29 novembro 2012

A REVOLUÇÃO SUL-AFRICANA

A REVOLUÇÃO SUL-AFRICANA


 Por Analúcia Danilevicz Pereira

Sinopse
Carregada de mitos, a história da Revolução Sul-Africana, que levou ao poder o Congresso Nacional Africano (CNA) sob a liderança de Nelson Mandela, em 1994, é ainda pouco conhecida. A transição do regime do apartheid para a democracia, por exemplo, não foi pacífica. Além disso, embora tenha melhorado a situação social dos negros, o novo governo não conseguiu eliminar os privilégios da minoria branca. Por fim, uma espécie de reação conservadora tenta, hoje, conferir significado mais positivo ao regime racista e atudo que ele representou, enquanto busca desmoralizar o CNA por sua incapacidade de conquistar mais estabilidade política e combater com efetividade a corrupção, desconsiderando que estas são dificuldades comuns às jovens democracias.
Nesta obra, a autora remonta ao processo de colonização da África do Sul por holandeses, franceses e ingleses no século 17, reconstruindo a partir daí as raízes do regime racista, quedeu origem à revolução enraizada em condições históricas peculiares - a contradição entre classe e raça. Ela também mostra como, nesse cenário, emerge sua liderança máxima, Nelson Mandela, explicitando a trajetória ainda pouco conhecida do político que se tornaria modelo mundial de resistência.
Um dos momentos decisivos para a consolidação do regime foi a vitória britânica nas guerras bôeres, entre o fim do século 19 e o começo do século 20. AGrã-Bretanha anexou os estados independentes que aqueles fazendeiros brancos, de origem holandesa, haviam estabelecido no oeste, já então minerador. Empobrecidos, eles passaram a pregar o nacionalismo africâner - contra os invasores ingleses e os nativos. Lançavam-se assim os fundamentos do racismo, que o sistema de exploração mineral empregado pelos britânicos, contrapondo trabalhadores brancos e negros, ajudou a sedimentar.
O nacionalismo africâner culminaria com as legislações segregacionistas no começo do século 20, ganharia elementos fascistas e resultaria na instituição, em 1948, do regime do apartheid, do qual os países industrializados se tornariam cúmplices. Estava posto naquele momento o ambiente para uma reação mais agressiva por parte dos negros, que na verdade começaram muito cedo a se organizar, embora pacificamente, contra o regime - em 2012 o CNA, o movimento de libertação mais antigo, completou 100 anos.
A luta armada como ação política passou a fazer parte da estratégia dos movimentos de libertação da África do Sul no início dos anos 1960. As negociações entre o CNA e o Partido Nacional só se tornaram possíveis a partir do fim da Guerra Fria, quando ambas as partes se enfraqueceram, já que o governo tinha apoio do bloco ocidental e os revolucionários, da União Soviética.
Atualmente, após quase 20 anos da transição democrática, a sólida estrutura erguida pelo apartheid permanece nas bases sociais e econômicas da África do Sul e continua dificultando o acesso igualitário da maioria da população aos recursos econômicos do país. O grande desafio, diz a autora, é aprimorar a ainda frágil democracia.



Sobre o autor
Analúcia Danilevicz Pereira
Professora do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadora do Centro de Estudos Brasil-África do Sul, da mesma instituição.

28 novembro 2012

A CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO MOÇAMBICANA


A CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO MOÇAMBICANA


Apontamento de Jorge Heitor

Os nacionalismos de Moçambique, Angola e Guiné-Bissau é o tema de um livro editado este ano na Europa e nos Estados Unidos por Eric Morier-Genoud, que muito tem escrito sobre religião e política na África Austral.
O êxito de organização da Frelimo tem algo a ver com a capacidade dos seus dirigentes para saberem tirar benefícios das alianças globais. Isto escreve Giorgui Derlugian no livro Sure Road? Nationalisms in Angola, Guinea-Bissau and Mozambique, editado recentemente por Eric Morier-Genoud.
A escrita de uma cultura própria, como se verificou no primeiro seminário sobre esse tema organizado pela Frelimo e na antologia Poesia de Combate, pode ser vista como um esforço para se construir uma unidade de tempo e espaço, um povo e uma nação. Esta é a opinião de Maria-Benedita Basto, outro dos investigadores que neste volume se debruçam sobre as origens do Moçambique contemporâneo.
A utopia moçambicana foi a coincidência de um discurso com um lugar, um território e uma realidade, como o eram na década de 1960 as zonas libertadas e a própria luta de libertação, prossegue Maria-Benedita, Professora Adjunta da Escola de Educação Superior de Viana do Castelo, em Portugal.
Uma ideologia de modernidade, que existia na elite dominante de Moçambique, foi essencial para estruturar as relações de poder e para formar o nacionalismo que caracteriza a Frelimo. A opinião é agora de Jason Smith, que estudou Antropologia na London School of Economics e trabalha agora na Universidade de Pretória.
As ligações entre uma espécie muito particular de modernização e o nacionalismo que caracteriza o trajecto político moçambicano são demonstradas por Smith neste livro de 270 páginas incluído nas African Social Studies Series.
O Museu de Chai
Em Moçambique, todas as antigas bases da luta de libertação foram transformadas em monumentos e em 2005 criou-se em Chai um Museu Nacional da Libertação. Quem o recorda é Eric Morier-Genoud, ao reflectir sobre os nacionalismos em três das antigas colóniasa portuguesas na África.
Monumentos mais pequenos a fi guras específi cas foram inaugurados por todo o país, bem como muitos monumentos ao primeiro Presidente da República, Samora Moisés Machel.
Existe hoje em dia um forte interesse nos nacionalismos e nas nações da África onde se fala oficialmente português, tanto na sociedade em geral como no mundo académico, reconhece o editor desta obra, publicada com o apoio da associação de investigadores da revista Lusotopie.
A capa do trabalho é o mural “Terra de Cabral”, do artista Joel Bergner, mural esse existente na Fundação Amílcar Cabral, da Cidade da Praia, em Cabo Verde. E foi o mesmo editado tanto na cidade holandesa de Leiden como na cidade norte-americana de Boston.
Para além dos autores já citados, também nele colaboram David Birmingham, Michel Cahen, Philip J. Havik, Justin Pearce, Didier Péclard, Fernando Tavares Pimenta e Gavin Williams.
CORREIO DA MANHÃ – 27.11.2012

NAKUPULA CLAMA PELA SUA VALORIZAÇÃO


NAKUPULA CLAMA PELA SUA VALORIZAÇÃO

NA região de Nakupula, no distrito de Meconta, em Nampula, encontram-se muitos vestígios simbolizando a resistência secular dos povos macua contra a penetração portuguesa no norte de Moçambique, encabeçada pelo um dos considerados mais intrépidos reis desta tribo, Kupula Muno.

Estes testemunhos da história e cultura do país clamam pela sua valorização para que o local possa ser conservado e preservado, permitindo assim que as gerações vindouras conheçam esta parte do percurso do nosso país.
Muitos residentes da zona são de opinião que o estado de abandono em que actualmente se encontra o local onde decorreu também a conhecida Batalha de Malavini, envolvendo os guerreiros locais e os portugueses, não prestigia nem à população nem às autoridades, principalmente estas, vistas como quem deveria tomar acções no sentido de o local ser conservado e valorizado.
Maria Silvano, uma anciã que fez a sua vida em Nakupula, diz ver com tristeza por exemplo o memorial do rei Kupula Mano a estar no estado em que está, por falta particularmente de valorização. Na sua óptica, aquele local bem conservado e preservado podia trazer consigo valores que contribuiriam para a educação patriótica dos cidadãos.
“É um local de importância histórica ímpar, apesar de se encontrar num estado de abandono, recebe muitas pessoas que querem conhecer os feitos dos reis macuas, neste caso Kupula Muno, durante a resistência contra a penetração portuguesa no norte de Moçambique. Tendo em conta isso, já deveriam ter sido construídas algumas infra-estruturas para acomodar visitantes e mesmo para informar as gerações novas sobre o que ali aconteceu”, comentou a anciã.
Por seu turno, Fernando Arlindo, responsável da associação dos jovens daquela região, destacou que Nakupula é um lugar de interesse histórico, daí haver a necessidade de se preservar, conservar e promover o local no sentido de efectivamente imortalizar aquele património histórico, cultural e didáctico. A associação destaca-se na promoção de algumas actividades relacionadas principalmente com a sensibilização da sociedade sobre a necessidade e importância da valorização da região de Nakupula.
Fernando Arlindo afirmou que a colectividade juvenil de que é dirigente vai continuar a desenvolver acções concretas com vista a dignificar aquele local, sensibilizando as pessoas para a necessidade de valorizarem os feitos do rei Kupula Muno e outros na resistência à colonização portuguesa.
Todavia, e porque tais acções só terão efeitos desejados com o envolvimento das estruturas que tutelam o sector da Educação e Cultural na zona, Arlindo afirmou que vai encetar contactos junto dessas estruturas e espera que elas se mostrem receptivas.
Entretanto, o porta-voz da direcção provincial da Educação e Cultura em Nampula, Fernão Cacecasse, disse sem entrar em pormenores, quando contactado pela nossa Reportagem a propósito do assunto, que tanto em Nakupula como noutros locais que simbolizam a resistência do povo moçambicano ao colonialismo português existentes na província de Nampula, há um trabalho que está a ser feito com vista a valorizar e eternizar a nossa história neles. 

Maputo, Quarta-Feira, 28 de Novembro de 2012:: Notícias



LIGAÇÕES TRANSATLÂNTICAS: MARES, MEMÓRIAS E LUGARES NO TRABALHO DE MÓNICA DE MIRANDA
Se eu estudar, eu procuro apenas aprender o que se relaciona com o conhecimento de mim mesmo
Michel de Montaigne

Durante o período compreendido entre  1605  e 1609 o número de publicações geográficas na Europa cresceu exponencialmente para alcançar a mesma figura que todos os livros publicados desde o começo da impressão em 1550. Este fenômeno esteve diretamente ligado ao enorme impacto que a expansão colonial teve  na mente dos europeus. Os Livros queriam transmitir as viagens de descobrimento, com suas representações de territórios desconhecidos e a  presença mágica de “outras” culturas, tornou-se material de leitura elegida. A civilização que invadiu a América Latina na viragem do século 16 foi impulsionada pelo ritmo da explosão criativa conhecida como a Renascença. A essa luz, a América parecia ser, de acordo com Eduardo Galeano, “mais uma invenção, incorporada ao lado da pólvora, a imprensa, o papel e a bússola, no iminente nascimento da Idade Moderna”.

No contexto da expansão colonial e do nascimento do capitalismo, viajar era um veículo para se conectar interesses econômicos e políticos aos recursos naturais e humanos. Por mais que uma reflexão sobre esses impulsos como expressão da interconexão proposto pela globalização, um número considerável de artistas articulam a experiência  das  viagens, migração e deslocamento como a armadura conceitual do seu trabalho.
Viagens no imaginário de Monica de Miranda torna-se uma metáfora para o que Walter Mignolo chama de “ferida colonial”: como uma maneira de explorar seus múltiplos movimentos e da sua família entre lugares ligados por uma matriz colonial comum, onde ela constrói o seu próprio mapa emocional em uma variedade dos mediums. Pode-se argumentar que os lugares escolhidos para o seu trânsito sugerem uma reflexão sobre a descolonização que nos termos dos zapatistas nos levaria a um mundo que se encaixa em  muitos mundos: uma proposta  pluriversal-  em oposição ao universal - à leitura da realidade.

Seguindo a lógica implícita da política do corpo e em contraste com a geopolítica - que incide sobre a relação entre poder e espaço - o artista localiza o objeto de estudo no indivíduo. Neste território da subjetividade, a casa torna-se uma mudança de paradigma, onde a viagem do pessoal é essencialmente uma tentativa constante de pertencer. Superando as limitações da política de identidade, a produção artística de Mónica de Miranda torna-se um exercício de mapamento da sua própria  geografia emocional.
A Casa como um território delimitado pelo corpo é representado graficamente no trabalho baseado em texto Come Home to the place you have never left, apresentado na Carpe Diem como um prólogo para a épica ‘novela’ da sua viagem que se apresenta em capítulos, no tríptico do vídeo Once upon a time. Como exemplo mais convincente da tentativa de recriar e reinventar a geografia, o tríptico oferece uma rica panóplia de imagens fragmentárias coletadas durante os trânsitos do artista através de três continentes. O vídeo tece uma história complexa em que lugares fictícios e reais cruzam espaços pessoais de memória e desejo de construir uma narrativa que não é linear.
O  recurso ao uso de mapas em corpos era já visivel em trabalhos anteriores da artista, como no caso de Where r u from? (2007), agora nas suas mais recentes produções este processo atinge o seu clímax poético no que não é dito e fica ausente  no processo de misturar lugares com o qual ela tem laços emocionais - Angola, Rio de Janeiro,  Lisboa, Londres e Cabo Verde - como em um jogo de cartas imprevisível.

No seu outro trabalho na exposição, Home sweet sour house, a artista faz uso do desenho para criar uma série de representações de memória de todas as casas que habitou durante a sua vida. A partir dos contornos imprecisos de casas de infância até ao seu domicílio atual, o exercício descritivo é interrompido pela passagem do tempo, enquanto quebrado pelo conflito de exílio, ou migrações e pela a inquietação  da ambigüidade de sentimentos. O resultado é uma linguagem codificada na necessidade de tradução. Mais tarde interpretado por um arquiteto em renderings técnicos, os desenhos a mão tornaram-se placas virgens mostrando layouts sensíveis que, todavia, mantem as características pessoais trazidos de volta a memória: quartos de proporções incertas retem  os nomes das pessoas que ocuparam os diferentes espaços. Home sweet sour house, mais uma vez, é um repositório de memória, um arquivo pessoal feito de caligrafias expressivas que reconstroem o espaço da tradição oral. Oralidade esta , neste caso, ligado com a maternidade. Através de imagens intercaladas de uma mãe e sua filha que apresentam uma conexão tão profunda como o oceano onde o individuo  precisa encontrar o rumo. Evocativo das figuras femininas de sincretismo Yemanjá e Iansã, deusas do panteão Yoruba, mães das águas e úteros de história, o vídeo liricamente descreve a perda e a dor da separação. O conhecimento oral constrói um fio condutor que é passado de geração em geração como numa paisagem de ascendências fragmentadas , onde a continuidade repousa apenas nos vasos sanguíneos.

O segundo capítulo da viagem de Once upon a time é apresentado na Plataforma Revólver na Transboavista, intitulado de An ocean between us, foi possível pela proximidade artistas para o porto fluvial do rio Tejo, em Lisboa. Em Um oceano entre nós, vemos o porto fluvial e um navio de carga estacionária se tornar o palco de trânsitos metafóricas: como uma passagem entre os dois mundos, o forro evoca as viagens que ligavam os continentes através dos mares, garantindo terreno para o encontro de culturas, a expansão do comércio, e também o início da escravidão. Concebido como um conjunto de caixas de luz e projeção de vídeo, um oceano entre nós lida com a ambiguidade espacial com tons melancólicos.

Navios para viagens marítimas, fases em que cordões umbilicais simbólicos unem as partes perdidas: um oceano e um rio, uma mãe e uma filha, um amor perdido, e a promessa de um reencontro são elementos de uma catarse. Os vários capítulos desta exposição itinerante aspiram a apresentar uma arqueologia do eu através de passagens e paisagens. Nele, a viagem torna-se um veículo de conhecimento, onde a representação não pode ser confiável como as representações de lugares residem dentro do reino do inconsciente, e as memórias são as ferramentas para um exercício de cura da ferida colonial - e pessoal.

Londres, setembro 2012

25 novembro 2012

ENTENDA COMO A FAMÍLIA GUEBUZA ENRIQUECE COM A “NEGLIGÊNCIA” NO ESTADO



ENTENDA COMO A FAMÍLIA GUEBUZA ENRIQUECE COM A “NEGLIGÊNCIA” NO ESTADO


Promiscuidade entre governação e negócios (I)
Todo aquele que controla o volume de dinheiro de qualquer país é o senhor absoluto de toda a indústria e comércio, e quando percebemos que a totalidade do sistema é facilmente controlada, de uma forma ou de outra, por um punhado de gente poderosa no topo, não precisaremos que nos expliquem como se originam os períodos de inflação e depressão.” – James Abram Garfield (1831 –1881), 20º Presidente dos EUA, semanas antes de ser assassinado
“Armando Emílio Guebuza tem intenção, sim, não de continuar a dirigir o Estado moçambicano, porque tem um impedimento constitucional, mas ele quer manter-se no xadrez político nacional, que é para continuar, porque há um tipo de negócios que você consegue quando controla o poder” – Adriano Nuvunga, Director do Centro da Integridade Pública (CIP), em entrevista ao Canal de Moçambique no dia 03 de Outubro de 2012
Borges Nhamirre
Quando através de uma das suas Holdings, a “Focus 21 - Gestão e Desenvolvimento Limitada”, nomeadamente, a família Guebuza, a família do actual chefe de Estado moçambicano, criou a “Startimes Media Company Mozambique, Limitada”, em 2010, em parceria com a “SDTV Holdings da China”, era para muitos moçambicanos, mais uma de muitas empresas de que esta família presidencial possui.

In: http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2012/11/entenda-como-a-fam%C3%ADlia-guebuza-enriquece-com-a-neglig%C3%AAncia-no-estado.html

24 novembro 2012

RENAMO ANUNCIA CINCO PONTOS PARA NEGOCIAR COM A FRELIMO



RENAMO ANUNCIA CINCO PONTOS PARA NEGOCIAR COM A FRELIMO

Os pontos que a Renamo pretende negociar são o Acordo Geral de Paz, defesa e segurança, processos eleitorais, questões económicas e despartidarização das instituições do Estado.
A Renamo tem cinco pontos para negociar com o Governo moçambicano liderado pela Frelimo.
Segundo um documento enviado pela Renamo ao Gabinete do primeiro-ministro, Alberto Vaquina, os cinco pontos que a delegação do maior partido da oposição pretende negociar são o Acordo Geral de Paz, assinado há 20 anos em Roma, defesa e segurança, processos eleitorais, questões económicas e despartidarização das instituições do Estado.
O documento foi igualmente enviado a algumas embaixadas ocidentais em Maputo e ao Secretário Executivo da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, SADC, Tomaz Salomão, por sinal economista moçambicano que já foi membro do Governo.
Em relação ao Acordo Geral de Paz, a Renamo está preocupada com aquilo que considera falta de reintegração dos seus antigos guerrilheiros na Polícia.

Segundo o antigo movimento rebelde, o governo alegou falta de condições financeiras para a conclusão do processo de integração que era financiado pela Comunidade Internacional, através das Nações Unidas.
Mas o governo considera que a Renamo não colaborou devidamente, porque queria continuar a usar os seus homens armados para ganhos políticos depois da formação do exército único no âmbito do AGP.
No ponto relativo à defesa e segurança, a Renamo quer discutir com o governo o que considera discriminação dos antigos guerrilheiros integrados nas forças armadas.
Para o partido de Afonso Dhlakama, os processos eleitorais iniciados em 1994 não têm sido livres nem transparentes porque os órgãos eleitorais são dirigidos por membros da Frelimo.
A Renamo considera que a economia do País é dominada por veteranos da Frelimo que partilham a riqueza nacional entre si, excluindo a maioria da população sobretudo os membros da oposição.
Para a Renamo, as instituições do Estado são prolongamentos das células da Frelimo que sempre agiram a favor do partido no poder.
Estas são preocupações que segundo o documento, levaram Dhlakama a voltar as matas de Gorongosa, província de Sofala, centro do País.
VOA – 23.11.2012
In: http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2012/11/renamo-anuncia-cinco-pontos-para-negociar-com-a-frelimo.html#more

22 novembro 2012

S IS FOR SAMORA, DE SARAH LEFANU


S IS FOR SAMORA, DE SARAH LEFANU


A premiada escritora Sarah LeFanu escreveu uma nova e significante biografia de um dos maiores heróis da libertação da Africa com o tiítulo de  « S é para Samora Machel. » A autora descreveu o seu livro como uma « Biografia lexicográfica de Samora Machel e do sonho moçambicano ». A  biografia toma em conta o discurso de igualdade, liberdade e o camaradismo que animou a luta de libertação da Africa austral nos anos 1960 e 1970 no contexto  do decurso da Guerra Fria.
Em 1974, Samora Machel dirigiu a Frelimo, a Frente da Libertação de Moçambique, à vitoria sobre o governo colonial português.  No ano seguinte, ele tornou-se o primeiro presidente de Moçambique e 11 anos  mais tarde morreu num acidente misterioso de avião que muita gente suspeita de ter sido engendrado pelo governo do aparthheid da Africa do Sul.
Analisando os discursos, documentos, as memórias daqueles que conheceram Machel e   evidências  anedotais, a biografia  apresenta as várias facetas do homem que Nelson Mandela descreveu como “um verdadeiro revolucionário africano. »
Machel  foi treinado como enfermeiro, mas ele não podia aturar a opressão colonial e acabou por se transformar no mestre estratega militar.
Filho dum machambeiro com profundos conhecimentos diplomaticos para balançar a relaçao com a China e a União soviética – enquanto atraindo dirigentes ocidentais tais como Margaret Thatcher – Machel era um homem do povo que ao mesmo tempo se encontrava completamente isolado.  Embora um proponente dedicado à paz, ele só enfrentava a guerra.
«Fazendo uso do jornalismo, diários e pesquisa académica, LeFanu consegue apresentar vários aspectos de grande profundeza do Machel que ainda não eram conhecidos  até à data. A autora apresenta uma profunda imagem pessoal e politica de Machel que o transforma no líder  famoso que era, »  escreve Patrick Chabal, Professor da História Africana de King’s College em Londres  no Reino Unido.
Susan Williams, pesquisadora senior no Instituto de Estudos da Commonwealth, diz na introdução ao livro: « Um livro brilhante que faz uma fresca contribuiçao para o nosso  entendimento do Moçambique postcolonial e dos seus vizinhos  na Africa austral. »
Sarah LeFanu é a autora da aclamada biogafia “Rose Macaulay” e do premiado livro “In the Chinks of the World Machine: Feminism and Science Fiction.” Ela diza que Samora Machel foi uma pessoa que deixou uma herança fascinante, adiantando  que ele era “necessariamente” um homem que  falhou e também herói ao mesmo tempo.
LeFanu nota que quando Machel assinou o pacto de não-agressão, o Acordo de Nkomati, com a Africa do Sul em 1984, ele tinha sem duvida sido enganado por Pretória para cometer um dos seus  piores erros na vida do seu país. Não obstante, Machel era ao mesmo tempo um homem de dignidade e  de humor,  que dirigiu  uma pequena naçao – quase na bancarota – a uma posição respeitável de  influência na sua região e no Terceiro Mundo.  E ele mantinha  elementos rivais no seu partido durante tempos de adversidade e guiou o seu governo ao longo dum percurso pragmático.
Veja 
http://www.angusrobertson.com.au/book/s-is-for-samora-a-lexical-biography-of-samora-machel-and-the-mozambican-dream/31059960/
In: http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2012/11/s-is-for-samora-de-sarah-lefanu2.html#more

21 novembro 2012


O TRATAMENTO  DA INFORMAÇÃO  SOBRE  ÁFRICA  PELOS  MEDIA
Mapa atualizado de África (2012)

No tratamento da informação sobre África pelos media tende a predominar uma visão de ’história única‘, de que nos fala a nigeriana Chimamanda Adichie. A 3ª edição do Observatório de África e da América Latina, organizada em colaboração com a ACEP, procurou ser um espaço de uma multiplicidade de histórias, questionando velhos estereótipos, pondo em contacto diferentes abordagens e novos projetos: sinais de relacionamentos novos?


Richard Kapuscinski: “em campo e no terreno”, por António Pinto Ribeiro
Richard Kapuscinski, jornalista polaco, foi pioneiro na tentativa de produzir outra informação sobre os países africanos. A partir de 1957, começou a viajar para África utilizando percursos e rotas pouco oficiais e, durante 40 anos, escreveu dezenas de textos sobre as pessoas, os países, a flora, a fauna, as guerras, os militares, as fronteiras… e acompanhou a evolução de muitos destes países na solidificação das suas independências e das múltiplas deceções que as mesmas também geraram para muitos povos. Fê-lo, às vezes, com enorme fantasia, como recentemente a sua biografia veio confirmar e, contudo, a sua produção textual não deixa de ser ambivalente. Por um lado é um jornalista ‘em campo’, um jornalista ‘no terreno’ e, por isso ou apesar disso, o seu legado é também o de um olhar europeu a descrever um continente a arruinar-se no final do século passado. Mas uma frase como «Acima de tudo salta à vista a luminosidade. Luz por toda a parte. Claridade por toda a parte. Sol por toda a parte», com que inicia a sua obra Ébano, é um modo único de afirmar África.
A ilusão da África conhecida, por Elísio Macamo
A ideia será sugerir que a imagem de África, que é veiculada pelos meios de comunicação de massas, mas também por uma boa parte da comunidade académica e da ’indústria do desenvolvimento‘, tem todos os traços de uma ilusão. A veracidade do que se diz sobre África assenta mais na plausibilidade (que se alimenta do senso comum, estereótipos e argumentos de autoridade não verificados) do que num conhecimento factual sólido. É fácil, por exemplo, obter a aprovação duma afirmação que explica o insucesso de um projeto de desenvolvimento com recurso à corrupção (porque toda a gente sabe que em África há muita corrupção) do que suscitar o interesse na discussão dos limites dessa ’explicação‘. O meu interesse por esta temática vem da constatação das limitações metodológicas da pesquisa em estudos africanos que, nos últimos anos, tem dependido muito da plausibilidade.
África não é um país, por Lola Huete Machado
A África é um chavão nos órgãos de comunicação e entre a população em geral. O leitor médio procura estereótipos. E nós oferecemos-lhos de mão beijada. O continente africano, o nosso vizinho, é um lugar imaginário onde só colocamos catástrofes, pobreza, ditadores sádicos, homens obscuros que chegam em frágeis embarcações à nossa costa para nos roubar, mulheres exóticas e, de vez em quando, uns músicos cheios de ritmo que põem toda a gente a dançar. A África ou é um safari ou é uma guerra. Ou nos mete dó e medo ou a ignoramos. Um reducionismo lamentável, no qual nós, os jornalistas, também temos a nossa quota-parte – e que o escritor Binyavanga Wainaina evocou no seu famoso artigo ‘Como escrever sobre África’ – dificilmente superável nas próximas décadas. Porque, como é óbvio, África é tudo isto e muito mais.O Ocidente, de modo geral, nunca esteve interessado em tratar de igual para igual um continente de mil milhões de habitantes que ainda ontem eram colónia. E, na Europa, continuamos a encará-los e tratá-los dessa forma. Até agora, além disso, os africanos careciam de meios ou canais de comunicação de massas que lhes permitissem contar a sua própria história e negar ou matizar a de outros. Mas as coisas mudaram na última década: a Internet, os telemóveis e as redes sociais arrasam. As novas tecnologias permitem uma comunicação mais fácil e rápida, mais horizontal e igualitária. Os africanos querem contar a sua própria história. Ter voz num mundo global. E lançaram-se a este caminho apaixonadamente. De repente, a marca África está a mudar de visual.

De que áfricas nos falam as imagens?, por Fátima Proença
Se «na maneira moderna de saber, tem que haver imagens para que uma coisa se torne ´real`» (Sontag), o inverso – ou seja -  tudo o que nos chega em imagens pode adquirir automaticamente o estatuto de ´real`. E por analogia, ou mero senso comum, passa à categoria de ´verdade`.
Temos, por adquirido, o direito à informação de qualidade, como elemento indispensável da relação que estabelecemos com o mundo desconhecido. Esses fragmentos de ´real` e de ´verdade` passam, assim, a fazer parte do que ´sabemos` dos outros – pessoas, sítios, culturas, países. Neste contexto, a proposta de reflexão consiste em que o debate sobre a função social dos media - na era do mercado da informação e do espetáculo das imagens - seja uma outra forma de olhar o debate sobre serviço público e a cidadania global.

Influências governamentais e empresariais na produção de notícias em África, por José Gonçalves
A produção de notícias num grande número de países africanos permanece marcada pelas regras impostas durante os períodos de partido único, facto reforçado nos casos de grandes desequilíbrios entre forças político-sociais. Tais regras não se aplicavam via comissões de censura como em ditaduras europeias ou latino-americanas, mas pela limitação do número de órgãos de comunicação social e pela seleção dos jornalistas, segundo critérios de fidelidade ao poder. As aberturas políticas verificadas, desde a década de 1990, alteraram diversos perfis, permanecendo um clima de pressão em países onde mencionar corrupção nas ’altas esferas‘ ou apresentar notícias desfavoráveis a Chefes de Estado, ainda constitui um risco, seja pela intimidação ou ameaça financeira.O número de casos fora deste contexto, porém alarga-se. Países como a África do Sul, Namíbia, Senegal, Benim, Ghana, são exemplo de liberdade de expressão com reflexos diretos na produção de notícias segundo critérios universalmente aceites.
Outra componente importante da produção de notícias em África - como em outros continentes - está relacionada com o grande tema de inserção: política interna, política internacional, economia ou guerra, quer exista internamente ou em países vizinhos. O primeiro destes temas é o mais sensível e, o último, dá lugar a precauções para evitar a acusação de incitamento. No caso do Mali, a eclosão de guerra introduziu um poderoso elemento de intimidação nos media de todo o país.


Edições Barzakh, por Sofiane Hadjadj
No dia-a-dia, o meu trabalho consiste em dar conta do mundo, do real, editando em Argel ensaios e romances. Num contexto político, económico e social conturbado – desde a célebre ’Primavera árabe‘ aos diversos conflitos que grassam por África – onde escasseiam as liberdades. E não deixo nunca de me interrogar acerca do sentido da minha profissão. Sou constantemente compelido a justificar os meus atos: qual a utilidade de publicar livros? E que livros? Escrever e editar constituem para mim duas formas de resistência perante as desordens do mundo: resistir às proibições, resistir às instrumentalizações, resistir ao desespero.Mas, em meu entender, a questão essencial é saber que ideias almejamos promover, que histórias pretendemos contar aqui na Argélia, ou seja no Norte de África, que pertence ao mundo árabe. Se é não só aquilo que ‘pretendemos’ mas ainda aquilo que ‘podemos’.O pensamento ou a ficção não são neutrais. As ideias, as histórias, são testemunhos daquilo que somos, daquilo que vivemos, do nosso imaginário, isto é da nossa capacidade para nos libertarmos de cangas ideológicas e de nos projetarmos para horizontes abertos.Atualmente, dadas as recentes reviravoltas, procuro pensar naquelas que poderiam ser as ‘novas’ ideias, as ‘novas’ narrativas que, de outra maneira, contariam África, o mundo árabe, distanciando-se tanto quanto possível dos clichés sobre o terrorismo, a pobreza ou as mulheres; estando nós no cruzamento de tantas influências (Mediterrâneo, Saara, Europa, Islão…), como será possível inventar novos sonhos.


AtWork, por Katia Anguelova
incipit do AtWork é a expressão da vontade, por parte da fundação sem fins lucrativos lettera27, de criar um projeto sobre África que reflita a nossa relação, quer com o território, quer com o Outro, ao abrir espaços de pensamento que contribuam para a evocação de uma diferente imagética daquele continente. Não existindo aqui uma lógica centralizada, mas sim uma série de micrológicas, cujo conjunto constitui o seu tecido social, as atividades promovidas pelo AtWork obedecem a uma trajetória semelhante. Partindo de um conjunto de art notebooks, vários artistas criam obras de arte únicas em cadernos Moleskine. O projeto AtWork visa desenvolver-se em diferentes capítulos escritos no continente africano, seguindo uma experiência in vivo que evolui segundo o narrador e que a cada instante se constrói sobre os objetivos já alcançados. Trata-se de um processo em permanente mutação, moldado pelas experiências das pessoas que o escrevem, e que resulta num instrumento que não tem por intenção a definição de uma história, mas a de propor sistemas dinâmicos de interação com o público.


"VIRGEM MARGARIDA", O ESPÍRITO REBELDE DAS MULHERES


FILME DE FICÇÃO PRODUZIDO POR LICÍNIO AZEVEDO
Prostitutas numa das ruas da baixa da Cidade de Maputo sendo reprimidas pela polícia

Em 1999, o veterano documentarista Licínio Azevedo fez  prostituta Última , um filme sobre os "campos de reeducação" estabelecidos pelo governo de Moçambique pouco depois de o país conquistar a sua independência após 500 anos de domínio colonial portugues. A finalidade destes campos foi o de desenvolver o "espírito revolucionário" adequado nos corações e mentes de mulheres de má reputação (isto é, os trabalhadores do sexo) através de um duro programa de doutrinação ideológica. Os testemunhos recolhidos por Azevedo foram surpreendentes o que o levou diretamente a produzir o roteiro de  Virgem Margarida  ( em co-autoria com Jacques Akchoti).

A narrativa do filme de ficção
Na calada da noite, os soldados invadem o o lugar de  "entretenimento" na baixa da cidade de Maputo e indiscriminadamente carregam mulheres em um camião ameaçadas por armas. Sem dizer uma palavra a respeito de seu destino, as mulheres são levadas para o extremo norte do país e obrigados a caminhar por uma floresta para um campo de reeducação. Aqui elas serão submetidas a um treinamento corretivo e instrução ideológica sobre como tornar-se "novas mulheres": elas serão obrigadas a adquirir novas habilidades (como cozinhar, construir casas, fabricar ferramentas e até a cultivar a terra). Serão ainda submetidas a uma rigorosa doutrinação - programa que prega a disciplina moral, obediência e o princípio do serviço nacional. O filme centra-se em Margarida (Sumeia Maculuva), uma menina de 16 anos de idade. Ele foi desterrada porque não tinha documentos de identificação; Rosa (Iva Mugalela), uma prostituta mal-humorada; Susana (Rosa Mario), uma dançarina de cabaré e única mãe e Maria João (Hermelinda Cimela), a comandante do campo, que lutou na guerra de independência e está ansiosa para voltar para casa, se casar com seu noivo e começar uma família são outras personagens da narrativa.
As mulheres  sendo disciplinadas nos chamados "centros de reeducação" no norte de Moçambique

No desenvolvimento do filme, essas mulheres acham que elas são cativas para a auto-justificação de uma crença que despreza a individualidade e da subjetividade, e faz da dominação masculina uma prerrogativa ideológica. Isso estimula as mulheres a desafiarem e a se unirem para realizarem uma ação real revolucionária e afirmarem a sua independência em relação aos seus "libertadores". Uma exposição evocativa de um capítulo pouco conhecido da história contemporânea de Moçambique. Virgem Margarida  é uma elegia dramática e inspiradora para o espírito rebelde das mulheres em todas as nações, histórias e culturas.

Rasha Salti
 Maria João, comandante do campo, que lutou na guerra de independência e está ansioso para voltar para casa

 O filme moçambicano “Virgem Margarida”, longa metragem de ficção, realizado por Licínio Azevedo, uma co-produção entre Moçambique, Portugal e a França, recebeu três prémios em dois festivais internacionais que decorreram simultaneamente em França e na Tunísia.
No 32ᵒ Festival Internacional do Filme de Amiens, França, o filme recebeu o prémio do júri para a melhor longa-metragem da competição oficial. Recebeu também uma menção especial do júri Signis (Organização Internacional da Igreja Católica para Comunicação) pelo seu valor humanitário. O festival que
decorreu em 8 salas de cinema da cidade de Amiens, de 16 a 24 de Novembro, teve 66 mil espectadores.
“Virgem Margarida” recebeu o terceiro prémio em Tunis, na jornada Cinematográfica de Carthage, que decorreu na mesma semana. Desta vez o prémio coube à actriz moçambicana Iva Mugalela, pelo seu empenho no filme como personagem Rosa: o prémio para melhor actriz secundária.
O filme moçambicano teve a sua estreia internacional há dois meses no Festival de Toronto, o mais importante da América, está seleccionado para vários outros festivais, entre eles o de Dubai, Fespaco, Durban, Vues de L´Afrique, em Montreal.
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Breve informação sobre o diretor do documentário
Licínio Azevedo nasceu em Porto Alegre, Brasil. Em 1977, ele foi convidado pelo cineasta Rui Guerra para participar do Instituto Nacional de Cinema (INC), em Moçambique, e logo depois embarcou em uma carreira prolífica como documentarista. Seus recursos são filmes  Desobediência  (02) e Virgem Margarida  (12).

CÚPULA RESIDUAL DOS “LIBERTADORES” EMPERRANDO PROCESSOS E DESENVOLVIMENTO


CÚPULA RESIDUAL DOS “LIBERTADORES” EMPERRANDO PROCESSOS E DESENVOLVIMENTO

- Elitismo doentio e lesa-pátria cegando “libertadores”

Beira (Canalmoz) - Custa dizer e por vezes é difícil de compreender como quem se empenhou tanto na luta anticolonial tenha enveredado por caminhos tão diferentes logo que se guindou ao poder.
Gente que modestamente chegou à zona dominada pelo sistema colonial logo se transformou e se transfigurou. De verticalidade ou de afirmações coerentes com uma causa que todo um povo abraçava e defendia rapidamente se viu “camaradas” optarem por caminhos escusos da prepotência e arrogância.
O facto de terem participado na luta anticolonial colocou-se acima de seus concidadãos e paulatinamente constituíram-se numa classe especial de cidadãos da república tão bem recebida.
De “camaradas” a quem se podia dizer “bom-dia” e receber-se resposta fácil passamos a ver os mesmos “camaradas” se distanciando do povo que diziam “amar, defender e proteger”.
Conversa fiada logo se viu. O que queriam e concretizaram, afinal substituírem na íntegra o colono no poder, seu sistema e continuar a fazer o mesmo senão nalguns casos, muito pior que os colonialistas.
Daí para uma situação de contradições que desembocaram numa guerra violenta não passaram muitos anos.
Convenhamos que a situação regional e internacional era complicada, governadas por agendas muitas vezes concebidas e implementadas por outros no quadro de uma confrontação à escala global historicamente como “guerra-fria”. Como peões convencidos de que estavam governando o novo país muitos, na impossibilidade ou incapacidade de fazer uma leitura concreta do que havia em jogo, acabaram por defraudar as esperanças de todo um povo sofrido.
Se não tem sido a teimosia doentia e crónica, alguma megalomania incipiente, disfarçada de militância revolucionária Moçambique não teria sofrido os horrores da guerra. Os moçambicanos ter-se-iam entendido e compreendido que não eram as diferentes ideologias em voga que os separavam.
O que se vive hoje é a continuação de posicionamentos algumas vezes camuflados e outras vezes quando é oportuno abertamente assumidos por actores políticos “desnorteados”.
Já muitos moçambicanos pereceram advogando a tolerância política e um espírito patriótico capaz de unir verdadeiramente cidadãos de um mesmo país.
Quando se espera pro manifestações conducentes a normalização política no país o que nos é dado a observar são teses de um passado monolítico e voraz.
Afinal o AGP está-se revelando uma encenação que visava a manutenção do poder por uns e a contínua subordinação de outros, da maioria.
Os desafios na frente económica, na consolidação da democracia política estão sendo propositadamente adiados porque há indivíduos pertencentes a uma “casta” sem interesse algum que alterações aconteçam no status.
Quando a elite política de um país não consegue ver acima de seus interesses materiais, sua posição na hierarquia governante estão criadas as condições para a emergência e proliferação de travões à corrente de desenvolvimento.
Importa entender o ambiente prevalecente, as reivindicações da Renamo, o conteúdo das declarações do Conselho Episcopal da Igreja Católica em Moçambique, as entrevistas de conceituados académicos e as mensagens de inúmeros moçambicanos como forma de negação de um ordenamento político e económico sofrível, desgastante e contraproducente.
Algum traquejo e experiência manipulativa acabam por esgotar sua utilidade e denunciar-se face a uma percepção crescente dos cidadãos e forças políticas.
A democracia num país é um processo que acontece de forma prática, sob respeito de preceitos que a caracterizam e jamais através de manobras dilatórias e de arranjos particulares entre figuras políticas.
O que os moçambicanos desejam é que seus governantes e políticos se assumam coerentes com o que apregoa. Basta de entrarem e jogos que visam ultimamente garantir a sua contínua preponderância.
Moçambique não se pode dar ao luxo de alimentar uma elite que se tem mostrado parasita e sem ideias claras quanto aos destinos e forma de conduzir os moçambicanos a destinos dignos e honráveis.
Este país é dos moçambicanos e não unicamente da elite que constitui a liderança política e governamental.
A transição que alguns fazem do mundo governamental para a banca, empresas públicas, empresas privadas e holdings privadas faz parte de um processo similar ao que acontece em todo o mundo só que entre nós as coisas sucedem-se sem observância de critérios éticos e morais mínimos.
Chegou a altura dos moçambicanos rejeitarem com toda a firmeza a continuação de um sistema que consubstancia nepotismo em cada passo e esquina.
A “dumbanenguização” da política, o clientelismo, o tráfico de influências, a tristemente chamada “confiança política” roeram o tecido social nacional e colocaram o país numa posição incomoda, instável e perigosa.
Políticos um tanto ou quanto fossilizados e de orientação política retrógrada continuam recebendo espaço especial na comunicação social pública e privada e aproveitando-se de um passado de protagonismo na arena política nacional consideram-se perenes, insubstituíveis, proprietários únicos da verdade.
Senhoras e senhores, a reforma no aparelho do Estado existe e na política também o mesmo se passa. Quando um funcionário atinge uma certa idade vai para a reforma e os titulares de cargos públicos sujeitos a eleição também obedecem a regras quanto a sua elegibilidade e mandatos. Uma vez impedidos de estarem no activo as pessoas retiram-se e deixam campo aberto para novos titulares eleitos e funcionários em geral no aparelho do Estado.
É pouco elegante e manifestação de corrosão de um executivo que figuras do passado continuamente se imiscuam nos assuntos do presente na política nacional.
O antigo PR, Joaquim Alberto Chissano, tem de fazer como George W. Bush, Nicolas Sarkozy, Nelson Mandela e outros antigos chefes de Estado que se colocam efectivamente na reforma, deixando campo e espaço para que seus substitutos exerçam suas responsabilidades livres de “sombras”.
Se Moçambique atravessa uma fase de convulsões de ordem política tem de haver a sensibilidade de refrear ânimos e encetar todo o tipo de esforços para aproximar posições e não radicalizar a situação.
Erros e percepção ou de expressão, apresentação indevida de factos ou de posições não devem constituir barreira para que conteúdos não se discutam.
Quando é o interesse dos milhões de moçambicanos que está em jogo os enfeites discursivos, as jogadas maquiavélicas, a arrogância, a intolerância política devem ser postos fora da mesa e jogados no caixote de lixo.
Não se trata de ceder por ceder mas aceitar que este país não pode andar para a frente com tanto desequilíbrios, desestruturação e um ordenamento político que mina a democracia.
É nesse sentido que se chama e se clama pela experiência e sabedoria de pessoas como Joaquim Chissano. Com clareza, frontalidade, verticalidade é possível entendermo-nos e resolvermos as disputas e percalços de nosso processo histórico e político.
Pela paz somos todos obrigados a dar o nosso máximo… (CanalMoz, 22 de Novembro de 2012, Noé Nhantumbo).