GENERAL HAMA THAI DIZ QUE NÃO ERA POSSÍVEL
INDEPENDÊNCIA DE MOÇAMBIQUE SEM GUERRA
Maputo
(Canalmoz) – O antigo chefe do Estado-Maior das Forças Populares de Libertação
de Moçambique (FAM/FPLM), e ex-ministro da Defesa, o general António Hama Thai,
disse que a independência de Moçambique não seria possível, não fosse a via
armada.
Disse que
não estava nos planos de Portugal abandonar o país. A moda “brasileira” queria
que fossem os portugueses a residir nas colónias a proclamar as independências.
Segundo o
general, o primeiro presidente da Frelimo, Eduardo Mondlane, escreveu várias
vezes a António Salazar, presidente de Portugal na altura, a exigir a retirada
dos portugueses em Moçambique, mas este sempre respondeu que o território
moçambicano, era uma província ultramarina de Portugal. Hama Thai, falava esta
segunda-feira em Maputo, numa palestra dirigida aos quadros da Autoridade
Tributária, no âmbito das celebrações do 25 de Setembro na próxima semana.
“É mentira
sem guerra estaria independente. Não estávamos num plano inclinado que a
qualquer momento podíamos deslizar para a independência. Era preciso pegar em
armas para expulsar o colono. Eles já chegaram a nos chamar de terroristas. O
golpe de Estado em 1974, é consequência nas colónias portuguesas. Estava claro
em todo mundo que era necessário Portugal abandonar as colónias. Portugal fez
tábua rasa”, disse Hama Thai, contrariando as correntes de opinião que defendem
que mesmo sem a guerra, até esta altura o colonialismo português por si só
teria abandonado o país.
Segundo o
general, estas correntes, reflectem a fraqueza histórica. “A Frelimo cria ódio
em algumas pessoas. Em Moçambique temos uma história rara que é original.
Podemos provar que Eduardo Mondlane e Samora Machel são moçambicanos. Esta
história mete inveja para algumas pessoas”, disse sublinhando que houve muita
gente presa e morta pela temida PIDE-DGS.
As causas
da derrota colonial segundo o general
De acordo
com general Hama Thai, quatro factores concorreram para a derrota do
colonialismo, português durante os 10 anos de luta de libertação nacional. As
limitações dos efectivos militares; O descontentamento dos portugueses na
metrópole; A sabotagem de alguns generais que descarregavam material bélico nas
matas e golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, em Portugal.
Para o
antigo ministro dos Combatentes, a vitória do partido no poder sobre Portugal
na luta de libertação foi conseguida porque Portugal começou a ter limitações
de recrutamento de soldados para suportar o seu exército. Hama Thai disse que
Portugal tinha no início da luta uma população de cerca de 9 milhões de habitantes.
Citando os
manuais de estratégias militares, disse que o recrutamento para o exército só
pode ir até 10 por cento da população portuguesa. Isto equivale a dizer que no
caso concreto de Portugal, seria necessários perto de 900 mil de soldados.
Segundo o
ex-vice-ministro da defesa nacional, Portugal, travava a guerra em simultânea,
isto é, em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau. Deveria mandar cerca de 900 mil
soldados nos três países. Moçambique, teria perto de 300 mil soldados. Com este
número, Portugal não seria capaz de suportar 10 anos de guerra.
Segundo
Thai, devido a essas limitações, generais como Khaulza da Arriaga começaram a
recrutar nas próprias colónias. Mas, esses soldados recrutados localmente não
podiam oferecer tanta confiança como os recrutados em Portugal.
A segunda
causa que ditou a derrota é o facto de a população portuguesa não apoiar a
guerra. Em Portugal, havia um sentimento generalizado de repúdio de guerra e
vários círculos de opinião aconselhava ao fim do conflito.
O terceiro
factor é a frustração dos generais. Segundo Hama Thai, em Moçambique, houve
casos de generais que, ao invés de mandar o material bélico ao exército
colonial, deitavam no mato.
A quarta e a
última causa, foi o avanço da Frelimo a partir de Cabo Delgado para o sul. O
exército português estremeceu precipitando ao golpe de Estado a 25 de Abril de
1974 em Portugal. (CanalMoz-19/09/2012- Cláudio Saúte)
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SÓ O RECURSO ÀS ARMAS CONDUZIRIA A INDEPENDÊNCIA – AFIRMA GENERAL HAMA THAI
Esta afirmação foi feita esta semana em
Maputo, pelo general na reserva, António Hama Thai, durante uma palestra
dirigida a funcionários da Autoridade Tributária de Moçambique, subordinada ao
tema “25 de Setembro – Dia das Forças Armadas de Libertação Nacional”. A mesma
se insere nas celebrações do 48.º aniversário das Forças Armadas de Moçambique
e 50º do desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional, efeméride que
se assinala no dia 25 de Setembro.
Na ocasião, o ex-combatente da luta de
libertação nacional afirmou que a insatisfação dos moçambicanos aliada à
intolerância do Governo colonial português em negociar a independência fez com
que o povo liderado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)
recorresse às armas para libertar a terra e os homens.
“Este posicionamento do Governo colonial
português aconteceu apesar do ambiente internacional ser favorável à
descolonização, pois, as Nações Unidas, aprovaram, a 14 de Dezembro de 1960, a
Resolução 1514 que estabelecia o direito à autodeterminação e independência dos
povos colonizados. Portugal fez tábua rasa a todos os ventos da história e com
ouvidos de mercador reforçava o seu sistema e a máquina de opressão contra o
povo. A cultura moçambicana foi irradiada; É assim que para aquilatar a
situação penosa prevalecente em Moçambique nasceram as organizações
nacionalistas: UDENAMO, UNAMI e MANU, no exterior de Moçambique. São estas
organizações, cuja fusão a 25 de Junho de 1962, fez nascer a Frente de
Libertação de Moçambique – FRELIMO, organização que liderou a insurreição
armada contra o jugo colonial português”, explicou o antigo comandante militar.
A aversão de Portugal em conceder a
independência às suas ex-colónias chegou ao ponto, segundo Hama Thai, de o
Governo colonial afirmar, junto das Nações Unidas e outros fóruns
internacionais, que em África não tinha colónias mas sim “províncias
ultramarinas que faziam parte integrante do território português”.
“Portanto, o contexto político da época foi
determinante para se tomar a decisão de recorrer à luta armada para se libertar
o país”, sublinhou Hama Thai, para quem os que afirmam hoje que o país poderia
ter logrado a sua independência sem recurso às armas “são pessoas não atentas e
que não fizeram a devida leitura do contexto da época”.
Hama Thai sublinhou o facto de o primeiro
presidente da FRELIMO, Eduardo Mondlane, na qualidade de funcionário das Nações
Unidas e mediador da independência do Quénia, ter feito uma carta ao Governo
colonial português, solicitando a concessão da independência de Moçambique por
via pacífica, acto que não teve a resposta desejada.
Na ocasião, Hama Thai, que foi o primeiro
governador da província de Tete, após a independência nacional, fez também
questão de frisar que o golpe de Estado em Portugal que teve lugar a 25 de
Abril de 1974, foi consequência da guerra colonial, pois, Portugal
encontrava-se sem hipótese de continuar com a guerra, uma vez que já tinha
dificuldades de recrutamento a nível da metrópole, assim como a nível das
colónias, onde iniciou, alguns anos depois da eclosão do conflito, o
recrutamento para o Exército regular, assim como para as tropas especiais.
Para o palestrante, a derrota do Exército
colonial em Moçambique começou a consumar-se com o fracasso da operação “Nó
Górdio”, cujo epicentro foi a província de Cabo Delgado e que tinha por
objectivo “acabar completamente com a FRELIMO”, movimento a quem os
colonialistas designaram por terrorista.
“A determinação do povo de lutar contra o
colonialismo e a clareza da FRELIMO sobre os objectivos da luta levaram ao
fracasso não só desta operação considerada crucial pelos colonialistas
portugueses, como da própria guerra que se arrastou por dez anos”, afirmou.
O
caso “Rombézia” e a criação da Renamo
O GENERAL na reserva foi solicitado a
debruçar-se sobre alguns constrangimentos verificados ao longo da luta de
libertação nacional, sobretudo no que respeita às clivagens ou mesmo
divergências verificadas no seio da Frente de Libertação de Moçambique
(FRELIMO).
De entre os casos apontados, destaque vai
para a tentativa de se constituir um “Estado moçambicano” que se estenderia do
rio Rovuma ao rio Zambeze, conhecido como “caso Rombézia”.
Segundo Hama Thai tal situação foi
despertada por alguns elementos que deixaram as fileiras da FRELIMO para
abraçarem “projectos pouco claros”, como é o caso de Adelino Guambe, pessoa que
chegou a liderar a UDENAMO, um dos três movimentos nacionalistas que viriam a
constituir a FRELIMO.
“Depois de militar algum tempo na FRELIMO e
frustrado por não ter sido eleito presidente, Adelino Guambe abandonou a
organização e constituiu um movimento que tentou actuar em Tete sem no entanto
lograr sucesso. Ele tinha como ideia estabelecer um território independente,
que tinha como limites os rios Rovuma, a norte, e Zambeze, a sul, dai o nome de
Rombézia”, explicou.
Outro tema abordado relaciona-se com a
guerra de desestabilização, iniciada poucos anos após a proclamação da
independência nacional.
Segundo Hama Thai, esta guerra foi movida a
partir da então Rodésia do Sul com o objectivo de desestabilizar a governação
da Frelimo em Moçambique, e criar dificuldades para o alcance da independência
do Zimbabwe.
O antigo combatente da luta de libertação
nacional referiu ainda que para lograr os seus intentos, o regime de Ian Smith,
assistido por pessoas como Orlando Cristina e Jorge Jardim, moveram uma
insurreição armada que teve como protagonistas alguns moçambicanos.
“É a partir desta situação que nascem
grupos como a Renamo. Aliás, o primeiro grupo de membros da Renamo, que
integrava André Machangaíssa, foi treinado na Rodésia do Sul e teve como
instrutor Ken Flower, um elemento preponderante da hierarquia militar e
política do regime de Ian Smith”, explicou o general Hama Thai.
De acordo com o general, a génese da Renamo
não mudou com o andar dos anos daí que em 1994, após a assinatura do Acordo
Geral de Paz e da realização das primeiras eleições multipartidárias, o
ex-movimento rebelde propôs, na Assembleia da República, a criação de uma Lei
de Desnacionalizações.
“Essa lei iria beneficiar a quem? De
certeza que não ao povo moçambicano”, referiu o nosso interlocutor.
A
vitória da Frelimo
UM momento marcante da intervenção do
General Hama Thai, que teve como interlúdio a actuação do músico Filipe
Nhassavele, relaciona-se com a consumação da vitória da Frelimo sobre o
colonialismo português.
Segundo disse, tal vitória foi conseguida
porque Portugal começou a ter limitações de recrutamento de soldados para
suportar o seu Exército. Conforme disse, Portugal tinha, no início da luta, uma
população de cerca de 9 milhões de habitantes.
Ora, segundo os manuais de estratégias
militares, o recrutamento para o Exército só pode ir até 10 por cento da
população o que, no caso de Portugal, seria cerca de 900 mil soldados. Só que
para Portugal, que travava a guerra em simultânea em Moçambique, Angola e
Guiné-Bissau, teria que distribuir os 900 mil soldados em três países e
Moçambique, teria não mais de 300 mil soldados. Com este número, segundo Hama
Thai, Portugal não seria capaz de suportar 10 anos de guerra.
Dadas essas limitações segundo conta,
generais como Khaulza de Arriaga começaram a recrutar nas próprias colónias ou,
se preferir, nas províncias ultramarinas. Um dos problemas é de que esses
soldados não podiam oferecer tanta confiança como os naturais de
Portugal.
O segundo factor que ditou a derrota é o
facto de a população portuguesa não “aplaudir” a guerra, ou seja, havia, em
Portugal, um sentimento generalizado de repúdio de guerra e vários círculos de
opinião aconselhavam ao fim do conflito armado.
O terceiro factor e último está relacionado
com as frustrações dos próprios generais. Conta Hama Thai, que em Moçambique,
houve casos de generais que, ao invés de canalizarem o material bélico ao
Exército que tanto necessitava, às vezes, deitavam-no nas matas numa clara
indicação de sabotagem e contestação silenciosa da guerra.
Este aspecto foi muito importante, uma vez
que culminou com o desânimo de alguns generais.
Com o avanço da Frelimo de Cabo Delgado
para o sul, Portugal estremeceu e os generais precipitaram-se, o que conduziu
ao golpe de Estado a 25 de Abril de 1974.
Um elemento importante a considerar para a
vitória da FRELIMO é a evolução qualitativa do seu armamento e o seu emprego
combativo, como é o caso da “estrela 2M”, uma anti-aérea portátil que abateu
muitos aviões ou o canhão “B11”, instalação portátil de artilharia com calibre
de 122 milímetros, que usa um foguete reactivo que tem cerca de 10 mil
estilhaços, um raio mortífero de 50 metros.
“O seu emprego combativo não era fácil por
que exigia muitos cálculos”, reconhece, o general.
In: Noticias, 22 de Setembro de 2012
Devia escrever um livro, eh uma biblioteca viva. po ele eu iria a urna de votacao
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