A linha oficial da Frelimo desde
sempre foi a seguinte: “A Frelimo foi fundada em Dar-es-Salaam, Tanzânia, em 25
de Junho de 1962.”
A partir da sua casa aqui na
internet, Fernando Gil ontem deu mais um passo no sentido de esclarecer um
pequeno detalhe relativo à história da organização que mais tarde combateu e
recebeu o poder em Moçambique das autoridades coloniais.
Das figuras presentes na fotografia, apenas Marcelino dos Santos participou na fundação da FRELIMO em ACCRA |
Segundo o testemunho do Sr. Dr. Jaime Maurício
Khamba, que mais tarde consubstancia apresentando o documento fundacional que
se reproduz em baixo, e de cujo original não sei bem quem tem posse, a Frente
de Libertação de Moçambique terá sido, na génese, criada por moçambicanos de
quem quase ninguém ouviu falar, na cidade de Accra, no Ghana, no dia 2 de
Fevereiro de 1962.
Documento fundacional da FRELIMO em Accra com a respectiva data de 2/02/1962 |
Quatro meses e meio antes e do
outro lado de África em relação à Tânzania.
Alguém sabe quem foram os Srs.
Mateus Michinji Mole, Lourenço Milinga, Hlomulo Chitofo Gwambe e Calvino Zeque
Mahayeye?
Pois é. Muito poucos.
Para que conste.
A confirmar-se, louros para
Fernando Gil e o Dr. Khamba, que ajudou assim a desvendar a história mais mal
contada da história recente de Moçambique.
Do Reino ao Sul, João Cabrita
pondera diferentemente e, com sua autorização, que agradeço reconhecidamente,
reproduzo o seu comentário, que também foi encaminhado para o Sr. Fernando Gil:
Mateus Mmole e Lourenço Milinga
eram dirigentes da MANU.
Hlomulo Chitofo Gwambe (mais
conhecido por Adelino Gwambe) era o presidente da Udenamo. Calvino Mahayeye era
membro deste movimento.
Uma leitura atenta do documento
reproduzido hoje [...] deixa transparecer que a 2 de Fevereiro de 1962 houve
o desejo dos moçambicanos filiados na UDENAMO e na MANU de
formar a Frente de Libertação de Moçambique. Entre o desejo de
se formar uma frente e a decisão de se criar essa mesma frente
vai uma certa distância, de meses neste caso.
Efectivamente, o anúncio formal da
criação da Frelimo foi feito em Acra (para grande irritação do governo do
Tanganyika), mas em Junho de 1962, durante a African Freedom Fighters
Conference, segundo o depoimento que obtive de Fanuel Mahluza, vice-presidente
da Udenamo, e que ele próprio reitera no manuscrito que me entregou para
publicação antes de morrer.
O título de capa do “Evening News”,
diário publicado em Acra, de 6 de Junho de 1962, pp 1 e 2, é suficientemente
elucidativo: “Mozambique parties answer Osagyefo’s close ranks call”.
Antes da partida das delegações da
Udenamo e da MANU para Acra, estes dois movimentos estiveram reunidos em Dar es
Salam sob os auspícios do governo tanzaniano (Tanganyika) tendo “finalmente
decidido unir todas as forças patrióticas de Moçambique por meio da formação de
uma frente comum”, segundo reza uma declaração emitida em Dar es Salam a 25 de
Maio de 1962.
Segundo me relatou Mahluza, foi
Marcelino dos Santos quem deu o nome à Frente de Libertação de Moçambique.
Mahluza escolheu o acrónimo, Frelimo.
[...]
De facto, a ideia de se unir os
dois movimentos surgiu em Dar es Salam face à política do governo tanzaniano em
favorecer mais a MANU (essencialmente maconde e com fortes raízes no Tanganyika
e que até advogava uma grande região maconde independente, integrada neste
país) do que a Udenamo, por este movimento estar mais identificado com o Gana
de Nkrumah, rival de Nyerere em questões nacionalistas. (A África Austral era
como que zona exclusiva do Nyerere e que chocava com o pan-africanismo de
Nkrumah).
O Marcelino dos Santos apoiava a
ideia da unificação, pois sem ela não era possível funcionar a partir do
território tanzaniano. Portanto, da fotografia que reproduziu no seu blog [ver
em cima] o Marcelino era o único da Frelimo à altura da independência que
participou nesse processo. O Chissano estava em Paris, o Machel ainda não havia
chegado (saiu de LM em Março de 1963).
In: http://delagoabayword.wordpress.com/category/historia-mocambique/fundacao-da-frelimo/
Nota do blog: Leia o relatório sobre a fundação da FRELIMO bastando clicar em http://macua.blogs.com/files/frelimo_fundacao_relatorio.pdf
Nota do blog: Leia o relatório sobre a fundação da FRELIMO bastando clicar em http://macua.blogs.com/files/frelimo_fundacao_relatorio.pdf
Para mais informações sobre os
documentos da FRELIMO consulte o site da biblioteca digital da University of Southern California. E só
clicar:
Gostei da informacao! good DR. Continue nos actualizando e reavivando o nosso espirito de historiador, numa incessante busca pela verdade!
ResponderExcluirA Historia Política de Moçambique está cheia de contradições e a pouco tempo atrás todos tinham medo de revelar esses saberes, mas os tempos são outros, tudo está a mudar e Mestre Jairoce ganhou a coragem e quebrou o silencia de a tanto tempo. Parabens pela coragem...
ResponderExcluir