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03 outubro 2012

QUEM GOVERNA A ÁFRICA DO SUL? - TÍTULO DO DE MARTIN PLAUT E PAUL HOLDEN


QUEM GOVERNA A ÁFRICA DO SUL? - TÍTULO DO DE MARTIN PLAUT E PAUL HOLDEN


 XIPXLAPALA por João de Sousa
Ao percorrer pelas 420 páginas deste livro percebe-se que a África do Sul respira democracia. Que as mudanças chegaram. Que o apartheid foi abolido no país. Por isso mesmo os autores desta publicação, são de opinião de que os dias de hoje são (ou deviam) ser outros. E neste escrito de análise ao que hoje se passa por aqui, uma pergunta: “Mais de duas décadas depois da libertação de Mandela, por que é que a África do Sul continua a ser uma Nação em permanente turbulência” ? Para uns uma resposta fácil de ser encontrada. Para outros não.
O racismo infelizmente ainda está presente. Hoje o país está mergulhado num mar de pobreza e desemprego.
A pequena elite negra tenta florescer, agarrada ao Black Economic Empowerment (BEE), a quem, muitos críticos designam de “elefante branco”.
Os 100 milhões de randes (o equivalente a pouco mais de 350 milhões de meticais) que vão ser gastos em Mangaung no próximo congresso do ANC são a prova evidente de que “não há mãos a medir” no que a dinheiro diz respeito.
Desde Outubro de 2009 que políticos do interior do ANC afirmam, abertamente, a existência de divergências internas. Não só entre os apoiantes de Jacob Zuma e do antigo presidente Thabo Mbeky, mas também através de “muitas outras linhas”. Um outro dado revelador. Alguns políticos já dizem que o próximo congresso de Mangaung (Bloemfontein) vai ser pior do que o de Polokwane em 2007, quando Zuma afastou Mbeky da chefia do Estado.
Nas hostes dos sindicatos nem tudo é um mar de rosas. As dissidências, particularmente quando o massacre de Lonmin invadiu as páginas dos jornais e fez manchete durante vários dias na Rádio e Televisão, são evidentes. A Central Sindical tenta lutar contra isso, mas não encontra no seu secretário-geral o tal homem de concenso, embora ele tenha sido reeleito para o seu quarto mandato.
Este livro que tem servido de base à minha crónica de hoje, está dividido em cinco partes. Na primeira os autores abordam questões relacionadas com aquilo que designam “bons amigos, piores inimigos”.
Aqui são referidos aspectos de natureza histórica relacionados com algumas figuras centrais de topo do ANC e analisados os prós e os contras da formação da Aliança Tripartida, que congrega no seu seio o ANC, o Partido Comunista e a COSATU, a frente alargada que funcionou como travão às intenções dos partidos existentes ao tempo do apartheidtomarem o poder, com especial destaque para o Partido Nacional, que depois de 1994 passou a designar-se de Aliança Democrática e que controla política e administrativamente a Província do Cabo.
Os autores tentam analisar os aspectos essenciais da corrupção e das instituições que ainda resistem ao processo de depradação do ANC, com tentáculos virados para o judiciário, para os meios de comunicação social privados (ou independentes) e para a sociedade civil em geral.
Um capítulo é dedicado a perceber que mecanismos utiliza o ANC para se auto-financiar com referência ao BEE que acabou por criar no país um grande número de milionários, que jogam um papel importante nas decisões de natureza política e que de acordo com os autores deste livro não passam duma “burguesia patriótica”.
Martin Plaut Paul Holden são de opinião de que o poder não reside nas instituições tradicionais, como por exemplo o Parlamento ou no Conselho de Ministros. Num país onde a pobreza atinge níveis alarmantes e as instituições, nomeadamente as do Estado, são fracas, estão criadas as condições para intensificar a batalha pelo poder. Eles desvendam por outro lado o mistério de como é que a “Nação do arco-íris” chegou a esse ponto. Questionam as origens da Aliança Tripartida e perguntam se ela vai resistir a estas lutas pelo poder. Quais as forças sombrias que operam no interior desta aliança? Mais importante do que isso: será que a África do Sul está predestinada a ser mais uma tragédia africana, ou se ainda há uma luz no fundo do túnel que faz vislumbrar crescimento e democracia estável?
Para quem se interessa por estas coisas este é um livro que vale a pena ler.

CORREIO DA MANHÃ – 03.10.2012

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