29 março 2013

“PALMADINHAS NAS COSTAS” ALIMENTAM EGOS MAS TRAZEM NEOCOLONIALISMO

“PALMADINHAS NAS COSTAS” ALIMENTAM EGOS MAS TRAZEM NEOCOLONIALISMO

Assim era antes mas agora também…

Beira (Canalmoz) - É por demais evidente que quando os líderes de países como Moçambique recebem “palmadinhas nas costas” e elogios, bem como prémios de Boa-Governação e desempenhos apreciáveis, que se trata tudo de conversa fiada. Quem o faz está perfeitamente ciente de que os egos de alguns africanos precisam de ser alimentados que nem a propalada autoestima dos dias de hoje.
Mesmo Mo Ibraimo que instituiu um prémio para celebrar e encorajar a Boa-Governação em África está tendo imensas dificuldades em encontrar quem entregar o prémio a cada ano que passa. Mesmo alguns dos premiados hoje revelam que não mereciam tamanha premiação.
Se antes era de Moscovo e de Pequim que partiam a maior parte de iniciativas elogiando dirigentes africanos também não se pode dizer que das chancelarias não surgissem prémios e elogios destinados a engradecer os feitos “não feitos” de dirigentes africanos convenientes. Herói socialista, Ordem de Lenine, Comendador do Império Britânico, Membro da Ordem do Infante Dom Henrique, Doutor Honoris Causa desta ou daquela universidade, títulos não faltam e gente a quem distribuir também abunda. 
O casamento por exemplo de Nyerere com interesses socialistas era sobejamente conhecido e ele e sua Tanzânia beneficiaram-se imenso por terem albergado vários movimentos guerrilheiros de países africanos. Como prémio recebiam-se medalhas e abria-se caminho para uma cooperação económica denominada socialista e avançada. Quando Henry Kissinger organizava o reportório que Mobutu Sesse Sekou deveria cantar e dançar em defesa dos interesses belgas e americanos numa perspectiva de impedir a expansão dos ideais socialistas e comunistas estava em jogo um conjunto de factores e fenómenos que importa não esquecer. Este Mobutu e outros ditadores africanos de várias estirpes, com tendências socializantes ou professantes do que se chama hoje de economia de mercado ou capitalismo selvagem, dançavam a música que os poderosos tocavam.
As viagens de estado minuciosamente organizadas serviam para insuflar e inflamar os egos de gente sedenta de grandeza. 
Os corredores diplomáticos aprenderam a terem em stock os alimentos e bebidas preferidas dos déspotas africanos de ontem. Se hoje surgem notícias de alguns dirigentes de países ricos em petróleo em África possuem jactos executivos que se deslocam à Europa para adquirir o stock de bebidas preferidos de dignatários do estado não se trata de mentira alguma ou exagero.
Os exageros em exuberância e luxo dos governantes africanos constituem um verdadeiro insulto a maioria de seus concidadãos que tem de sobreviver com migalhas ocasionalmente distribuídas quando as calamidades naturais chegam com ou sem aviso.
Quando falamos hoje de problemas no continente seria conveniente que não nos negássemos a olhar frontalmente para as verdadeiras causas. Há que dizer de boca cheia que as lideranças africanas no seu conjunto são o principal factor de degenerescência governativa que se verifica no continente. Muito poucas são as excepções.
Quem se ocupa de transformar a governação de um país num feudo familiar não pode ser considerado de bom governante. Filhos e filhas de chefes de estado não deveriam estar pendurados nas responsabilidades políticas e governamentais dos pais para construírem impérios empresariais. Herdeiros políticos em repúblicas seguem um curso que não deixa margem para que surjam oportunidades para que filhos biológicos de presidente se tornem eles mesmos presidentes no desaparecimento de cena de seus progenitores.
Aquilo que foi feito no Egipto de Mubarak, na Líbia da Kadaafi, que foi ensaiado no Senegal, que foi concretizado no Gabão, que está sendo ensaiado em Angola e noutros quadrantes de África significa que África é o paraíso das oligarquias.
A sustentabilidade de uma apreciável parte do empresariado africano cairia no dia seguinte se perdesse os seus apoios e ligações na esfera governativa e política. Há uma incipiência tal que está tardando a ser descoberto que rico rodeado de gente muito pobre nunca está a vontade.
 Os salamaleques frequentemente recebidos por nossos governantes, os elogios e tratamento diferencial que merecem nas suas deslocações ao estrangeiro são produto de uma afinada estratégia de acesso facilitado aos recursos naturais de nossos países. A neocolonização de África começou no dia em que os diferentes países proclamaram suas independências políticas.
As capitais dos países antes metrópoles jamais desarmaram e abandonaram suas aspirações de dominarem e acederem aos recursos considerados vitais para o andamento de suas economias.
O fomento e guerras intestinas e golpes de estado fazem parte do arsenal utilizado para desestabilizar os países que são renitentes. Aos líderes que cumprem religiosamente as prescrições das chancelarias internacionais outorgam-se prémios e convites para tomarem parte de importantes e conceituadas academias e centros de pensamento internacionais (think-tanks).
Os convites para participação no circuito diplomático internacional como os encontros de Davos não faltam. A participação nos encontros da ONU em nome de sua experiencia e sabedoria estão garantidos pelo tipo de relacionamentos e contactos que criaram.
É tudo parte de um extenso clube que tem uma agenda específica. 
As proclamações de cariz nacionalista e em defesa de uma pretensa soberania só acontecem quando tem os seus interesses particulares ameaçados. De maneira visível comandam as operações em seus países com uma postura de “acumuladores” vorazes de riqueza.
Quase todos os que se diziam membros do quase defunto Movimento dos Não Alinhados em seus países eram déspotas repressores como a história o documenta.
Uma vil combinação de interesses tem muitos países inaceitavelmente com seus povos vivendo na mais completa penúria. Cidadãos com os seus direitos consagrados na lei são tratados como se de burros de carga se tratasse.
Na mais completa conspiração contra seus concidadãos vemos nossos governantes conluiando-se com as corporações multinacionais para explorarem em seu benefício os recursos naturais existentes.
Os políticos de proa do ocidente e oriente estabelecem alianças estratégicas em África que como dividendo garantem o fluxo encoberto de fundos para suas contas bancárias.
Chefes de governo e partidos políticos na reforma continuam levando uma vida de “lordes” que sua renda mensal não explica. Os favores em nomeações e atribuição de apetecíveis cargos são pagos atempadamente nestas esferas.
África, com seu desenvolvimento combalido, sente na carne as consequências de acção premeditada encetada por quem dá “palmadinhas nas costas de nossos governantes e por estes que as recebem com “apreço criminoso”.
Aquele neocolonialismo de que se falava com tanto fôlego, hoje está virtualmente esquecido e como se pode verificar todos os recursos naturais de que os países africanos dispõem está sob controlo de empresas transnacionais provenientes dos países que ontem eram as potências colonizadoras.
Tantas voltas foram dadas para no fim se estar neste beco aparentemente sem saída.
Os gloriosos “libertadores e revolucionários” de ontem renderam-se ao capital que diziam combater e por causa do qual emitiram sentenças de morte que foram cumpridas.
Esta é a realidade nua e crua que mesmo os acérrimos defensores de regimes oligárquicos desta África não podem desmentir ou desfazer.
Quando um “combatente pela libertação” de seu país, aproveita a primeira oportunidade e fundos que não se sabe de onde saíram, para adquirir um castelo na antes potência colonizadora estamos em presença de um comportamento até certo ponto doentio, de uma elite sofrendo de megalomania. Alguns podem estar esquecidos mas tanto Mobutu como Robert Mugabe adquiriram mansões e castelos algures na Europa. A revolução que muitos diziam defender e que juraram proteger diluiu-se logo que chegaram a poder.
Quem explora seus concidadãos, recruta menores para combater rivais, quem submete milhares a uma escravatura moderna na mineração de ouro, diamantes ou coltan são africanos com relações conhecidas com seus clientes internacionais. Se hoje existe uma confusão na República Democrática do Congo temos ou existe uma mão dos EUA, Bélgica, apoiando o Ruanda e o Uganda. Quem se beneficia directamente da instabilidade na RDC são estes dois países que possuem militares e guerrilheiros no terreno dirigindo operações de mineração com trabalhadores forçados. Quem cobra taxas de passagem a cidadãos são guerrilheiros com ligações conhecidas ao Ruanda e Uganda. Quem promoveu e executou manobras durante o processo eleitoral é o actual presidente Joseph Kabila que mesmo assim tem garantido o apoio de seus pares na região, na União Africana e algures em Nova Iorque. 
Os recursos naturais servem para “lubrificar” todo o tipo de engrenagens…
Com algum marketing político, com lobbies activos, tem sido possível estabelecer e manter “profícuas” relações em África… (CanalMoz, 29 de Março de 2013, Noé Nhantumbo)


28 março 2013

BRICS EM ÁFRICA: NEOCOLONIZAÇÃO OU COOPERAÇÃO?

BRICS EM ÁFRICA: NEOCOLONIZAÇÃO OU COOPERAÇÃO?


Uns dizem que é uma nova linha de colonização, outros preferem chamar de cooperação.
Teorias à parte, África é o único lugar onde há matéria-prima para a indústria dos BRICS e, ao mesmo tempo, só eles têm força para investir no continente. O caminho está aberto, mas o destino depende das escolhas políticas.
O grupo dos países emergentes denominado BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, terminou, esta quarta-feira (27 de Março de 2013), a sua reunião em Durban, na África de Sul, com a decisão de criar um banco de desenvolvimento para apoiar infra-estruturas (portos, rodovias, aeroportos) e desenvolvimento sustentável (energia, irrigação, agricultura) nas suas potências e nos países em desenvolvimento.
Uma outra decisão tomada na V Cimeira dos BRICS foi a criação de um fundo de reservas, de 100 biliões de dólares, que deverá ser usado em caso de crise financeira internacional. O fundo anti-crise é denominado Arranjo de Contingente de Reservas.
A China vai entrar com 41 biliões de dólares, Brasil, Rússia e Índia com 18 biliões cada e a África do Sul, menor economia do grupo, vai ingressar com 5 biliões de dólares.
Estas decisões surgem numa altura em que se verifica uma corrida em massa destes países para África, onde disputam os recursos naturais e mercados para venda dos seus produtos.
Alguns analistas internacionais não acreditam que este apoio dos BRICS a infra-estruturas dos países em desenvolvimento traga algum benefício às comunidades, isto porque até mesmo os chineses, que são os maiores investidores do grupo em África, têm importado matéria-prima e até trabalhadores da China, para levantar infra-estruturas, deixando de criar emprego no continente.
Não será esta entrada dos países emergentes em África uma forma de fortificar a sua presença no continente, no sentido de aproveitarem as grandes jazidas de minérios, petróleo e outros recursos naturais valiosos existentes em abundância?


Analistas consideram que a ideia dos BRICS, de apoiar os projectos de construção de infra-estruturas nos países em desenvolvimento, pode ter surgido também para melhorar as condições de manuseamento e logística dos recursos explorados pelas empresas que fazem parte do seu bloco.
A África do Sul tinha esperança de sediar a nova entidade bancária, para acelerar o ciclo de desenvolvimento criado nos últimos anos pelos investimentos chineses e brasileiros e irradiar optimismo a todo o continente. Mas as negociações emperaram com a resistência da Rússia. Moscovo não vê utilidade no banco de fomento dos BRICS.
A Rússia tem menos necessidades em infra-estruturas e, além disso, os emergentes já têm bancos de desenvolvimento nacionais consolidados, que podem tocar os projectos intra-Brics.
Foram convidados a participar no encontro os presidentes em exercício das oito comunidades económicas regionais africanas, nomeadamente da SADC, da Comunidade da África Oriental, da Comunidade Económica dos Estados da África Central, da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, do Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA), da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Árabe do Magrebe (UAM), e ainda o Presidente da União Africana.

BRICS COMPETEM PARA GANHAR TERRENO NA ÁFRICA
Para os habitantes da cidade de Durban (local da reunião dos Brics) consideram que quando se pensa  na reunião de cúpula entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os Brics – um empreendimento vem à mente quando o assunto é o aumento da presença dos países emergentes na África do Sul: o "Shopping Center China".
Com 40 mil metros quadrados e mais de 400 lojas, esse megacentro comercial inaugurado há sete anos (e expandido três vezes) fica aberto sete dias por semana para vender os mais variados tipos de produtos com apenas dois aspectos em comum - preços acessíveis e a etiqueta que informa: "Made in China".
O Shopping Center China – com filial em Johanesburgo – é a face mais visível do fenômeno que ganha força e tornou-se um dos principais temas da cúpula dos Brics: a corrida da China e dos outros países do clube de emergentes para "fincar o pé" na África, ocupando espaços que tradicionalmente pertenciam a potências coloniais europeias.
Se no passado os europeus brigavam pelo direito de explorar terras e jazidas minerais do continente, agora, cada vez mais, são os Brics que disputam os recursos naturais e os mercados africanos.
"É natural haver um acirramento na disputa por alguns filões de negócios entre os países emergentes, conforme os investimentos na África cresçam", disse à BBC Brasil Wayne Morris, diretor da consultoria africana GSEC e membro do conselho da Brand South Africa, entidade que cuida da imagem e promoção de negócios da Africa do Sul.
"Os indianos e os chineses são os que têm presença mais forte na África do Sul, por exemplo – e entre eles já há disputa. O Brasil e a Rússia também estão ampliando sua presença em outros lugares. Mas a competição entre esses países têm tudo para ser saudável – para eles e, principalmente, para a África que terá mais opções de investimentos", acredita.
Harry Shmelzer, presidente da WEG - empresa brasileira líder do mercado de motores elétricos que há três anos tem uma fábrica com 600 funcionários na África do Sul (embora faça negócios com o país há mais de três décadas)- , disse à BBC Brasil que a concorrência com os chineses em sua área já é acirrada.
"Os chineses oferecem uma concorrência agressiva aqui e em outros lugares – mas já sabemos que precisamos estar preparados para isso", diz ele.

Presença dos Brics
Segundo um estudo do sul-africano Standard Bank (banco no qual hoje os chineses têm uma participação de 20%), na última década o volume de trocas comerciais dos Brics com a África aumentou dez vezes, chegando a US$ 340 bilhões – mais que o comércio entre os demais países do grupo (de US$ 310 bilhões)
A China é sem dúvida o país dos Brics cujos negócios mais avançaram no continente africano nos últimos anos, principalmente em função do interesse chinês por recursos naturais. Só o comércio com a África aumentou 20 vezes de 2002 a 2012, passando dos US$ 200 bilhões – o que em parte explica o sucesso do Shopping Center China e outros empreendimentos similares. Segundo estimativas do governo chinês, o país teria um estoque de investimento na África de US$ 20 a US$ 40 bilhões.
A Índia também teve um aumento substancial dos investimentos na região nos últimos anos, apostando em áreas como agricultura, telecomunicações e o setor automobilístico, principalmente no sul e no sudeste sul-africanos. A Rússia tem investimentos na Tunísia, Nigéria, Uganda e África do Sul. Já o Brasil, tem uma presença cada vez mais forte na África lusófona – Moçambique e Angola – embora empresas como a Marcopolo, a Weg e a Camargo Correa também estejam presentes na África do Sul.
Moçambique abriga empreendimentos da Vale e da Odebrecht, uma das maiores empregadoras locais, e Angola é o maior receptor dos investimentos brasileiros no continente (seriam R$ 7 bilhões, segundo estimativas de 2011 da Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola). Empresas como Petrobras e as construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez têm operações sólidas no país há muitos anos.
Além disso, Angola é também a principal receptora de investimentos da China na África – então já é natural que brasileiros e chineses tenham de competir para ganhar a licitação de projetos de infra-estrutura e exploração de recursos naturais.
"Nossos investimentos ainda estão muitos concentrados nesses dois países. Comparando com os indianos e chineses, acho que os brasileiros estão perdendo oportunidades no continente africano em função de um certo receio dos empresários em explorar o continente", acredita Roberto Paranhos do Riobranco, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Índia que está na África do Sul para participar do encontro de empresários que acompanha a cúpula dos Brics.


'Representação'
Não foi à toa que os investimentos dos Brics na África se tornaram um dos principais temas do encontro do clube dos emergentes em Durban, como explicou à BBC Brasil Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas que está na África do Sul participando de uma série de debates acadêmicos paralelos ao encontro.
A África do Sul foi incluída nos Brics em 2010 - antes disso o grupo era chamado de Bric. Stuenkel diz que o país obteve sucesso em sua candidatura ao clube dos emergentes, apesar do tamanho de sua economia ser equivalente a de uma Província chinesa, ao se apresentar como um "representante" ou um "interlocutor" para a África frente aos outros quatro países.
"A verdade é que se a África (continente) fosse um país, certamente seria um Brics. O tamanho de sua classe média é comparável a indiana e está se expandindo. Além disso, muitas partes do continente têm crescido em um ritmo acelerado", diz Stuenkel. "Mas é difícil pensar que a África do Sul possa falar por todos os países da região."
Três fatores tornam a África atrativa para investimentos dos Brics. Primeiro, a presença de grandes jazidas de minérios, petróleo e outros recursos naturais valiosos no continente. Segundo, o grande crescimento da classe média africana – e aumento do consumo provocado por tal enriquecimento. Por fim, a previsão de gastos bilionários no setor de infraestrutura em países que recém adquiriram estabilidade política e econômica, mas nos quais faltam estradas, portos, aeroportos, etc.
Segundo o FMI, sete dos dez países que mais crescem no mundo estão na África. E ainda que isso ocorra porque tais países partem de uma base muito baixa de desenvolvimento econômico, para muitos empresários dos Brics tal crescimento significa bons negócios e margens de lucro satisfatórias para compensar os riscos africanos.

Novo colonialismo?
Durante a cúpula em Durban, o presidente sul-africano Jacob Zuma irá mediar uma série de encontros entre países do Brics e outros líderes africanos. Nas preparações para o encontro, porém, o que chamou mais a atenção em seu discurso sobre os investimentos do Brics foi uma aparente expectativa de que eles sejam "cooperativos", diferente dos investimentos europeus – que segundo o líder sul-africano seriam "colonialistas".
Uma semana antes do encontro, durante uma conferência sobre temas educacionais, Zuma prometeu: "Os Brics vão contribuir imensamente para satisfazer as necessidades dos jovens da África do Sul de encontrarem trabalho."
A promessa foi feita dias depois de o presidente sul-africano ter dado uma entrevista ao jornal britânico Financial Times na qual exortou as empresas europeias a mudarem seu "velho estilo colonialista na África", lembrando que agora o continente tem a "alternativa" dos Brics.
"Os Brics pretendem apoiar os esforços da África para acelerar a diversificação e modernização de suas economias através do desenvolvimento de infraestrutura, troca de conhecimento, acesso a tecnologias, construção de novas capacidades e investimento em capital humano", diz um documento oficial do encontro, divulgado pelo governo sul-africano.
Para alguns analistas, porém, as expectativas de Zuma podem não ser atendidas. Marcos Troyjo, do laboratório sobre Brics da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, por exemplo, lembra que os chineses são conhecidos por um estilo "agressivo" de fazer investimentos – importando matéria prima e até trabalhadores da China para levantar obras de infraestrutura em países africanos.
Além disso, seu interesse maior seria a extração de recursos naturais da África e a venda de produtos chineses para o continente, atividades que não são conhecidas por sua ampla geração de empregos qualificados (apesar de o Shopping Center China dizer que emprega um total de 1.600 pessoas).

'Moderar otimismo'
Jim O’Neill, economista conhecido por criar o termo Bric em 2001, concorda que é preciso moderar o otimismo com os investimentos dos Brics: "Não há como garantir que multinacionais desse ou daquele país vão se comportar de forma diferente. Empresas globais enfrentam os mesmos desafios para se adaptar às regras locais e ao final têm o mesmo objetivo, que é conseguir retorno para seus investimentos", diz.
No caso dos investimentos brasileiros, analistas e empresários costumam enfatizar as diferenças de "estilo" em relação aos chineses. As empresas do país seriam mais flexíveis e mais dispostas a se adaptar à cultura e realidade local, contratando trabalhadores africanos, por exemplo. Mas em Durban alguns empresários e executivos brasileiros que não quiseram se identificar também expuseram para a BBC Brasil o receio de que o governo sul-africano esteja esperando demais das empresas.
"Não dá para querer que as companhias estrangeiras façam todo o trabalho para desenvolver a África", disse um deles. "Os africanos também precisam fazer suas obrigações e investir mais na formação de trabalhadores e racionalização da burocracia de seus países para compensar os riscos e contratempos de se investir no continente – que ainda existem e são muitos."
Para explica o consultor Wayne Morris, da Brand South Africa, "não há como negar que existe um debate sobre os 'elementos colonialistas' dos investimentos dos Brics, e em especial dos chineses."
"A África do Sul e os outros países do continente estão plenamente cientes desses riscos", diz. Ele lembra, porém, que por muito tempo países africanos atraíram o interesse apenas de países desenvolvidos e que a aprovação de empréstimos para projetos de infraestrutura por entidades como FMI e Banco Mundial era condicionada à adoção de reformas neoliberais.
"A grande novidade é que agora temos mais opções e ao menos podemos discutir as condições dos investimentos e empréstimos com empresas e países de ‘igual para igual’ – o que nos dá uma margem de manobra que não tínhamos no passado para evitar esses riscos", opina.
Ruth Costas (Enviada especial da BBC Brasil a Durban (África do Sul- Atualizado em  26 de março, 2013 - 07:18 (Brasília) 10:18 GMT)

BRICS REJEITAM ACUSAÇÕES DE SEREM NOVOS IMPERIALISTAS
Brics rejeitam acusações de serem "novos imperialistas" na África. "Brics, não dividam a África" diz um cartaz no salão de uma igreja no centro de Durban, onde ativistas da sociedade civil juntaram-se para lançar um olhar crítico sobre a cúpula dos cinco poderes globais emergentes. Ativistas anti-pobreza afirmam que as grandes empresas dos Brics que atuam na África buscam o lucro, assim como as empresas do mundo rico. Os chineses e outros líderes dos Brics rejeitam indignados às críticas de que o grupo representa um tipo de "sub-imperialismo". A gigante brasileira da mineração Vale, nomeada em 2012 pelo grupo suíço sem fins lucrativos Public Eye como a empresa com o maior "desprezo para o meio ambiente e os direitos humanos" no mundo. O presidente da Associação Mato-Grossence dos Produtores de Algodão (Ampa) afirmou que “Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete mais barato para a China”. O ProSavana, projecto para a produção de soja e outros alimentos para a exportação pelas empresas brasileiras abrangerá uma área estimada em 14,5 milhões de hectares nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia, onde cerca de 5 milhões de camponeses vivem e produzem alimentos para o abastecimento local e regional.

Jornais: A Verdade e CanalMoz – 27/03/2013 e 25/03/2013.

Numa altura que se critica a relação Norte Global com o Sul Global como sendo de dominação ou de hegemonia da primeira sobre a segunda, hoje constata-se que mesmo nas relações entre os países do Sul Global começam a aparecer novos grupos dominantes e hegemónicos- como é o caso da BRICS. É uma situação a ser refletida. Afinal o que pretendem os BRICS em África?

Compilação de Jorge Fernando Jairoce



27 março 2013

DE ALFABETO A MIDO MACIA

XENOFOBIA E VIOLÊNCIA POLICIAL: DUAS FACES DA MESMA MOEDA


Por: Juliano Neto de Bastos[1]

Emídio Macia morreu nas mãos da polícia sul-africana. É quase do domínio público que os homens e as mulheres vestidos de azul (men and women in blue), como são tratados os polícias, em alusão à cor do seu fardamento, estão a fazer uso da violência de uma maneira nem sempre justificável. Isto faz reacender o debate acerca da forma como a polícia é preparada e que instruções recebe (ou não recebe) das chefias para enfrentar o crime que, diga-se em abono da verdade, grassa a África do Sul. Este país possui uma tradição de violência construída desde os primórdios da industrialização, através da mineração do ouro e de diamantes, com a adopção de políticas de segregação que desembocaram na constituição do Apartheid, um dos mais bárbaros regimes que a Humanidade viu emergir nos finais da primeira metade do século XX e que se prolongou até as eleições de 1994, que ditaram a transferência do poder político para a maioria, representada pelas novas elites políticas de várias orientações ideológicas, que constituem a aliança tripartida (ANC, COSATU, SACP) que tem estado a governar o país.
Apesar das medidas introduzidas visando, paulatinamente, fazer emergir uma elite não branca na esfera económica comprometida com o desenvolvimento endógeno, criação de emprego e uma nova visão no que diz respeito à distribuição da riqueza, questões candentes como desemprego, pobreza e desigualdades sociais tardam a ter uma solução consensual e abrangente, num contexto em que as expectativas foram/são muito elevadas, pois, de facto, o país é extremamente rico.
Questões como a reforma agrária, o papel do Estado no que diz respeito à exploração dos recursos minerais (nacionalizar ou não nacionalizar?) e, de um modo geral, como acelerar o processo de transformação social e económica que, para alguns, com ou sem argumentos, está a ser demasiado lento, não estando, assim, dispostos a esperar uma "eternidade" para desfrutar da riqueza que ainda está nas mãos de algumas famílias.
Neste contexto, ódios antigos e recentes se misturam de tal modo que algumas pessoas ficam aparentemente incapazes de discernir, confundindo causas com consequências, amigos com inimigos. O ambiente que se vive nas cidades satélite e nos assentamentos informais é extremamente tenso no seio dos estrangeiros, geralmente apontados como os causadores dos males que apoquentam a sociedade sul-africana em geral e, em particular, as comunidades onde residem. Sobram poucas dúvidas de que no seu dia-a-dia enfrentam uma espécie de double bind, que, traduzido, equivale à célebre expressão se ficar o bicho come, se fugir o bicho pega. Portanto, não raras vezes, os estrangeiros correm o risco de enfrentar, ou os demandos policiais, que incluem chantagem, agressão, extorsão ou acções xenófobas perpetradas por alguns cidadãos, repito alguns cidadãos, que não raras vezes, a sua última intenção é pilhar as lojas dos cidadãos estrangeiros, como Bengalis, Somalis, Etíopes, etc. 
Emídio (Mido) Macia morreu nas mãos da polícia. A morte de alguém é sempre lamentável, produz grande consternação quando as suas causas não são naturais, sentimentos de revolta e apelo à vingança quando ela resulta de uma acção de violência injustificada, gratuita, como no caso vertente, perpetrada por indivíduos que deviam ter como primeira missão garantir a segurança de todos aqueles que residem na RSA, independentemente de serem cidadãos nacionais ou estrangeiros.

Infelizmente, o caso que conduziu à morte do jovem moçambicano não é isolado. Dados do IPID (Independent Police Investigate Directorate) mostram que, só no período 2011-2012, houve 720 mortes como resultado das acções policiais. Devem estar incluídas aqui as mortes do líder comunitário Tatane, morto em Abril de 2011, bem como dos mineiros vítimas do massacre de Marikana. Portanto, a brutalidade da polícia cruza todas as latitudes.
Existe uma esperança, embora ténue, de que com a mediatização deste caso, o Governo possa repensar o papel da polícia num país que possui uma das constituições mais progressistas do mundo e sem paralelo no continente africano. Porém, mais do que ter uma constituição democrática, é necessário algum cometimento para o exercício do tão propalado espírito ubuntu.
Infelizmente, violência policial e xenofobia andam de mãos dadas nesta terra de Tchaka Zulu, Mandela, Brenda Fassie, Dollar Brand, Jacob Zuma, Julius Malema, etc., etc.,. Não irei deter-me em apresentar as prováveis causas das acções xenófobas que tiveram por vezes carácter de fagocitação, pois, isso foi devida e amplamente esmiuçado por sociólogos de grande calibre, um pouco por todo lado. Só gostaria de recordar esses tristes episódios de Maio de 2008 apresentando abaixo uma imagem do flaming man que percorreu todo mundo. É a foto do moçambicano Alfabeto Nhamuave. Quem se lembra dele? Alguns!


É preciso que episódios como estes (Alfabeto em chamas ou Mido amarrado atrás de uma carrinha da polícia e arrastado por algumas centenas de metros), ou ainda do caso que remonta ao ano 2000, em que moçambicanos foram usados como alvos para adestrar uma unidade da polícia canina (isto foi divulgado pela televisão no programa Special Assignment da SABC3), não voltem a acontecer e, por isso, não devem ser tão facilmente esquecidos e, muito menos, devem ficar pela simples lamentação. Que haja justiça!
Johannesburg, 8 de Março de 2013





[1] Doutorando residente em JHB, RSA.

26 março 2013

NDEKENI: A HISTÓRIA DE UM SONHO

NDEKENI: A HISTÓRIA DE UM SONHO

 “O nosso continente está cheio de estórias ansiosas por serem contadas. E elas estão a chegar – já se lê.”, Ondjaki.
VEJO em Alexandre Chaúque, o Bitonga Blues se quisermos, um cronista de que Moçambique não tem igual; um verdadeiro destemido em matéria de trançar o verbo; aquele que sabe multiplicar os sentidos, qualificar ou desqualificar os significados, comprimir a ideia de um certo contexto, dramatizá-lo e formular novas ideias a partir de um universo comum.
 Esta introdução quase a tender influenciar o leitor com a minha admiração a este músico, jornalista, cronista e contador de estórias, agora autenticado pelo seu livroNdekeni, (AEMO, 2012), merecidamente vencedor do prémio literário 10 de Novembro, da cidade de Maputo (edição 2011).

Trata-se, na minha eleição, de uma novela que nos submete ao cúmulo da posse dos sonhos e tradição (ou superstição?). Uma viagem ao horizonte comum no quotidiano moçambicano de sonho de cidade, por um lado e, por outro, o poder das raízes culturais através da azáfama dos deuses gladiadores dos vivos. Aliás, esta última ideia, dos “deuses protectores dos vivos” leva-me a recorrer à uma resposta do escritor Mia Couto ao Michel Laban quando indagado sobre a morte que aparece frequentemente nos seus contos como na literatura latino-americana.
Com um mar de razões, Mia Couto, escolheu a que coincide com a história deNdekeni, “a morte é simplesmente uma mudança de estado: os mortos não são arrumados num lugar inacessível, eles ficam presentes no nosso seio(…).” (LABAN, Michel. Moçambique: Encontro com escritores. Porto: Fundação Engenheiro António de Almeida, 1998. v. III. p. 1026)
É, então, nesse diapasão que navega Ndekeni, personagem principal da obra com mesmo título, que mais do que o próprio autor faz durante toda a obra “homem alto, barba por fazer, e plena juventude, pronta para ser entregue ao trabalho e, se for necessário, à degradação”, não se lhe pode atribuir outras características.
Em Ndekeni, os mortos aparecem, se não permanecem, em todo o percurso da narrativa, acompanhando o personagem principal. Pode-se até, entender o livro como o presságio do poder dos mortos e da respectiva superstição a que nos leva essa temática. Alexandre Chaúque, ao estilo característico (tendo em conta o seu livro Bitonga Blues, uma colecção de cónicas e devaneios publicados em vários jornais), não limita o leitor a vaguear apenas pelos caminhos que trilha o Ndekeni, faz com que, durante a leitura, haja um exame de introspecção de quem lê, uma escolha que pode ser consciente do contador ou a libertação da própria estória, como também defende a escritora brasileira Ana Paula Maia quando se refere à fala de personagens em livros.
De acordo com a romancista brasileira, os diálogos em textos narrativos são capazes de fazer fantásticas revelações que, inclusive, chegam a surpreender o próprio autor da estória. E Chaúque, avança nessa ideia, sem deixar de invadir-se das acções de Ndekeni, ao não dá-lo o referido espaço para que este fale livremente. Uma atitude que vai ao encontro do cronista que é, Bitonga Blues, o contraste do bom jornalista.
As incursões de Ndekeni, começam quando este põe os pés, pela primeira vez, na cidade de Maputo, onde através da Junta (terminal de transportes interprovinciais e internacionais), anuncia-se como um novo habitante dessa cidade que é estranha para si, mas que pode ser o lugar que sonhara, naquele sono profundo em Mocodoene, província de Inhambane, onde nasce. Ndekeni sonhara que “dormia todos os dias como uma criança, montando sobre o dorso de leões, abraçado à farta juba, rasgando florestas e savanas e estepes. E os felinos corriam com ele ao encontro da luz, que se via ao longe. Sonhava com as águas límpidas, tranquilas, com as ondas leves, que o rio da sua terra não tinha e, um dia desses, quando despertou do sonho, sentou-se na cama de estacas de madeira e agradeceu aos seus espíritos e disse, eu vou sim! Estou farto desta modorra toda, prefiro morrer queimado pelo veneno do néon, do que sucumbir esmagado por este tédio de merda”. (CHAÚQUE, Alexandre. Ndekeni. AEMO, 2012, p. 7)
A partir daí, os factos que se sucedem com o jovem ficam entregues à estranhos fenómenos, a começar pela chuva torrencial que fazia no dia da sua chegada, mas o propósito que o traz, como introduz o narrador, faz com que ignore o ditado dos sábios “quando chove é porque algo de importante vai acontecer”.
A partir dessa introdução que deixa a obrigação de prosseguir com a leitura, a obra mostra a sua tendência misteriosa, parabólica e intuitiva, como se quem a escreve, obedecesse o comando dos mesmos deuses que acompanham o personagem principal.
A chuva que cai nesse dia e noutros subsequentes é mais do que um acontecimento natural , é encarado pelo personagem como a possível fala protestante dos deuses que, por exemplo, apontavam que o el dourando para a busca dos sonhos, não era Maputo, aquela cidade onde Ndekeni ejaculou pela primeira vez depois de passar de estranhos rituais ao encontrar-se com seu avô, irmão mais velho do pai do pai de Ndekeni, Nassone, que morreu num dia de chuva ( uma vez mais, a autenticar-se a chuva como um metido de comunicação dos defuntos com a alma peregrina do personagem); a cidade em que ao contrário da sua cama de madeira em Mocodoene, dormiu ao relento num prédio isolado na Rua de Bagamoyo enquanto as prostitutas e os “putanheiros” faziam suas orgias sob a passeata da polícia que chula as trabalhadoras de sexo, servindo-se da farda que ostentam para fazer sexo sem pagar; a cidade que tem uma baixa que quando chove, os prédios ficam submersos, os carros, as gentes, o lixo, tudo fica na superfície das águas. Tudo isso é estranho para Ndekeni que veio trabalhar, ganhar dinheiro e voltar para sua terra como um verdadeiro herói se calhar, com dinheiro ainda para construir a casa dos deuses.
Determinado, como mostra-se em toda obra, Ndekeni, jovem que “aparenta” ter 30 anos de idade, não tendo conseguido trabalho em Maputo, servindo-se da sua intuição, pautou pela África do Sul, por sinal, local para onde os seus defuntos o direccionavam, através do sonho que teve. A condição profética dos sonhos, é, aliás, o dorso dessa narrativa que se assinala como o incomum do comum.
É comum que na literatura estórias encantadas sejam contadas, principalmente nos géneros infanto-juvenil, ou mesmo na literatura clássica europeia. Mas essa estória encantada de Alexandre Chaúque é africanamente constituída, senão, moçambicanamente, com um herói que tem de enfrentar, a fome, a sede, as ruas, assaltos, e a miséria, como acontece com Ndekeni durante a vida em Maputo; leões, crocodilos, hipopótamos nas matas selvagens atravessando quase o inferno para alcançar o paraíso, como se sucede para a sua chegada num povoado, “Hamba Kulhe” (boa viagem), na África do Sul onde fez a herança que sonhara.
 Mas para chegar a esse néctar, teve que passar pelo que os seus antepassados passaram quando devorados por leões, crocodilos e cães-polícias atravessando fronteira, clandestinamente, para a África do Sul. Esse regra é também típica dos heróis deste continente que fundamentalmente, são a consequência de um quotidiano forçado vivido num país onde a pobreza decanta o abismo para onde vão muitos sonhos da juventude.
Se é verdade que em O Regresso do Morto de Suleiman Cassamo é o povo pela sua própria boca, em Ndekeni, é a realidade moçambicana, o Moçambique em si, apesar da condição ficção que se pode atribuir à obra. Sobre isso, Ondjaki, escritor angolano, já afirmou que “o nosso continente está cheio de estórias ansiosas por serem contadas. E elas estão a chegar – já se lê.” (in prefácio: “A Enfermeira da Bata Negra”, Pedro Muiambo, 2003).
Alexandre Chaúque, na sua condição de criador (escritor) faz o seu papel de contrariar a desgraça que se canta, nos tempos em que os níveis de frustração rimam com o baixo índice de vida de uma população maioritariamente jovem. Uma mensagem que encandeia, sem dúvidas, o cronista da morte e da desgraça que é Bitonga Blues, sem suicidar o inusitado manuseador de termos de criar a azáfama numa sociedade exageradamente obscenista.
Ndekeni, que está entre o ultrapassado e fora da moda encantamento, vai, ao mesmo tempo, ao encontro de uma dimensão futurista e mostra outras opções de escrita na Literatura Moçambicana. Uma atitude típica de quem durante os tempos, preocupou-se em compreender as razões da própria função da escrita que do acto. Ndekeni é uma novela, uma ousadia, uma coragem dentre outras peripécias que precisam de outras comparações.
  • Eduardo Quive, escritor e jornalista moçambicano. Editor da revista Literatas – Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona. O seu primeiro livro de poesia que assina com o pseudónimo de Xiguiana da Luz intitula-se “Lágrimas da Vida Sorriso da Morte” (FUNDAC, 2012)

Maputo, Quarta-Feira, 27 de Março de 2013:: Notícias



25 março 2013

MORRE, AOS 82 ANOS, CHINUA ACHEBE, PAI DA LITERATURA MODERNA AFRICANA



MORRE, AOS 82 ANOS, CHINUA ACHEBE, PAI DA LITERATURA MODERNA AFRICANA

Chinua Achebe, escritor nigeriano


LAGOS - O escritor e poeta nigeriano Chinua Achebe, conhecido como o pai da literatura moderna africana, morreu aos 82 anos, noticiou a editora britânica Penguin Books, nesta sexta-feira, sem dar maiores detalhes. Uma porta-voz da Penguin disse que a família de Achebe enviará um comunicado em breve. O romancista venceu, em 2007, o prêmio Man Booker International.
Achebe conquistou reconhecimento há mais de 50 anos com o romance “Things fall apart”, obra publicada em 2009 no Brasil pela Companhia das Letras como “O mundo se despedaça”. O livro retrata a batalha fatal de seu grupo étnico igbo contra o colonialismo britânico, em 1800. Foi a primeira vez que a história do imperialismo europeu foi contada sob perspectiva africana alcançando a audiência internacional.
O foco desse trabalho está nas convulsões sociais causadas por esse exercício de poder estrangeiro sobre o seu continente. “O mundo se despedaça” foi traduzido para 50 línguas e vendeu mais de 10 milhões de cópias em todo o mundo.
Mais tarde, Chinua Achebe voltou seus olhos para a devastação causada à Nigéria e à África por uma série de golpes militares que ocasionou regimes ditatoriais.
“Anthills of the Savannah” (“Formigueiros da Savannah”) — lançado em 1987, mas não chegou ao Brasil em língua portuguesa — se define dois anos após um golpe militar em um país imaginário da África onde o poder foi corrompido e a brutalidade do estado silenciou todos, excetos os mais corajosos.
Em 1983, Achebe publicou “The trouble with Nigeria” (“O problema com a Nigéria”), que expõe um quadro sombrio de seu país natal, como também expressa a esperança de a corrupção endêmica chegar ao fim se pudesse se tornar pouco rentável para as elites.
Como escritor, crítico e professor universitário, Chinua Achebe serviu como ponte entre a África e o Ocidente. Foi considerado como uma referência contra o que as gerações de escritores africanos representavam até então.
Nelson Mandela leu sua obra na prisão e, uma vez, se referiu a Achebe como um escritor "cuja companhia derrubava os muros da cadeia". Outra personalidade sul-africana, a romancista vencedora do Nobel Nadine Gordimer escreveu no “The New York Times”, em 1998, que Achebe podia ser visto como “um escritor que não tem ilusões, mas não é um desiludido”.
“Gostaríamos de oferecer nossas condolências à família do professor Chinua Achebe, um grande escritor e pensador africano”, afirmou Sello Hatang, assessor do Centro de Memória Nelson Mandela.
Um acidente de carro colocou Achebe em uma cadeira de rodas em 1990. Depois desse acontecimento, ele ficou sem escrever livros por mais de 20 anos. Passou a maior parte de seus últimos anos nos Estados Unidos, onde lecionava em universidades.
No Brasil, a Companhia das Letras publicou, além de “O mundo se despedaça” três obras traduzidas de Chinua Achebe. São elas: “A flecha de Deus” (2011), “A educação de uma criança sob o protetorado britânico” (2012) e “A paz dura pouco” (2013).

06 março 2013

PORQUÊ TANTA CONSIDERAÇÃO PELO SAMORA MACHEL E MARCELINO DOS SANTOS (Os Traidores)?


Até quando é que a Oposição à Frelimo vai esquecer os seus Heróis?

Uria Simango foi um membro fundador da FRELIMO, com estatuto de Vice-Presidente desde a sua formação até a data do assassinato do seu primeiro líder, Eduardo Mondlane, em Fevereiro de 1969. Simango sucedeu a Mondlane na liderança da FRELIMO mas, na luta pelo poder após a morte de Mondlane, a sua presidência foi contestada. Em Abril de 1969, a sua liderança foi substituída pelo triunvirato composto pelos marxistas de linha dura Samora Machel e Marcelino dos Santos assim como Simango. Nos finais da década de 1960, a FRELIMO foi afectada por lutas internas fratricidas com vários membros a morrerem por causas não naturais.

O triunvirato não durou;  Uria Simango foi expulso do Comité Central em 1969, e Samora Machel e Marcelino dos Santos acabaram por assumir o controlo total da FRELIMO. Em Abril de 1970, Simango fugiu para o Egipto onde, juntamente com outros dissidentes tais como Paulo Gumane (Vice-Secretário Geral fundador da FRELIMO), se tornou líder do Comité Revolucionário de Moçambique (COREMO), um outro pequeno movimento de libertação.

Depois da Revolução dos Cravos em Portugal em 1974, Simango retornou a Moçambique e criou um novo partido político o "Partido da Coligação Nacional" (PCN) na esperança de disputar eleições com a FRELIMO. Com ele juntaram-se ao PCN várias outras figuras proeminentes do movimento de libertação e dos dissidentes da FRELIMO: Paulo Gumane e Adelino Gwambe (também membro fundador da FRELIMO), o Padre Mateus Gwengere e Joana Simeão.


A FRELIMO recusou eleições multipartidárias. O governo português pós-1974 entregou o poder exclusivamente à FRELIMO, e Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975. Samora Machel e Marcelino dos Santos assumiram os cargos de Presidente e Vice-Presidente respectivamente. Graça Machel foi nomeada Ministra da Educação e Joaquim Chissano Ministro dos Negócios Estrangeiros. Uria Simango foi preso e forçado a fazer uma confissão pública de 20 páginas em 12 de Maio de 1975 no Centro de Reabilitação e Reeducação de Nachingwea, onde se retractava e solicitava reeducação. A sua confissão forçada pode ser ouvida em linha. Simango e os restantes líderes do PCN nunca mais foram libertados. Simango, Gumane, Simeão, Gwambe, Gwengere e outros foram secretamente liquidados numa data indeterminada entre 1977-1980. Nem o lugar onde foram executados, nem a maneira como a execução ocorreu foram até hoje divulgados pelas autoridades. A esposa de Simango, Celina Simango, foi separadamente executada algum tempo depois de 1981, e não há registo público de detalhes ou da data da sua morte.

Nota: Uria Simango, Padre Mateus Gwengere, Drª. Joana Sineão, Paulo Gumane, Júlio Razão, Lázaro Kavandame e outros foram transportados do Campo de Extermínio Metelela, com a indicação de que iriam para Lichinga (Vila Cabral), para, daí seguirem para Maputo (Lourenço Marques), a fim de que os seus processos fossem examinados e proceder-se à sua libertação. Quando as viaturas que os transportavam chegaram à primeira ponte da picada que ligava Metelela (Nova Viseu), pararam ao lado de uma vala, com o fundo cheio de lenha seca, os prisioneiros foram obrigados a descer das viaturas e empurrados para a vala e regados com combustível ao qual foi deitado fogo. Morreram queimados vivos, por ordem da Frelimo de Samora Machel, Marcelino dos Santos, Joaquim Chissano, Sérgio Vieira, Armando Guebuza e outros, ao som de cânticos “revolucionários” dos guerrilheiros da Frelimo.
O local destas execuções está devidamente identificado e deveria ser um lugar "sagrado" para todos os opositores da Frelimo.

Ovar, 5 de Março de 2013
Alvaro Teixeira (GE)