FESTIVAL DE TIMBILA - M'SAHO
FOMOS à Zavala (Quissico) para vermos a
realização do M’saho, o festival de timbila que vai na sua décima oitava
edição, que se realizava sob o lema “Plantemos o mwenge para preservar a
timbila”.
Queríamos testemunhar a execução de
uma grandeza rítmica que só a timbila é capaz de proporcionar.
Vários grupos se fizeram ao palco do
Miradouro, ponto a partir do qual, é também possível observar um outro
espectáculo criado pela natureza: o longo lençol verde formado, na sua maioria,
por palmeiras e que é atravessado pelas límpidas e cristalinas águas das oito
lagoas de Quissico que se comunicam com o Oceano Índico. Beleza paradisíaca.
Não há dúvidas de que esta é e será
sempre uma das maiores manifestações culturais originais e genuínas que
Moçambique e o seu povo se orgulham de possuir: a Timbila.
E desta vez o palco do Miradouro não
era somente para a timbila. O Mapiko e o Tufo – duas expressões culturais das
províncias de Cabo-Delgado e Nampula – foram se juntar àquele local. Uma
excelente ideia.
Até porque a intenção é mostrar o
rico e grandioso património cultural de Moçambique. Inesgotável.
Esta simbiose cultural acontece numa
altura em que o Mapiko e o Tufo são expressões que querem ser candidatadas ao
património oral e imaterial da humanidade. O mesmo acontecendo com o Xigubo de
Gaza. Um gesto digno de realce e que cimenta a unidade nacional.
Até porque é interessante ver gente
proveniente de todas as latitudes do país a ir “acocorar-se” em Quissico e
deixar-se embalar com o mavioso som que só a timbila é capaz de oferecer.
Hino do M’kwaio
O bater dos escudos no chão,
em simulações guerreiras, vai nos fazer viajar pelos tempos dos guerreiros de
Ngungunhane e Maguiguana. Mas tudo isso não vai acontecer antes da actuação do
mkwaio, que é a selecção dos melhores marimbeiros de Zavala. E o mkwaio será
para executar o Hino Nacional, com recurso a timbilas. Um espectáculo de encher
os olhos.
Depois seguiu-se o célebre tema de
homenagem ao mestre Chambine, um dos maiores marimbeiros e grande compositor de
que há memória em todo o distrito de Zavala.
Natural da localidade de Mavila, na
zona entre Matimbine e o litoral, foi o mestre Chambine que compôs um dos temas
que a Rádio Moçambique sempre usava na abertura das suas emissões.
Timbila de
Chizaho
O grupo Timbila de Chizaho,
criado pelo Professor Cremildo Pedro Nhantole, é um dos melhores de
actualidade, tendo até ter sido escolhido para representar Moçambique num
festival internacional de cultura, que teve lugar entre os meses de Abril e
Maio, na França.
Este grupo infanto-juvenil tem uma
alta capacidade de criatividade e coreografias giras. São oito marimbeiros que
compõem a orquestra, sendo dois que tocam “xibembe” que equivale ao baixo, dois
contra-solos e quatro solistas.
O grupo exibiu-se muito bem. Pena
não ter sido dado tempo suficiente para que eles actuassem. É que cada grupo
tinha direito a 25 minutos, mas isso não aconteceu com o Timbila de Chizaho.
Este grupo foi criado em Abril de 2002, na povoação de
Chizaho. No total são 38 membros, mas devido às condições criadas no local
levaram simplesmente um número suficiente capaz de ser devidamente atendido em
Quissico.
Mapiko e Tufo em doze
dupla
Depois veio o Tufo, com uma
excelente actuação das belas coristas muthianas, todas com os rostos pintados
de m’siro.
Criado no longínquo ano de 1931, o
grupo de Tufo Estrela Vermelha de Carrumpeia vai se renovando com o tempo. E em
Quissico eles exibiram uma coreografia estonteante que demonstra vários
momentos do dia. A coreografia inicia com o despontar do sol e as actividades
que encerram este dia. Depois vem o dia até ao seu fenecer.
E para representar estes diferentes
momentos do dia, o grupo foi mostrando diferentes vestes cujas cores o
simbolizavam o seu percurso.
A coreografia expressa ainda aquilo
que é também a mulher macua, e, no geral, a moçambicana: esbelta e esguia,
culta e trabalhadora.
Tanto o Mapiko como o Tufo
exibiram-se em dose-dupla, porque o público pediu mais, o que demonstra não
somente satisfação, como também espanto curiosidade. Parabéns os organizadores
do evento pela ideia, pois isso permitiu que muita gente que nunca tinha visto
estas expressões culturais entrasse em contacto com elas. E os grupos que lá
estiveram não deixaram os seus créditos em mãos alheias.
E nós exaltamos aqui a importância
da troca de experiências entre os vários grupos culturais dos diferentes pontos
do país e também entre os artistas.
Por exemplo, era a primeira que
estes dois grupos actuavam numa das províncias da região Sul do país, daí os
integrantes do grupo terem também ficado maravilhados com a exibição dos grupos
de timbila. Até já se pensa em futuras colaborações, isto em prol da cultura
moçambicana.
Timbila ta
Mwane
Ngalanga de Inharrime
Tal como todos os grupos de timbila que se
exibiram, Ngalanga de Inharrime foi palco de Quissico com novos elementos, na
sua maioria, jovens que se iniciam neste exercício de dança. É bonito ver que
estes estão sempre acompanhados por gente mais velha que está nestas lides há
mais tempo. Os passos são fortes, firmes, revelando maturidade.
Enorme varanda para
espreitar o Indico
Mas Zavala não é somente o
berço da timbila. É também terra da castanha e da mandioca e de m’tona, o
azeite africano feito com recurso a sementes de mafurra. Zavala oferece também
xibehe, produzido com recurso a mafurra.
Falemos então dos momentos mais
marcantes do evento.
Do miradouro pode visualizar-se o
verdadeiro paraíso que a natureza destinou aos zavalenses: surgem as lagoas de
Quissico, as dunas e montanhas e depois o Índico, dando-nos um conjunto
ecológico e paradisíaco empolgante, próprios de uma vila que se pode
transformar numa bela cidade futura, próspera, fanhosamente animada de
actividade turística, cultural, industrial, comercial, pesqueira e de prestação
de serviços, conforme deseja que aconteça Rodrigues Mário, secretário-geral da
Associação dos Naturais e Amigos de Zavala (AMIZAVA).
É ele quem nos diz que o interesse
em realizar o M’saho já transcende o desejo e a vontade dos promotores deste
evento, colocando-se como uma exigência e necessidade do público. E é uma
responsabilidade de que a própria Associação não pode e nem deve eximir-se
dela.
- Francisco
Manjate
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