A GUINÉ-BISSAU EM CRISE
Moema Parente Augel
Johannes Augel
Estamos lançando mão da via eletrônica na certeza
de que não é mais possível ficar indiferente ao atual estado de
desestruturação a que chegou esse pedaço da terra africana que tão
gloriosamente conquistou sua independência do jugo colonial, a Guiné-Bissau de
Amílcar Cabral. O país está a esvair-se em lutas partidárias, étnicas,
narco-interesseiras. Neste ano de 2012, a Guiné-Bissau passou por sucessivos
golpes militares e sua população, totalmente desamparada, está mergulhada
no lamaçal do narcotráfico e submetida a um regime abusivo e
ilegal.
Pedimos a atenção de todos para os desastrosos
acontecimentos que estão abalando a Guiné-Bissau, pequeno país da África
Ocidental, quando, a 12 de abril do corrente ano, um golpe de estado
interrompeu o processo eleitoral para a presidência da república, instalando-se um
regime ilegal de excessão, um regime de repressão pelo medo e pela
arbitrariedades. Recentemente, em 21 de outubro, deu-se outra
tentativa de subverter a ordem, numa encenacao de contra-golpe, com vários
mortos, prisões, torturas, sob a responsabilidade de parte dos
militares (a cúpula militar) e dos civis do “governo de transição”.
Tomamos uma tal iniciativa por nos sentirmos
solidários e ligados por laços de amizade e respeito pela sorte da
população guineense. Vivemos por alguns anos nesse país, trabalhando no Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisa (INEP) e nos recusamos a assistir inativos
ao desmantelamento de uma nação. Somos ambos professores acadêmicos
aposentados, autores de artigos e livros sobre a Guiné-Bissau. O livro
mais recente é O desafio do escombro. Nação, identidades e pós-colonialismo na
literatura da Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Garamond, 2007, 422
p.
Pedimos a todos que repassem estas notícias,
divulgando-as o mais possível. Alguns de vocês nada têm a ver com o
assunto, mas leiam por favor até o fim. O "mundo" precisa pelo
menos saber o que está acontecendo na Guiné-Bissau.
O que desejamos com esta mensagem é o seguinte: Que se proceda ao retorno imediato à legalidade na
Guiné-Bissau, com restauração plena da ordem constitucional e a
destituição do governo de transição o qual não foi reconhecido pelas
instâncias internacionais (ONU, União Africana, CPLP, entre outras).
Que sejam tomadas providências concretas e
enérgicas para combater o narcotráfico e evitar que o país continue a ser
uma ponte direta entre a América Latina e a Europa para a distribuição e
expansão da droga.
Para além de outras análises que podem e devem ser
feitas, importa reter dois fatores condicionantes e que têm ditado o
desaire de todo um povo:
– o conluio entre certas forças políticas e certas
altas patentes militares;
– e o alastramento do narcotráfico em todo o país.
O narcotráfico, cada vez mais intenso e
determinante, é um importantíssimo fator que anula qualquer esforço para contrariar
aqueles que detêm o poder. Eles detêm a força das armas, têm os meios
financeiros e um amplo território que eles próprios são os únicos a
controlar.
O narcotráfico tomou conta do país, com perfídias
de dinheiro fácil, corrupção, lavagem de dinheiro, assassinatos,
prostituição, ladroagem,inimizades entre os que ganham com isso milhões e
os que ganham milhões e meio. O povo, de fato a maioria arrasadora da
população, nada ou quase
nada tem a ver com tudo isso, mas sofre as
consequências. A situação é degradante, o medo espalhou-se na Guiné-Bissau,
reinam a vergonha, a humilhação, a repressão e a impotência.
Esse problema não afeta somente a Guiné-Bissau e
sua solução interessa e atinge os países dos diferentes continentes. A
Guiné-Bissau tornou-se sobretudo uma plataforma para a distribuição e a
expansão do narcotráfico
na Europa – e não só.
É urgente que a comunidade internacional interceda
para acabar de uma vez por todas com essa inversão dos valores, essa
impunidade e esse estado de vergonhosa ilegalidade!
É urgente que políticos, jornalistas, escritores,
artistas, intelectuais, jovens e velhos, mulheres e homens de todo o mundo
tenham conhecimento do que está acontecendo na Guiné-Bissau e se
solidarizem com o povo guineense!
Guiné-Bissau desmaia ma i ka muri! A Guiné-Bissau
cai, mas ela não morre!
A crise atual fica mais clara com um rápido olhar
sobre as principais etapas da recente história da Guiné-Bissau.
Proclamação da independência em 1974, separando-se
de Portugal depois de 11 anos de guerrilha. Seu primeiro presidente,
Luis Cabral, foi deposto em 1980 por João Bernardo “Nino” Vieira que governou
até 1999, quando foi deposto depois de uma guerra civil de onze meses
de duração, desencadeada após a destituição pelo Presidente Nino do chefe
do Estado Maior do Exército, General Ansumane Mané.
O país passou então por diversos presidentes e diversas
crises até que Nino Vieira retornou a Bissau, candidatou-se às
eleições presidenciais, tendo sido eleito em julho de 2005.
O nacrotráfico entrou na Guiné-Bissau, devido à
posição geográfica e à fraqueza da ordem pública do país, ampliando cada
vez mais sua ação, espalhando insegurança, corrupção,
desestabilizando as forças políticas e militares. Indignação, protestos, desaprovação de
muitos órgãos internacionais e consequentes isolamento e
descrédito do país.
Depois de muitas convulsões políticas, em 2008
deu-se a destituição do chefe do Estado Maior da Armada, almirante Bubo Na
Tchuto e a 2 de janeiro de 2009, foi empossado o líder do PAIGC (Partido
Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), Carlos Gomes
Júnior, como primeiro
ministro. A 1 de março de 2009, o chefe
Estado-Maior General das Forças Armadas Tagmé Na Waié foi assassinado, seguindo,
como revide, no dia seguinte, 2 de março, o assassinato do Presidente
João Bernardo ”Nino” Vieira. Assumiu interinamente a chefia do governo
o presidente da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau,
Raimundo Pereira.
Em setembro do mesmo ano, Malam Bacai Sanha venceu
as eleições presidenciais. Em janeiro de 2012, porém, depois
de prolongada enfermidade, ele morre em Paris e novamente Raimundo
Pereira, na função de
presidente da Assembleia Nacional, assume o
governo.
Foi feita a convocação para novas eleições
presidenciais, quando se apresentaram nove candidatos, tendo sido Carlos
Gomes Júnior o mais votado, havendo, porém, a necessidade de um
segundo turno que entretanto não aconteceu.
A 12 de abril deste ano, um golpe de estado entre
os dois turnos das presidenciais depôs e prendeu o primeiro-ministro
Carlos Gomes Júnior (candidato majoritário à presidência) e o
Presidente da República interino Raimundo Pereira. Ambos encontram-se atualmente em
Portugal.
Todos os ministros, e outros cidadãos ocupando
cargos de confiança, foram depostos, alguns deportados, outros
auto-exilando-se. Desde então, o país está nas mãos de um "governo de transição",
com o apoio e proteção de militares das mais altas patentes, a despeito da
insatisfação ampla e
crescente da população.
A 21 de outubro, deram-se novas perturbações
devido a um alegado contra-golpe militar, duramente abafado, e
desde então reina uma atmosfera de amedrontamento, com perseguições e
censura, prisões, espancamentos, torturas na Guiné-Bissau.
Moema Parente Augel
Marswidisstr.2
33611 Bielefeld
Alemanha
Tel: +49-521-870231
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