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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

28 agosto 2012

VALENTINA GUEBUZA- A PRINCESA MILIONÁRIA SEGUNDO A REVISTA FORBES

VALENTINA  GUEBUZA- A PRINCESA MILIONÁRIA SEGUNDO A REVISTA FORBES DE AGOSTO DE 2012

Filhos do PR Armando Guebuza: Armando Ndambi, Valentina e  Mussumbuluko



Valentina: empresária emergente


O primeiro registo de Valentina nas lides empresariais data de 2001, quando, com o seu pai que alterava a estrutura accionista, o pacto, as quotas e os sócios, entrava com os seus irmãos, Armando Ndambi Guebuza, Mussumbuluko Armando Guebuza, na Focus 21, Gestão e Desenvolvimento, Limitada.


Quatro anos mais tarde, em 2005, em mais uma mudança da estrutura da mesma sociedade, com mais uma alteração do pacto, sócios e quotas, Valentina manteve-se na Focus 21 com o seu pai e irmãos, entrando a sua irmã mais nova Norah Armando Guebuza.


Em 2007, Valentina daria aquilo a que se chamaria de salto quantitativo ao constituir-se accionista da Beira Grain Terminal, SA. A ela se juntaram nesta sociedade várias instituições tais como os CFM – Portos e Caminho de Ferro de Moçambique, EP (empresa pública em que Rosário Mueleia é hoje o Presidente do Conselho de Administração depois de ter sido governador de províncias e mais recentemente vice-ministro do Turismo do Governo do seu pai cargo de que foi exonerado para exercer as suas novas funções); a Cornelder de Moçambique, SARL (onde o seu pai é accionista), Nectar Moçambique, Limitada, Sonipal, Limitada, Seaboard Moz, Limited, Rainbow Internacional, FZCO, CFI Holdings, Limited e a Merec Industries, Limitada. De salientar que nesse ano o seu pai cumpria o segundo ano do seu primeiro mandato como Presidente da República.



O principal objecto social desta sociedade, que se constituiu com um capital de dois milhões e setecentos mil meticais da nova família, é “a operação de um terminal de cereais a granel, no Porto da Beira, em Moçambique”. Dois e meio por cento do capital social desta empresa são de Valentina Guebuza..



No ano seguinte, 2008, Valentina da Luz Guebuza, junto com o seu irmão Mussumbuluko Armando Guebuza e do tio José Eduardo Dai – primo de primeiro grau de Tobias Dai, irmão de Maria da Luz – e das instituições Rachana Global Limitada e da também “sua” Focus 21, constituíram a Crosswind Holdings, S.A., uma sociedade que tem como principal objecto social “o exercício da actividade de construção e desenvolvimento de infra-estruturas”.



No mesmo ano (2008), Valentina da Luz Guebuza e o seu tio José Dai constituíram a Servicon, Limitada, que tem como objecto social a “actividade mineira”.



Ainda em 2008, novamente com o seu tio José Dai e o irmão Mussumbuluko e Carlos Nicolau Salvador Júnior, constituíram a Orbttelcom, Limitada, uma sociedade que tem por objecto social “a informática e telecomunicações (venda de serviços e equipamento, nomeadamente: instalação de infra-estruturas de rede, fibra óptica, back up de dados e recuperação de desastre de dados, fornecimento de internet banda larga por satélite, cablagem de corrente eléctrica filtrada, e cablagem telefónica) ”.



Em 2009, Valentina entra na Moçambique Desenvolvimento & Investimentos, Limitada, que pouco tempo antes havia sido constituída por Voo Chong Min e Lilla Szakmeister. Esta sociedade foi criada em Maio de 2009, e em Julho do mesmo ano, isto é, dois meses depois, Valentina e o seu tio José Dai entraram para a sociedade que alterou o seu pacto e criou quotas para os acomodarem.



O objecto social desta vai desde “o comércio geral de importação e exportação de equipamentos comerciais e industriais, incluindo viaturas, materiais de construção, peças sobressalentes de viaturas; indústria alimentar, como massas esparguete e produtos lacticínios (queijo e outros produtos derivados de leite); Indústria de embalagens plásticas (garrafas e outros utensílios); Promoção e controlo de projectos de construção; Serviços de transporte de passageiros e carga; Criação de banca; a Criação de campos desportivos”.



Este ano, de acordo com os registos publicitados pelo BR, isso no mês de Março, Valentina juntou-se a Luís Filipe Pereira Rocha Brito e constituíram a IMOGRUPO - Investimentos e Participações, Limitada. Esta sociedade, com um capital inicial de quinhentos mil meticais, tem no seu objecto social áreas que vão desde a imobiliária, elaboração de estudos de arquitectura, engenharia, construção civil, hotelaria e turismo, entre outros propósitos.

No ano passado, algum órgão de comunicação social referiu que Valentina tinha interesses no parque automóvel do mercado Central, concedido pelo Município de Maputo, e no jardim Tunduro.


As obras de reabilitação do Jardim Tunduro estão a ser financiadas, segundo tornou-se público, por algumas instituições, entre elas o CFM, parceira de Valentina Guebuza, na Beira Grain Terminal, SA.



Valentina deve ter nascido entre 1979 e 1980, segundo parentes próximos. Ela segue Armando Ndambi Guebuza, nascido em 1977, durante as cheias que fustigaram o arrozal do Chókwè, sendo por isso que o seu pai – então ministro do Interior e Comissário Político Nacional – conforme referido na sua biografia escrita por seu assessor Renato Matusse – enviado por Samora Machel a província de Gaza, decidiu baptizá-lo por Ndambi, que nas línguas bantu do Sul do Save significa cheias. (Luís Nhachote) (CanalMoz-25/03/2011)

Acaba de cair mais uma mentira da Frelimo sobre a história de Moçambique

Acaba de cair mais uma mentira da Frelimo sobre a história de Moçambique



EDITORIAL


“Bem-aventurado o dirigente político que não tem medo da verdade nem dos meios de comunicação, porque no momento do julgamento responderá só ante Deus, não ante os meios de comunicação” – Cardeal Francisco Javier Van Thuan, Bispo vietnamita que passou treze anos em uma prisão durante o regime comunista do Vietname.

Aqueles que conquistaram e se mantêm no poder à custa da mentira, da ocultação da verdade e recorrem às mais infames formas de manipulação da opinião pública estão nervosos e com medo. Vivem inseguros. Já não conseguem esconder a verdade. A cada dia que passa um novo facto se revela e uma velha mentira se desmorona. E, tal como as mentiras, desmorona a legitimidade de quem usou a mentira para açambarcar o poder.


A História de Moçambique que hoje é ensinada oficialmente nas escolas está feita de muitas mentiras.

Mentiras que a cada dia vão caindo. E quem as construiu vê-se obrigado a dar explicações ao Povo ou a se tornar arrogante e tentar descredibilizar quem trás as verdades que procuravam esconder.

A 03 de Fevereiro de 2006, um ano anos após deixar os 18 anos da presidência da República, Joaquim Chissano foi confrontado pelo Canal de Moçambique que viria a ser fundado a 07 de Fevereiro, então jornal diário electrónico e hoje semanário, sobre o local da morte de Eduardo Mondlane. Vendo-se sem espaço para continuar a contar a mentira que ele e seus camaradas instituíram e oficializaram em Moçambique, Chissano assumiu que Eduardo Mondlane havia morrido numa casa de praia de Bety King, secretária de Janeth Mondlane, esposa do primeiro presidente da Frente de Libertação de Moçambique.



Foi apenas uma revelação das várias verdades ocultas, omitidas ou escamoteadas.

Nesta edição do Canal de Moçambique trazemos em tema de capa mais uma revelação que destrona outra das muitas mentiras que um punhado de “camaradas” acumulou para se auto-proclamarem obreiros da marcha rumo à Independência Nacional.


Um documento dactilografado, datado e assinado pelos seus autores revela quem foram realmente os quatro cidadãos moçambicanos que ousaram unir seus dois movimentos (MANU e UDENAMO) para formar a FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique, em Accra, no Gana, e não em Dar-Es-Salaam, na Tanzania, como tem vindo a ser ensinado aos moçambicanos.



Esses cidadãos que realmente criaram a FRELIMO foram transformados em vilões, reaccionários e apagados da história, por quem está hoje no poder e a declarar-se dono da FRELIMO, desde há cinco décadas.



A história verdadeira de Moçambique está aos poucos a aparecer comprovada por documentos e aos poucos o Povo Moçambicano vai sabendo do que é capaz quem tanto fez para crermos que se tratava de gente com princípios.


Os meios de comunicação que veiculam informações não manipuladas, entre os quais o Facebook, é natural que criem aversão a quem nunca imaginou que seria contemporâneo de instrumentos que acabariam por devolver o mérito a quem o tem e expor a hipocrisia dos mitómanos compulsivos.


Valham-nos os que se recusam a serem apóstolos da mentira. Acaba de cair mais uma mentira da Frelimo sobre a história de Moçambique



Canal de Moçambique – 22.08.2012

DOCUMENTÁRIO GUERRA DE ÁGUA- LÍCINIO DE AZEVEDO


DOCUMENTÁRIO GUERRA DE ÁGUA- LÍCINIO DE AZEVEDO

Clique no link abaixo:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wmmoZ_8SVoo#t=0s

FILME MOÇAMBICANO - TEMPO DOS LEOPARDOS

FILME MOÇAMBICANO - TEMPO DOS LEOPARDOS

Clique no link abaixo para assistir:
http://www.youtube.com/watch?v=oMp8rMqELyo&feature=player_embedded

Sobre Mozambique

 Sobre Mozambique

By Colin Darch´s




I moved to Mozambique at the beginning of 1979 to take up the position of documentalist at the Centro de Estudos Africanos (CEA) in the Universidade Eduardo Mondlane. At that time the director of the CEA was Aquino de Bragança, and the research director was Ruth First.


Decoration

Writings



♦ With David Hedges, ‘Não temos a possibilidade de herdar nada de Portugal': as raízes do exclusivismo político em Moçambique, 1969-1977. In: Territórios da língua portuguesa—culturas, sociedades, políticas: anais do IV Congresso Luso-Africano-Brasileiro, 1 a 5 de setembro de 1996, edited by Glaucia Villas Bôas (Rio de Janeiro: IFCS, 1999), pages 135-149.

♦ Problems in the training and education of LIS practitioners in Portuguese-speaking Africa: the case of Mozambique. In: Education for librarianship and information science in Africa, edited by Michael Wise (Uppsala: Uppsala University Library, 1999), pages 35-55.


♦ In the name of justice. African Agenda vol.1 no.5, 1995, pages 42-44.

Review of Bill Minter's book Apartheid's contras: an inquiry into the roots of war in Angola and Mozambique (1994).


♦ The book trade and publishing in Mozambique. African Book Publishing Record, vol.19, no.1, 1993, pages 9-12. Not yet available.



♦ A guerra e as mudanças sociais recentes em Moçambique (1986-1992): cenários para o futuro. Estudos Afro-Asiáticos no.23, 1992, pages 213-227.

♦ Are there warlords in provincial Mozambique? Questions of the social base of MNR banditry. Review of African Political Economy no.45/46, 1989, pages 34-49.


♦ The writings of Samora Machel: a bibliographic note. In: An African revolutionary: selected writings and speeches, translated by Michael Wolfers, introduction by Barry Munslow (London: Zed, 1985), pages 200-204. Not yet available.



♦ Notas sobre fontes estatísticas oficiais referentes à economia colonial moçambicana: uma crítica geral. Estudos Moçambicanos, no. 4, 1983 1985, pages 103-125.

♦ Cabo Delgado: fontes para uma história da luta armada e para uma economia política do Planalto de Mueda [by Colin Darch] Não vamos esquecer: boletim informativo da Oficina de História, no. 1, February 1983, pages 38-41. Not yet available.



♦ Published documentation of the Party FRELIMO: a preliminary study. Mozambican Studies, no. 2, 1981 [publ. 1983], pages 104-125.


 

♦ Migrant labour in southern Africa: a bibliographic note [by Colin Darch]. In: Black gold: the Mozambican miner, proletarian and peasant by Ruth First (Brighton: Harvester Press, 1983), pages 195-211. Not yet available.



♦ Writings and research on Mozambique, 1975 1980. Mozambican Studies, no. 1, 1980 [publ. 1982], pages 103-112.

♦ Trabalho migratório na Africa Austral: um apontamento crítico sobre a literatura existente. Estudos Moçambicanos, no.3, 1981, pages 81-96.

♦ As publicações da FRELIMO: um estudo preliminar. Estudos Moçambicanos, no. 2, 1981, pages 105-120. Click here for a PDF file (size 1.3 Mb).



♦ Escritos e investigação sobre Moçambique, 1975-1980. Estudos Moçambicanos, no.1, 1980, pages 111-120.  

FONTE: MOZAMBIQUE HISTORY NET

ENTREVISTA COM JOEL DAS NEVES TEMBE – HISTORIADOR MOÇAMBICANO E DIRECTOR DO ARQUIVO HISTÓRICO DE MOÇAMBIQUE

ENTREVISTA COM JOEL DAS NEVES TEMBE – HISTORIADOR MOÇAMBICANO E DIRECTOR DO ARQUIVO HISTÓRICO DE MOÇAMBIQUE




By Eric Boamah



A brief interview with Joel Tembe at a regional archives meeting:



Dr. Tembe is also the President of the Eastern African Branch, International Council on Archivists (ESABICA). In this interview, he described the Mozambique Historical Archives and his experience as a

director there. Human resources improvement has been one of his priority areas. Dr. Tembe emphasised how professional associations such as ESABICA have been contributing to providing training programme

and sharing of ideas in the region. However, language barrier has been their biggest challenges, even though other problems with storage, infrastructure and training needs are hindering their work.


Listen to full interview with Dr. Tembe:




27 agosto 2012

POLÍCIA SUL-AFRICANA INVESTIGA ACIDENTE DE AVIAÇÃO DE MBUZINI


POLÍCIA SUL-AFRICANA INVESTIGA ACIDENTE DE AVIAÇÃO DE MBUZINI

 

(Nelspruit) – As novas investigações sobre o acidente de Mbuzini, prometidas pelo chefe de Estado sul-aficano, Jacob Zuma, durante uma visita efectuada a Moçambique de 13-14 de Dezembro de 2011, estão a cargo da Direcção para a Investigação Prioritária do Crime (DPCI), soube o Canalmoz de fonte segura em Nelspruit. Também conhecida por «Falcões» (ou Hawks), a DPCI tem vindo a entrevistar entidades moçambicanas, sul-africanas e suázis ligadas ao sector da aeronáutica, entre outras. A unidade policial, «Falcões», é chefiada por Anwa Dramat, antigo combatente na clandestinidade do Umkhonto weSizwe, braço armado do ANC.

Prevê-se que os investigadores da unidade Falcões interroguem membros da Comissão de Inquérito nomeada pelo governo moçambicano na sequência do desastre de Mbuzini, em particular o Major-General Jacinto Veloso.

A nossa fonte referiu que o Maj. Gen. Veloso ʺé certamente uma das figuras na lista dos Falcões, em virtude das revelações que fez num livroʺ recentemente editado na África do Sul pela Zebra Press (Memories at Low Altitude). no livro, Veloso dá conta de que a União Soviética impediu que investigadores da Comissão de Inquérito moçambicana entrevistassem um dos tripulantes do Tupolev presidencial que havia sobrevivido ao acidente de Mbuzini e que se encontrava na altura hospitalizado em Maputo. O autor de «Memories at Low Altitude» refere que a Embaixada da URSS na capital moçambicana legou que o estado de saúde do tripulante, Vladimir Novoselov, não permitia que ele fosse interrogado a respeito do acidente, mas dias depois a missão diplomática soviética no nosso país tratou de evacuá-lo para Moscovo, sem disso ter notificado a Comissão de Inquérito moçambicana. A saída de Novoselov para Moscovo processou-se, porém, com o conhecimento do governo moçambicano.

Peritos sul-africanos e moçambicanos, que permaneceram na União Soviética entre Novembro e Dezembro de 1986 no âmbito das investigações sobre o acidente de Mbuzini, apresentaram um pedido formal à Comissão de Inquérito soviética para uma entrevista com Vladimir Novoselov, que havia partido de Maputo para Moscovo a 5 de Novembro, acompanhado da esposa, Nadja Novoselov. A Comissão de Inquérito soviética, presidida por Ivan Donstov, não satisfez o pedido, alegando a ʺinexistência de meios de transporte para uma viagem a Leninegradoʺ, cidade onde Novoselov residia. (CanalMoz/Redacção)

 

24 agosto 2012

O QUE HÁ DE ERRADO NA RECANDIDATURA DE GUEBUZA, À PRESIDÊNCIA DO PARTIDO?


O QUE HÁ DE ERRADO NA RECANDIDATURA DE GUEBUZA, À PRESIDÊNCIA DO PARTIDO?

Lázaro Mabunda
 
A acontecer a violação da tradição do partido, estaríamos perante uma situação semelhante à da Rússia, em que Vladimir Putin, após ter cumprido os oito anos de mandato, ao invés de abandonar o Governo, sugeriu que ocupasse o cargo de primeiro-ministro, entregando a presidência a um fantoche Dimitri Medvedev (...).

É este cenário que Guebuza está a desenhar, uma vez que o presidente da Frelimo e simultaneamente da Comissão Política do Partido é uma figura que estará acima de um eventual Presidente da República (...).

A Frelimo está em guerra silenciosa interna. Em causa está o poder. O problema é que o actual presidente da Frelimo e, simultaneamente, Presidente da República quer continuar a manter-se no poder para poder controlar e governar o país, através do partido, mesmo depois de terminar o mandato. E apoio de peso não lhe falta. Mas há também aqueles que defendem a manutenção da tradição, de que “só é presidente do Partido quem é simultaneamente Presidente da República”. Foi essa tradição que foi pregada por Guebuza e seus apoiantes para forçar a saída de Joaquim Chissano da presidência do partido.

Guebuza sabia que detém o poder, ao nível do nosso país, o presidente do partido que governa (Frelimo). Aliás, o secretário-geral da Frelimo, Filipe Paúnde, deixou bem claro, na entrevista de quinta-feira ao jornal “O País”, sobre quem tem o poder em Moçambique: “o partido é que orienta o Governo. (…) O presidente receberá instruções da Comissão Política, ele irá implementá-las na Presidência (da República)”. Ora, o partido e a Comissão Política são liderados pelo presidente do partido (Frelimo), o que lhe dá poder de influenciar as decisões a serem implementadas pelo Governo.

Nesse contexto, Chissano, sendo o presidente do partido, iria sobrepor-se ao Presidente da República, neste caso, Armando Guebuza, que ficaria desprovido do poder. Quer dizer, Chissano, apesar de ter deixado a Presidência da República, continuaria mais poderoso que o seu sucessor, Armando Guebuza. O que aconteceu é que Guebuza não queria sujeitar-se a esta situação. Ora, se não se quis sujeitar a esta dependência, também deveria ser coerente no sentido de rejeitar a decisão de se candidatar para mais uma presidência do partido; travar a onda de apoio a mais uma candidatura à presidência do partido. Tem de fazer o que fez quando alguns dos seus apoiantes tentaram forçar o seu terceiro mandato: sair publicamente a dizer que não se irá candidatar, porque a constituição assim não permite. Este silêncio em relação à intenção de continuar a presidir ao partido, para além de 2014, é sintomático de que ele, de facto, é que está a agitar a água para medir a reacção dos membros da Frelimo e da classe académica moçambicana. Não se pode calar perante esta intenção, porque terá reflexos directos na governação e no futuro do país, conforme demonstrarei mais adiante.

Se ele, juntamente com seus apoiantes, obrigaram Chissano a renunciar ao cargo, alegando que “desde a proclamação da independência de Moçambique, em 1975, e a introdução do regime de partido único no país, o presidente da Frelimo foi simultaneamente o chefe de Estado moçambicano”, tal como justificou Manuel Tomé, na altura porta-voz da IV sessão do Comité Central da Frelimo (Março, 2005), então, Armando Guebuza deveria, hoje, recordar aos seus apoiantes, como Filipe Paúnde, que essa tradição ainda existe e não quer pontapeá-la. O que não está a acontecer, deixando entender que se está a preparar para revelar a sua incoerência.
Mais: Manuel Tomé disse, nessa conferência de imprensa, que: “Este princípio verifica-se quer na nossa região, em países como África do Sul e Tanzania, quer na Europa, como na Inglaterra e em Portugal, onde o dirigente máximo do partido encabeça o Governo”.
Se esses exemplos foram usados para justificar a renúncia de Chissano, então também devem ser usados para esclarecer a Guebuza que “este princípio ainda se verifica (não caiu em desuso)”, pelo que não deve sonhar em manter-se na presidência do partido.

A acontecer a violação da tradição do partido, estaríamos perante uma situação semelhante à da Rússia, em que Vladimir Putin, após ter cumprido os oito anos de mandato, ao invés de abandonar o Governo, sugeriu que ocupasse o cargo de primeiro-ministro, entregando a presidência a um fantoche Dimitri Medvedev. Durante oito anos, Putin manteve o controlo do poder, embora estivesse nas mãos do outro. É este cenário que Guebuza está a desenhar, uma vez que o presidente da Frelimo e simultaneamente da Comissão Política do Partido é uma figura que estará acima de um eventual Presidente da República. Dito de outras palavras: Guebuza continuaria, na verdade, a governar o país, através do partido, uma vez que o presidente do partido sobrepõe-se ao Presidente da República.

Os estatutos da Frelimo, no artigo 63, n.ºs 2 e 5, também são claros relativamente à superioridade do presidente do partido em relação ao Presidente da República: “São membros da Comissão Política o Presidente do Partido, o Secretário-Geral e o Secretário do Comité de Verificação do Comité Central”; “O Presidente da República, o Presidente da Assembleia da República e o Primeiro-Ministro, quando membros do Frelimo têm assento na Comissão Política, sem direito a voto”. Ou seja, o futuro Presidente da República não terá direito a voto, contrariamente ao presidente da partido.
Mais: “O Presidente (do partido) dirige e preside ao Presidium do Congresso, o Comité Central e a Comissão Política” (artigo 65, nº2). Quer dizer, cabe ao presidente do partido presidir à Comissão Política e ao Presidente da República o papel de simples participante.
Quero acreditar que Guebuza pretenda candidatar-se à presidência do partido apenas para cumprir o mandato, em 2014, ainda como presidente, em cumprimento da tradição do partido. Creio que após as eleições fará o mesmo espectáculo que Chissano: renunciar à presidência do partido para salvaguardar a tradição que vem desde 1975, de o presidente do partido ser simultaneamente o Chefe do Estado, entregando a presidência do partido ao novo Presidente da República. Isso até faz sentido na medida em que a entrada do novo presidente do partido, a partir do próximo mês de Setembro, retiraria, automaticamente, por obrigação estatutária, os poderes de Guebuza como Presidente da República. Teríamos um Presidente da República que estaria sob ordens de um novo presidente do partido nos próximos dois anos do mandato.
 


Mas por que tanta azáfama por Guebuza?

Eventualmente, esta azáfama seja reflexo do dilema de alguns elementos da Frelimo, sobretudo aqueles devem favores ao actual presidente da Frelimo. Refiro-me aos que beneficiaram da sua governação. De facto, durante sete anos e meio, Guebuza conseguiu resgatar muitos dos seus camaradas do anonimato. Muitos deles são hoje empresários e se não o são, pelo menos estão prósperos. É que Guebuza preocupou-se mais com o partido do que com o povo, contrariamente a Chissano que tinha prestado mais atenção ao povo do que ao partido. Uniu o partido. Resgatou elementos que já tinham sido esquecidos, sobretudo os antigos combatentes. Elevou os salários da elite militar e dos membros do partido. O resultado é que a Frelimo cresceu exponencialmente com Guebuza do que com Chissano. No entanto, o país registou pouca evolução em relação à redução das desigualdades sociais comparado ao período de Chissano. A pobreza registou subida em 0.8% na governação de Guebuza, após uma redução de 15% no governo de Chissano; os estudos mostram que a corrupção, o clientelismo, o burocratismo agravaram com Guebuza do que com Chissano. Por isso, há uma dívida de favores à Guebuza pela maioria dos membros da Frelimo. São esses que sem olhar a meios nem às consequências futuras defendem a continuação dele à frente do partido como única garantia de que irão manter os seus privilégios.

Guebuza activou o sistema distributivo e desactivou redistributivo. A governação de Guebuza preocupou-se mais em realizar negócios para eles próprios do que negócios que beneficiassem a todos os moçambicanos. O jantar, em casa do presidente da Vale, no Brasil, de que coincidentemente viria a resultar na atribuição de licença definitiva do Uso e Aproveitamento e a concessão de todo o Corredor do Desenvolvimento de Norte (sistema ferro-portuário de Tete e de Nacala) à Vale, nas duas semanas consecutivas, após o regresso à “pátria dos heróis”; e a contratação de créditos para a construção da ponte sobre Katembe são exemplos recentes da política da promiscuidade adoptada pelo actual Governo.

Jantar em casa do presidente da Vale representa uma promiscuidade ao mais alto nível de um governante. O que devia ter acontecido é o presidente da Vale jantar na Presidência da República à convite do Chefe do Estado. Um Chefe do Estado deve saber que é representante do Estado e não dos seus próprios interesses. Se quisesse jantar com o presidente da Vale, na sua casa, Guebuza podia-o fazer durante as suas férias, não aproveitar uma viagem do Estado para recepções anti-éticas.

É inconcebível e inadmissível que um Chefe do Estado de um país “democrático” escolha, dentre várias multinacionais que operam na mesma área (exploração de carvão mineral) dentro do mesmo território, jantar em casa do presidente de uma delas e concessiona-se a espinha dorsal do desenvolvimento do país à revelia do sector empresariado nacional e das outras companhias carboníferas. Como as companhias como Rio Tinto, Talbot State e outras irão interpretar este comportamento? Onde está a ética de quem deveria servir de árbitro em caso de conflitos entre estas multinacionais? Como concessionar um corredor vital para o transporte de carvão a apenas uma das tantas companhias da área?

Face a estas evidências, tenho de reconhecer e concordar com Sua Excelência Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, que, de facto, “a pobreza está nas nossas mentes”.

In: Jornal "O PAÍS" – 06.08.2012

 

 

 

 

 

23 agosto 2012

SÃO AS ARMAS; MAS, NÃO SÓ AS ARMAS


SÃO AS ARMAS; MAS, NÃO SÓ AS ARMAS

 

Por Michael Moore (*)

 

Maputo (Canalmoz) - Desde que Caim enlouqueceu e matou Abel sempre houve humanos que, por uma razão ou outra, perdem a cabeça temporária ou definitivamente e cometem actos de violência. Durante o primeiro século de nossa era, o imperador romano Tibério gozava, jogando suas vítimas na ilha de Capri, no Mediterrâneo. Gilles de Rais, cavalheiro francês aliado de Joana D’Arc, na Idade Média, um dia, enlouqueceu e acabou assassinando centenas de crianças. Apenas umas décadas depois, Vlad, o Empalador, na Transilvânia, tinha inúmeros modos horripilantes de acabar com suas vítimas; o personagem de Drácula foi inspirado nele.

Em tempos modernos, em quase toda as nações há um psicopata ou dois que cometem homicídios em massa, por mais estritas que sejam suas leis em matéria de armas: o demente supremacista branco, cujos atentados na Noruega cumpriram um ano nesse domingo; o carniceiro do pátio escolar em Dunblane, Escócia; o assassino da Escola Politécnica de Montreal; o aniquilador em massa de Erfurt, Alemanha...; a lista parece interminável. E agora o atirador de Aurora, na sexta-feira passada. Sempre houve pessoas com pouco juízo e prudência e sempre haverá.

Porém, aqui reside a diferença entre o resto do mundo e nós: aqui acontecem DUAS Auroras a cada dia de cada ano! Pelo menos 24 norte-americanos morrem a cada dia (de 8 a 9 mil por ano) em mãos de gente armada, e essa cifra NÃO inclui os que perdem a vida em acidentes com armas de fogo ou os que cometem suicídio com uma. Se contássemos todos, a cifra se multiplicaria a uns 25 mil.

Isso significa que os Estados Unidos são responsáveis por mais de 80% de todas as mortes por armas de fogo nos 23 países mais ricos do mundo combinados. Considerando que as pessoas desses países, como seres humanos, não são melhores ou piores do que qualquer um de nós, então, por que nós?

Tanto conservadores quanto liberais nos Estados Unidos operam com crenças firmes a respeito do “porquê” desse problema. E a razão pela qual nem uns e nem outros podem encontrar uma solução é porque, de fato, cada um tem a metade da razão.

A direita crê que os fundadores dessa nação, por alguma sorte de decreto divino, lhes garantiram o direito absoluto a possuir tantas armas de fogo quanto desejem. E nos recordam sem cessar que uma arma não dispara sozinha; que “não são as armas, mas quem mata são as pessoas”.

Claro que sabem que estão cometendo uma desonestidade intelectual (se é que posso usar essa palavra) ao sustentar tal coisa acerca da Segunda Emenda porque sabem que as pessoas que escreveram a Constituição unicamente queriam assegurar-se de que se pudesse convocar com rapidez uma milícia entre granjeiros e comerciantes em caso de que os britânicos decidissem regressar e semear um pouco de caos.

Porém, têm a metade da razão quando afirmam que “as armas não matam: os estadunidenses matam!”. Porque somos os únicos no primeiro mundo que cometemos crimes em massa. E escutamos norte-americano de toda condição aduzir toda classe de razões para não ter que lidar com o que está por trás de todas essas matanças e actos de violência.

Uns culpam os filmes e os jogos de videogame violentos. Na última vez em que revisei, os videojogos do Japão são mais violentos do que os nossos e, no entanto, menos de 20 pessoas ao ano morrem por armas de fogo naquele país; e em 2006 o total foi de duas pessoas! Outros dirão que o número de lares destroçados é o que causa tantas mortes. Detesto dar-lhes essa notícia; porém, na Grã-Bretanha há quase tantos lares desfeitos, com um só dos pais assumindo o cuidado dos filhos quanto nos EUA; e, no entanto, em geral, os crimes cometidos lá com armas de fogo são menos de 40 ao ano.

Pessoas como eu dirão que tudo isso é resultado de ter uma história e uma cultura de homens armados, “índios e vaqueiros”, “dispara agora e pergunta depois”. E se bem é certo que o genocídio de indígenas americanos assentou um modelo bastante feio de fundar uma nação, me parece mais seguro dizer que não somos os únicos com um passado violento ou uma marca genocida.

Olá, Alemanha! Falo de ti e de tua história, desde os hunos até os nazistas, todos os que amavam uma boa carnificina (tal qual os japoneses e os britânicos, que dominaram o mundo por centenas de anos, coisa que não conseguiram plantando margaridas). E, no entanto, na Alemanha, nação de 80 milhões de habitantes, são cometidos apenas 200 assassinatos com armas de fogo ao ano.

Assim que esses países (e muitos outros) são iguais a nós, excepto que aqui mais pessoas acreditam em Deus e vão à Igreja mais do que em qualquer outra nação ocidental.

Meus compatriotas liberais dirão que se tivéssemos menos armas de fogo haveria menos mortes por essa causa. E, em termos matemáticos, seria certo. Se temos menos arsénico na reserva de água, matará menos gente. Menos de qualquer coisa má – calorias, tabaco, reality shows – significará menos mortes. E se tivéssemos leis estritas em matéria de armas, que proibissem as armas automáticas e semiautomáticas e prescrevessem a venda de grandes magazines capazes de portar milhões de balas, atiradores como o de Aurora não poderiam matar a tantas pessoas em pouquíssimos minutos.

Porém, também nisso há um problema. Há um montão de armas no Canadá (a maioria rifles de caça) e, no entanto, a conta de homicídios é de uns 200 ao ano. De fato, por sua proximidade, a cultura canadense é muito similar à nossa: as crianças têm os mesmos videojogos, vêem os mesmos filmes e programas de TV; mas, no entanto, não crescem com o desejo de matar uns aos outros. A Suíça ocupa o terceiro lugar mundial em posse de armas por pessoa; porém, sua taxa de criminalidade é baixa. Então, por que nós? Formulei essa pergunta há uma década em meu filme ‘Tiros em Columbine’, e esta semana tive pouco que dizer porque me parecia ter dito há dez anos o que tinha que dizer; e acho que não fez muito efeito; excepto ser uma espécie de bola de cristal em forma de filme.

Naquela época eu disse algo, que repetirei agora:

1. Os norte-americanos somos incrivelmente bons para matar. Acreditamos em matar como forma de conseguir nossos objectivos. Três quartos de nossos Estados executam criminosos, apesar de que os Estados que têm as taxas mais baixas de homicídios são, em geral, os que não aplicam a pena de morte.

Nossa tendência a matar não é somente histórica (o assassinato de índios, de escravos e de uns e outros na guerra “civil”): é nossa forma actual de resolver qualquer coisa que nos inspira medo. É a invasão como política exterior. Sim, lá estão Iraque e Afeganistão; porém, somos invasores desde que “conquistamos o oeste selvagem” e agora estamos tão enganchados que já não sabemos o que invadir (Bin Laden não se escondia no Afeganistão, mas no Paquistão), nem porque invadir (Saddam não tinha armas de destruição massiva, nem nada a ver com o 11-S). Enviamos nossas classes pobres para fazer matanças, e os que não temos um ser querido lá, não perdemos um só minuto de um só dia em pensar nessa carnificina. E agora, enviamos aviões sem pilotos para matar (drones), aviões controlados por homens sem rosto em um luxuoso estúdio com ar condicionado em um subúrbio de Las Vegas. É a loucura!

2. Somos um povo que se assusta com facilidade e é fácil de ser manipulado pelo medo. De que temos tanto medo, que necessitamos ter 300 milhões de armas de fogo em nossas casas? Quem vai machucar? Por que a maior parte dessas armas se encontra nas casas de brancos, nos subúrbios ou no campo? Talvez, se resolvêssemos nosso problema racial e nosso problema de pobreza (uma vez mais, somos o número um com maior número de pobres no mundo industrializado) teria menos pessoas frustradas, atemorizadas e encolerizadas estendendo a mão para pegar a arma que guardam na gaveta. Talvez, cuidaríamos mais uns dos outros (aqui vemos um bom exemplo disso).

Isso é o que penso sobre Aurora e sobre o violento país do qual sou cidadão. Como mencionei, disse tudo nesse filme e se quiserem, podem assisti-lo e partilhá-lo sem custo com os demais. E o que nos faz falta, amigos meus, é valor e determinação. Se vocês estão prontos, eu também.

(*) Cineasta e escritor norte-americano. O original encontra-se em mltoday.com

 

 
 


 

 

 

20 agosto 2012

LANÇAMENTO DO LIVRO "SAMORA: ATENTADO OU ACIDENTE?"


LANÇAMENTO DO LIVRO "SAMORA: ATENTADO OU ACIDENTE?"

Veja aqui o vídeo  ( 40 minutos) de lançamento do livro de José Milhazes SAMORA MACHEL, Atentado ou acidente? em que todos os dados levam a concluir não ter havido sabotagem, mas apenas um acidente, com claras culpas da tripulação. Chamo a vossa particular atenção para as declarações do ex-piloto Armando Cró e de Carlos Botelho, em especial quando este se refere a um encontro que teve com José Luis Cabaço, no Brasil. Interessante seria também saber-se a identidade dos 4 passageiros que não embarcaram em Lusaka e que parece terem seguido para a União Soviética. Mais acrescento: só foram feitos à tripulação testes de alcoolémia? Não poderia a tripulação estar sob o efeito de drogas que a levaram ao comportamento que tiveram momentos antes do acidente? Foram feitos testes para despistar esta hipótese? Como diz José Milhazes, estes pilotos não seriam "Kamikazes".

Ouça então as declarações proferidas:


(Pode demorar um pouco a abrir)

Aproveito para recordar este despacho da Lusa, de 15.08.2008:

EUA e Inglaterra sabiam que avião de Samora Machel foi sabotado - ex-ministro da Segurança

O antigo ministro da Segurança de Moçambique, Sérgio Vieira, disse quinta-feira em Maputo que a Inglaterra e os Estados Unidos sabiam que o avião em que morreu o ex-Presidente moçambicano Samora Machel foi sabotado e não caiu por acidente.

Samora Machel, chefe de Estado moçambicano desde a proclamação da independência do país, em 1975, até à sua morte a 19 de Outubro de 1986, perdeu a vida quando o avião em que viajava caiu na localidade sul-africana de Mbuzini.

Uma comissão de inquérito composta por peritos de Moçambique, África do Sul e da ex-União Soviética chegou a resultados divergentes, com os especialistas moçambicanos e soviéticos a apontarem a sabotagem do aparelho como causa do acidente e a África do Sul a indicar erros de pilotagem.

Na altura, Moçambique e o Governo sul-africano, dirigido pelo regime racista do "apartheid", viviam num ambiente de permanente hostilidade, com Maputo a acusar Pretória de apoiar a guerrilha da RENAMO, hoje o maior partido da oposição moçambicana.

As autoridades sul-africanas de então acusavam, por seu lado, Maputo de albergar militantes do Congresso Nacional Africano (ANC), que lutava contra a política de discriminação na África do Sul, e hoje partido no poder neste país.

Em entrevista quinta-feira ao principal canal privado de televisão em Moçambique, a STV, Sérgio Vieira, que ocupava a pasta de Segurança no ano em que Machel morreu, reiterou a posição de que o ex-chefe de Estado moçambicano foi "assassinado" e não vítima de acidente de viação, sublinhando ainda que "os Estados Unidos e a Inglaterra sabiam do que aconteceu".

"Nas vésperas do funeral do Presidente Samora Machel, o embaixador inglês telefonou-me a informar que tinha recebido instruções de Downing Street [gabinete do Primeiro-Ministro inglês], para comunicar que a Inglaterra não faria parte de qualquer comissão de inquérito, encarregue de investigar a morte do Presidente Samora Machel. Instantes depois, o embaixador dos Estados Unidos também me telefonou a comunicar o mesmo facto", disse Sérgio Vieira.

Para Vieira, os governos norte-americanos e inglês tomaram essa posição porque sabiam que os seus peritos chegariam à conclusão de que o Tupolev em que viajava Samora Machel tinha sido sabotado e não tinha caído devido a erros de pilotagem.

"Os Estados Unidos e a Inglaterra sabiam que os seus peritos nunca aceitariam uma aldrabice, e chegariam a uma conclusão politicamente inconveniente", a de que a queda do avião tinha sido provocada pelo regime do "apartheid", que apesar de estar sob sanções internacionais, era tolerado pelo Ocidente.

Os Estados Unidos e a Inglaterra consideravam a África do Sul do tempo do "apartheid" uma espécie de tampão contra o expansionismo do comunismo da ex-União Soviética, que tinha sob sua órbita a generalidade dos países africanos, incluindo Moçambique.

Sérgio Vieira, que chefiou a missão enviada pelas autoridades moçambicanas, para trazer os corpos das vítimas do acidente a Moçambique, achou igualmente estranho que tenha sido sugerido o envolvimento da Inglaterra e dos Estados Unidos na comissão de inquérito, contra as regras da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA), que "prevêem na comissão de inquérito a participação do produtor da aeronave, do país do acidente e do país das vítimas".

"O ministro [dos Negócios Estrangeiros da África do Sul] Roelof `Pik` Botha disse-me que os Estados Unidos e a Inglaterra participariam na comissão de inquérito, e eu achei isso estranho, porque é contra as regras da IATA. Dias depois, são os embaixadores dos dois países que negam essa participação, sem que Moçambique a tenha pedido alguma vez", enfatizou Sérgio Vieira.

Sem acusar directamente o Governo sul-africano desse tempo, o ex-ministro moçambicano da Segurança recordou que o então ministro da Defesa da África do Sul, Magnus Malan, ameaçou directamente Samora Machel, nas vésperas do acidente, pelo alegado apoio deste a actos de guerrilha protagonizados no interior da África do Sul por militantes do ANC.

Sérgio Vieira considerou sem sentido a posição sul-africana de que os pilotos russos do avião do Presidente moçambicano eram inexperientes e tripulavam ébrios, como concluiu a parte sul-africana da comissão mista do inquérito.

"Os únicos vestígios de álcool encontrados nos corpos são os que resultam da decomposição após a morte e não de algum consumo (...), quanto à experiência dos pilotos, eram aquilo que em gíria de pilotagem se diz milionários do ar, com mais de 10 mil horas de voo. O único com menos horas tinha oito mil horas, e não exercia funções no `cockpit`", sublinhou Vieira.

Segundo Sérgio Vieira, é suspeito que as autoridades sul-africanas tenham declarado o local do despenhamento do avião zona militar, nas vésperas da queda do aparelho, para depois retirarem os militares da zona, deixando alguns polícias, no momento em que a missão enviada pelo Governo moçambicano chegou à área.

Vieira acusou ainda as autoridades sul-africanas de não terem prestado socorro aos feridos, preocupando-se apenas em reconhecer o Presidente Samora Machel, que "teve morte instantânea e apresentava o crâneo amarrotado", e em recolher documentos.

"Um dos sobreviventes contou-me que os membros do exército sul-africano que estavam no local do acidente só se preocuparam em recolher documentos e em reconhecer o Presidente Samora Machel", disse na entrevista o antigo ministro moçambicano da Segurança.

Sobre uma alegada "mão interna" de membros do Governo moçambicano na conspiração com as autoridades sul-africanas para provocar a queda do aparelho, justificada pelo facto de nenhum dos principais quadros do partido no poder em Moçambique, FRELIMO, não ter integrado a comitiva presidencial que sofreu o acidente, Sérgio Vieira considerou-a "especulação", justificando depois a sua própria ausência da viagem em que acabou morrendo Samora Machel.

"O próprio Samora disse-me a mim para não viajar, porque acabava de perder a minha primeira mulher e tinha chegado havia pouco tempo de uma missão do Botsuana. Joaquim Chissano [que depois sucedeu a Samora Machel na chefia do Estado moçambicano] estava fora do país também em missão de serviço", sublinhou Sérgio Vieira, lembrando ainda que Machel desrespeitou recomendações da sua equipa de segurança para não viajar à noite de avião, devido à situação de guerra que se vivia na África Austral.

"Samora Machel tinha virtudes, mas era teimoso, atropelou várias vezes regras protocolares, incluindo recomendações para não viajar à noite de avião. Tive várias vezes ataques cardíacos, devido à sua teimosia", acrescentou Sérgio Vieira.

PMA.

Lusa/Fim - 15.08.2008


NOTA:

Historiadores moçambicanos para escrever a HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE precisam-se. Quem são os quatro passageiros que se diz terem saído em Lusaka e para onde, na realidade, se dirigiram?

Fernando Gil

MACUA DE MOÇAMBIQUE


COMBATER AS IGREJAS PARA ERRADICAR A RELIGIÃO

COMBATER AS IGREJAS PARA ERRADICAR A RELIGIÃO




Por João Cabrita



Maputo (Canalmoz) - Na análise das relações Estado-Igrejas no período pós-independência, Eric Morier-Genoud em Grande Entrevista recente ao Canal de Moçambique, defendeu que a política do regime da Frelimo visava pôr fim a uma suposta hostilidade da Igreja Católica para com as demais confissões religiosas, e acabar com uma espécie de monopólio detido por essa igreja.

Esses não constituíram os factores determinantes da política do regime para com as igrejas. Em 1975 não era discernível qualquer hostilidade entre as várias confissões religiosas, nem tão pouco as igrejas regiam-se por esquemas monopolistas. Bem antes do «25 de Abril», assistia-se a uma tentativa do regime vigente de atrair para a esfera de influência do poder colonial a vasta comunidade muçulmana, sendo de destacar o papel do governador-geral, Rebelo de Sousa, junto de líderes islâmicos do norte de Moçambique. Hindus, protestantes e outras confissões religiosas actuavam livremente. Perseguidas no Malawi, as Testemunhas de Jeová encontrariam guarida em Moçambique durante a vigência da administração colonial. Em suma, seria um contra-senso o regime da Frelimo pretender pôr fim a algo inexistente.

A questão de fundo foi outra, e tem necessariamente de ser vista à luz do projecto político do regime da Frelimo. Tratava-se de um projecto de índole totalitária, e projectos deste tipo não prevêem poderes paralelos. Na óptica do regime, as igrejas constituíam um poder que era preciso desmantelar, da mesma forma que se desmantelou o poder tradicional e o poder da oposição, este último uma questão simples de resolver pois aqui o regime, como que a demonstrar a complementaridade entre sistemas totalitários, beneficiou da política do Estado Novo de não permitir na colónia qualquer actividade à margem da União Nacional/ANP.

Efectivamente, o que o regime pôs em prática, como, aliás, ele próprio assim o definiu, foi um «combate» contra as igrejas, visando, em última instância, a erradicação das religiões no país, tidas como «sequelas das sociedades tradicional-feudal e colonial-capitalista», sociedades essas que também deviam ser desmanteladas e das suas cinzas surgiria o «homem novo» e um «sociedade nova» – sociedade arregimentada, em que o partido no poder permeava tudo e em que todos teriam de ter um «pensamento comum». Um «combate» que não esperou pelo 3° Congresso dessa formação política, mas que foi desencadeado logo nas primeiras semanas a seguir à independência.

O título da «Circular» emitida pelo Comissariado Político Nacional da Frelimo em Outubro de 1975, era por demais explícito: «Combate Popular Organizado contra Estandartes do Imperialismo». Os «estandartes» estavam claramente identificados na «Circular» – seitas religiosas e missionários – e aos cidadãos o documento prevenia de forma clara e contundente: Deviam ʺcompreender que frequentar ou cumprir as palavras desses missionários é estar a trabalhar contra Moçambique, é estar a servir as potências imperialistasʺ. (1)

Um mês após a independência, o regime procedeu ao confisco de bens pertencentes às igrejas. Para dar ao acto um cunho legal, socorreu-se do eufemismo ʺnacionalizaçõesʺ para assim legitimar a violação de um direito fundamental, o da propriedade. Em 1978, houve a intenção do regime de levar até às últimas consequências a sua acção ʺcombativaʺ. Depois de ter privado as igrejas de meios para poderem funcionar, o regime restringiu a construção de novos templos com o argumento de que se devia dar prioridade à construção de escolas, hospitais e fábricas. A publicação e distribuição de literatura religiosa foram igualmente coarctadas. No contexto do «combate», o regime impôs restrições a quem quisesse cursar teologia, determinando que apenas poderiam matricular-se quem tivesse cumprido o Serviço Militar Obrigatório, e prestado serviço no aparelho de Estado, caso fossem provenientes de escolas oficiais. Em tudo isso não se vislumbrava o mais ténue dos sinais de que se tratava de uma intenção do regime em nivelar ou equilibrar as relações entre confissões religiosas.

Será que o «combate» movido contra as igrejas foi de facto um ʺdesenvolvimento positivoʺ, como defende Eric Morier-Genoud? Certamente que a mesma opinião não é partilhada por crentes que em Naisseko ficaram com os membros superiores inutilizados por acção de cordas embebidas em água e sal, apenas por não abdicarem da sua confissão religiosa. Nem por esses, nem por padres humilhados em Unango, nem tão pouco por sacerdotes arrastados das suas dioceses em Cuamba, Tete e Manica e em muitas outras partes do país, hoje dados como ʺdesaparecidosʺ.

(1) O texto integral da «Circular» assinada pelo Comissário Político Nacional da Frelimo, Armando Emílio Guebuza, está disponível na edição do jornal «Notícias» de 17 de Outubro de 1975 pp 2,5.





17 agosto 2012

MASSACRE DE 34 MINEIROS NA ÁFRICA DO SUL


A polícia na África do Sul acaba de notabilizar um espectáculo gratuito ao massacrar trinta e quatro (34) mineiros que se manifestaram no dia 16 de Agosto pela melhoria de aumento salarial. A presença policial fortemente armada e obrigando os manifestantes a retirarem-se foi o estopim da violência. Pelas imagens parece que os manifestantes portavam consigo algumas armas brancas e pretendiam com ela mostrar a indignação pela presença policial. Porém, nada é conclusivo sobre quem avançou primeiro (se foram os manifestantes ou a polícia), só uma investigação apurada permitirá saber. De qualquer das formas, as autoridades policiais tem por obrigação em casos desta natureza evitar perdas de vidas humanas. O cenário faz recordar com muita tristeza o período da Apartheid. O Governo de Zuma tem a obrigação de em função do inquérito a ser levado a cabo responsabilizar os culpados, se bem que nestes casos a balança sempre tem sido favorável as autoridades policiais.
RETROSPECTIVA DOS FACTOS
Ao todo, 44 pessoas foram mortas brutalmente pela polícia sul-africana, incluindo 34 mineiros. Trata-se de uma acção ocorrida na mina de Lonmin, onde trabalham mais de 2 300 mineiros nacionais.
No meio do desespero pela tragédia, resultante do massacre de 44 pessoas, protagonizado pela polícia sul-africana, incluindo 34 mineiros grevistas, os trabalhadores moçambicanos nas minas de Lonmin contam que viveram uma tarde da qual nunca se vão esquecer (quinta-feira).
Tudo teria começado na sexta-feira da semana antepassada, quando milhares de mineiros do grupo Lonmin, cotado na bolsa e que ocupa o estatuto de 3ª maior produtora de platina no mundo, decidiram marchar, pacificamente, até aos escritórios da mina, levando consigo uma reivindicação salarial.
Chegados ao local, foram marginalizados. O seu pedido de revisão salarial dos actuais quatro mil e quinhentos randes para doze mil e quinhentos foi recusado, sem espaço para nenhuma negociação.
Insatisfeitos com a reacção do patronato, os milhares de mineiros teriam regressado ao chamado “hostel”, a sua residência oficial, de onde saiu a concertação para que se reunissem numa montanha designada desde essa altura “base central”.

Antecedentes do massacre
Regressados da direcção da mina, os grevistas foram até aos escritórios da Associação dos mineiros, onde, devido à sua fúria, a segurança privada da mina teria tentado em vão travar a marcha dos mesmos. Foi assim como iniciou a batalha, que culminaria com o massacre. Nessa altura, dois seguranças foram mortos.
O motim dos mineiros prosseguiu num outro local próximo do primeiro, onde foram, igualmente, incendiadas cinco viaturas de particulares. No dia seguinte, a batalha campal continuou e, desta feita, dois agentes da polícia foram, outrossim, assassinados. Já na quinta-feira da semana finda, a polícia, armada ao detalhe, teria se deslocado à montanha, “base central” dos mineiros grevistas. Mas porque o local estava vedado por arame farpado, a decisão de que nenhum mineiro deveria transpor-se para o outro lado da barreira. Entretanto, quando o cordão formado pelos mineiros decidiu invadir a barreira estabelecida, a polícia, nem mais, alegando legítima defesa, abriu fogo. Os tiros a “queima-roupa” atingiram dezenas de mineiros. 44 pessoas foram mortas, 80 feridas e 615 detidas. «Jornal O País»