QUEM GOVERNA A ÁFRICA DO SUL? - TÍTULO DO DE MARTIN PLAUT
E PAUL HOLDEN
XIPXLAPALA
por João de Sousa
Ao
percorrer pelas 420 páginas deste livro percebe-se que a África do Sul respira
democracia. Que as mudanças chegaram. Que o apartheid foi abolido
no país. Por isso mesmo os autores desta publicação, são de opinião de que os
dias de hoje são (ou deviam) ser outros. E neste escrito de análise ao que hoje
se passa por aqui, uma pergunta: “Mais de duas décadas depois
da libertação de Mandela, por que é que a África do Sul
continua a ser uma Nação em permanente turbulência”
? Para uns uma resposta fácil de ser encontrada. Para outros não.
O
racismo infelizmente ainda está presente. Hoje o país está mergulhado num mar
de pobreza e desemprego.
A
pequena elite negra tenta florescer, agarrada ao Black Economic
Empowerment (BEE), a quem, muitos críticos designam de “elefante
branco”.
Os
100 milhões de randes (o equivalente a pouco mais de 350 milhões de meticais)
que vão ser gastos em Mangaung no próximo congresso do ANC são a prova evidente
de que “não há mãos a medir” no que a dinheiro diz respeito.
Desde
Outubro de 2009 que políticos do interior do ANC afirmam, abertamente, a
existência de divergências internas. Não só entre os apoiantes de Jacob
Zuma e do antigo presidente Thabo Mbeky, mas também
através de “muitas outras linhas”. Um outro dado revelador. Alguns
políticos já dizem que o próximo congresso de Mangaung (Bloemfontein) vai ser
pior do que o de Polokwane em 2007, quando Zuma afastou Mbeky da chefia do
Estado.
Nas
hostes dos sindicatos nem tudo é um mar de rosas. As dissidências,
particularmente quando o massacre de Lonmin invadiu as páginas dos jornais e
fez manchete durante vários dias na Rádio e Televisão, são evidentes. A Central
Sindical tenta lutar contra isso, mas não encontra no seu secretário-geral o
tal homem de concenso, embora ele tenha sido reeleito para o seu quarto
mandato.
Este
livro que tem servido de base à minha crónica de hoje, está dividido em cinco
partes. Na primeira os autores abordam questões relacionadas com aquilo que
designam “bons amigos, piores inimigos”.
Aqui
são referidos aspectos de natureza histórica relacionados com algumas figuras
centrais de topo do ANC e analisados os prós e os contras da formação da Aliança
Tripartida, que congrega no seu seio o ANC, o Partido Comunista e a COSATU, a
frente alargada que funcionou como travão às intenções dos partidos existentes
ao tempo do apartheidtomarem o poder, com especial destaque para o
Partido Nacional, que depois de 1994 passou a designar-se de Aliança
Democrática e que controla política e administrativamente a Província do Cabo.
Os
autores tentam analisar os aspectos essenciais da corrupção e das instituições
que ainda resistem ao processo de depradação do ANC, com tentáculos virados
para o judiciário, para os meios de comunicação social privados (ou
independentes) e para a sociedade civil em geral.
Um
capítulo é dedicado a perceber que mecanismos utiliza o ANC para se
auto-financiar com referência ao BEE que acabou por criar no
país um grande número de milionários, que jogam um papel importante nas
decisões de natureza política e que de acordo com os autores deste livro não
passam duma “burguesia patriótica”.
Martin
Plaut e Paul Holden são de
opinião de que o poder não reside nas instituições tradicionais, como por
exemplo o Parlamento ou no Conselho de Ministros. Num país onde a pobreza
atinge níveis alarmantes e as instituições, nomeadamente as do Estado, são
fracas, estão criadas as condições para intensificar a batalha pelo poder. Eles
desvendam por outro lado o mistério de como é que a “Nação do arco-íris”
chegou a esse ponto. Questionam as origens da Aliança Tripartida e perguntam se
ela vai resistir a estas lutas pelo poder. Quais as forças sombrias que operam no
interior desta aliança? Mais importante do que isso: será que a África do Sul
está predestinada a ser mais uma tragédia africana, ou se ainda há uma luz no
fundo do túnel que faz vislumbrar crescimento e democracia estável?
Para
quem se interessa por estas coisas este é um livro que vale a pena ler.
CORREIO DA MANHÃ – 03.10.2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário