NOVO ROMANCE DE MIA COUTO PROCURA DESVENDAR A FIGURA DE NGUNGUNHANA
O escritor moçambicano Mia Couto
está escrever um romance que abordará "as construções mitológicas sobre o
império de Gaza", que se localizou no sul de Moçambique, em que pretende
questionar o personagem de Ngungunhana.
"Há
pinturas que são feitas (à volta da figura do imperador Ngungunhana) e a
pergunta é essa: quem era esse verdadeiro personagem do Ngungunhana?", diz
Mia Couto, em entrevista exclusiva à Lusa, sobre a nova produção literária.
O escritor
mais traduzido de Moçambique está, desde o ano passado, a escrever o livro,
que, garante, "muito certamente não será acabado este ano", pelo que
pretende trabalhar o romance ainda sem título mais um ano.
"A
grande preocupação que eu tenho é mostrar que essa História, a grande História
com H maiúsculo, a história oficial de um país é sempre construída - não só no
nosso caso, em todos os casos do mundo - a partir de pequenas mentiras,
pequenas ilusões. A necessidade de fabricarmos grandes heróis, personagens que
estão acima de um humano tem que ser de alguma maneira desconstruída",
diz.
Contudo,
assinala Mia Couto, a ideia não é atacar os mitos, porque, diz, entende
"que um país precisa de heróis, mitos fundadores, mas, por outro lado, é
preciso que a gente saiba que eles são fabricações".
As proezas
de Ngungunhana já tinham sido narradas em livro, em 1987, pelo escritor
moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa num romance intitulado Ualalapi, que, em seis
episódios, narra os excessos daquele chefe após assumir o trono do império de
Gaza, substituindo o seu irmão.
"O
Ualalapi foi um grande livro inspirador para este mesmo livro. Esta
desconstrução da imagem que foi construída ideologicamente do Ngungunhana, quer
dizer, é muito curioso, porque a personagem Ngungunhana é reconstruída do ponto
da elaboração mítica, tanto pelos portugueses, como por nós,
moçambicanos", afirma Mia Couto.
O romance
de Ungulani Ba Ka Khosa integra a lista dos 100 maiores romances do século
passado.
- Lusa
PRISÃO DE
GUNGUNHANA FOI UM “GOLPE DE SORTE”, AFIRMA HISTORIADOR
Mouzinho de Albuquerque
"seria hoje condenado por crimes contra a humanidade", afirmou o
historiador Paulo Jorge Fernandes, autor de uma nova biografia do militar que
prendeu Gungunhana e garantiu o domínio português sobre Gaza (Moçambique).
Intitulado "Mouzinho de Albuquerque - Um soldado ao serviço do Império", o livro procura "contextualizar Mouzinho na mentalidade da época em que viveu".
"Mouzinho de Albuquerque hoje seria condenado por crimes contra a humanidade, falando de uma forma ligeira, mas na sua época os seus actos não foram interpretados de tal forma, pois o contexto mental e social era diferente", declarou.
A operação militar em Chaimite foi o culminar de um conjunto de vitórias militares ao longo de 1895, depois de sucessivas derrotas das tropas portuguesas, no contexto do Ultimato e da Conferência de Berlim.
O investigador sublinhou que a detenção de Gungunhana, conhecido como “o Leão de Gaza”, em 1895, "foi um golpe de sorte e não passou de uma bravata militar em que não participaram mais de meia centena de homens e não houve qualquer chacina dos dois lados", declarou.
Intitulado "Mouzinho de Albuquerque - Um soldado ao serviço do Império", o livro procura "contextualizar Mouzinho na mentalidade da época em que viveu".
"Mouzinho de Albuquerque hoje seria condenado por crimes contra a humanidade, falando de uma forma ligeira, mas na sua época os seus actos não foram interpretados de tal forma, pois o contexto mental e social era diferente", declarou.
A operação militar em Chaimite foi o culminar de um conjunto de vitórias militares ao longo de 1895, depois de sucessivas derrotas das tropas portuguesas, no contexto do Ultimato e da Conferência de Berlim.
O investigador sublinhou que a detenção de Gungunhana, conhecido como “o Leão de Gaza”, em 1895, "foi um golpe de sorte e não passou de uma bravata militar em que não participaram mais de meia centena de homens e não houve qualquer chacina dos dois lados", declarou.
Após a sua captura, Gungunhana foi despojado dos seus haveres, afastado das suas tradições, transportado para Portugal, onde sofreu humilhações públicas. Com este feito, Portugal garantiu o domínio sobre Moçambique.
Fundado por um ramo zulu fugido à guerra que alastrava a Sul, o reino de Gaza sobreviveu à cobiça europeia durante mais de sete décadas.
Quando Gungunhana foi preso por Mouzinho de Albuquerque em Chaimite, em 1895, parte do seu exército ainda conquistava terreno aos tsongas, aos chopes, aos vandaus e aos bitongas, empurrados sucessivamente para Norte.
No seu esplendor, o império de Gaza espraiava-se do rio Incomáti à margem esquerda do Zambeze, do oceano Índico ao curso superior do rio Save. Era o segundo maior reino africano do século XIX, um território que, no mapa actual, ocuparia mais de metade de Moçambique e um bom pedaço do Zimbabué, entrando ainda pela África do Sul. Há cem anos, tinha uma população entre os 500 mil e os dois milhões de habitantes.
Rádio de Moçambique – 28.05.2010
"EU QUERO OS MEUS HERÓIS"
GENES MACUA de: Sebastião Cardoso
Eu quero os meus heróis.
Gungunhana, era neto de Soshangane, um general zulu que se revoltou contra o
Imperador Tchaka.
Derrotado por este, em
1819, foge com o seu exército para Moçambique, subjugando, submetendo e
absorvendo numerosos povos especialmente na área costeira desde o Limpopo ate
ao Save, fundando, assim, o Império de Gaza. Humilhou, varias vezes, os portugueses,
conquistando Lourenço Marques e Inhambane. A questão aqui é: Soshangane pode
ser considerado uma figura da nossa Historia com que papel? Invasor zulu ou
fundador machangane? Morre em 1858, sucedendo-lhe Muzila.
Vou saltar Muzila e
escrever um pouco sobre o neto, Gungunhana, cuja fama ultrapassou fronteiras.
Após a morte de seu pai,
em 1884, não sendo ele o legitimo herdeiro, assassina o seu irmão e obriga os
outros dois a fugirem para o exílio.
Iniciam-se, 10 anos de
terror, especialmente entre as populações. Até hoje, estranhamente, até os
maronga e matswa partilham ressentimentos e, dificilmente, se identificam com
os machanganes. Porque com as duas potencias estrangeiras interessadas na
região, Gungu ia fazendo acordos, que nunca cumpria. Os portugueses davam-lhe
aguardente e os ingleses libras de ouro.
Existem registos de
algumas batalhas contra os portugueses, sempre com o heróico povo maronga na
linha da frente, mas o balanço é francamente negativo, contrariamente ao seu
avô. Chegou a ser nomeado Coronel do exercito português, recebeu a farda e uma
bandeira!!! Pouco tempo depois, queimou estes dois símbolos de submissão,
invocando que passavam doenças venéreas as suas mulheres.
Hilariante.
Jogando com um pau de
dois bicos, ora juntava-se aos portugueses, ora juntava-se aos ingleses e
manteve-se no poder até 1895.
E' abandonado pelos
ingleses, cansados das suas qualidades camaleonicas e as atitudes de alcoólatra
teem como consequência um exército completamente fragmentado, esfomeado e
desmotivado.
Chegando esta
oportunidade, os portugueses, comandados por Mouzinho de
Albuquerque ( o que
levou tareia em Nampula) marcham em sua perseguição e
capturam-no à mão, em
Chaimite, local sagrado onde seu avô estava sepultado.
É exibido em Lourenço
Marques como troféu às populações, num acto politico de
vitoria.
Dão-lhe o estatuto de
prisioneiro politico, enviam-no para Lisboa com as suas 7 mulheres e um
cozinheiro. Ali, é, novamente exibido em público com a mesma finalidade
política. O Leão de Gaza, está horrorizado. Chora, manda-se para o chão,
promete o que já não tem: ouro, marfim, escravos, mulheres e terra em troca da
sua liberdade. Nesta altura, encontrava-se debilitado e foi tratado num
hospital de Belém com regalias de oficial.
Não sabia que o seu
futuro, até nem seria muito mau.
É enviado, em Junho de
1896, para as paradisíacas ilhas dos Açores, sem as 7
mulheres, devido a
intolerância pela poligamia, mas com o seu cozinheiro e dois companheiros que
sempre se portaram com dignidade. Com ordens bastante terminantes de ser
absolutamente respeitado, vive com uma reforma de oficial, em crescente
liberdade, alimenta-se a base de carnes e embriaga-se regularmente com vinhos
do Porto e da Madeira, visita semanalmente o bordel da cidade, caca coelhos no
monte Brasil e como hobby faz cestos de palha que vende a população local.
Passados 10 anos, em 1906, morre alcoolizado, alfabetizado e baptizado com o
nome de Roberto Frederico Gungunhana.
Se fosse possível, hoje,
teria a curiosidade de lhe perguntar:
- Beto, o que gostaste
mais? Os 10 anos de Leão de Gaza ou os 10 anos nos Açores?
A saga de Gungunhana
ainda envolve um último acto. Num acordo entre Machel e
Ramalho Eanes, uma urna
contendo areia do local onde foi sepultado, com o peso de 225 kgs é trasladada
para Maputo.
Em Junho de 1985, 79
anos após a sua morte, o Leão de Gaza ou Roberto Frederico Gungunhana, não sei,
é recebido em Maputo com honrosas cerimonias de herói nacional e consegue,
finalmente, a proeza de entrar na Fortaleza da ex. Lourenço Marques, tendo como
companhia a estátua do homem que o apanhou à mão, Mouzinho Albuquerque!!!
Eu quero os meus heróis.
Há sete instituições de
ensino superior em Nampula!!! Não há nenhum departamento que pesquise e
investigue História?!
Por favor, dêem-me os
meus heróis.
WAMPHULA FAX – 25.08.2010
NOTA:
Porque considerar
Gungunhana herói moçambicano? Não há uma só palavra dele que ilustre, defina ou
defenda o conceito de Moçambique (país ou nação). Estrangeiro, descendente de
2ª geração de conquistadores (como os portugueses), mas, de longe, com muitos
mais massacres de populações locais que os imputados aos portugueses. Aliás, se
Gungunhana vitorioso, aí acabava o Moçambique que hoje existe e conhecemos.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
Nenhum comentário:
Postar um comentário