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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

31 outubro 2012

AMEAÇA À PAZ DE IMPROVÁVEL MATERIALIZAÇÃO


AMEAÇA À PAZ DE IMPROVÁVEL MATERIALIZAÇÃO

Pesquisa e análise
1 . As autoridades moçambicanas, em geral, adoptaram uma atitude cautelosa na “gestão” da situação criada pela decisão do líder da RenamoAfonso Dhlakama de reactivar na GorongosaSofala, meados de Out (AM 703), uma das mais simbólicas bases do movimento, enquanto força de guerrilha, para a qual o próprio se transferiu.
A prudência das autoridades, que supostamente também compreende discretas iniciativas destinadas a demover A Dhlakama do seu propalado propósito de reabrir a antiga base e se fixar na mesma, é remetida para factores em especial:
- Não dar azo a uma deterioração da situação – o que poderia acontecer por efeito de acções tendentes a exacerbar correntes internas mais radicais da própria Renamo, capazes de se sobrepor a A Dhlakama
- Preservar a boa imagem de Moçambique no plano da estabilidade interna, social e política – e por via disso garantir apoios e simpatias externas fundamentais.
A decisão de A Dhlakama, vista como uma ameaça à paz, constituiu uma escalada nas manifestações de protesto que o mesmo vem fazendo nos últimos anos contra alegadas iniquidades/desigualdades com que a Renamo tem sido tratada pelo regime da Frelimo na aplicação do AGP de 1992 e também como partido da oposição.
A prudência das autoridades (silêncio, é o principal afloramento), também é devida ao facto de o líder da Renamo ter granjeado, interna e externamente, a reputação de parceiro cooperante e fiável da Frelimo no processo de paz e de ter razão nas suas críticas a aspectos da realidade política que considera lesivos do seu partido. Acusações sistemáticas daRenamo segundo as quais o Estado está partidarizado pela Frelimo e a riqueza concentrada numa elite político-económica do “establishment”, são amplamente partilhadas em meios internos e externos. A lei eleitoral, cuja revisão A Dhlakama veemente reclama, também é considerada desequilibrada. Uma crise séria entre o Governo e a Renamotambém seria particularmente danosa para o Presidente Armando Emílio Guebuza (AEG), que reforçou os seus poderes (AM 699) no recente congresso da Frelimo. A Dhlakama diz em público que manteve com o ex-Presidente, Joaquim Chissano, um diálogo mais salutar do que com AEG. 2 . A atitude de A Dhlakama, que o próprio e outros dirigentes daRenamo têm até agora enfaticamente desligado de qualquer intenção de retorno à guerra, tem sido objecto de apreciações consideradas benevolentes da parte de personalidades e meios próximos da Frelimo, que, simultaneamente sugerem sensatez ao regime. O fenómeno é aparentemente impelido pela ideia generalizada de que a Renamo e A Dhlakama têm sido objecto de tratamento considerado parcial e discriminatório por parte da Frelimo e do regime – em desarmonia com aquilo que o senso comum julga ter sido ter sido a sua contribuição positiva para o processo de paz. Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica, presentemente considerado “afecto” ao regime (antes passava por ser um intelectual politicamente independente), foi uma das personalidades que denotou (entrevista ao Savana), compreensão face à atitude de A Dhlakama (apesar de parcialmente emendada a posteriori). Salomão Moyana Tomás Vieira Mário, analistas da STV, ambos igualmente conotados com o regime, fizeram apelos a favor de um “tratamento condigno”para A Dhlakama e seus seguidores, como parceiros para a manutenção da paz, reconhecendo haver o risco de“extremistas militares da Renamo se sobreporem” ao líder. Entre as discriminações de que a Renamo se considera vítima (em comparação com a Frelimo, ambas como parte do AGP), a mais concludente é a da assistência prestada aos desmobilizados das FADM erguidas na esteira do acordo. Os efectivos oriundos da Renamo estão ao abandono, alguns dos quais em situação considerada deplorável. 3. Entre os predicados que A Dhlakama revelou como parceiro do regime no processo de paz e reconciliação, considerando-se que deve por isso ser cativado e não marginalizado, é valorizada a sua moderação e equilíbrio, bem como o facto de, apesar de cíclicos episódios de contestação interna, manter intacta a sua aura de líder. O prestígio e a autoridade que A Dhlakama é particularmente notório entre os antigos comandantes militares da Renamo, muitos dos quais são mais contundentes na apreciação que fazem da situação em que se encontram e menos propensos a uma convivência com a Frelimo – motivo de veladas críticas a A Dhlakama. 4 . Sãoverificadas informações no sentido de um reforço militar e policial governamental no Inchope, a meio caminho do local onde se supõe que A Dhlakama se tenha internado com os seus apaniguados, embora haja indicações de que o núcleo inicial já se desdobrou para outras zonas.
O séquito inicial de A Dhlakama, ca 800 h, já se terá elevado para 3.000 h; muitos passaram a envergar uniformes novos e todos estão ocupados com treino/apuro militar. O “pressentimento” de uma aventura militar próxima exerce atracção em vastos meios descritos como política e socialmente “descontentes” da população.
Nos últimos dias missões militares de Moçambique e do Zimbabué trocaram visitas mútuas. O T/Gen Valerio Sibanda, comandante do Exército do Zimbabué, esteve na última semana em Moçambique. Imediatamente antes, o comandante do Exército de Moçambique, M/Gen Eugénio Mussa, tinha estado no Zimbabué.
Apesar de se tratar de visitas marcadas antes da manifestação da crise actual e de se situarem no campo da cooperação bilateral, que contempla áreas sensíveis como a troca de informações e realização de exercícios conjuntos, ocorreram em momentos em que o assunto terá concitado atenções dominantes.
É improvável, porém, que uma deterioração da actual crise ou o seu arrastamento, venham a levar o Governo a recorrer à força para “restabelecer a soberania” na zona “usurpada”. As movimentações em curso, incluindo rumores como o concurso de especialistas sul-africanos, parecem fazer parte de uma manobra de persuasão activa.
À atitude da Renamo é aplicado um princípio equivalente. Por falta de condições gerais, militares e outras, não tem planos para se lançar numa aventura militar – que também sacrificaria o seu capital político. A ilação corrente é a de que agita tal cenário como um instrumento superior de pressão sobre o regime.
AFRICA MONITOR – 3O.10.2012

RENAMO ACANTONA ANTIGAS TROPAS EM GORONGOSA


RENAMO ACANTONA ANTIGAS TROPAS EM GORONGOSA

Partido da oposição diz que já reuniu mais de 5 mil homens e diáriamente vão chegando mais homens e mulheres que no passado lutaram contra a FRELIMO
Em Moçambique, o principal partido da oposição – RENAMO – confirmou que tem acantonado em Gorongosa cinco mil antigos combatentes disponíveis a lutar contra a Frelimo.
A decisão da RENAMO está a ser entendida como uma forma de pressão e visa forçar o presidente Armando Guebuza, líder do partido no poder a reatar o diálogo político com a oposição.
A deputada e membro da Comissão política da RENAMO, Ivone Soares foi categórica na sua entrevista a Voz da América esta manha, e diz que o seu partido está pronto para o der e vier.
“Estou a falar de Gorongosa onde estão mais de cinco mil homens, e diariamente vão se juntando mais homens e mulheres que estiveram envolvidos na guerra pela democracia e que hoje se vêem marginalizados…Este é um número praticamente simbólico que representa o universo das pessoas descontentes.”

A deputada da RENAMO diz que há vinte anos que os membros do seu partido e de outras formações políticas ficaram sujeitos a humilhações da FRELIMO, cujo governo controla a administração pública e o parlamento.
“De 1992 para cá a RENAMO remeteu-se a respeitar aquilo que assinou em Roma, os princípios estatuídos no Acordo Geral de Paz, no entanto a FRELIMO sistematicamente tende a criar situações de exclusão social, não só para os membros da RENAMO, mas para todos aqueles que não aceitam identificar-se com os valores que defende.”
A FRELIMO já respondeu no entanto a ameaça da RENAMO. Damião José é porta-voz do partido no poder e saiu em defesa do presidente Guebuza, durante a sua entrevista com a Voz da América.
“Não entendemos por que é que efectivamente o presidente da RENAMO não entra em contacto com o camarada Presidente, não entra em contacto com o nosso partido para apresentar aquilo que são as suas preocupações. Tudo que está a acontecer nós a FRELIMO apenas estamos a tomar conhecimento por via da Comunicação Social.”
As crispações políticas entre a RENAMO e a FRELIMO parecem ter atingido a um nível que as confissões religiosas decidiram se interferir. O Conselho Cristão de Moçambique anunciou que exigiu encontros entre Guebuza e Dhlakama. Segundo o jornal moçambicano, Canal de Moçambique, o CCM acabou de solicitar um encontro urgente com o presidente Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama em face da crise político-militar e o regresso de Dhlakama para as matas de Gorongosa.
VOA – 31.10.2012
In: macua.blogs.com

DEVEMOS AO FUTURO UMA PAZ MAIS DURADOIRA


DEVEMOS AO FUTURO UMA PAZ MAIS DURADOIRA

Maputo (Canalmoz) - O facto de o líder da Renamo, Sr. Afonso Dhlakama, ter recentemente fixado residência em Gorongosa, depois de ter mudado de Maputo para Nampula, desafia-nos a pensar um pouco mais acerca da nossa vida política como um país.
Para alguns, à guisa de tentativas proféticas ou não, a situação abre a possibilidade de muitos cenários no nosso futuro comum não muito longínquo. Quanto a mim sou de opinião que temos que pensar o que devemos legar ao futuro e para isso proponho olharmos para alguns aspectos que acho serem de alguma importância considerar.
O primeiro aspecto é o silêncio do Governo que, por sua vez, também pode ser interpretado de várias formas, mas a minha esperança é que seja um silêncio em que se esteja a procurar formas de solucionar a situação pela via pacífica e não com recurso à violência (se as alegações, por parte de alguns membros seniores da Renamo, de que há movimentações de mercenários para atacar Gorongosa forem verídicas), pois isso abriria espaço para um conflito mais aberto e com consequências incalculáveis. Também espero que não seja um simples ignorar como se nada estivesse a acontecer. O nosso país já tem muitas situações de conflitualidade social latente (e para isso há já muitas vozes, sobretudo de académicos e líderes religiosos, que chamam a nossa atenção para milhões de moçambicanos e moçambicanas que estão longe de ver resultados palpáveis nas suas vidas como fruto do muito proclamado crescimento económico do país e dos investimentos que se têm feito há já um bom número de anos), por isso não podemos permitir que um silêncio destes dê lugar a uma divisão aberta entre moçambicanas e moçambicanos. E aqui o provérbio popular “antes prevenir que remediar” pode nos ajudar a pensar que não é só a ciência médica que nos ensina a importância de acções e medidas profiláticas contra várias endemias, mas também a ciência política deve ensinar-nos quão sábio é tomar medidas profiláticas contra cóleras políticas, para dar lugar a uma sociedade politicamente mais sadia.
Olhando para alguma imprensa da nossa região, SADC, há opiniões sobre a decisão do líder da Renamo em fixar-se em Gorongosa que sugerem que alguns estão à espera de ver o nosso país cair na desgraça de um conflito aberto (com isso não quero sugerir que estariam contentes com a desgraça alheia), um regresso ao pesadelo dos anos sombrios da nossa guerra civil e isso provaria, para eles, que 20 anos depois afinal a nossa paz foi nada mais que artificial, uma ilusão apenas, que somos incapazes de conviver pacificamente, ou pelo menos de resolver de forma pacífica as nossas diferenças. E que diriam de nós se tivéssemos que voltar a ser refugiados nos países vizinhos, passarmos pela humilhação de quem não tem onde ir e de sermos ‘acolhidos’ em terra estrangeira não tanto porque somos ‘amigos’, mas por força do direito internacional de nos acolherem como refugiados? Já temos uma geração de moçambicanas e moçambicanos que tem a felicidade e o privilégio de não conhecer o que é uma guerra e o país está de parabéns por ter esta geração e é sobre e com esta geração que devemos edificar um futuro mais pacífico para a geração seguinte. Temos a obrigação de legar para o futuro o melhor de nós e o melhor que podemos dar ao futuro é uma paz mais duradoira.
Em segundo lugar é a lição que muitas vezes os nossos políticos e governantes teimam em não aprender. A nossa história política tem muitas e boas lições que nos permitiriam evitar situações como esta. Somos muito bons em inculcar nos jovens e crianças em idade escolar uma certa história do nosso passado comum, mas somos incapazes de nós mesmos aprender algo para a nossa forma de governar. Os nossos políticos estão rodeados de muitos historiadores como assessores, conselheiros, etc., mas não são capazes de tirar lições de muitas histórias políticas do mundo e da nossa própria história política. Evidentemente a inteligência calculadora é uma das maiores características de um ‘bom’ político: nunca dar um passo sem medir o resultado. No entanto, penso que não seria tão mal temperar isso com um pouco de sabedoria, que em vez de calcular, é capaz de compreender e até abraçar o estranho. A maior lição que devíamos ter aprendido é que a paz não é um dado adquirido de uma vez por todas, mas que é uma conquista diária não com calculismos, mas com compreensão e, até me arrisco a dizer, com perdão.
Finalmente, considero que esta situação oferece à Frelimo, enquanto partido governante, uma oportunidade de mostrar não apenas a sua maturidade de 50 anos de existência, mas também a sua responsabilidade política para com o presente e o futuro do nosso país. E esta responsabilidade é dupla para o Presidente Armando Guebuza: enquanto Chefe de Estado e enquanto Negociador-Chefe, por parte da Frelimo, dos Acordos de Paz celebrados há 20 anos em Roma. Nesta dupla responsabilidade ele tem a oportunidade de escrever pelo menos duas vezes a história deste país, algo raro para o comum dos nossos políticos. Embora tenha sido incumbido pelo governo de então a missão de chefiar a delegação da Frelimo nas negociações, temos que lhe reconhecer o mérito pessoal de ter conseguido chefiar a delegação de forma sábia e de ter levado a missão a bom termo. O facto de algumas das reivindicações do líder da Renamo não terem sido satisfeitas durante a presidência que lhe antecedeu, isso não lhe iliba da responsabilidade política como Chefe de Estado e da responsabilidade moral como um dos autores mais fundamentais da paz que o país alcançou. Esta é uma oportunidade para ele redobrar o zelo com que se dedicou nas negociações de Roma para preservar o que com muito sacrifício e paciência conseguiu para todos nós. E essa responsabilidade passa necessariamente pelo diálogo. Não acredito que pelo facto de ter acedido à mais alta magistratura da República perdeu a sua capacidade de dialogar. É certo que com tempo mudamos a nossa forma de pensar e de ser, mas também acredito que precisamente por ser o mais alto magistrado é capaz de reactivar as qualidades de negociador que mostrou e provou em Roma e isso dar-lhe-ia mais credenciais (que nenhuma campanha eleitoral pode conferir) como alto magistrado e presidente de todos os moçambicanos e todas as moçambicanas. Como Chefe de Estado, isso significa trazer ao convívio político as moçambicanas e moçambicanos, que por uma ou outra razão, estão desavindos. Qual pai não faria tudo para trazer um filho ou uma filha amuada ao convívio do resto dos irmãos? Quanto mais quando se trata de reivindicações com “alguma legitimidade”, segundo o Prof. Dr. Lourenço do Rosário!
Apenas o diálogo é o veículo mais apropriado através do qual podemos e devemos presentear o futuro com uma paz cada vez mais sólida e o diálogo é como o perdão: não só não diminui em nada quem toma iniciativa, mas também não significa que por tomar iniciativa se esteja a reconhecer uma falta cometida, e sobretudo significa que apreciamos as nossas relações e queremos continuar a conviver em paz. (CanalMoz- 31 de Outubro de 2012-Adelino Chissale)

29 outubro 2012

VOZES “SONANTES” JÁ DIZEM QUE OPOSIÇÃO AINDA NÃO É ALTERNATIVA…


VOZES “SONANTES” JÁ DIZEM QUE OPOSIÇÃO AINDA NÃO É ALTERNATIVA…

Engraçado, caricato?
Em 1975 a Frelimo estava preparada para assumir o poder?…

Beira (Canalmoz) - “Uma no cravo e outra na ferradura”? Há sinais de que alguns dos nossos intelectuais andam atrapalhados com os seus próprios pontos de vista e opiniões? Quando surpreendem pela positiva com posições inequivocamente a favor de Moçambique, logo em seguida são como que obrigados a retratar-se e avançar com proclamações preocupantes.
Essa de que a oposição ainda não é uma alternativa ao actual poder pode ser enquadrada nessa perspectiva.
Esta de que a oposição em Moçambique ainda não está preparada para ser poder é alarmante na medida em que induz o público mais ou menos distraído a aceitar sugestões potencialmente desviantes e dissuasoras.
Pode se afirmar o que se queira a respeito dos partidos políticos da posição e oposição em Moçambique. Quando se fala de plataformas visionárias ou da ausência delas de forma a convencer as populações ou reorientação de seu voto, parece que estamos em presença de uma estratégia apurada de condicionar a mentalidade dos leitores.
Quem após décadas de governação um partido ainda tem de apresentar resultados conflituantes quanto a situação nacional, estará sofrendo de que deficit? Será que o partido no poder é visionário ou é antes uma camuflagem lubrificada de utilização de recursos lícitos e ilícitos para a sua manutenção no poder?
Não é sustentável afirmar que a intelectualidade nacional, incluindo a academia e seus porta-vozes não estará demonstrando deficits graves de visão estratégica ao alinharem consecutivamente por caminhos que consubstanciam mediocridade programática, ética e moral sofrível e acomodação pura e simples a arranjos que os favorecem materialmente? Onde está a intelectualidade empurrando o carácter da governação no sentido de aumento de qualidade, de crítica acérrima a mecanismos desviantes de declaradamente corruptos? Onde está a denúncia sustentada de comportamentos e prática que prenunciam crimes contra a coisa pública? Onde está a demarcação concertada e debatida publicamente para com posições e praticas continuadas tendentes a lesar os interesses públicos?
Moçambique na verdade precisa da opinião de todos os seus filhos, com maiores ou menores qualificações académicas.
Gostamos de ouvir reitores, académicos com créditos firmados, surgindo na praça pública e actuando com toda a sua responsabilidade entanto que cidadãos deste Moçambique. Mas também é legítimo dizermos que temos suspeitas fundamentadas do que é dito por muitos dos mais credenciados membros da intelectualidade moçambicana. Vezes sem conta nos dão a perceber e incentivam os moçambicanos a desistirem de procurar melhores alternativas sob a justificação de que não estamos preparados para ter outra liderança ao nível governamental. É como coagir de maneira subliminar que se vote na continuação permanente de que tem governado o país desde a sua independência. Que cada um tenha as suas apetências ideológicas e que se posicione de acordo com elas não temos problema nenhum em compreender e aceitar. Essa é uma prerrogativa de que todos os moçambicanos gozam.
Outra coisa já bem diferente é tentar encurralar os moçambicanos e levá-los a acreditar que sem o partido actualmente no poder não temos qualquer hipótese. Essa é a tese do “imperativo” que o anterior chefe da Informação e Propaganda da Frelimo nos queria impingir. Essa é teses dos que se querem perpetuar no poder.
Programar palestras, organizar debates, lançar dados para que os moçambicanos embarquem numa discussão profícua de sua situação é um exercício de saudar. Isso e o envolvimento de todos levarão a um crescimento do entendimento que cada um de nós tem sobre os problemas do país.
Sem reducionismos e sem colocar a “carroça a frente dos bois” é possível melhorar o diálogo no país, de forma abrangente, geograficamente distribuída por todo o país, despertando consciências e promovendo a construção de uma visão moçambicana dos problemas que apoquentam o desenvolvimento nacional.
Brilhantismos  na esfera intelectual devem condizer e significar contribuição efectiva na descoberta das soluções mais eficazes para atacar o que são os nossos problemas.
Alguma acomodação estratégica da intelectualidade nacional  tem sido fatal para o aprofundamento da democracia em Moçambique. Quantas vezes este segmento esclarecido do país não se calou na generalidade sobre questões fulcrais como a fraude e manipulação eleitoral? Quantas vezes tiveram oportunidade de se oporem as práticas claramente ilegais, executadas por agentes partidários em período eleitoral? Que dizer sobre por exemplo a persistência de exibição de material de propaganda eleitoral partidária fora dos períodos para tal convencionados pela lei?
Que dizer da apatia ou silêncio da nossa intelectualidade em promover a disseminação dos conhecimentos que mais falta fazem entre a classe política nacional? Não é difícil atribuir culpas e acusar os outros de comportamentos manifestamente insuficientes naquilo que fazem. Difícil também não é diagnosticar doenças e outras mazelas no edifício político moçambicano, especialmente as fraquezas dos partidos políticos entanto que tais.
É conveniente e apropriado que se diga que os intelectuais moçambicanos não estão desassociados do país e que como cidadãos são membros de partidos políticos ou pelo menos tem as suas preferências.
Se temos lacunas nos partidos políticos e estes não estão produzindo pensamento político e análises pertinentes isso repercute-se na actuação de suas bancadas parlamentares e do Parlamento como um todo.
Sabe-se e é reconhecido que em Moçambique ao nível do Parlamento impera a ditadura do voto. Toda a legislação aprovada tem o selo da maioria parlamentar. Nesse sentido quando alguém vem a público defender que o pacote eleitoral deve ser exclusivamente discutido naquele fórum está claramente vendendo “peixe podre” aos cidadãos. Uma composição marcadamente definida segundo critérios partidários dos órgãos eleitorais e nesse sentido, reminiscência dos entendimentos alcançados aquando do Acordo de Paz de Roma produziu a actual estrutura da CNE e STAE. Como a actuação destes dois órgãos tem sido questionado e criticado em vários quadrantes da sociedade importa submeter a discussão popular, da sociedade civil e dos partidos políticos todo o pacote eleitoral. Há que descobrir-se uma fórmula em que as diversas forças políticas e organizações da sociedade civil se vejam representadas nos órgãos que afinal organizar os pleitos eleitorais, de onde sairão as decisões sobre quem governa o país. Quem tem medo de incluir mais moçambicanos neste processo? Quem tem receio de que uma paridade na representatividade no STAE, e CNE, sejam um meio para aprofundar a democracia em Moçambique?
A derrapagem da democracia e o progresso político estão e sempre serão em função daquilo que os políticos fazem ao nível dos procedimentos visíveis. Não vale a pena acalentar esperanças de que a situação evoluirá sem que haja um empenho acrescido da parte de todos os interlocutores.
É apreciável e necessário que mais vozes da intelectualidade nacional saíam da comodidade de seus gabinetes almofadados e se coloque à disposição do público. Aquela cultura de intervenção de cariz sociopolítico não é exclusividade dos políticos e seus partidos.
Se é importante seguir os bons exemplos deveríamos ver a intelectualidade e academia moçambicana aparecendo nas páginas dos jornais com suas opiniões periodicamente. Tony Blair e Brown ocupando ou não cargos governativos aparecem com frequência com suas opiniões em órgãos de comunicação social de massas. Mário Soares, antigo presidente português, não se inibe de escrever uma página de opinião na imprensa portuguesa. Governar ou dirigir uma instituição educacional de nível superior deve significar interagir cada vez mais e não um isolamento programado das pessoas envolvidas nesses nobres actos.
Com tendência defensiva ou orientados para uma crítica adulta todos são chamados participar nos debates nacionais.
Na capital do país e percorrendo o país todo, Moçambique quer e precisa de ver seus intelectuais fazendo a diferença a partir do que realmente conhecem e dominam. 
Se quisermos rebater uma suposta tese da inviabilidade estratégica da alternância da oposição como poder para este país, pequenos exemplos locais, as autarquias e todo o processo de descentralização decorrente de alterações legislativas no país, tem provado que a oposição conseguiu ultrapassar o discurso urbano e estabelecer formas de governo consentâneas com alguns dos interesses dos cidadãos munícipes. As sucessivas demissões de governadores provinciais e ministros não eleitos mas nomeados, pode ser utilizada como exemplo de que algumas das escolhas do “experimentado” partido no poder em Maputo são pouco visionárias. Não culpemos de falta de visão alguém quando esse não é o caso. Um diagnóstico errado ou pouco acertado é o caminho mais rápido para erros na terapia.
“Entupir” os moçambicanos com teses e declarações fantasiadas de uma realidade que não corresponde aos factos é enganador.
Espera-se muito mais da intelectualidade do que servir de “correia de transmissão” de visões erróneas e perspectivas dúbias.
Sem a coragem dos partidos da oposição em batalharem em condições por vezes demasiado desniveladas, a situação moçambicana seria decerto monocromática. 
Aqueles receios de que existam tendências ditatoriais se cultivando em determinados quadrantes já estariam confirmados e em execução. 
Da mesma maneira que o governo tem responsabilidade pelo que acontece no país, os partidos políticos da posição e da oposição tem a suas “culpas no cartório”.
A academia e os intelectuais jamais se poderão eximir do que está acontecendo porque parte da incapacidade de agir nos diversos sectores e segmentos resulta da incipiência na formação que os moçambicanos obtêm nas universidades e institutos superiores de Moçambique. 
Importa sabermos ler as culpas mesmo quando elas nos pertencem… (CanalMoz, 30 de Outubro de 2012

EFEITO “DHLAKAMA-GORONGOSA” JÁ SE FAZ SENTIR…


EFEITO “DHLAKAMA-GORONGOSA” JÁ SE FAZ SENTIR…


- E os intelectuais moçambicanos começam a ouvir-se diferentemente…

Beira (Canalmoz) - Até é bom que haja e surjam vizinhos e membros da SADC se preocupando com o potencial de violência que pode deflagrar em Moçambique após o líder da Renamo ter retornado para as matas da Gorongosa.
Não se pode tratar de ânimo leve de um assunto como este. Se alguém está calado ou opta pelo silêncio talvez faça isso como acto deliberadamente estratégico. E nisso de estratégia há muito que se pode dizer. Alguns passos de governos vizinhos face a conflitos em outros países como se viu na RDC, envolveram exércitos da Namíbia, Angola, Zimbabwe. Mesmo depois de tanta intervenção externa a situação na RDC é tudo menos estável. Isso significa em termos práticos que uma estratégia baseada em alianças entre líderes políticos regionais, remanescentes da defunta guerra-fria não tem hipóteses de triunfar no novo contexto geostratégico internacional.
Em Moçambique, durante todo o período da guerra civil, viu-se tropas do Zimbabwe, Tanzânia, especialistas de Cuba, RDA, URSS assistindo o governo da Frelimo no seu confronto contra a Renamo. Mas os resultados de tanta concentração de meios e inteligência militares tiveram resultados em tudo pouco significativos na correlação de forças no país e na região em que se situa Moçambique.
Alguns dos pronunciamentos provenientes de Harare e presentes numa das últimas edições do “Herald” são prenúncio de uma opinião que pode consubstanciar contactos que já devem estar acontecendo entre facções do governo zimbabweano e o governo de Maputo. Ninguém está proibido de fazer conjecturas ou de fazer suposições. O passado recente da zona austral de África está intimamente ligado as alianças estabelecidas pelos antes movimentos de libertação, agora quase todos eles suportes de governos no poder.
Muitas das posições que tomam os governos tem a ver com considerações estratégicas geralmente associadas a sua manutenção no poder e não propriamente a alguma projecção estratégica de outro tipo.
Não pode fugir da mente dos cidadãos que um novo conflito em Moçambique conheceria rapidamente a intervenção de vários governos em socorro do governo de Maputo. As aspirações hegemónicas regionais de Angola poderiam rapidamente servir de suporte a acções combinadas das Forças Armadas do Zimbabwe com apoio em armamento e financeiro do governo de Luanda. A África do Sul, potência regional indiscutível haveria de querer manter o seu status e procuraria empurrar Angola para fora do conflito. Isto são tudo considerações ou opiniões sobre futuros cenários na região. Se nada é definitivo nem concreto num momento como este isso não deve significar e muito menos convencer-nos de que vivemos numa paz e estabilidade duradoura. Por causa de algum excesso de uma das partes a situação poderá conhecer outros desenvolvimentos e desembocar em acções militares de vulto.
Mas uma guerra em Moçambique e algo a evitar a todo o custo porque teria efeitos no processo de democratização do Zimbabwe para além de travar todo o processo idêntico no nosso país.
Começam a surgir vozes alertando para a repetição do cenário angolano em que Jonas Savimbi foi fisicamente eliminado depois de processos eleitorais mal concluídos. Em Moçambique pode ser que alguém esteja convencido de que a manutenção no poder, num quadro em que não se realizem eleições, pode ser conseguida pela via de recusa a um diálogo com a liderança da Renamo. Nada pode ser descartado no actual panorama.
Será que o silêncio de Maputo é sinal de que está concertando com outras entidades de relevo, nacionais e internacionais, que lhe terão sossegado quanto a um desfecho em seu favor deste imbróglio?
Quando em Maputo um académico da craveira do Dr. Lourenço do Rosário, habitualmente tido como próximo do regime, confirma a legitimidade de algumas das revindicações do líder da Renamo, seria desejável que o governo de Maputo o escutasse. Já não são aquelas canções repetidas de que Dhlakama é um “incendiário, anti-democracia, deslocado no tempo”. Os porta-vozes do regime de Maputo já foram desmentidos por algumas vozes locais, mas com gente do calibre do L. Rosário juntando-se àqueles que discordam deles, o jogo discursivo ganha outra consistência e significado.
Neste momento “a bola está definitivamente do lado” do governo da Frelimo. Não há como negar de que Dhlakama tomou algumas decisões estratégicas importantes. A sua validade e importância só poderão ser avaliadas a posteriori. Não há dúvidas de que se assistiam a manobras dilatórias de uma parte em detrimento de posições antes tomadas e divulgadas. O que discutiram antes em Nampula que é tao difícil de implementar?
Numa atitude habitual de desprezo, silêncio, adiamento, estratégia de “facto consumado” um a parte está abertamente consolidando suas posições na esfera económico-financeira enquanto um dos signatários do histórico AGP tem seus membros na maioria agonizando na miséria mais atroz.
A situação moçambicana tanto pode ser vista como simples como complexa. A verdade indica que existem todos os ingredientes para confeccionarem-se todos os tipos de “sopa”.
Seria sabedoria que as partes iniciassem-se no mais curto espaço de tempo conversações secretas do estilo Israel-Palestina em país seguro. Ou que de maneira aberta sem subterfúgios e “cartas na manga” esclarecessem aos moçambicanos que estão falando e tratando dos fundamentos para a manutenção da paz e estabilidade em Moçambique.
Portugal, Itália, EUA, China, Rússia, Reino Unido, Alemanha, entanto países influentes em Moçambique e com linhas de contacto no governo de Maputo e na Renamo, deveriam estar abertamente mais preocupados com o desenrolar dos acontecimentos. Não se pode permitir que um conflito potencial não seja prevenido. Nos EUA há eleições e em Portugal registam-se complicações relacionadas com uma profunda crise financeira. As preocupações daqueles governos está em problemas domésticos mas uma potência de cariz internacional ou um país como Portugal profundamente ligado a Moçambique e a outras antigas colónias em África, não se pode dar ao luxo de não emitir sinais visíveis e claros de sua posição, face aos novos desenvolvimentos em Moçambique. Não se iludam os estrategas governamentais nem seus consultores porque a situação moçambicana, dada a precariedade institucional, dúvidas abertas quanto a capacidade dissuasora efectiva do exército governamental e da PRM, reservas militarizadas da Renamo e reconfiguração da sua cadeia de comando militar, podem rapidamente degenerar em guerra aberta.
Não se trata simplesmente de deixar as coisas ao cuidado dos interlocutores internos numa situação com o potencial de explodir e passar para países vizinhos. Malawi, Zimbabwe, África do Sul, Tanzânia, RDC, Angola serão inexoravelmente empurrados para qualquer conflito armado que seja desencadeado em Moçambique.
Este é um momento em que friamente se devem tomar todas decisões que dizem respeito a Moçambique e aos moçambicanos. Convém que os políticos moçambicanos se compenetrem da importância vital e estratégica do diálogo franco e aberto numa situação como a que se vive neste momento.
Muitos anos passaram-se em que o engano e o protelar foram as armas ou instrumentos políticos utilizados.
A herança que Armando Guebuza recebeu de Joaquim Chissano foi um dossier jamais finalizado do AGP. E se algumas questões fulcrais dos AGP não foram tratadas atempadamente, terá sido por concertação no seio da Frelimo de que AEG também faz parte?
Hoje poderão surgir vozes acusando AEG de “casmurrice política” mas convém que se diga que foi toda uma liderança da Frelimo quem escolheu o caminho dos atalhos e dos jogos encobertos como forma de lidar coma Renamo.
Do lado da Renamo terá havido falta de traquejo diplomático e negocial contrariando abertamente sua capacidade militar estabelecida e reconhecida.
Os moçambicanos não podem continuar reféns de intenções e de práticas de políticos com objectivos confinados aos seus interesses pessoais.
Não queiram interromper o jogo democrático numa altura que se mostra claro que a correlação de forças tende a favor de novas forças políticas.
É altura de apelar a todos os políticos moçambicanos para que não se desenterre o “machado de guerra”. Nenhum deles por mais mordomias, regalias, mansões, contas bancárias, património industrial e de outra natureza terá oportunidade de gozar e beneficiar-se disso uma vez abertas as comportas dantescas da violência.
Moçambique clama por tolerância, responsabilidade, dialogo sem pré-condições, sobre todo o tipo de questões apresentadas por qualquer que seja o partido político.
Neste cenário em que os partidos militarizados, Frelimo e Renamo, pretendem voltar a bipolarizar o poder em Moçambique, importa que os outros partidos entendam a situação na sua magnitude e definam o tipo de acção política e diplomática a encetar para contrariar esta situação lastimosa.
Só nós moçambicanos é que podemos tratar dos nossos assuntos.
Os outros querem simplesmente nossos recursos minerais e o mais barato possível… (CanalMoz -29 de Outubro de 2012 -Noé Nhantumbo)

25 outubro 2012

CURSE ON THE LAND: A HISTORY OF THE MOZAMBICAN CIVIL WAR


CURSE ON THE LAND: A HISTORY OF THE MOZAMBICAN CIVIL WAR

By David Alexander Robinson, BA (Hons)

This thesis is presented for the degree of Doctor of Philosophy of History for The University of Western Australia (School of Humanities, Discipline of History,2006).

Preface
I would like to thank those who have supported and assisted me during the  production of this thesis, especially my friends and colleagues at the University of Western Australia, my family, and my partner Lindsay who has most closely witnessed and shared the joys and tribulations of my doctoral experience. I express my gratitude to my supervisors Professor Norman Etherington and Dr Jeremy Martens, who have given me guidance and feedback without smothering my initiative, to all the staff in UWA’s
Discipline of History who have facilitated my candidature, and to Convocation – the  UWA Graduates’ Association, who provided me with the 2003 Postgraduate Travel Award which greatly enhanced my experience of travel and research in southern Africa.
I would also like to thank all those scholars who have provided me with any level of assistance in my research, including: Ned Alpers, University of California, Los Angeles; João Cabrita; Michel Cahen, Montesquieu University, Bordeaux; João Paulo Borges Coelho, Universidade Eduardo Mondlane; Paul Fauvet, Agencia de Informação de Moçambique; Karen Harris, University of Pretoria; David Hedges, Universidade  Eduardo Mondlane; Carrie Manning, Georgia State University; Malyn Newitt, King’s
College, University of London; Carolyn Nordstrom, University of Notre Dame, Indiana; and André Thomashausen, University of South Africa. Special thanks must go to the  employees of the South African Foreign Affairs Archive, who went out of their way to make me welcome, and to Colin Darch at the University of Cape Town, without whose  advice and resources this thesis would not have been possible.
Writing this doctoral thesis over the last four years has been more than a research project; it has been a way of life and a period of personal growth. The journey has been intellectually challenging, exciting and enjoyable, but sometimes also stressful, lonely and  heartbreaking. Exploring Mozambican history has forced me to reassess my beliefs about ideology, religion, good, evil, misery and happiness, and gave me the opportunity to see some of the beautiful continent of Africa. I hope that my research will in some way  benefit the people of Mozambique, and will make a worthwhile contribution to the study  of African history.

Veja a tese na íntegra


DESTACADOS MEMBROS DA FRELIMO CONTRADIZEM-SE EM PÚBLICO


DESTACADOS MEMBROS DA FRELIMO CONTRADIZEM-SE EM PÚBLICO

“Processo de Nachingwea”

Sérgio Vieira confirma existência da «Ordem de Acção n. 5/80»


É sabido que as execuções das vítimas do conhecido Processo de Nachingwea, tiveram lugar nas cercanias da estrada que liga M’telela a Chiputo, no Niassa. Quem conduziu os presos ao local foi o comissário político do Ministério da Segurança-SNASP, Major Abel Assikala. Este integrava uma delegação de alto nível que se deslocou propositadamente a M’telela em viaturas oficiais do governo provincial do Niassa, na altura tutelado por Aurélio Manave. As ordens foram transmitidas pelo então vice-ministro da segurança, Salésio Teodoro Nalyambipano, em cumprimento de uma decisão tomada pelo Bureau Político do Partido Frelimo.
As recentes entrevistas que o jornalista Jeremias Langa da STV efectuou a destacados membros do Partido Frelimo trouxeram de novo à ribalta as execuções sumárias de  vítimas daquilo que já é conhecido no país e no estrangeiro como o “Processo de Nachingwea”. Reproduzidas no diário «O País», edição de 25 de Junho do corrente, as entrevistas com Óscar Monteiro e Sérgio Vieira demonstram que, no fundo, o regime continua a actuar de forma dolosa em relação a uma das páginas mais negras da história contemporânea da nossa jovem nação.
Questionado sobre a «Ordem de Acção n.º 5/80» do Ministério da Segurança-SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular), da qual consta o seu nome no âmbito da execução sumária de destacadas figuras políticas nacionais, Óscar Monteiro começou por afirmar tratar-se de “um documento fictício inventado por Jorge Costa”, o ex-director nacional da segurança que pediu asilo político à África do Sul em 1982. Monteiro foi peremptório ao afirmar perante as câmeras de televisão, e uma vez mais referindo-se à referida “Ordem de Acção”, que “esse documento não existe”.
Contrariando Óscar Monteiro, o coronel na reserva, Sérgio Vieira, afirmou no decurso da entrevista conduzida pelo director do matutino «O País» que a “Ordem de Acção” existia, pois, segundo as suas próprias palavras, “foi publicado na época”, para depois ser ainda mais preciso: “Não foi publicado agora, foi publicado na época. Foi uma decisão da Comissão Política (NR.: então Bureau Político) para a publicação dessa ordem face à gravidade dos acontecimentos”. Interrogado pelo entrevistador se a «Ordem de Acção n.º 5/80» teria aparecido antes ou depois da execução dos prisioneiros, Sérgio Vieira declarou que “possivelmente deve ter sido publicada depois”, repisando a seguir: “Mas existia”.
Tanto Sérgio Vieira como Óscar Monteiro tentaram durante a entrevista apresentar as execuções sumárias de M’telela como uma decisão tomada à revelia da direcção do Partido Frelimo. Segundo Vieira, “é que aquela foi uma decisão de uma camarada, que não interessa o nome agora”, acrescentando: “Ele próprio, sem consultar ninguém, teve a ideia de levar os prisioneiros para uma zona onde haveria um ataque da Rodésia e executar os prisioneiros”.
Recorrendo ao mesmo argumento, Óscar Monteiro declarou na entrevista a que temos vindo a fazer referência, que as execuções sumárias haviam sido uma decisão de “pessoas que tinham [os prisioneiros] à guarda, penso que seja da responsabilidade de quem esteve com eles lá”.
Na realidade, a decisão foi tomada pela direcção do Partido Frelimo. O próprio Marcelino dos Santos, número dois da hierarquia dessa formação política à altura das execuções sumárias, declarou de forma insofismável ao jornalista Emílio Manhique da TVM que tais matanças haviam sido um acto de “justiça altamente popular”. Na entrevista, transmitida por aquele canal televisivo a 19 de Setembro de 1997, Marcelino dos Santos explicou da seguinte forma o raciocínio da direcção do seu partido ao ordenar as execuções extrajudiciais:
“...e depois sobreveio a acção, a tentativa do inimigo de buscar elementos moçambicanos descontentes, em particular aqueles que pudessem ser-lhes bastantes úteis. Então, aquela consciência que nós tínhamos inicialmente de que são traidores e que, portanto, deveriam ser executados. Bom, numa certa medida podemos dizer que surgiram as condições que forçaram a implementação de uma preocupação e de um sentimento muito, muito, muito antigo...”
São, pois, claras as palavras de Marcelino dos Santos, e que lançam por terra as teses de Sérgio Vieira e Óscar Monteiro de que alguém, que convenientemente não identificam, havia agido isoladamente e à revelia da direcção do Partido Frelimo. É sabido que as execuções tiveram lugar nas cercanias da estrada que liga M’telela a Chiputo, na província do Niassa. Quem conduziu os presos ao local foi o comissário político do Ministério da Segurança-Snasp, Major Abel Assikala. Este integrava uma delegação de alto nível que se deslocou propositadamente a M’telela em viaturas oficiais do governo provincial do Niassa, na altura tutelado por Aurélio Manave. As ordens foram transmitidas pelo então vice-ministro da segurança, Salésio Teodoro Nalyambipano, em cumprimento de uma decisão tomada pelo Bureau Político da formação política, que à luz da Constituição em vigor, assumia-se como “força dirigente do Estado e da sociedade” e de cujo elenco constava o nome de Óscar Monteiro.
É destituída de qualquer lógica a afirmação de Sérgio Vieira de que o tal “camarada que não interessa o nome agora” tenha levado “os prisioneiros para uma zona onde haveria um ataque da Rodésia e executar os prisioneiros”. Chiputo, que dista cerca de 50 km do campo de reeducação de M’telela, é, portanto, uma zona muito aquém do teatro onde se desenrolaram as operações da guerra do nosso país com a Rodésia, aquando da luta pela Independência do Zimbabwe. Já antes, mais concretamente em 1988, Sérgio Vieira afirmara perante membros da comunidade moçambicana residente em São Francisco da Califórnia que as personalidades políticas abrangidas pelo «Processo de Nachingwea» haviam sido mortas no Niassa pela guerrilha da Renamo. Este movimento, note-se, apenas iniciou as suas acções armadas na Província do Niassa em 1983, mais de 4 anos após as execuções decretadas pelo regime do Partido Frelimo, à revelia dos tribunais e sem que a lei da pena de morte tivesse sido aprovada pelo parlamento então existente.

CANAL DE MOÇAMBIQUE – 14.07.2010

O GIGANTE DE MANJACAZE (1944-1990)


O GIGANTE DE MANJACAZE (1944-1990)

O Gigante no funeral de Salazar nos Jerónimos

Com o tempo, muitos acontecimentos que tornaram Moçambique referência para Portugal e mundo vão se perdendo. São vários eventos, alguns dos quais diziam respeito ao aspecto físico de moçambicanos que se tornavam distintos. Um deles foi o Gabriel Estêvão Monjane (Mondlane), apelidado de Gigante de Manjacaze. Media 2,45 metros de altura. Veio a perder a vida em 1990. O Gigante de Manjacaze foi notícias na imprensa moçambicana, que se tornou distinto justamente por ser gigante. Manuel da Silva Ramos, poeta e ficcionista português, com a obra “Viagem com um Branco no Bolso”, o romance, veio a marcar de forma documentada a vida de Gabriel Estêvão Mondlane. De acordo com fontes documentais, nesse romance Ramos analisa criticamente a exploração a que esteve sujeito o Gigante, explorado por empresários e promotores de espectáculos no período colonial. (In, Diário de Moçambique, 23-06-11).

24 outubro 2012

ENDURECIMENTO DE POSIÇÕES É IGUAL A POLÍTICAS OBTUSAS E INCONGRUENTES


ENDURECIMENTO DE POSIÇÕES É IGUAL A POLÍTICAS OBTUSAS E INCONGRUENTES

Corporações internacionais estão sendo uma das causas…

Beira (Canalmoz) – Os negócios dos recursos minerais em países como Moçambique podem ser olhados sob vários prismas. Quando se atribui importância estratégica a esses recursos minerais entram logo em jogo interesses de diversos actores e cada um procura de maneira activa “puxar a brasa para a sua sardinha”.
De um silêncio inicial quanto a existência potencial de recursos minerais estratégicos para a economia mundial, Moçambique foi como que descoberto pelos principais actores internacionais. E quem se julga ligado aos interesses corporativos julga-se insuflado e protegido. Mas Mobutu também estava e quando chegou a altura de ser considerado uma peça “avariada”, os contratos de exploração dos recursos começaram a ser assinados por Laurent Kabila mesmo antes das suas forças alcançarem Kinshasa…
Mas convém que os moçambicanos abram os olhos e reflictam sobre os assuntos de maneira adulta. Ninguém se preocupou e drenou fundos e recursos para que se alcançasse a paz em Moçambique, só porque os moçambicanos eram “meninos e meninas bonitas”.
Internacionalmente, os principais pesquisadores de minerais sabiam perfeitamente que o Canal de Moçambique e países como a Tanzânia e o Quénia, Moçambique, Sudão e outros estavam situados em bacias importantes e com potencial de possuírem carvão, gás natural, petróleo e outros minerais.
A diplomacia das chancelarias ocidentais envolvidas no processo de pacificação de Moçambique sempre esteve informada sobre o que existia e a importância estratégica das reservas dos diferentes minerais.
A implantação de megaprojectos por um lado traz algum desenvolvimento de infraestruturas, sistemas de comunicação e estabelecimentos habitacionais ou turísticos, algumas receitas para o Cofre do Estado mas existe todo um outro lado que importa estudar e conhecer. Só que todos os esforços empreendidos nessa direcção acabam jogando um papel que se entremeia entre a política e a economia.
O endurecimento de posições políticas em Moçambique, as reclamações relacionadas com os megaprojectos, a arrogância com alguns políticos se manifestam e se apresentam ao público, a relutância em dialogar abertamente e sem subterfúgios, podem em conjunto ser classificadas como o outro lado da moeda. Quando alguns dizem que os recursos minerais podem ser a maldição de um país possuem alguma razão pois isso tem sido o caso com a maioria dos países africanos onde se descobrem e exploram recursos minerais.
Toda a Primavera Árabe é uma amostra inquestionável de como um regime político autocrático, inflexível, procurando por todos meios perpetuar-se no poder toma conta dos recursos naturais de um país e controla toda a estrutura de exploração e exportação. Fortunas incomensuráveis constituíram-se e promoveram a emergência de ditaduras formidáveis baseadas e sustentadas pelo controlo dos recursos minerais de países como a Líbia.
Se um governo pode obter equipamento militar, gás lacrimogéneo, armas, munições, aviões de guerra, helicópteros, fardamentos e tudo o que se refira a logística militar, com base em créditos facilitados e garantidos por recursos minerais, concedidos por países como a China, rapidamente alguns dos integrantes de tal governo, podem começar a pensar e a julgar que são omnipotentes e omnipresentes. A megalomania é um fenómeno de rápida geração e desenvolvimento.
Se os financiamentos para o Orçamento Geral do Estado continuam a fluir a partir das capitais ocidentais e se as avaliações ou apreciações que são dadas ao país continuam a ser de elogios isso pode obscurecer a vista de algumas pessoas ingénuas. É fácil elogiar quem domina reservas de gás natural muito importantes, sobretudo quando tal elogio vem de quem possui uma das maiores companhias mundiais de exploração de gás e petróleo.
Quem se julga poder absoluto dificilmente terá a predisposição de escutar os outros ainda mais numa situação em que os financiamentos fluem e os agentes de créditos internacionais não param de bater a sua porta oferecendo isto e aquilo.
A deslocação de um núcleo da liderança da Renamo juntamente com seu líder, Afonso Dhlakama para as matas da Gorongosa é um sinal preocupante indicativo de que internamente não estão acontecendo aqueles diálogos difusores de tensões e com capacidade e potencial de reunir consensos. Todos os castelos e sonhos construídos com base nos recursos minerais descobertos e explorados em Moçambique podem rapidamente entrar em derrapagem.
Com infelicidade indisfarçável o mês de Outubro, emblemático simbolicamente, pois a 4 de Outubro, há vinte anos atrás o governo da Frelimo e a Renamo assinaram o Acordo de Paz. Terminava assim uma guerra fratricida alimentada por tendências hegemónicas, intolerância política e alguma cegueira política. Algum aparente poderio militar e apoios externos convenceram o governo da altura, de que poderia confrontar-se e ter êxito contra uma guerrilha embrionária. Esta guerrilha evoluiu com apoios multifacetados, desde Bona a Nairobi, passando por Pretória e Lisboa. A guerra civil revelou-se com o prolongamento ou sequela da guerra fria. Seus apoiantes situavam-se todos na esfera de influência ou dos EUA ou da Rússia.
Porque o fim da guerra não foi corolário da emergência de uma atitude e postura de debate e diálogo aberto dos problemas nacionais, a solução de questões importantes, contidas em alguns dos protocolos do Acordo de Roma foram sendo adiadas. Rapidamente se instalou um sistema de governação baseado na rapina do que tivesse algum valor. Os governantes aproveitaram-se das fraquezas institucionais e estabeleceram sistemas de corrupção eficientes que os levaram a acumular riquezas vistosas em muito pouco tempo.
Os cuidados e a atenção que assunto como a promoção da tolerância política, estabelecimento de instituições credíveis para organização dos pleitos eleitorais, a organização de um exército e polícia despartidarizados foram sendo adiados por conveniência de quem exercia o poder em Maputo. Mas assunto não resolvido não morre.
Ninguém em pleno uso de suas faculdades mentais e analíticas poderá afirmar que Afonso Dhlakama reclama sem sentido e razão quando se refere ao dossier militar, FADM e PRM. Foram ou não colocados na reserva grande parte dos oficiais provenientes da guerrilha? Onde está a maioria do oficialato proveniente da Renamo?
Que acções de reintegração social permanente dos ex-guerrilheiros ocorreram e ocorrem?
O discutido e suspeito pacote eleitoral pode e deve ser alterado para acomodar todos os interesses dos partidos ou não? Não é claro e evidente que com a actual Lei Eleitoral, com o STAE e CNE como são e estão o beneficiário é a Frelimo?
No importante sector económico e financeiro o que acontece é que o governo age e actua de maneira deliberadamente suspeita, ao encobrir todos os actos relacionados com a autorização de exploração de recursos minerais em Moçambique. Afinal quem restringe o público de ter conhecimento dos grandes dossiers da economia moçambicana não está de maneira alguma interessado em ver a democracia política e económica singrando no país. Em nome da verdade e da objectividade, alguns dos nossos proeminentes analistas políticos e comentadores televisivos tem de admitir pelo alguma vez que a razão também reside em outros quadrantes.
Há uma plataforma que foi instalada e lubrificada, que funciona em pleno na arena económica. Através do controlo da economia a liderança da Frelimo coloca-se em posição de “ditar regras” na esfera política.
Obviamente que os políticos de outros partidos mesmo que estivessem distraídos tomaram conhecimento da situação vigente no país. Participante no conflito que a opôs ao governo, a Renamo surge como a mais interessada em discutir os pontos que julga estarem a prejudicar seus membros e organização em si.
O governo da Frelimo terá fabricado ou moldado um pacote informativo para consumo público que apresente Afonso Dhlakama como “eterno desestabilizador”.
Mas nem todos os moçambicanos acreditam nas sucessivas montagens apresentadas nos órgãos de comunicação pública e daqueles afectos à Frelimo.
Há provas substanciais de que a Renamo possui alguma razão nas suas reclamações. Se a objectividade é o critério utilizado é obrigatório dar razão onde ela existe. A Deus o que é de Deus e a César o que a este pertence”.
Há que reconhecer e é de extrema importância que os políticos tenham ponderação e o cuidado necessário para abordar e tratar dos problemas do país conforme eles se apresentam. Posições de força ou a exibição da força podem fazer resvalar todos os ganhos recentes no capítulo do desenvolvimento país.
O Parlamento moçambicano é chamado a intervir e a manifestar posições em defesa dos cidadãos e da estabilidade nacional. Os representantes do povo são chamados a revelarem-se como moçambicanos eleitos para salvaguardar e defender os direitos dos moçambicanos. Os “toques subtis” de uma aparente legalidade nos seus actos devem conduzir o governo para o diálogo que se mostra urgente e necessário.
Não é altura de exibirem dotes retóricos ou qualidade verbal de vulto. O mais importante é trabalhar-se no sentido de conciliarem-se posições e respeitarem-se os direitos de todos os moçambicanos.
A macrocefalia actual, a base oligárquica que se estruma nos recursos naturais do país e nas facilidades de saque directo dos cofres do estado, as trafulhices que são toleradas e promovidas, a exclusão dos outros e o arregimentamento de boa parte da comunicação social do país, só servirão para adiar o que será o “Verão Africano” um dia… (Noé Nhantumbo- CanalMoz-24 de Outubro de 2012)