14 setembro 2012

A NATUREZA DA IGREJA CATÓLICA NACIONAL/ MOÇAMBICANA


A NATUREZA DA IGREJA CATÓLICA NACIONAL/ MOÇAMBICANA

Por Luís Benjamim Serapião


Os médicos continuaram a usar os hospitais que os colonialistas deixaram; os políticos passaram a viver e a trabalhar nas residências que os dirigentes colonialistas habitavam. A Igreja Católica Nacional/ Moçambicana, como todas as demais instituições no país, assumiu e perpetuou as infra-estruturas religiosas deixadas pelo governo português. No entanto, nunca foi considerado como um privilégio o facto de os médicos usarem as infra-estruturas físicas de saúde herdadas do colonialismo, nem tão pouco um privilégio os governantes do Moçambique pós-colonial passarem a habitar as residências dos antigos chefes colonialistas.

Hoje, há interesse entre o mundo académico em investigar a diferença entre a Igreja Católica Colonial e a Igreja Católica Nacional/Moçambicana que surgiu no período pós-colonial. A corrente teórica defendida pelo Professor Dr. Eric Morier-Genoud sustenta argumentos que sugerem que houve uma certa continuidade da Igreja Católica Colonial na nova Igreja Católica Nacional /Moçambicana Depois de admitir que houve alguma rotura da Igreja Católica Colonial em relação à Igreja Católica Nacional/Moçambicana, Morier-Genoud acrescenta que ʺhouve também muitas continuidades, sejam elas de pessoal, na maneira de operar, ou nas ideias e na teologia”.Tenta persuadir o leitor quando adianta: ʺNão me parece adequado afirmar que a Igreja Colonial desapareceu em 1975 e que só ficou uma igreja nacional que não gozou ‘de privilégios de qualquer sistema no país’”. Por fim, realça que ʺela (a Igreja Nacional/Moçambicana) guardou elementos após a independência (incluindo algum pessoal colonial e colonialista); e quis guardar todas as propriedades que a Igreja Colonial tinha recebido do poder português.
O que acima se disse é o resumo dos argumentos de Morier- Genoud em apoio da tese da continuidade. Porém, contradizendo os argumentos acima citados, é um facto que houve uma rotura total e completa da Igreja Nacional/Moçambicana com a Igreja Católica Colonial. Primeiro, o argumento que houve pessoal colonial/colonialista na Igreja Nacional/Moçambicana é contradito pela acusação da Frelimo contra a Igreja Nacional/Moçambicana quando alega que ela é racista porque não tinha indivíduos de descendência colonialista no seu pessoal.  É também de notar que o pessoal que integrou a nova Igreja Católica conformou-se com a ideologia pastoral da nova hierarquia. Quanto à maneira de operar, ou nas ideias e na teologia  a que Morier-Genoud se refere para provar a tese da continuidade, bastava nós reflectirmos sobre o princípio filosófico que os escolásticos defendem: operari sequitur esse.
Se um indivíduo é colonialista terá de operar/agir como um colonialista. Isto explica porque é que a teologia pastoral do tempo colonial era uma teologia colonialista. Note-se que os seminaristas do Seminário Maior da Namaacha acusaram a Igreja Católica Colonial, (especialmente da arquidiocese de Lourenço marques), de pregar o colonialismo nas Igrejas. (Serapião, 1972). Felizmente, na Igreja Católica Nacional/Moçambicana houve rotura completa com a teologia pastoral colonialista. Isto é, nunca mais se fez a apologia do colonialismo nas igrejas.
Quanto à referência de que a Igreja Católica Nacional/Moçambicana quis guardar as propriedades que a Igreja Colonial tinha recebido do poder português, não se pode descurar uma outra realidade concreta: o procedimento adoptado em relação às infra-estruturas físicas que o governo colonial deixou no país. Os médicos continuaram a usar os hospitais que os colonialistas deixaram; os políticos passaram a viver e a trabalhar nas residências que os dirigentes colonialistas habitavam. A Igreja Católica Nacional/Moçambicana, como todas as demais instituições no país, assumiu e perpetuou as infra-estruturas religiosas deixadas pelo governo português. No entanto, nunca foi considerado como um privilégio o facto de os médicos usarem as infra-estruturas físicas de saúde herdadas do colonialismo, nem tão pouco um privilégio os governantes do Moçambique pós-colonial passarem a habitar as residências dos antigos chefes colonialistas.
Em toda a África os governos e as sociedades civis continuaram a fazer uso das infra-estruturas físicas deixadas pelos colonialistas. Em Moçambique a ocupação e destruição das igrejas tinha mais como finalidade erradicar aquilo que era o símbolo da espiritualidade do povo moçambicano. É dentro deste contexto, que a Igreja Católica Nacional/Moçambicana reagiu negativamente. Não se tratava de uma questão de defender privilégios herdados do governo colonial, mas antes defender os símbolos da espiritualidade do povo moçambicano. 


In:  Canal de Moçambique-14/09/2012


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