NUM PAÍS O MAIS IMPORTANTE DEVEM SER OS
CIDADÃOS E NÃO EGOS DOS POLÍTICOS E GOVERNANTES…
Beira
(Canalmoz) - Está à vista que assumir o governo, fazer parte dele e conseguir
governar constitui um dos principais sonhos dos políticos e razão dos partidos
que criam e de que fazem parte como membros.
No
caso moçambicano, em que após uma guerra fratricida, não se seguiu um desenho
de modelo político que afastasse dúvidas e unisse pessoas, encontramo-nos à
mercê de políticas tendenciosas marcadamente promotoras de assimetrias e de uma
autêntica nebulosa de nepotismo.
Os
esquemas de autoprotecção instituídos têm a função exactamente de garantir a
sobrevivência de um regime ferozmente oposto a uma cultura de tolerância,
concórdia, honestidade, transparência.
Há
fundamentados receios, de que uma vitória de um opositor em eleições nacionais,
signifique a derrocada de “impérios” construídos à custa de posições
governamentais.
Como
as riquezas ostentadas pela minoria no país são fruto de contrabandos de
influências, contratos de fornecimento, venda de terrenos, constituição de
joint-ventures em que se explora qualquer que seja o recurso natural existente
e disponível, das fileiras desta classe de capitalistas nacionais, emerge uma
imagem de preocupação e de permanente receio de que uma mudança na estrutura
governativa faça desabar “castelos “e ruir mansões.
Mesmo
dentro de um mesmo partido, encontram-se exemplos de represálias na esfera
empresarial, contra figuras que já não pertencem ao executivo e que perderam
entretanto suas posições no aparelho partidário. Embora não se fale em público
de vinganças e de vendettas na prática é o que se pode encontra ao virar de
cada esquina dos corredores empresariais moçambicanos. Uns dizem a boca cheia
que foram prejudicados, outros se limitam ao silêncio e esperando uma
oportunidade de fazer seus “galos cantarem outra vez”.
Este
ambiente de suspeição embora seja politicamente vantajoso a quem é neste
momento governo pois arrasta consigo todo um campo, envolvendo milhares de
pessoas que sentem e sabem que devem continuar a votar no partido no poder para
continuar a usufruir das regalias e possibilidade actuais deve ser também
olhado sob outro prisma. O país não avança a passos mais largos e rápidos
porque existe toda uma “ferrugem” programada nas engrenagens que torna a marcha
lenta, titubeante, de alcance duvidoso.
Quando
a cultura promovida é o tráfico de influências e da liderança governamental não
há sinais de cometimento em acções que visem travar este cancro social e
económico só se podem esperar resultados fracos e vergonhosos da acção desse
governo.
Sabendo-se
que não houve claros vencedores na guerra fratricida, pois se uns venceram no
campo da batalha, outros venceram na “secretaria” desde Roma a Maputo, os
interlocutores encaram-se sempre com dúvidas e suspeitas quanto as suas
intenções reais.
Aquele
salto para um entendimento mais amplo, uma abertura para diálogos construtivos
de uma nova relação, não estão acontecendo pois se está em presença de um “jogo
de protecção de vantagens” mais do que elaborar políticas claras para o
desenvolvimento nacional.
As
aspirações políticas e económicas de uma liderança político-governamental jogam
forte para o seu posicionamento em relação aos diferentes dossiers nacionais.
Tem
ficado cada vez mais claro que os integrantes da máquina governativa,
ministros, vice-ministros, directores nacionais e secretários permanentes
perderam a capacidade de pensar por si logo que se aperceberam que seu chefe
era pouco receptivo a mentes criativas ou a protagonismos por membros de seu
governo.
Uma
antiga ministra da Mulher e da Acção Social terá sentido na pele o protagonismo
da primeira-dama da república. Ofuscou-lhe tanto a acção que ela acabou por
desaparecer tanto dos écrans como eventualmente do próprio ministério.
Parece
que os governantes estão autorizados a repetir o que seu chefe diz mas não tem
qualquer possibilidade de enunciar ideias próprias pois neste “comissariado
bipolar” já está tudo pensado, decidido.
A
julgar pelas opções que têm sido postas em prática em matéria de nomeações não
é difícil descortinar uma clara intenção de alguém rodear-se de colaboradores
que não “levantem ondas” nem sonhem demasiado alto. Aquela tecnocracia que era
evidenciada pela maioria dos integrantes do governo de Joaquim Chissano foi
abertamente preterida e em seu lugar montaram-se figuras de “confiança política”
mas sobretudo executores obedientes.
Aqueles
políticos que não conseguiram eleger-se governo tiveram percursos diferentes
mas todos com uma coisa em comum, pouco estudo das causas das derrotas
eleitorais e refúgio em explicações pouco esclarecedoras. Reclamar é legítimo
mas que não consegue definir uma linha de acção adequada e impulsionador das
potencialidades existentes tanto nos partidos como na sociedade acaba sendo
relegado ao esquecimento pois não oferece a liderança que as pessoas anseiam.
Olhar
para Moçambique sob o prisma de “vencedores e vencidos”, seu comportamento
quotidiano, é importante na medida em que permite avaliar o que fazem e o que
deveriam fazer.
Sem
dúvidas que a atitude de fecharem-se em círculos concêntricos pode ser vista
como estratégia de sobrevivência.
Mas
por outro lado fica claro e evidente que o país sente falta de uma liderança
política visionária que seja catalisadora de uma nova cultura e engajamento
social dos moçambicanos.
As
preocupações individuais não se podem esquecer nem relegar para um segundo
plano mas não se pode construir um país através da execução de planos e
programas que só servem objectivos de um grupo restrito de pessoas.
Se a
perspectiva em aplicação é aquela que diz “todas as oportunidades de negócio”
com o estado devem ser entregues a entidades conotadas e próximas aos
governantes, se a prospecção, exploração de recursos minerais e outros são
autorizados numa perspectiva de benefícios individuais e só depois é que se
consideram as contrapartidas destinadas ao estado, pelo que algumas negociações
prenunciam, entra-se numa situação de atolamento, paralisia institucional, pois
nada funciona sem a autorização prévia de quem tem o poder real.
Uma
leitura da situação que talvez esteja muito próxima da verdade dirá que os
políticos moçambicanos não têm em conta a possibilidade real de alternância
democrática do poder, tem medo disso como o ”diabo da cruz”. Fazem todos os
possíveis para afastar a possibilidade de outros os substituírem na governação.
Mas procedem de maneira um tanto ou quanto suicida pois na luta pela
“eliminação” ignoram completamente que em política nada é permanente e
definitivo.
Aqueles
quês e apresentam vencedores hoje podem tornar-se nos derrotados de amanhã.
De uma
maneira inesperada, com relativa surpresa, a “Primavera Árabe” foi fértil em
ensinamentos. Não há perenidade em política e presidentes vitalícios tombam
quem nem “mangas podres”…
Respeitem-se
os vencidos pois amanhã quando estes forem vencedores vos respeitarão… (Noé Nhantumbo)
In:
CanalMoz, 19 de Outubro de 2012
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