“PALMADINHAS
NAS COSTAS” ALIMENTAM EGOS MAS TRAZEM NEOCOLONIALISMO
Assim era antes mas agora também…
Beira
(Canalmoz) - É por demais evidente que quando os líderes de países como
Moçambique recebem “palmadinhas nas costas” e elogios, bem como prémios de
Boa-Governação e desempenhos apreciáveis, que se trata tudo de conversa fiada.
Quem o faz está perfeitamente ciente de que os egos de alguns africanos
precisam de ser alimentados que nem a propalada autoestima dos dias de hoje.
Mesmo
Mo Ibraimo que instituiu um prémio para celebrar e encorajar a Boa-Governação
em África está tendo imensas dificuldades em encontrar quem entregar o prémio a
cada ano que passa. Mesmo alguns dos premiados hoje revelam que não mereciam
tamanha premiação.
Se
antes era de Moscovo e de Pequim que partiam a maior parte de iniciativas
elogiando dirigentes africanos também não se pode dizer que das chancelarias
não surgissem prémios e elogios destinados a engradecer os feitos “não feitos”
de dirigentes africanos convenientes. Herói socialista, Ordem de Lenine,
Comendador do Império Britânico, Membro da Ordem do Infante Dom Henrique,
Doutor Honoris Causa desta ou daquela universidade, títulos não faltam e gente
a quem distribuir também abunda.
O
casamento por exemplo de Nyerere com interesses socialistas era sobejamente
conhecido e ele e sua Tanzânia beneficiaram-se imenso por terem albergado
vários movimentos guerrilheiros de países africanos. Como prémio recebiam-se
medalhas e abria-se caminho para uma cooperação económica denominada socialista
e avançada. Quando Henry Kissinger organizava o reportório que Mobutu Sesse
Sekou deveria cantar e dançar em defesa dos interesses belgas e americanos numa
perspectiva de impedir a expansão dos ideais socialistas e comunistas estava em
jogo um conjunto de factores e fenómenos que importa não esquecer. Este Mobutu
e outros ditadores africanos de várias estirpes, com tendências socializantes
ou professantes do que se chama hoje de economia de mercado ou capitalismo
selvagem, dançavam a música que os poderosos tocavam.
As
viagens de estado minuciosamente organizadas serviam para insuflar e inflamar
os egos de gente sedenta de grandeza.
Os
corredores diplomáticos aprenderam a terem em stock os alimentos e bebidas
preferidas dos déspotas africanos de ontem. Se hoje surgem notícias de alguns
dirigentes de países ricos em petróleo em África possuem jactos executivos que
se deslocam à Europa para adquirir o stock de bebidas preferidos de dignatários
do estado não se trata de mentira alguma ou exagero.
Os
exageros em exuberância e luxo dos governantes africanos constituem um
verdadeiro insulto a maioria de seus concidadãos que tem de sobreviver com
migalhas ocasionalmente distribuídas quando as calamidades naturais chegam com
ou sem aviso.
Quando
falamos hoje de problemas no continente seria conveniente que não nos
negássemos a olhar frontalmente para as verdadeiras causas. Há que dizer de
boca cheia que as lideranças africanas no seu conjunto são o principal factor
de degenerescência governativa que se verifica no continente. Muito poucas são
as excepções.
Quem
se ocupa de transformar a governação de um país num feudo familiar não pode ser
considerado de bom governante. Filhos e filhas de chefes de estado não deveriam
estar pendurados nas responsabilidades políticas e governamentais dos pais para
construírem impérios empresariais. Herdeiros políticos em repúblicas seguem um
curso que não deixa margem para que surjam oportunidades para que filhos
biológicos de presidente se tornem eles mesmos presidentes no desaparecimento
de cena de seus progenitores.
Aquilo
que foi feito no Egipto de Mubarak, na Líbia da Kadaafi, que foi ensaiado no
Senegal, que foi concretizado no Gabão, que está sendo ensaiado em Angola e
noutros quadrantes de África significa que África é o paraíso das oligarquias.
A
sustentabilidade de uma apreciável parte do empresariado africano cairia no dia
seguinte se perdesse os seus apoios e ligações na esfera governativa e
política. Há uma incipiência tal que está tardando a ser descoberto que rico
rodeado de gente muito pobre nunca está a vontade.
Os
salamaleques frequentemente recebidos por nossos governantes, os elogios e
tratamento diferencial que merecem nas suas deslocações ao estrangeiro são
produto de uma afinada estratégia de acesso facilitado aos recursos naturais de
nossos países. A neocolonização de África começou no dia em que os diferentes
países proclamaram suas independências políticas.
As
capitais dos países antes metrópoles jamais desarmaram e abandonaram suas
aspirações de dominarem e acederem aos recursos considerados vitais para o
andamento de suas economias.
O
fomento e guerras intestinas e golpes de estado fazem parte do arsenal
utilizado para desestabilizar os países que são renitentes. Aos líderes que
cumprem religiosamente as prescrições das chancelarias internacionais
outorgam-se prémios e convites para tomarem parte de importantes e conceituadas
academias e centros de pensamento internacionais (think-tanks).
Os
convites para participação no circuito diplomático internacional como os
encontros de Davos não faltam. A participação nos encontros da ONU em nome de
sua experiencia e sabedoria estão garantidos pelo tipo de relacionamentos e
contactos que criaram.
É
tudo parte de um extenso clube que tem uma agenda específica.
As
proclamações de cariz nacionalista e em defesa de uma pretensa soberania só
acontecem quando tem os seus interesses particulares ameaçados. De maneira
visível comandam as operações em seus países com uma postura de “acumuladores”
vorazes de riqueza.
Quase
todos os que se diziam membros do quase defunto Movimento dos Não Alinhados em
seus países eram déspotas repressores como a história o documenta.
Uma
vil combinação de interesses tem muitos países inaceitavelmente com seus povos
vivendo na mais completa penúria. Cidadãos com os seus direitos consagrados na
lei são tratados como se de burros de carga se tratasse.
Na
mais completa conspiração contra seus concidadãos vemos nossos governantes
conluiando-se com as corporações multinacionais para explorarem em seu
benefício os recursos naturais existentes.
Os
políticos de proa do ocidente e oriente estabelecem alianças estratégicas em
África que como dividendo garantem o fluxo encoberto de fundos para suas contas
bancárias.
Chefes
de governo e partidos políticos na reforma continuam levando uma vida de
“lordes” que sua renda mensal não explica. Os favores em nomeações e atribuição
de apetecíveis cargos são pagos atempadamente nestas esferas.
África,
com seu desenvolvimento combalido, sente na carne as consequências de acção
premeditada encetada por quem dá “palmadinhas nas costas de nossos governantes
e por estes que as recebem com “apreço criminoso”.
Aquele
neocolonialismo de que se falava com tanto fôlego, hoje está virtualmente
esquecido e como se pode verificar todos os recursos naturais de que os países
africanos dispõem está sob controlo de empresas transnacionais provenientes dos
países que ontem eram as potências colonizadoras.
Tantas
voltas foram dadas para no fim se estar neste beco aparentemente sem saída.
Os
gloriosos “libertadores e revolucionários” de ontem renderam-se ao capital que
diziam combater e por causa do qual emitiram sentenças de morte que foram
cumpridas.
Esta
é a realidade nua e crua que mesmo os acérrimos defensores de regimes
oligárquicos desta África não podem desmentir ou desfazer.
Quando
um “combatente pela libertação” de seu país, aproveita a primeira oportunidade
e fundos que não se sabe de onde saíram, para adquirir um castelo na antes
potência colonizadora estamos em presença de um comportamento até certo ponto
doentio, de uma elite sofrendo de megalomania. Alguns podem estar esquecidos
mas tanto Mobutu como Robert Mugabe adquiriram mansões e castelos algures na
Europa. A revolução que muitos diziam defender e que juraram proteger diluiu-se
logo que chegaram a poder.
Quem
explora seus concidadãos, recruta menores para combater rivais, quem submete
milhares a uma escravatura moderna na mineração de ouro, diamantes ou coltan
são africanos com relações conhecidas com seus clientes internacionais. Se hoje
existe uma confusão na República Democrática do Congo temos ou existe uma mão
dos EUA, Bélgica, apoiando o Ruanda e o Uganda. Quem se beneficia directamente
da instabilidade na RDC são estes dois países que possuem militares e guerrilheiros
no terreno dirigindo operações de mineração com trabalhadores forçados. Quem
cobra taxas de passagem a cidadãos são guerrilheiros com ligações conhecidas ao
Ruanda e Uganda. Quem promoveu e executou manobras durante o processo eleitoral
é o actual presidente Joseph Kabila que mesmo assim tem garantido o apoio de
seus pares na região, na União Africana e algures em Nova Iorque.
Os
recursos naturais servem para “lubrificar” todo o tipo de engrenagens…
Com
algum marketing político, com lobbies activos, tem sido possível estabelecer e
manter “profícuas” relações em África… (CanalMoz, 29 de Março de 2013, Noé Nhantumbo)