COMEÇOU A CONFRONTAÇÃO OU SIMPLESMENTE É UMA
ESTRATÉGIA BASEADA NA PRESSÃO?
- Onde está o diálogo construtivo?
- Onde encontrar moderação num diálogo de
“surdos e mudos”?
Beira
(Canalmoz) - O dia em que se assinala a morte em combate de André Matsangaice
foi marcado pela deslocação do líder da Renamo para as matas de Gorogosa e a
remoção da estátua do primeiro presidente da Renamo, André Matsangaice, na
Beira.
Moçambique,
país que recentemente comemorou 20 anos da assinatura do Acordo de Paz de Roma
parece encaminhar-se para uma incerteza quanto ao seu futuro político.
Uma situação
que bem se pode caracterizar de um acumular de vantagens por parte de um dos
signatários do acima citado acordo está paulatinamente empurrando o outro para
o desespero político. Com um número considerável de ex-guerrilheiros
desmobilizados e não socialmente reintegrados, sobre a pressão sobre a
liderança da Renamo para que se encontre uma resposta às preocupações de
milhares de pessoas que praticamente vegetam no país.
O regresso
ao discurso duro e incisivo da liderança da Renamo não é um facto novo mas em
abono da verdade é preocupante.
Será que os
ex-guerrilheiros estão encostando seu líder à parede?
Da capital,
Maputo, não há reacção. Será que o silêncio foi eleito estratégia a seguir? Ou
tudo faz parte de uma avaliação mais abrangente que pretende encurralar o líder
e eventualmente adoptar-se uma solução como a angolana? O tempo não é para
vaticínios mas para a tomada de medidas sérias que preservem a paz e a
estabilidade no país.
Quando uma
parte de um acordo como ao de Roma se manifesta contrária ao status e procura
trazer dossiers que considera mal parados e conduzidos há razão para que os
moçambicanos se preocupem. Os que verifica neste momento é uma aparente
ausência de estratégia entre interlocutores militarizados que podem fazer a paz
entra em derrapagem.
Convém que
as autoridades governamentais, os partidos políticos, especialmente a Frelimo e
a Renamo não cometam a asneira de desprezar o potencial de violência que está
refém de uma abordagem sem tabus nem secretismos.
Não queremos
vaticinar um desfecho inapropriado ou perigoso para actual situação que se
desenvolve no país.
O comodismo,
o silêncio, recurso a estratégias obscuras, avaliações erróneas podem levar
este barco que é Moçambique, a um “porto muito mau”.
Há como que
uma tendência de regresso a cenários dantescos. Há’ forças sinistras procurando
colocar seus interesses acima de tudo.
É processo
democrático que está sendo colocado em risco e isso pode muito bem ser
estratégia de alguns moçambicanos.
Se não há
paz nem segurança não haverá eleições, ou não é essa a lógica?
Existem
razões para desconfiar de tanta teimosia entre pessoas que até se conhecem.
Porque não se sentam e discutem de uma vez por todas todos os assuntos? Será
tão complicado criar condições para um diálogo construtivo?
Poderá ser
que Maputo espera que a Renamo e o seu líder recebam condenação internacional
por esta acção de aquartelar militares e depois partir para uma acção mais
vigorosa de algum tipo. Pode também ser o caso de uma surpresa que apanhou o
governo de Maputo com as “calças na mão”. Esperavam tudo mas não o que Dhlakama
fez.
Qual será o
caminho a seguir? Atendendo a experiência de encontros anteriores, entre
Guebuza e Dhlakama, que até aqui nada produziu de concreto é óbvio que os
cidadãos desconfiem tanto da postura como dos interesses que movem estes dois
líderes.
A diplomacia
internacional, nomeadamente a Comunidade de Santo Egídio, patrocinadora do
Acordo de Roma, parece relativamente distraída e não estando a fazer as
leituras pertinentes em relação à evolução da situação no terreno. De uma
maneira até certo ponto habitual o circuito diplomático em Maputo multiplica-se
em encontros, conferências, visitas, banquetes e comemorações mesmo que não
ignore que a situação da maioria dos moçambicanos é precária.
Numa altura
de escassez de recursos financeiros altamente condicionada pela crise
financeira internacional a preocupação de muitos governos é verem suas
companhias ganhando concursos de exploração de recursos naturais em Moçambique.
A guerra do
passado parece esquecida e após tentativas de relativo sucesso de solução na
Guiné-Bissau e em Angola, pode haver aqueles que pensem e considerem que a
questão moçambicana, o “caso Renamo”, também se pode resolver de maneira
similar. A eliminação física de opositores não traz a paz nem a estabilidade
desejada e necessária. Só produz adiamentos, vinganças, instabilidade e
intolerância.
Não podemos
ficar sossegados quando os responsáveis políticos se recusam a dialogar de
maneira efectiva e trazendo resultados que demonstram cometimento sério para
com a paz e estabilidade no país.
Com o PR
ausente, na Europa, em Maputo para que ninguém está autorizado a falar. Há um
vazio perigoso no poder e esta paralisia, a falta evidente de iniciativa pela
parte do governo é indicativo de ausência de uma estratégia consequente.
Se durante
algum tempo os moçambicanos acreditavam que a intenção de diálogo entre Guebuza
e Dhlakama era bem-vinda, o seu resultado demonstra que os políticos continuam
enganando-se e perigando a paz.
Se na Costa
do Marfim, Quénia, Zimbabwe, RDC rebentaram conflitos por razões distintas mas
similares quem nos garante de que a pobreza estratégica de políticos
moçambicanos, o emaranhando de seus interesses privados não nos coloque na rota
da guerra?
Agora é
altura dos “diplomatas natos” como Joaquim Chissano mostrarem o seu peso e
influência entre portas. Queremos a paz e exigimos que o governo e a Renamo se
coloquem à disposição do diálogo. Não vai ser o poder militar das FADM ou da
FIR que vão resolver os dossier reivindicados pela Renamo.
Fugir ao
diálogo, para além do potencial de provocar uma nova guerra pode significar a
paragem de todo um processo democrático, interromper o ciclo eleitoral
periódico e criar condições para a declaração de estado sítio, limitação das
liberdades democráticas e todo um cenário inimaginável. Não queremos nada disso
e nem queremos que as eleições presidências de 2014 não se realizem. Não
queremos uma situação como a angolana se repetindo em Moçambique
Acreditamos
que há senso e sentido de responsabilidade que vão vencer egoísmos exacerbados
a bem da nação… (Noé Nhantumbo- CanalMoz- 22/10/2012)
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