SOCIEDADE
CIVIL EM MOÇAMBIQUE E NO MUNDO
Pretende-se com este
texto compartilhar algumas ideias e questões relevantes sobre a sociedade civil
moçambicana (SCM), algumas das principais evidências do conhecimento actual
sobre o estado da SCM, evidências que corroboram a percepção, amplamente generalizada,
segundo a qual a SCM é fraca, nas suas principais dimensões: estrutura,
ambiente, valores e impacto.(i)
Na década passada, a
literatura internacional sobre a arena pública designada por sociedade civil
(SC) acumulou valiosa informação, qualitativa e quantitativa, contribuindo para
um conhecimento actualizado
e sistemático, sobre o
estado da sociedade civil no mundo. Porém, à semelhança do que acontece noutras
áreas de investigação, a mera acumulação de conhecimento não gera imediatamente
melhor entendimento sobre a realidade. Isto porque o entendimento não depende
tanto da acumulação de dados empíricos, mas sim da disponibilidade de
conceitos, explicações e teorias adequadas (Deutsch, 2000; Francisco e Ali,
2008).
A maior parte do
conhecimento disponível actualmente sobre a SCM assenta em análises
descritivas, em torno de questões sobre “o quê”, “onde”, “quando”, “quanto” e
“em que direcção” a sociedade civil cresce e evolui. Mas o entendimento é ainda
fraco quanto às questões relacionadas com o entendimento; por exemplo:
“porquê”, “como”, “quais as causas” das mudanças e dinâmicas da estrutura da
realidade em estudo.
Entretanto, na corrente
década emergiram algumas experiências de pesquisa
prometedoras,
destacando-se em particular: 1) O The Johns Hopkins Centre for Civil Society
Studies tem investigado o funcionamento da sociedade civil, assente em unidades
sem fins lucrativos, voluntárias e filantrópicas (www.ccss.jhu.edu); (2) O
Global Survey on the State of Civil Society, um projecto internacional da
CIVICUS (Aliança Mundial para a Participação do Cidadão) (http://www.civicus.org/ ). Recorrendo a
metodologias diferentes, mas complementares, ambos projectos já contam com
pesquisas em mais de 50 países, incluindo Moçambique (Francisco et. al., 2008;
INE, 2006).
O Inquérito Global da
CIVICUS criou o chamado Índice da Sociedade Civil (ISC), um indicador agregado,
com base na média da pontuação atribuída a aproximadamente 80 variáveis,
organizadas em 27 subdimensões e quatro dimensões (Heinrich, 2004, 2007)(ii).
Até aqui, o Inquérito
Global da CIVICUS tem investido mais na actualização do conhecimento do que no
entendimento explicativo do estado da sociedade civil no mundo. Isto é
compreensível, considerando que no passado o conhecimento era superficial e
disperso. Apesar disso, o facto de as pesquisas serem concebidas dentro de um
quadro conceptual estruturado, em termos analíticos e metodológicos, potencia o
surgimento de pesquisas (inferenciais e analíticas aprofundadas) no domínio do
entendimento explicativo. Existem limitações questionáveis na actual
metodologia do ISC, mas os seus méritos (e.g. abrangência, sistematização e
adaptabilidade à natureza fluida da sociedade civil) superam os deméritos (e.g.
dúvidas quanto à generalização de certas avaliações) das pesquisas anteriores,
assentes em métodos simplistas e ad hoc.
Clique o seguinte link: http://www.iese.ac.mz/lib/publication/outras/ideias/Ideias_24.pdf para
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