partido. Tem de fazer o que fez quando alguns dos seus apoiantes tentaram forçar o seu terceiro mandato: sair publicamente a dizer que não se irá candidatar, porque a constituição assim não permite. Este silêncio em relação à intenção de continuar a presidir ao partido, para além de 2014, é sintomático de que ele, de facto, é que está a agitar a água para medir a reacção dos membros da Frelimo e da classe académica moçambicana. Não se pode calar perante esta intenção, porque terá reflexos directos na governação e no futuro do país, conforme demonstrarei mais adiante.

Se ele, juntamente com seus apoiantes, obrigaram Chissano a renunciar ao cargo, alegando que “desde a proclamação da independência de Moçambique, em 1975, e a introdução do regime de partido único no país, o presidente da Frelimo foi simultaneamente o chefe de Estado moçambicano”, tal como justificou Manuel Tomé, na altura porta-voz da IV sessão do Comité Central da Frelimo (Março, 2005), então, Armando Guebuza deveria, hoje, recordar aos seus apoiantes, como Filipe Paúnde, que essa tradição ainda existe e não quer pontapeá-la. O que não está a acontecer, deixando entender que se está a preparar para revelar a sua incoerência.
Mais: Manuel Tomé disse, nessa conferência de imprensa, que: “Este princípio verifica-se quer na nossa região, em países como África do Sul e Tanzania, quer na Europa, como na Inglaterra e em Portugal, onde o dirigente máximo do partido encabeça o Governo”.
Se esses exemplos foram usados para justificar a renúncia de Chissano, então também devem ser usados para esclarecer a Guebuza que “este princípio ainda se verifica (não caiu em desuso)”, pelo que não deve sonhar em manter-se na presidência do partido.

A acontecer a violação da tradição do partido, estaríamos perante uma situação semelhante à da Rússia, em que Vladimir Putin, após ter cumprido os oito anos de mandato, ao invés de abandonar o Governo, sugeriu que ocupasse o cargo de primeiro-ministro, entregando a presidência a um fantoche Dimitri Medvedev. Durante oito anos, Putin manteve o controlo do poder, embora estivesse nas mãos do outro. É este cenário que Guebuza está a desenhar, uma vez que o presidente da Frelimo e simultaneamente da Comissão Política do Partido é uma figura que estará acima de um eventual Presidente da República. Dito de outras palavras: Guebuza continuaria, na verdade, a governar o país, através do partido, uma vez que o presidente do partido sobrepõe-se ao Presidente da República.

Os estatutos da Frelimo, no artigo 63, n.ºs 2 e 5, também são claros relativamente à superioridade do presidente do partido em relação ao Presidente da República: “São membros da Comissão Política o Presidente do Partido, o Secretário-Geral e o Secretário do Comité de Verificação do Comité Central”; “O Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro, quando membros do Frelimo têm assento na Comissão Política, sem direito a voto”. Ou seja, o futuro Presidente da República não terá direito a voto, contrariamente ao presidente da partido.
Mais: “O Presidente (do partido) dirige e preside ao Presidium do Congresso, o Comité Central e a Comissão Política” (artigo 65, nº2). Quer dizer, cabe ao presidente do partido presidir à Comissão Política e ao Presidente da República o papel de simples participante.
Quero acreditar que Guebuza pretenda candidatar-se à presidência do partido apenas para cumprir o mandato, em 2014, ainda como presidente, em cumprimento da tradição do partido. Creio que após as eleições fará o mesmo espectáculo que Chissano: renunciar à presidência do partido para salvaguardar a tradição que vem desde 1975, de o presidente do partido ser simultaneamente o Chefe do Estado, entregando a presidência do partido ao novo Presidente da República. Isso até faz sentido na medida em que a entrada do novo presidente do partido, a partir do próximo mês de Setembro, retiraria, automaticamente, por obrigação estatutária, os poderes de Guebuza como Presidente da República. Teríamos um Presidente da República que estaria sob ordens de um novo presidente do partido nos próximos dois anos do mandato.
 


Mas por que tanta azáfama por Guebuza?

Eventualmente, esta azáfama seja reflexo do dilema de alguns elementos da Frelimo, sobretudo aqueles devem favores ao actual presidente da Frelimo. Refiro-me aos que beneficiaram da sua governação. De facto, durante sete anos e meio, Guebuza conseguiu resgatar muitos dos seus camaradas do anonimato. Muitos deles são hoje empresários e se não o são, pelo menos estão prósperos. É que Guebuza preocupou-se mais com o partido do que com o povo, contrariamente a Chissano que tinha prestado mais atenção ao povo do que ao partido. Uniu o partido. Resgatou elementos que já tinham sido esquecidos, sobretudo os antigos combatentes. Elevou os salários da elite militar e dos membros do partido. O resultado é que a Frelimo cresceu exponencialmente com Guebuza do que com Chissano. No entanto, o país registou pouca evolução em relação à redução das desigualdades sociais comparado ao período de Chissano. A pobreza registou subida em 0.8% na governação de Guebuza, após uma redução de 15% no governo de Chissano; os estudos mostram que a corrupção, o clientelismo, o burocratismo agravaram com Guebuza do que com Chissano. Por isso, há uma dívida de favores à Guebuza pela maioria dos membros da Frelimo. São esses que sem olhar a meios nem às consequências futuras defendem a continuação dele à frente do partido como única garantia de que irão manter os seus privilégios.

Guebuza activou o sistema distributivo e desactivou redistributivo. A governação de Guebuza preocupou-se mais em realizar negócios para eles próprios do que negócios que beneficiassem a todos os moçambicanos. O jantar, em casa do presidente da Vale, no Brasil, de que coincidentemente viria a resultar na atribuição de licença definitiva do Uso e Aproveitamento e a concessão de todo o Corredor do Desenvolvimento de Norte (sistema ferro-portuário de Tete e de Nacala) à Vale, nas duas semanas consecutivas, após o regresso à “pátria dos heróis”; e a contratação de créditos para a construção da ponte sobre Katembe são exemplos recentes da política da promiscuidade adoptada pelo actual Governo.

Jantar em casa do presidente da Vale representa uma promiscuidade ao mais alto nível de um governante. O que devia ter acontecido é o presidente da Vale jantar na Presidência da República à convite do Chefe do Estado. Um Chefe do Estado deve saber que é representante do Estado e não dos seus próprios interesses. Se quisesse jantar com o presidente da Vale, na sua casa, Guebuza podia-o fazer durante as suas férias, não aproveitar uma viagem do Estado para recepções anti-éticas.

É inconcebível e inadmissível que um Chefe do Estado de um país “democrático” escolha, dentre várias multinacionais que operam na mesma área (exploração de carvão mineral) dentro do mesmo território, jantar em casa do presidente de uma delas e concessiona-se a espinha dorsal do desenvolvimento do país à revelia do sector empresariado nacional e das outras companhias carboníferas. Como as companhias como Rio Tinto, Talbot State e outras irão interpretar este comportamento? Onde está a ética de quem deveria servir de árbitro em caso de conflitos entre estas multinacionais? Como concessionar um corredor vital para o transporte de carvão a apenas uma das tantas companhias da área?

Face a estas evidências, tenho de reconhecer e concordar com Sua Excelência Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, que, de facto, “a pobreza está nas nossas mentes”.

In: Jornal "O PAÍS" – 06.08.2012

 

 

 

 

 

23 agosto 2012

SÃO AS ARMAS; MAS, NÃO SÓ AS ARMAS


SÃO AS ARMAS; MAS, NÃO SÓ AS ARMAS

 

Por Michael Moore (*)

 

Maputo (Canalmoz) - Desde que Caim enlouqueceu e matou Abel sempre houve humanos que, por uma razão ou outra, perdem a cabeça temporária ou definitivamente e cometem actos de violência. Durante o primeiro século de nossa era, o imperador romano Tibério gozava, jogando suas vítimas na ilha de Capri, no Mediterrâneo. Gilles de Rais, cavalheiro francês aliado de Joana D’Arc, na Idade Média, um dia, enlouqueceu e acabou assassinando centenas de crianças. Apenas umas décadas depois, Vlad, o Empalador, na Transilvânia, tinha inúmeros modos horripilantes de acabar com suas vítimas; o personagem de Drácula foi inspirado nele.

Em tempos modernos, em quase toda as nações há um psicopata ou dois que cometem homicídios em massa, por mais estritas que sejam suas leis em matéria de armas: o demente supremacista branco, cujos atentados na Noruega cumpriram um ano nesse domingo; o carniceiro do pátio escolar em Dunblane, Escócia; o assassino da Escola Politécnica de Montreal; o aniquilador em massa de Erfurt, Alemanha...; a lista parece interminável. E agora o atirador de Aurora, na sexta-feira passada. Sempre houve pessoas com pouco juízo e prudência e sempre haverá.

Porém, aqui reside a diferença entre o resto do mundo e nós: aqui acontecem DUAS Auroras a cada dia de cada ano! Pelo menos 24 norte-americanos morrem a cada dia (de 8 a 9 mil por ano) em mãos de gente armada, e essa cifra NÃO inclui os que perdem a vida em acidentes com armas de fogo ou os que cometem suicídio com uma. Se contássemos todos, a cifra se multiplicaria a uns 25 mil.

Isso significa que os Estados Unidos são responsáveis por mais de 80% de todas as mortes por armas de fogo nos 23 países mais ricos do mundo combinados. Considerando que as pessoas desses países, como seres humanos, não são melhores ou piores do que qualquer um de nós, então, por que nós?

Tanto conservadores quanto liberais nos Estados Unidos operam com crenças firmes a respeito do “porquê” desse problema. E a razão pela qual nem uns e nem outros podem encontrar uma solução é porque, de fato, cada um tem a metade da razão.

A direita crê que os fundadores dessa nação, por alguma sorte de decreto divino, lhes garantiram o direito absoluto a possuir tantas armas de fogo quanto desejem. E nos recordam sem cessar que uma arma não dispara sozinha; que “não são as armas, mas quem mata são as pessoas”.

Claro que sabem que estão cometendo uma desonestidade intelectual (se é que posso usar essa palavra) ao sustentar tal coisa acerca da Segunda Emenda porque sabem que as pessoas que escreveram a Constituição unicamente queriam assegurar-se de que se pudesse convocar com rapidez uma milícia entre granjeiros e comerciantes em caso de que os britânicos decidissem regressar e semear um pouco de caos.

Porém, têm a metade da razão quando afirmam que “as armas não matam: os estadunidenses matam!”. Porque somos os únicos no primeiro mundo que cometemos crimes em massa. E escutamos norte-americano de toda condição aduzir toda classe de razões para não ter que lidar com o que está por trás de todas essas matanças e actos de violência.

Uns culpam os filmes e os jogos de videogame violentos. Na última vez em que revisei, os videojogos do Japão são mais violentos do que os nossos e, no entanto, menos de 20 pessoas ao ano morrem por armas de fogo naquele país; e em 2006 o total foi de duas pessoas! Outros dirão que o número de lares destroçados é o que causa tantas mortes. Detesto dar-lhes essa notícia; porém, na Grã-Bretanha há quase tantos lares desfeitos, com um só dos pais assumindo o cuidado dos filhos quanto nos EUA; e, no entanto, em geral, os crimes cometidos lá com armas de fogo são menos de 40 ao ano.

Pessoas como eu dirão que tudo isso é resultado de ter uma história e uma cultura de homens armados, “índios e vaqueiros”, “dispara agora e pergunta depois”. E se bem é certo que o genocídio de indígenas americanos assentou um modelo bastante feio de fundar uma nação, me parece mais seguro dizer que não somos os únicos com um passado violento ou uma marca genocida.

Olá, Alemanha! Falo de ti e de tua história, desde os hunos até os nazistas, todos os que amavam uma boa carnificina (tal qual os japoneses e os britânicos, que dominaram o mundo por centenas de anos, coisa que não conseguiram plantando margaridas). E, no entanto, na Alemanha, nação de 80 milhões de habitantes, são cometidos apenas 200 assassinatos com armas de fogo ao ano.

Assim que esses países (e muitos outros) são iguais a nós, excepto que aqui mais pessoas acreditam em Deus e vão à Igreja mais do que em qualquer outra nação ocidental.

Meus compatriotas liberais dirão que se tivéssemos menos armas de fogo haveria menos mortes por essa causa. E, em termos matemáticos, seria certo. Se temos menos arsénico na reserva de água, matará menos gente. Menos de qualquer coisa má – calorias, tabaco, reality shows – significará menos mortes. E se tivéssemos leis estritas em matéria de armas, que proibissem as armas automáticas e semiautomáticas e prescrevessem a venda de grandes magazines capazes de portar milhões de balas, atiradores como o de Aurora não poderiam matar a tantas pessoas em pouquíssimos minutos.

Porém, também nisso há um problema. Há um montão de armas no Canadá (a maioria rifles de caça) e, no entanto, a conta de homicídios é de uns 200 ao ano. De fato, por sua proximidade, a cultura canadense é muito similar à nossa: as crianças têm os mesmos videojogos, vêem os mesmos filmes e programas de TV; mas, no entanto, não crescem com o desejo de matar uns aos outros. A Suíça ocupa o terceiro lugar mundial em posse de armas por pessoa; porém, sua taxa de criminalidade é baixa. Então, por que nós? Formulei essa pergunta há uma década em meu filme ‘Tiros em Columbine’, e esta semana tive pouco que dizer porque me parecia ter dito há dez anos o que tinha que dizer; e acho que não fez muito efeito; excepto ser uma espécie de bola de cristal em forma de filme.

Naquela época eu disse algo, que repetirei agora:

1. Os norte-americanos somos incrivelmente bons para matar. Acreditamos em matar como forma de conseguir nossos objectivos. Três quartos de nossos Estados executam criminosos, apesar de que os Estados que têm as taxas mais baixas de homicídios são, em geral, os que não aplicam a pena de morte.

Nossa tendência a matar não é somente histórica (o assassinato de índios, de escravos e de uns e outros na guerra “civil”): é nossa forma actual de resolver qualquer coisa que nos inspira medo. É a invasão como política exterior. Sim, lá estão Iraque e Afeganistão; porém, somos invasores desde que “conquistamos o oeste selvagem” e agora estamos tão enganchados que já não sabemos o que invadir (Bin Laden não se escondia no Afeganistão, mas no Paquistão), nem porque invadir (Saddam não tinha armas de destruição massiva, nem nada a ver com o 11-S). Enviamos nossas classes pobres para fazer matanças, e os que não temos um ser querido lá, não perdemos um só minuto de um só dia em pensar nessa carnificina. E agora, enviamos aviões sem pilotos para matar (drones), aviões controlados por homens sem rosto em um luxuoso estúdio com ar condicionado em um subúrbio de Las Vegas. É a loucura!

2. Somos um povo que se assusta com facilidade e é fácil de ser manipulado pelo medo. De que temos tanto medo, que necessitamos ter 300 milhões de armas de fogo em nossas casas? Quem vai machucar? Por que a maior parte dessas armas se encontra nas casas de brancos, nos subúrbios ou no campo? Talvez, se resolvêssemos nosso problema racial e nosso problema de pobreza (uma vez mais, somos o número um com maior número de pobres no mundo industrializado) teria menos pessoas frustradas, atemorizadas e encolerizadas estendendo a mão para pegar a arma que guardam na gaveta. Talvez, cuidaríamos mais uns dos outros (aqui vemos um bom exemplo disso).

Isso é o que penso sobre Aurora e sobre o violento país do qual sou cidadão. Como mencionei, disse tudo nesse filme e se quiserem, podem assisti-lo e partilhá-lo sem custo com os demais. E o que nos faz falta, amigos meus, é valor e determinação. Se vocês estão prontos, eu também.

(*) Cineasta e escritor norte-americano. O original encontra-se em mltoday.com