A BATALHA
POR MOÇAMBIQUE É HOJE E NÃO NO DIA DO VOTO
Conclave
corporativo e político alinha e afina estratégias?…
Não há como
ignorar os sinais dos tempos nem as suas consequências em tudo o que se refere
ao panorama político nacional.
Toda a acção
governativa nos últimos anos, tanto na II república de Joaquim Chissano como na
actual administração de Armando Guebuza pode ser resumida a um esforço tendente
a emissão do maior número possível de licenças para a exploração de recursos
naturais por parte de corporações multinacionais. Algumas intervenções em
infraestruturas públicas verdadeiramente úteis também misturam de uma maneira
ou de outra interesses privados de governantes.
Se tivermos
em conta o que a imprensa malawiana o atesta no caso de uma empresa portuguesa
actuando no campo da construção civil poucas dúvidas são de que empresas com
interesses lucrativos conseguem obras ou empreitadas através de luvas e
subornos das entidades locais que autorizam ou assinam os contratos de adjudicação.
É manchete
actual que a Mota Engil de Portugal teria ganho várias obras de construção
civil no vizinho Malawi, através de depósitos de avultadas somas de dinheiro
nas contas do falecido presidente daquele país, Mutharika.
O mesmo não
terá acontecido em Moçambique? Quem nos garante que para além do que se
considera lobbies normais a mesma empresa que também tem ganho concursos de
obras importantes não tenha utilizado os mesmos métodos em Moçambique?
Estratégias
empresariais são prerrogativas admissíveis no âmbito da concorrência mas há
limites para tudo. A agressividade de muitas empresas portuguesas aparece
muitas vezes associada a relações estreitas existentes entre o Partido
Socialista e a Frelimo e disso não restam dúvidas. Há como que uma sombra perene
de Mário Soares, útil para a implantação de empresas portuguesas em Moçambique
e a isso também tendo em conta o factor “Almeida Santos”.
Mas a
realidade mostra que os governantes estão imensamente preocupados com dossiers
que tragam receitas para os conglomerados a que estão relacionados ou quem
tenham estreitas relações. Os nomes conhecidos como accionistas de diversas
iniciativas empresariais nacionais especialmente ligadas aos recursos naturais
são pertencentes a figuras dos sucessivos governos do país e suas relações
familiares.
Com este
pano de fundo é evidente que só teremos esforços conjugando-se no sentido de
manter um status que os beneficia.
A situação
da democratização do país é periclitante e avança ao sabor dos interesses e
apetites dos que desenham os programas e projectos de desenvolvimento nacional.
O que se
vulgarmente se denomina de governação participativa acaba sendo um logro pois
não há participação ou inclusão das forças sociais nos processos de desenho e
tomada de decisões relativas a agenda de desenvolvimento nacional.
Amiúde se
criam constrangimentos e nós de estrangulamento sempre que parte dos actores
nacionais se procuram fazer ouvir. A inclusão em tudo o que se refira a
participação da sociedade civil é algo efémera e inconsistente. Quanto aos
partidos políticos parlamentares ou extra-parlamentares a sua participação é de
considerar insignificante pois com a ditadura de voto governando a tomada de
decisões ou deliberações no âmbito parlamentar sufoca tudo e todos que não pertençam
ao partido no poder. Mesmo no seio do partido no poder a manifestação de
opinião obedece a critérios de obediência e cumprimento rigorosos de instruções
prévias.
É de
concluir que haverá um alinhamento estratégico entre as empresas multinacionais
que possuem interesses firmes no país e o partido governamental que garantiu
suas licenças e autorizações de actuação no país.
Compreender
as ilações que a actuação corporativa oferece constitui algo muito importante
no desenho de qualquer estratégia política e eleitoral.
Numa
situação em que o financiamento das campanhas político-eleitorais se faz de
modo completamente desregulamentado não é de estranhar que haja forças
políticas que se aproveitem dos vazios legais para drenar fundos e recursos
para os partidos políticos de sua preferência.
Aquelas
iniciativas de “arrebanhamento” de artistas e outros comunicadores sociais e
culturais se tornam possíveis porque empresas de telefonia móvel altamente
lucrativas colocam à disposição os fundos necessários sem qualquer hesitação.
Por um lado há que cumprir com instruções e por outro lado há que garantir
acesso preferencial a licenças e autorizações que não se podem conseguir ou
obter sem aval governamental dependente do partido que sustenta o governo.
Os agentes
do lobby corporativo multinacional estão atentos e em estado de alerta quanto
ao que se passa no país e conhecem profundamente os corredores do poder
governamental e suas alianças a nível partidário. Ao nível do empresariado
nacional quase que o partido no poder tem a tarefa facilitada pois a sua
emergência e sustentabilidade depende por completo do grau de alinhamento com
as instruções partidárias emanadas do núcleo que dirige o partido Frelimo. Não
se ganham concursos públicos de prestação de serviço ou de empreitadas sem que
exista uma ligação entre o concorrente e o partido “vermelho”.
Mesmo no que
se refere a obtenção de emprego e progressão na carreira profissional os
moçambicanos já sabem que convém e é salutar possuir na carteira um cartão
vermelho a ser exibido sempre que seja exigido.
Na luta pelo
voto, caminho para a conquista do poder político em Moçambique os obstáculos
são inúmeros bem como complexos. Há dificuldades de natureza conjuntural e
outros enraizados no tecido social e cultural. A realidade económica, os
programas de investimento aprovados, a aliança com o grande “tigre asiático”
serão factores a ponderar em qualquer análise estratégica que se queira fazer.
Qualquer
vitória deve ser perseguida e conseguida com uma margem que não deixe espaço para
dúvidas ou para prováveis manobras de quem controla os órgãos eleitorais.
Não há
empecilho que não possa ser vencido na esfera política. Com a adopção de
estratégias convenientes, visão esclarecida do panorama político
nacional, uma capacidade redobrada de criação de alianças e consensos
operacionais é possível trabalhar-se para uma vitória que faça os moçambicanos
regozijarem-se pela democracia conquistada e assegurada.
Os tempos
próximos a começar por “ontem” são de seriedade e trabalho a todo o vapor de
modo a transformar desejos e sonhos em realidade sentida e vivida pelos
moçambicanos.
Há que
passar uma mensagem as corporações sobre a necessidade de sua integração numa
plataforma legal de exploração de recursos naturais em Moçambique, respeitando os
princípios da transparência da indústria extractiva e outros códigos de âmbito
internacional.
Disseminar
informação programática que demonstre que não estamos contra o investimento
privado estrangeiro mas sim contra o saque ao desbarato dos recursos naturais
do país vai ajudar a dar a entender e assumir que relações aparentemente
vantajosas podem transformar-se em factores de rompimento de acordos e licenças
de exploração de recursos. Agir proactivamente por parte das multinacionais,
tem de significar afastarem-se de modelos que fomentam a corrupção política e
financeira no país.
A vitória
eleitoral deve estar desassociada de financiamentos corporativos
internacionais.
Não queremos
ver a VALE ou a RIO TINTO avançando com iniciativas corporativas baptizadas de
responsabilidade corporativa quando afinal se trata de formas artificiais de
apoio a campanha político-eleitoral do partido governamental.
Queremos e é
desejo da maioria dos moçambicanos que a concorrência e competição eleitoral se
faça e aconteça sob o signo da lisura, transparência, igualdade de
oportunidades e em respeito para com as leis do país. A soberania e os
interesses legítimos dos moçambicanos são chamados a estar na linha da frente
do processo político em Moçambique. (CanalMoz-19/09/2012-Noé Nhantumbo)
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