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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

29 outubro 2013

MOÇAMBIQUE: GUEBUZA VERSUS DHLAKAMA

Raúl M. Braga Pires
Moçambique tem Eleições Autárquicas marcadas para 20 de Novembro e Legislativas e Presidenciais marcadas para Outubro de 2014
O recente ataque da FRELIMO à base RENAMO em Satungira, Distrito da Gorongosa, na Província de Sofala, é o culminar de cerca de 3 ou 4 meses de tensão entre ambos os partidos, por via de reiterados ataques armados a postos de controlo e viaturas que circulam na principal estrada que atravessa a Província e que liga o Maputo ao Rovuma. A RENAMO culpa a FRELIMO pelos mesmos, enquanto que a FRELIMO culpa a RENAMO. Um clássico, com mortos envergando a farda de quem se quer acusar.
De forma resumida, pode-se dizer que o Presidente Armando Guebuza se fartou das constantes ameaças do rival Afonso Dhlakama, as quais surgem constantemente em anos eleitorais, o que aliás se trata duma estratégia pessoal do líder da RENAMO, para continuar à frente dos destinos do partido.
Caso queiramos ser mais profundos na análise, é pegar precisamente nesta eternização de Dhlakama à frente da RENAMO. O momento ideal para este passar a pasta, teria sido durante as Autárquicas de 2008, para o jovem Daviz Simango que aderira ao partido em 2003, ganha oMunicípio da Beira no mesmo ano e, em 2006, é galardoado como oMelhor Presidente de Município no Moçambique, pela Professional Management Review-Africa! O ego de Dhlakama não aguentou tal competência, nem a possibilidade da RENAMO  se renovar e ver a"Geração da Paz" fazer melhor que a "Geração de Guerra", à qual pertence e, impede a recandidatura deste jovem promissor nas Autárquicas de 2008, o que cria uma enorme ruptura no "Partido da Perdiz".
Quanto a Simango, movido por uma vaga de fundo que obedece a uma série de cisões e expulsões no seio da RENAMO, candidata-se comoIndependente, ganhando a Cidade da Beira por expressivos 61,6%, com a agravante de a RENAMO ter perdido nestas eleições de 2008, os restantes municípios que detinha, para a FRELIMO. Ou seja, 5 anos depois e com eleições Autárquicas marcadas para o próximo dia 20 de Novembro, o líder da RENAMO vê-se confrontado com a cruel realidade de uma mais que certa nova razia eleitoral. Por isso mesmo, o partido propositadamente não entregou as listas de candidatos às próximas autárquicas até à data limite, o passado dia 06 de Agosto, querendo agora negociar com a FRELIMO novas regras de jogo(entretanto já disseram que não participarão, na sequência deste ataque).
Pior, a dinâmica que Dhlakama desencadeou de forma involuntária ao eliminar Simango das suas opções políticas, reforçando assim a vitória deste, teve como resultado a criação do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em 2009, o qual é sobretudo constituido por dissidentes da RENAMO e por jovens "independentes", que nunca se reviram na habitual bipolaridade política moçambicana.
O MDM, liderado por Daviz Simango, orfão de Celina e do Reverendo Urias Simango (dissidentes da FRELIMO executados extra-judicialmente pelo partido, nas purgas que se seguiram à independência), ao apresentar-se como uma Terceira Via no Moçambique do Século XXI, meteu medo a toda a gente durante as Legislativas e Presidenciais de 2009, sobretudo ao "Partido-Estado", o qual apenas lhe permitiu concorrer a 4 de um total de 13 círculos eleitorais. Apenas conseguiram eleger 8 deputados, contra 51 da RENAMO e 191 da FRELIMO.
Ou seja, tendo a possibilidade de concorrer à totalidade dos 13 círculos eleitorais nas legislativas programadas para Outubro de 2014, o MDM poderá passar a ser o novo maior partido da oposição, reduzindo a RENAMO a um grupo armado sem financiamento e militarmente obsoleto.
Perante este cenário, compreendem-se as fugas para a frente sempre efectuadas por Afonso Dhlakama, as quais aliás têm agradado à FRELIMO, já que uma RENAMO afonsina tem sido sinónimo dumMoçambique frelimista. Os "Empresários de Sucesso" agradecem!

FRELIMO
"Partido-Estado" está tranquilo e por cima, nesta contenda. OPresidente Guebuza encontra-se aliás em campanha eleitoral precisamente por Sofala, podendo aqui facturar o crédito de aparecer perante as populações como garante de tranquilidade e segurança. Nem mesmo o facto de a RENAMO ter denunciado o Acordo Geral de Paz de 1992, para o qual Guebuza foi um dos pricipais negociadores, o preocupa. Sem financiamento nem potenciais financiadores, muito provavelmente com o mesmo material bélico e de comunicações dos tempos da Guerra Cívil, mais o cenário político acima descrito, a opção do Estado-Maior moçambicano em atacar a base da RENAMO, entra naquilo que poderemos considerar de lógico e racional em termos militares e políticos.
Mais, do ponto de vista internacional, ninguém tem interesse em apoiar a própria FRELIMO numa escalada militar, o que iria ser profundamente disruptivo para a "Nova Angola", conforme referiu Rui Newmann, jornalista da Portuguese News Network (PNN), atento e experimentado observador das realidades lusófonas, em contacto telefónico efectuado. Sobretudo agora com gás e petróleo à vista.
Por último e, o que deverá ser o verdadeiro sumo a retirar no futurodeste cenário de escaramuças e posterior negociação, poderá ser o deuma alteração constitucional, que permita ao PR Armando Guebuza a possibilidade de um 3º mandato. O assunto não é novo, tem-se aventado a gosto para o debate público durante os últimos 2/3 anos, no sentido de se sentir a temperatura popular.
Porquê? Porque os males da FRELIMO são exactamente os mesmos da RENAMO. Ou seja, a inevitavel crise geracional. A sucessão na FRELIMO assume-se como o actual grande desafio do partido, dividido entre a velha guarda legitimada pelos cabelos grisalhos da luta pela independência e a chamada "Geração da Paz". Seus filhos e netos, portanto. Uns mais competentes e outros mais mimados, mas todos com o sentimento de que a sua hora continua a ser adiada.

Movimento Democrático de Moçambique
O MDM continua assim a marcar a diferença, ao apresentar-se como um partido jovem e homogénio do ponto de vista geracional, formado por civis e não por ex-militares, cujos quadros anteriormente viram a criatividade ser constrangida pelo ideológico, quer pertencessem a partido político, ou não. Por outro lado, Simango vale votos como candidato presidencial (8,6% em 2009) e mais valerá caso Dhlakama, ou outro qualquer candidato RENAMO, decidir não aparecer a jogo. Um cenário de ausência da RENAMO nas Presidenciais de 2014, até poderá ser propositado, como forma de dificultar a vida ao rival FRELIMO e ajudar Daviz Simango a vingar a execução dos pais.
Quanto à guerra, parece-me não haver condições, nem interesse maior na existência duma escalada, sobretudo por uma rejeição total da população face a tal cenário. Quanto a escaramuças, irão certamente continuar, o que provocando um clima de tensão e de alguma insegurança, beneficiará a FRELIMO, ajudando a confirmar a necessidade de um Guebuza III até 2019.
EXPRESSO(Lisboa) – 29.10.2013


28 outubro 2013

ORDEM DE ATAQUE A 8 DE SETEMBRO DE 1974

O texto que se reproduz com vénia do Correio da Manhã (de Lisboa), edição de 21 de Outubro de 2013, é um depoimento de Pedro Silva, recolhido por Marta Martins Silva. Reporta-se aos eventos ocorridos após o anúncio, em Moçambique, numa emissão da Rádio Clube de Moçambique, do chamado Acordo de Lusaka, na noite do dia 7 de Setembro de 1974, um sábado. Nos termos desse documento, à meia-noite desse dia entraria finalmente em vigor um cessar-fogo entre a Frente de Libertação de Moçambique e as Forças Armadas portuguesas. E o poder de Estado seria entregue à Frelimo dali a uma semana. Maioritariamente nas cidades, maioritariamente brancos vieram para as ruas, expressaram repúdio pelos termos do Acordo e tomaram de assalto a Rádio Clube de Moçambique, a principal emissora de rádio do então Estado de Moçambique, de onde foram feitos alguns apelos à resistência, maioritariamente sem qualquer efeito prático. Samora Machel e a cúpula da Frelimo nunca perdoaram este acto de insolência, que foi rapidamente rotulado como "reaccionarismo colonialista e racista" e debelado maioritariamente pelas próprias forças armadas portuguesas. No espaço de um ano, a esmagadora maioria dos que puderam, a maior parte dos quais viveu quase toda a vida sob a ditadura de Salazar,  foram-se embora da nação nascente, que desceu numa espiral de recessão, de guerra e num invulgarmente radical experimento de opressão comunista.
O depoimento de Pedro Silva:
"Fomos homens da chefia e reconhecimento de transmissões, desconhecidos até agora, mas orgulhosos do nosso trabalho.
Completada a recruta, fui para a especialidade de radiotelegrafista e, depois da promoção a 1º cabo, fui enviado para o ex-BRT (Batalhão de Reconhecimento de Transmissões), passando a operador de segurança de transmissões. Passei alguns meses no Quartel General em S. Sebastião da Pedreira, Lisboa, na intercepção, escuta e gravação das rádios ao tempo consideradas anti-Estado Novo. Embarquei para a Região Militar de Moçambique a 19 de outubro de 1972 em rendição individual, dado que a nossa acção era estritamente confidencial."
A primeira página do folheto posto a circular aquando do anúncio público, em Moçambique, do acordo entre os militares portugueses e a guerrilha da Frelimo.
"Em Moçambique vivi o célebre 8 de setembro de 1974 [sic], e é aqui que começa uma história que para nós (eu e o 1º cabo Ferreira) ficou marcada nas nossas vidas.
Nesse dia fomos procurados por ordem do nosso comandante, Capitão António Melo de Carvalho, para, uma vez conhecedores das redes de transmissão da Frelimo, tentarmos estabelecer ligação, e posterior diálogo, com algumas das várias estações de onde emitiam os seus comunicados e informações.
O intuito era fazê-los compreender que, apesar da revolução incentivada por colonos em Lourenço Marques, Beira e Nampula, estava tudo sob controlo, pelo que o Acordo de Lusaca seria respeitado pelo MFA.
Isto depois de termos interceptado várias mensagens da Frelimo que diziam que, devido à revolta perpetrada pela população civil, o Acordo de Lusaca – que deveria entrar em vigor no dia 8 de setembro às 00h00 – não passava de um embuste. Samora Machel, numa mensagem interceptada por nós, deu ordens no sentido de atacar tudo e todos."
O verso do folheto.
"Estava portanto iminente um ataque sem precedentes às nossas tropas, praticamente desarmadas, e à espera de um regresso feliz. Eu e o meu camarada, Vítor Ferreira, sob as ordens do Capitão Melo de Carvalho, iniciámos, no comando de transmissões, tentativas para travar aquilo que seria, em nosso entender, uma chacina.
A primeira mensagem, emitida por mim, foi a seguinte: ‘Aqui Movimento das Forças Armadas em Moçambique. Para: Comandos da Frelimo. Concordamos com os Acordos de Lusaca. Pedimos que não ataquem posições tropas portuguesas. Pedimos vossa colaboração no sentido de eliminarmos grupos reaccionários. Saudações.’
Mensagem circulada no dia 8 de Setembro de 1974. Fonte: História das Transmissões Militares, Portugal.
"Numa primeira instância, os operadores da Frelimo ficaram desconfiados e não responderam logo. Mais tarde, disseram-me que não compreendiam. Para fazerem uma ideia, interceptávamos cerca de 120 letras por minuto. Insisti mais uma vez, e agora, com o mesmo remetente, MFA, mas como destinatário o ‘Camarada Presidente Samora Machel’.
Era o meu camarada Vítor Ferreira que ia registando todas as respostas dadas. O teor das nossas mensagens tinha como fim, única e simplesmente, evitar um ataque que já não era esperado e muitas outras foram enviadas neste nosso exaustivo trabalho. Foi depois das diligências efetuadas através da troca de mensagens que tudo começou a ficar mais claro, e se foi resolvendo sem recurso às armas."
Mensagem circulada na 3ª feira, dia 17 de Setembro de 1974, data de início do Ramadão muçulmano. Dali a três dias, em sessão solene em Maputo, o poder de Estado era entregue ao Governo de Transição, dominado pela Frelimo e liderado por Joaquim Chissano, então com 34 anos de idade (faria 35 anos de idade no dia 22 de Outubro desse ano) . Fonte: História das Transmissões Militares, Portugal.
"Conseguimos falar com os operadores da Frelimo e as nossas mensagens seguintes foram retransmitidas para todos os postos da Frelimo e para o seu Presidente. Após todas estas diligências, [o Acordo de] Lusaca foi em frente e um dos dirigentes da Frelimo, e futuro presidente de Moçambique, fez questão de nos conhecer pessoalmente, dizendo que os nossos nomes iriam ficar na história da independência do país. "

Nota: Pedro Silva, hoje com 63 anos de idade, prestou serviço militar em Moçambique entre 1972 e 1974 na Cheret (Chefia e Reconhecimento de Transmissões). Na altura dos eventos que descreve tinha 24 anos de idade.


24 outubro 2013


MOÇAMBIQUE: DE VOLTA À GUERRA

Por João Carlos Barradas*
Num país miserável, corrupto q.b. e com rios de dinheiro para dar a ganhar, Dhlakama mais depressa será morto pouco lamentado do que parceiro menor no grande esquema da prosperidade que calhará a uns quantos.
Um ano depois de Afonso Dhlakama ter acantonado os seus guerrilheiros na Gorongosa o conflito entre a FRELIMO e RENAMO está ao rubro com ameaça de retorno à guerra civil.
A intensidade e duração do confronto vai depender dos apoios que Dhlakama consiga mobilizar entre as populações rurais e os deserdados dos centros urbanos em Tete, Sofala, Manica e Nampula, províncias onde a influência da RENAMO poderá revelar-se maior.
Há ampla margem de manobra para o aliciamento de descontentes, pois mais de metade dos 25 milhões de moçambicanos subsiste abaixo da linha de pobreza: 54,7% segundo o último apuro oficial de 2009 -- com relevo para a degradação das condições de vida na Zambézia -- que constata ter sido impossível a partir da primeira década deste século reduzir disparidades sociais e o número absoluto e relativo de indigentes.

De todo o país chegam notícias de actos de banditismo, linchamentos, caça a bruxas e feiticeiros, e na capital os motins de 2008 e 2010 obrigaram o governo a desistir de aumentos de produtos básicos como o pão ou serviços essenciais como os deploráveis transportes públicos.
Os novos ricos de Maputo, entretanto, começam a emular os tiques de seus confrades de Luanda, mas Moçambique ainda queda atrás de Angola no Índice da "Transparência Internacional".
De Pemba a Maputo não há, por enquanto, multimilionários para apresentar e entre 176 estados considerados na percepção da corrupção Moçambique é 123.º na tabela face à bem mais degradada 157.ª posição de Angola. 
O quinhão da RENAMO
O acordo de paz moçambicano assinado em Roma em 1992 resultou da exaustão dos combatentes e não, conforme veio a suceder uma década depois em Angola, de um triunfo militar sobre um inimigo desbaratado e desorientado pela morte do seu líder carismático. 
Desaparecidos o apoio da Rodésia de Ian Smith e da África do Sul que sustentaram desde 1975 a guerrilha de André Matsangaissa e, após a sua morte em 1979, de Dhlakama, a RENAMO persistiu numa guerrilha destrutiva em que a única exigência política compreensível passava por uma partilha de poder e eventuais receitas da exploração de recursos naturais.
A FRELIMO, por sua vez, descartou o marxismo-leninismo, mantendo, contudo, as alavancas do poder estatal e dos negócios, apoiada nas ajudas internacionais.
Dádivas e empréstimos a juros favoráveis no ano passado deveriam equivaler a 41,4% do orçamento, mas por contrariedades diversas, incluindo a recusa de países como a Holanda a subsidiarem programas sem garantias de transparência e supervisão independente, ficaram pelos 27% da despesa pública a acreditar no ministro das Finanças, Manuel Chang. 
Depois de 1992, Dhlakama, sem base regional segura ou recursos económicos próprios – nunca contou com os diamantes que sustentaram Jonas Savimbi –, viu o grosso do dividendo da paz ser repartido pelas gentes da FRELIMO que garantiram igualmente os principais comandos militares e evitaram sempre que possível a integração paritária de antigos guerrilheiros.
A RENAMO foi incapaz de se afirmar nas sucessivas eleições e não apenas por causa dos recenseamentos privilegiarem áreas favoráveis ao governo, a distribuição de locais de voto prejudicar a oposição ou devido ao sistema de clientelismo alimentado pelo estado.
A principal razão do fracasso de Dhlakama nas eleições presidenciais de 1994, 1999, 2004 e 2000 tem que ver com a incapacidade de formular alternativas políticas coerentes e agitar recorrentemente a ameaça de retorno à contestação armada.

Há dinheiro a ganhar
A exasperação de Dhlakama, chefe sem pecúlio para distribuir, tornou-se cada vez maior à medida que começaram a entrar nos cofres do estado e em negócios paralelos as receitas das concessões de carvão e, em particular, de gás natural cujas explorações "off shore" na estimativa governamental poderão propiciar 5,2 mil milhões de dólares em 2026. 
Apesar da carência de mão-de-obra especializada, da insuficiência da produção e abastecimento de electricidade, da péssima rede ferroviária e rodoviária, da degradação e mediocridade de instalações portuárias e aeroportuárias, o investimento estrangeiro passou de 2,6 mil milhões de dólares em 2011 para 5,2 mil milhões de dólares no ano passado. 
As estatísticas moçambicanas são a ironia de um país que crescerá este ano mais do que a média de 8% que se vem verificando desde 1996, mas classificado na 185.ª posição entre os 187 países recenseados no "Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas". 
Moçambique terá agora de passar pelo boicote da RENAMO às eleições autárquicas de Novembro, tal como ocorreu em 1998, e caberá à FRELIMO, sobretudo se tiver a inteligência de cativar o "Movimento Democrático de Moçambique" de Daviz Simango, criar condições para isolar Dhlakama e apresentar um sucessor aceitável a Armando Guebuza em 2014.
A FRELIMO dificilmente conseguirá sufocar a RENAMO a curto prazo e um forte incremento do banditismo e da insegurança é de esperar, mas num país miserável, corrupto q.b. e com rios de dinheiro para dar a ganhar, Dhlakama mais depressa será morto pouco lamentado do que parceiro menor no grande esquema da prosperidade que calhará a uns quantos. 

JORNAL NEGÓCIOS(Lisboa) – 23.10.2013
ANALISTA ALEMÃO DUVIDA QUE RENAMO POSSA TER A MESMA FORÇA QUE TINHA NA GUERRA CIVIL

Ao anunciar o fim do Acordo Geral de Paz de 1992, a RENAMO mostra estar pronta para um confronto armado contra o Governo da FRELIMO. O analista alemão Rainer Tump explica o crescente clima de tensão entre os partidos.
Durante a guerra civil em Moçambique, o chamado "Tete-Run", o Corredor de Tete, entre o Malawi e o porto da Beira tornou-se lendário. Esta estrada era tida como extremamente perigosa, pois os rebeldes da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) atacavam com frequência os automóveis e camiões que por lá passavam.
Agora, após 21 anos de paz, o perigo pode voltar às estradas. Isto porque a RENAMO pôs fim ao Acordo Geral de Paz que assinou com o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) em 1992.
Ouça aqui

Agudizaram-se as tensões entre Governo da FRELIMO e RENAMO
Nos últimos meses, agudizaram-se as tensões entre o maior partido da oposição moçambicana e o executivo da FRELIMO. Segundo o conselheiro alemão em assuntos de desenvolvimento, Rainer Tump, "nos últimos anos, a RENAMO tem vindo a pôr-se cada vez mais na defensiva, porque não conseguiu ser bem sucedida nem em eleições nacionais, nem em eleições autárquicas. Foi sobretudo por isso que o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, se retirou", reitera o analista.
Em sinal de protesto, Dhlakama ocupou a antiga base da RENAMO em Santunjira, Gorongosa, no centro do país. Foi a partir daí que criticou a preponderância da FRELIMO no aparelho de Estado e pediu para participar mais nas decisões políticas.
Rainer Tump acompanha há décadas a situação em Moçambique, foi durante algum tempo director da organização não-governamental Comité Coordenador Moçambique-Alemanha, o KKM, e este ano já esteve várias vezes no país. Nas suas viagens, ficou surpreendido com a maneira como a população civil olhava para as acções da RENAMO, por vezes bastante violentas.
Populares compreendem acções da RENAMO, diz Tump
Conta que "as pessoas começavam sempre por dizer: 'sim, o que a RENAMO está a fazer não é nada bom, mas entendemos por que o fazem. A RENAMO está a ser encostada à parede pelo Governo. A RENAMO não tem qualquer hipótese, pois é muitas vezes vítima de fraudes eleitorais'. Ou seja, há uma grande compreensão. E penso que o Presidente moçambicano tem grandes culpas nesta situação", afirma Tump.
Segundo o analista alemão, o domínio da FRELIMO no aparelho de Estado aumentou significativamente desde que o Presidente Armando Guebuza foi empossado em 2005.
Rainer Tump acredita que, no passado, a RENAMO saiu várias vezes prejudicada das eleições. Para ele, a comunidade internacional devia ter actuado, pelo menos, na segunda volta das presidenciais de 1998. Conta que nesse período, "houve uma manipulação maciça dos resultados eleitorais". Consideraram-se inválidos centenas de milhares de votos em bastiões da RENAMO e face a isto, "a comunidade internacional devia ter pedido uma verificação", diz o analista.
"Alguns países escandinavos ainda o chegaram a fazer, mas outros, como a Alemanha, não apoiaram suficientemente a iniciativa. Assim, a FRELIMO ficou a saber que podia fazer isso porque estava num país economicamente emergente. 'A comunidade internacional quer estabilidade, por isso podemos continuar a manipular os votos'", explica Tump.
Rainer Tump duvida que, a nível militar, a RENAMO possa voltar a ter a força que tinha durante a guerra civil. No conflito, em que morreram cerca de 900 mil pessoas, os rebeldes da RENAMO foram apoiados pelos regimes de 'apartheid' da Rodésia (hoje Zimbabué) e da África do Sul.

Economia crescente
Actualmente, Moçambique é uma das economias que mais cresce no mundo – tem uma taxa de crescimento anual de cerca de 7%. O conflito com a RENAMO poderia trazer consequências nefastas para os negócios. Sobretudo no que diz respeito à indústria do carvão.
Na província de Tete, empresas como a brasileira Vale ou a britânica Rio Tinto, investiram vários mil milhões de dólares na exploração de recursos naturais.
Para exportar carvão, estão dependentes da Linha ferroviária de Sena e das estradas que passam pelos bastiões da RENAMO, na província de Sofala. Por isso, Rainer Tump prevê dois cenários: "Ou a RENAMO ficou tão enfraquecida e divida com a tomada da sua base que não vai conseguir reagrupar-se a nível militar. Ou então, atacará fortemente as ligações na província de Sofala, o que fará com que as grandes empresas mineradoras comecem a ter problemas".
Tendo em conta a queda dos preços do carvão a nível mundial, transportar carvão na estrada de "Tete-Run" e nas linhas ferroviárias ameaçadas pelos rebeldes poderia tornar-se demasiado perigoso e demasiado caro. E devido ao maior risco do país, os bancos poderiam começar a exigir mais seguranças e juros mais altos para os seus empréstimos ao sector mineiro em Moçambique, alerta Rainer Tump.
DW – 23.10.2013

21 outubro 2013

“A FRELIMO DE HOJE NÃO ACEITA A CRÍTICA  E MUITO MENOS FAZER AUTO-CRÍTICA” - Jorge Rebelo

Jorge Rebelo tido como uma das reservas morais do Partido Frelimo concedeu uma longa entrevista ao Semanário Savana, onde apresenta a sua opinião relativamente a figura de Samora, aproveitando a ocasião para  mostrar a sua preocupação em relação a situação actual da Frelimo que na sua opinião os dirigentes não aceitam crítica e nem fazem auto-crítica. Também mostrou a sua preocupação pelo facto de existirem muitos lambebotas, ou seja, pessoas que vivem bajulando os dirigentes considerando as suas acções como sendo sempre boas. Lamentou ainda o facto de até ao presente momento não ter-se indicando a figura que irá suceder  ao Guebuza nas próximas eleições de 2014.Leia a entrevista na íntegra bastando clicar em :

16 outubro 2013

OBRA FALA SOBRE A HISTÓRIA DE GUNGUNHANA
Capa do livro


“O Rei do Monte Brasil” ganha prémio
O romance “O Rei do Monte Brasil”, da autoria Ana Cristina Silva, venceu o Prémio Literário de Novela e Romance Urbano Tavares Rodrigues, destinado a obras literárias que tenham sido escritas por docentes.
Editado em Agosto de 2012 pela Oficina do Livro, o romance aborda acontecimentos históricos no finais do século XIX, altura em que o oficial de cavalaria Joaquim Mouzinho de Albuquerque fez uma campanha, ao serviço do Rei D. Carlos, no coração de África com o objectivo de subjugar as tribos locais à administração colonial portuguesa.
Tendo em vista alcançar esse objectivo, Mouzinho de Albuquerque queima aldeias, mata os insubmissos e, desobedecendo a ordens superiores, captura o detentor de um império vasto, Gungunhana, levando-o para Portugal como troféu e que acaba exilado no Monte Brasil até ao fim dos seus dias.
Com uma alternância de vozes narrativas que apresentam duas versões muito distintas do mesmo conflito, “O Rei do Monte Brasil” explora as memórias dos seus protagonistas até à véspera da morte.
A cerimónia de entrega do prémio, com um valor pecuniário de 7500 euros (cerca de 304.500 meticais), decorreu no passado sábado.
Sinopse na obra
Em finais do século XIX, o oficial de cavalaria Joaquim Mouzinho de Albuquerque interna-se, ao serviço do rei D. Carlos, no coração de África com o objectivo de subjugar as tribos à administração colonial portuguesa; para isso, porém, queima aldeias inteiras, mata os insubmissos e, desobedecendo a ordens superiores, captura com espectacularidade o detentor de um império vastíssimo, Gungunhana, que traz para Portugal como troféu e acaba exilado nos Açores até ao fim dos seus dias.
Apesar de recebido pelo povo e aclamado pela imprensa como um herói da pátria, a crítica ao comportamento pouco ético de Mouzinho nos corredores do Paço, a indiferença do governo em relação aos seus planos para África e a paixão nunca abertamente confessadas por D. Amélia acabam por levá-lo ao suicídio.
Mas, se a notícia escandaliza o país (Portugal), a verdade é que é lida com entusiasmo e sentimento de justiça por um Gungunhana já velho e destroçado, que passa os dias escondido na floresta do Monte Brasil, o local que encontrou na ilha Terceira...  que mais se assemelha à terra dos seus antepassados.
Com uma alternância de vozes narrativas que nos oferecem duas versões muito disintas do mesmo conflito, O Rei do Monte Brasil explora as memórias  dos  seus  protagonistas às vésperas da morte, ilustrando-nos  sobre  a  sua infância, as suas paixões marcantes, as atrocidades para as quais encontram sempre justificação e, de certa forma, a reflexão sombria sobre a decadência e a glória perdida.
CORREIO DA MANHÃ – 15.10.2013
                                                                         

Nota do blog: Quem é Ana Cristina: ANA CRISTINA SILVA nasceu em Vila Franca de Xira, a 11 de Novembro de 1964. Professora no ISPA [Instituto Superior de Psicologia Aplicada] desde 1992, concluiu o doutoramento em Psicologia, na Especialidade de Psicologia da Educação pela Universidade do Minho em 2001, desenvolvendo investigação neste domínio. Tem artigos científicos publicados em revistas e obras colectivas portuguesas e estrangeiras. A sua estreia literária ocorreu em 2002 com a publicação do romance Mariana, Todas as Cartas. Em 2012, o seu romance Cartas Vermelhas foi seleccionado para o Prémio Fernando Namora, facto que se repetiu em 2013, com a obra O Rei do Monte Brasil.

13 outubro 2013

ISABEL DOS SANTOS, A MULHER MAIS RICA DE ÁFRICA

Isabel dos Santos

Isabel dos Santos é a mulher mais rica da África, a mais jovem bilionária do continente - e filha do presidente de Angola. A maneira pela qual ela acumulou sua fortuna de US$ 3 bilhões diz muito sobre a cleptocracia que cresce no mundo em desenvolvimento e envolve altas cifras.
Leia aqui na edição brasileira da Revista Forbes de Setembro passado   

08 outubro 2013

LINHA POLÍTICA DO REGIME DA FRELIMO ENDURECE AS SUAS POSIÇÕES FACE AO CONTROLE DOS ORGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Jorge Fernando Jairoce

É preocupante a notícia veiculada que dá conta de que Edson Macuácua, Porta-Voz do Presidente da República, promoveu recentemente, uma reunião com quadros jornalistas e comentadores, vulgo painelistas, dos principais Órgãos de Comunicação Social (OCS) públicos e privados de onde produziu-se uma lista de 40 comentadores autorizados pelo regime para emitir opinião pública nos principais Órgãos de Comunicação Social (OCS) do País face ao desempenho do Governo.
Recorde-se que no ano passado (2012), o Edson Macuácua na qualidade do Secretário de Mobilização e Propaganda do Partido Frelimo, promovera um encontro similar na sede do Comité Central do Partido que segundo a Africa Monitor Intelligence Edson Macuácua como principal orador do encontro referiu o seguinte:

“- Proliferam nos OCS críticas à Frelimo; é preciso moderar ou alterar essa evidência, através de medidas dos responsáveis editoriais.
- Há eleições autárquicas em 2013 e gerais em 2014; para assegurar uma vitória da Frelimo é necessário promover um clima de aproximação do partido com o eleitorado e a população; e as críticas à Frelimo desfavorecem esse desiderato.
- Os responsáveis que não procederem em conformidade com a criação de um clima mais benigno para a Frelimo poderiam estar a pôr em causa os seus lugares, “porque a Frelimo tem esse poder” (sic)”.

Este método maquiavélico demostrado pela Frelimo representado pelo Edson Macuácua e coadjuvado pelo Renato Matusse, Gabriel Muthisse e Alberto Nkutumula (membros presentes no encontro) revela uma cultura antidemocrática, anticonstitucional, de desespero, de intolerância e da ausência de limites partido e o Estado (da qual todos nos participamos e pagamos impostos e como tal ela não é propriedade de nenhum partido político). Fala-se actualmente da liberdade de expressão em vários sectores da sociedade, aliás é um direito humano universal, que deve funcionar na família, igreja, escola, enfim, em todos outros espaços públicos, então não se justifica que em pleno século XXI haja cidadãos em Moçambique que querem destruir o pouco que já conseguimos em Moçambique em termos de liberdade de expressão. Hoje a preocupação é silenciar os OCS, o meu receio é que esta cultura evolua e amanhã comecem a silenciar os intelectuais nas universidades, os religiosos nas igrejas e outros espaços que trabalham com a opinião pública, aliás é um fenómeno que já tem estado a ocorrer porque o regime julga-se proprietária dos órgãos dos públicos e estatais. O período de totalitarismo, fascismo, nazismo, stalinismo e corporativismo estatal já passou na história do mundo. Parece ainda existirem saudosistas destes tempos. É necessário que estes cidadãos não se que esqueçam que a cultura corporativista estatal sempre trouxe consequências negativas para o mundo com a morte de milhares de pessoas. Podem silenciar as pessoas de falar, mas jamais poderão silenciar a capacidade de pensar e exprimir seus pensamentos em outros fóruns. Os indivíduos que pretendem regredir o País quanto a liberdade de expressão candidatam-se a entrar como vilões na História do País, aliás, há um ditado popular que diz: “a justiça dos homens prescreve, mas a justiça da história ela é permanente”, isto para referir que estes cidadãos demagogos têm o seu espaço na História. O mundo está repleto de relatos de consequências nefastas do silenciamento da imprensa. É só observar o caso da Síria, Tunísia, Líbia, China, só para citar alguns exemplos. Deixemos que os jornalistas e os comentadores façam o seu trabalho. Ter receio de críticas é sinónimo de insegurança, de desespero e fraqueza espiritual, pelo contrário deveríamos estimular e aproveitar a crítica para melhorar o nosso desempenho profissional. O desenvolvimento do país depende destas análises e críticas (entendido como debates de ideias) porque só assim é que podemos enxergar as nossas deficiências e lacunas e através de diálogo e tolerância promovermos acções mais eficazes para o almejado desenvolvimento. Será que Edson Macuácua e a cúpula tem consciência do que erro que estão a cometer?
Gostaria por fim de recordar a famosa frase que deu título ao livro de Marcelo Mosse e Paul Fauvet “É proibido pôr as algemas nas palavras”. Esta frase esta bem patente na memória dos cidadãos moçambicanos.
Consulte a lista dos principais comentadores autorizados:
http://macua.blogs.com/files/savana-1020.pdf

02 outubro 2013

THE BATTLE FOR MOZAMBIQUE, por Stephen Emerson

The Frelimo–Renamo Struggle, 1977–1992

The sixteen-year-long war in Mozambique between the Frelimo government and Renamo rebels remains one of the most overlooked and misunderstood of the conflicts that raged across Africa during the height of the Cold War. While usually viewed as mere sideshow to more high-profile wars in Angola, Rhodesia and within apartheid South Africa itself, it nonetheless is noteworthy in its complexity, duration and destructiveness. Before it was all over in 1992 at least one million Mozambicans would be dead, millions more homeless and the country lying in ruins. Ultimately Frelimo would get its victory not on the battlefield but rather at the polling booth in 1994.

 Based on more than a decade of meticulous research, a review of thousands of pages of military records and documents, and dozens of in-depth interviews with political leaders, diplomats, generals, and soldiers and sailors, this book tells the story of the war from the perspective of those who fought it and lived it. It follows Renamo’s growth from its Rhodesian roots in 1977 as a weapon against Robert Mugabe’s Zimbabwean nationalist guerrillas operating from Mozambique through South African patronage in the early 1980s to Renamo’s evolution as a self-sufficient nationalist insurgency. In tracing the ebb and flow of the conflict from the rugged mountains and savannah forests of central Mozambique across the hot, humid Zambezi River valley and down to the very outskirts of the Mozambican capital in the far south, it examines the operational strategy of Frelimo and Renamo commanders in the field, the battles they fought and the lives of their troops. In doing so it highlights personal struggles, each side’s successes and failures, and the missed opportunities to decisively turn the tide of war. Accordingly, this book provides the first real comprehensive military history of a war too long neglected and underappreciated in the chronicles of modern African history