05 setembro 2018

Conferência Internacional

As civilizações do Canal de Moçambique: entre histórias cruzadas, criação de identidades, territorialidades e patrimónios

Chamada para contribuições

Datas da conferência: 15-17 de Novembro de 2018 Local de realização: Mayotte (Departamento de França)

Argumento:

Ocupando um vasto espaço costeiro e insular, partindo da parte oriental da África, o Canal de Moçambique estende-se até as ilhas mais ocidentais do Oceano Índico. Os seus mares são navegados desde tempos remotos, facto atestado por historiadores do Egipto Antigo, tal como evidencia a cartografia das rotas e do comércio. Nesta região, a navegação favoreceu a mobilidade de grupos populacionais, cruzamentos de culturas a partir dos quais constituiu-se progressivamente um ecossistema social bem singular, caracterizado por diferentes territorialidades, pluralidade de identidades e pela mestiçagem.
Sua emergência, iniciada num território situado ao longo das costas entre o Kenya e a Tanzania, foi capaz de se impor e transpor para além de outros territórios. A partir deste núcleo inicial, a mestiçagem estendeu-se, implantando-se em diferentes sociedades, de forma permanente. Esse processo permitiu a existência de uma das civilizações mais importantes da história. Trata-se, aqui, de ver o Canal de Moçambique como um conjunto de territorialidades apresentado semelhanças e diferenças, mas que, de certa forma, são caracterizadas por um relativismo cultural bem marcante e integrado, resultante do cruzamento de mundos, cuja reinterpretação regional deu origem à uma hibridação cultural.
Foi durante esse longo período que diferentes etapas conjunturais produziram processos de empréstimos, de transmissões, de rupturas e de continuidade de realidades culturais que, segundo Lugan (2009), só podem ser compreendidos no quadro dessa longa duração. Ao que tudo indica, terá sido a partir desses processos que se criaram territorialidades e historicidades, isto é, construções identitárias que atravessaram os tempos e testemunham heranças à diferentes graus e contextos na região do Canal de Moçambique.
O multiculturalismo e o plurilinguismo são uma realidade nos territórios do Canal de Moçambique e vão ao encontro do enunciado de Morin (1997:128), segundo o qual “a mestiçagem não é só uma criação nova da diversidade a partir do encontro; ela é, no processo planetário, produto e produtora de re-aliança e de unidade. Introduz a complexidade no cerne da identidade mestiça (cultural ou racial). [Contudo] é certo que cada qual pode e deve, na era planetária, cultivar a sua poli-identidade, que permite integrar em si mesma a identidade familiar, a identidade regional, a identidade étnica, a identidade nacional, a identidade religiosa ou filosófica, a identidade continental e a identidade terrena”.


É pelo facto do Canal de Moçambique ter emergido dessa base inter e multicultural que motivou a proposição de estudos comparados e interdisciplinares e encoraja a pesquisa e a concepção de reflexões feitas a partir do cruzamento de estudos sobre e no interior da região. Por essa via, o Departamento de Mayotte projecta um fórum específico de estudos orientados, corporizados numa conferência internacional intitulada “As civilizações do Canal de Moçambique : entre histórias cruzadas, criação de identidades, territorialidades e patrimónios”. Nessa perspectiva, procura-se situar a história e a sociedade das ilhas de Mayotte como um dos numerosos campos de pesquisa que podem atestar o carácter híbrido  do vasto Canal de Moçambique. De facto, localizado ao longo da passagem do Canal de Moçambique entre Madagáscar, União das Comores e Moçambique, tal como as outras ilhas vizinhas, Mayotte foi uma encruzilhada de influências e confluências, de ondas de povoamento da região ou regiões mais distantes. Mesmo que a população da ilha tenha, em grande parte, recebido empréstimos africanos e afro-bantu, numerosas vagas de povoamento partiram particularmente da Costa oriental africana, mas também do Oceano Índico, ou de outras regiões mais distantes como a Pérsia/Médio Oriente e no Ocidente.
Para a Conferência, o comité organizador encoraja as contribuições que explorem as múltiplas dimensões das civilizações do Canal de Moçambique ligadas às ilhas do Oceano Índico e aos territórios e países africanos da costa ou do interior que partilhem a dimensão/experiência africana de civilizações no contexto local, regional e numa troca cultural mais ampla.
A partir de uma perspectiva inter-disciplinar e comparada, as semelhanças e as diferenças dos territórios da região serão o ponto central da conferência. As contribuições no domínio da história, da arqueologia, da literatura, da linguística, do direito, da sociologia, da antropologia, da entnologia, da arquitectura, da economia, de estudos culturais e de estudos pos-coloniais são vivamente esperadas. As contribuições que tratem de toda a região insular, dos aspectos da história da navegação e da costa oriental africana em qualquer das épocas históricas (antiga, pré-colonial, colonial, pos-colonial) e sobretudo quando as mesmas propõem uma relação com Mayotte são fortemente encorajadas.

Eixos prioritários:

A primeira proposição inscreve-se na generalidade, onde os artigos devem tratar de relações culturais e civilizacionais que existem entre o Kenya, a Tanzania, Moçambique, as ilhas do Oceano Índico, nomeadamente como Lamu, Kilwa, Paté, Unguja, Ibo, Pemba, Mombassa, Ilha de Moçambique, etc. nas trocas culturais, económicas, concernentes à similitudes e variações, bem como outras trocas e interações. 
A segunda proposição é mais restrita, ao inclinar-se sobre o papel/lugar das ilhas de  Mayotte na região, sendo que o comité volta a encorajar propostas de estudos sobre estas ilhas e sua relação com a costa oriental africana e ilhas do Oceano Índico, no contexto da civilização do Canal de Moçambique. De outro modo, as contribuições devem se inclinar sobre os seguintes eixos:

·         Problemas conceptuais, teóricos e metodológicos no estudo de civilizações;
·         Historiografias cruzadas no Canal de Moçambique (contactos culturais, interacções, influências e migrações);
·         Movimentos e diásporas no Canal de Moçambique: conexões sociais e construções identitárias;
·         Identidades culturais (individual, comunitária, étnica, nacional e trans-nacional);
·         Heranças da escravatura, tráfico negreiro e colonização da memória colectiva;
·         Património material e imaterial;
·           (Re)configuração Geopolítica do Canal de Moçambique (passado e presente);
·         Religiosidade, sociabilidade e conflitos no Canal de Moçambique.
·         Continuum espacial e territorialidades.


Cronograma

10 de setembro de 2018: último dia da recepção de propostas (resumos) de comunicações (200-300 palavras);
20 de Setembro de 2018: notificação dos resumos aceites;
10 de Novembro: envio dos artigos completos para a projecção das sessões; 14/15 de Novembro: chegada dos participantes a Mayotte;
15-17 de Novembro: realização da conferência;
18 de Novembro: visita aos sítios patrimoniais de Mayotte; 
19 de Novembro: encontro do comité científico.

Envio e notificação das propostas

Os resumos das propostas de comunicações devem ser enviados para os três endereços electrónicos dos organizadores, identificados abaixo, até 10 de setembro de 2018. Os resumos devem ter: 200-300 palavras, espaço simples, Times New Roman 12, escritos numa das seguintes línguas: francês, inglês, português e kiswahili. O comité técnico e científico irá analisar todos os resumos recebidos até ao dia 30 de Setembro. Os candidatos cujos resumos forem aceites, terão as despesas da conferência custeadas (transporte, alojamento e alimentação).


Organização

Dr. Oswald MASEBO, The Head of Department of History, College of Humanities, University of Dar es Salaam, P.O. Box 35050, Dar es Salaam, Tanzania. Email: omasebo@udsm.ac.tz ou omsebo@gmail.com
Martinho PEDRO, Doutor em Ciências do Tempo e do Espaço, especialidade Historia (Moderna e Contemporânea) e Civilização (Université de Poitiers), Docente na Universidade Pedagógica de Moçambique, marpmatos@gmail.com
Alain Kamal Martial HENRY, Docteur en littératures françaises et francophone (Université de Cergy-Pontoise), Chercheur au Centre des Études de Territoires et de recherche en Langues et Littératures Régionales (Mayotte

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