28 novembro 2012

A CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO MOÇAMBICANA


A CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO MOÇAMBICANA


Apontamento de Jorge Heitor

Os nacionalismos de Moçambique, Angola e Guiné-Bissau é o tema de um livro editado este ano na Europa e nos Estados Unidos por Eric Morier-Genoud, que muito tem escrito sobre religião e política na África Austral.
O êxito de organização da Frelimo tem algo a ver com a capacidade dos seus dirigentes para saberem tirar benefícios das alianças globais. Isto escreve Giorgui Derlugian no livro Sure Road? Nationalisms in Angola, Guinea-Bissau and Mozambique, editado recentemente por Eric Morier-Genoud.
A escrita de uma cultura própria, como se verificou no primeiro seminário sobre esse tema organizado pela Frelimo e na antologia Poesia de Combate, pode ser vista como um esforço para se construir uma unidade de tempo e espaço, um povo e uma nação. Esta é a opinião de Maria-Benedita Basto, outro dos investigadores que neste volume se debruçam sobre as origens do Moçambique contemporâneo.
A utopia moçambicana foi a coincidência de um discurso com um lugar, um território e uma realidade, como o eram na década de 1960 as zonas libertadas e a própria luta de libertação, prossegue Maria-Benedita, Professora Adjunta da Escola de Educação Superior de Viana do Castelo, em Portugal.
Uma ideologia de modernidade, que existia na elite dominante de Moçambique, foi essencial para estruturar as relações de poder e para formar o nacionalismo que caracteriza a Frelimo. A opinião é agora de Jason Smith, que estudou Antropologia na London School of Economics e trabalha agora na Universidade de Pretória.
As ligações entre uma espécie muito particular de modernização e o nacionalismo que caracteriza o trajecto político moçambicano são demonstradas por Smith neste livro de 270 páginas incluído nas African Social Studies Series.
O Museu de Chai
Em Moçambique, todas as antigas bases da luta de libertação foram transformadas em monumentos e em 2005 criou-se em Chai um Museu Nacional da Libertação. Quem o recorda é Eric Morier-Genoud, ao reflectir sobre os nacionalismos em três das antigas colóniasa portuguesas na África.
Monumentos mais pequenos a fi guras específi cas foram inaugurados por todo o país, bem como muitos monumentos ao primeiro Presidente da República, Samora Moisés Machel.
Existe hoje em dia um forte interesse nos nacionalismos e nas nações da África onde se fala oficialmente português, tanto na sociedade em geral como no mundo académico, reconhece o editor desta obra, publicada com o apoio da associação de investigadores da revista Lusotopie.
A capa do trabalho é o mural “Terra de Cabral”, do artista Joel Bergner, mural esse existente na Fundação Amílcar Cabral, da Cidade da Praia, em Cabo Verde. E foi o mesmo editado tanto na cidade holandesa de Leiden como na cidade norte-americana de Boston.
Para além dos autores já citados, também nele colaboram David Birmingham, Michel Cahen, Philip J. Havik, Justin Pearce, Didier Péclard, Fernando Tavares Pimenta e Gavin Williams.
CORREIO DA MANHÃ – 27.11.2012

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