LULA DIZ QUE PAÍSES NÃO DEVEM DEPENDER DOS ESTADOS UNIDOS OU DA CHINA
Por José Belmiro
Ex-Presidente
da República em Moçambique para falar da sua experiência bem sucedida na
governação do Brasil.
Lula da Silva, ex-presidente do Brasil |
O ex-presidente brasileiro lançou também duras críticas ao Fundo
Monetário Internacional por ter passado o tempo a ditar regras aos países
subdesenvolvidos e não ser agora capaz de resolver a crise que afecta a Europa.
O ex-presidente brasileiro, Lula da Silva, está no
país desde domingo. Ontem, Lula da Silva proferiu uma aula, onde passou em
revista a sua história de vida desde os tempos de metalúrgico, passando pelos
seus combates sindicais em prol do povo trabalhador e por um país melhor e,
finalmente, sobre os seus oito anos à frente dos destinos do Brasil. Aliás, os
oito anos de governação de Lula abriram uma década de prosperidade naquele país
latino-americano. De um país altamente injusto e desigual, Lula da Silva
conseguiu realizar um verdadeiro milagre e tornou o país um exemplo de combate
à fome, pobreza e miséria. Promoveu programas de integração social e lançou um vasto
programa que apostou forte na educação do povo brasileiro, com especial enfoque
para os pobres, infra-estruturação e modernização do país, facto que abriu as
portas para milhões de postos de trabalho criados, reduzindo, desta feita, as
taxas de desemprego para os históricos 4.7%, número que só era possível em
países como Alemanha, Estados Unidos da América e outras nações desenvolvidas
do extremo ocidental do mundo. A presidência de Lula mudou também os paradigmas
económicos.
Lula da Silva apresentou-se diante da numerosa plateia
como sendo “resultado do grau de consciência política da classe trabalhadora
brasileira. Se não tivesse evoluído, não chegaria à Presidência da República.”
O ex-governante lembrou que, quando chegou à
Presidência da República, o país tinha uma dívida de 30 biliões de dólares ao
FMI. “A primeira coisa que fiz foi chamar o director do FMI e dizer-lhe que
queria pagar e livrar-me da tutela do FMI. Paguei e fiquei sem dever um único
tostão. Hoje, o FMI deve ao Brasil 14 biliões de dólares”, disse bastante
ovacionado.
Lula da Silva referiu ainda que uma das sua principais
metas da sua governação era provar que existem outros paradigmas económicos.
“Queríamos provar que não era verdade que um país tinha que crescer em primeiro
lugar para depois distribuir a riqueza. Aprendi, na década de 70, através de um
ministro da época que dizia que antes de se distribuir o bolo tinha que
crescer. O facto é que o bolo cresceu e a classe trabalhadora brasileira não
comeu uma única fatia do bolo. Nós provámos que era possível crescer e
distribuir ao mesmo tempo.”
O antigo presidente disse ainda que, durante a sua
governação, era proibido usar a palavra gasto. “Quando o Estado empresta
biliões a um empresário é investimento. Quando dá dez reais ao pobre é gasto.
Por que razão cuidar da fome não é investimento? Por que razão cuidar da
educação não é investimento? A educação é sim o melhor que um país pode fazer.
Apostar no conhecimento é rentável. E nós, durante o nosso governo, triplicámos
o Orçamento para a Educação. Foi por isso que, em oito anos do nosso mandato,
criámos 15 milhões de postos de trabalho formais. A companheira Dilma, de 2011
até hoje, já criou mais de três milhões de postos de trabalho. Criámos mais
universidades em oito anos do que em mais de 500 anos da história do
Brasil”, referiu Lula da Silva, destacando ainda o facto de ele e o seu
vice-presidente, José Alencar (falecido recentemente) não terem formação
universitária, mas terem construido 16 universidades federais públicas nos oito
anos de governo.
Lula da Silva contou ainda que graças aos programas
governamentais de inclusão, hoje, é possível encontrar jovens oriundos de
famílias pobres com formação superior e a trabalhar em organismos do governo ou
em reputadas instituições privadas.
O palestrante disse ainda que, face ao sucesso do seu
primeiro mandato, teve receio de avançar para um segundo mandato e, num recado
aos estadistas que subvertem as constituições para se manter no poder, disse:
“É engraçado que há gente que quer mais mandatos e há pessoas que matam por
pretender mais mandatos (...). O conselho que tenho dado aos presidentes é
este: o segundo mandato é delicado. Só pode fazer o segundo mandato se tiver a
certeza de que fará coisas diferentes e que vai trabalhar mais que no primeiro;
que vai fazer coisas melhores que o primeiro. Caso contrário, você perdeu o
jogo”, estas declarações arrancaram muitos aplausos e gargalhadas numa altura
em que o nosso país está em período de revisão constitucional sem um objecto
muito claro.
In: Jornal O País, 20 de Novembro de 2012
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