A CONSTRUÇÃO
DA NAÇÃO MOÇAMBICANA
Apontamento de Jorge Heitor
Os nacionalismos de Moçambique,
Angola e Guiné-Bissau é o tema de um livro editado este ano na Europa e nos
Estados Unidos por Eric Morier-Genoud, que muito tem escrito sobre religião e
política na África Austral.
O êxito
de organização da Frelimo tem algo a ver com a capacidade dos seus dirigentes
para saberem tirar benefícios das alianças globais. Isto escreve Giorgui Derlugian no livro Sure Road? Nationalisms in Angola,
Guinea-Bissau and Mozambique, editado recentemente por Eric Morier-Genoud.
A escrita de uma cultura própria,
como se verificou no primeiro seminário sobre esse tema organizado pela Frelimo
e na antologia Poesia de Combate, pode ser vista como
um esforço para se construir uma unidade de tempo e espaço, um povo e uma
nação. Esta é a opinião de Maria-Benedita
Basto, outro dos investigadores que neste volume se debruçam sobre as
origens do Moçambique contemporâneo.
A utopia moçambicana foi a
coincidência de um discurso com um lugar, um território e uma realidade, como o
eram na década de 1960 as zonas libertadas e a própria luta de libertação,
prossegue Maria-Benedita, Professora Adjunta da Escola de Educação Superior de
Viana do Castelo, em Portugal.
Uma ideologia de modernidade, que
existia na elite dominante de Moçambique, foi essencial para estruturar as
relações de poder e para formar o nacionalismo que caracteriza a Frelimo. A
opinião é agora de Jason
Smith, que estudou Antropologia na London
School of Economics e
trabalha agora na Universidade de Pretória.
As ligações entre uma espécie muito
particular de modernização e o nacionalismo que caracteriza o trajecto político
moçambicano são demonstradas por Smith neste livro de 270 páginas incluído nas African Social Studies Series.
O Museu de Chai
Em Moçambique, todas as antigas
bases da luta de libertação foram transformadas em monumentos e em 2005
criou-se em Chai um Museu Nacional da Libertação. Quem o recorda é Eric
Morier-Genoud, ao reflectir sobre os nacionalismos em três das antigas colóniasa
portuguesas na África.
Monumentos mais pequenos a fi guras
específi cas foram inaugurados por todo o país, bem como muitos monumentos ao
primeiro Presidente da República, Samora
Moisés Machel.
Existe hoje em dia um forte
interesse nos nacionalismos e nas nações da África onde se fala oficialmente
português, tanto na sociedade em geral como no mundo académico, reconhece o
editor desta obra, publicada com o apoio da associação de investigadores da
revista Lusotopie.
A capa do trabalho é o mural “Terra
de Cabral”, do artista Joel
Bergner, mural esse existente na Fundação
Amílcar Cabral, da Cidade da Praia, em Cabo Verde. E foi o mesmo editado
tanto na cidade holandesa de Leiden como na cidade norte-americana de Boston.
Para além dos autores já citados,
também nele colaboram David
Birmingham, Michel
Cahen, Philip J. Havik, Justin Pearce, Didier Péclard, Fernando Tavares Pimenta e Gavin Williams.
CORREIO DA MANHÃ – 27.11.2012
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