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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

16 outubro 2012

RENÉ PÉLISSIER : "FALAR DE CINCO SÉCULOS DE COLONIZAÇÃO PORTUGUESA É UMA BURLA!"


RENÉ PÉLISSIER : "FALAR DE CINCO SÉCULOS DE COLONIZAÇÃO PORTUGUESA É UMA BURLA!"
René Pelissier, autor de 5 volumes da Historia de Portugal

Por José Pedro Castanheira (texto) e Tiago Miranda (fotos)

É um dos mais importantes historiadores estrangeiros da moderna colonização portuguesa. Estudou a conquista militar de AngolaMoçambiqueGuiné e Timor. A viver perto de Paris, tem uma biblioteca de 12 mil volumes e gostaria de escrever uma bibliografia crítica de tudo quanto foi publicado.
Convidado a participar num colóquio no ISCTE, em Lisboa, o historiador francês René Pélissier deu uma longa entrevista ao Expresso.
O seu último livro 'a solo' chama-se 'Timor em Guerra. A Conquista Portuguesa?
Os portugueses têm uma história romanceada da colonização portuguesa em Timor. Teriam sido, no essencial, a igreja e os missionários os únicos a contribuir para a implantação da colonização portuguesa.
O que não é verdade!
Pois não. Foi uma conquista brutal, efetuada pela maior parte dos governadores e sobretudo pelo célebre José Celestino da Silva, que foi um homem excecional na história colonial portuguesa.
Foi uma exceção em todo o império?
Creio que sim. Não tenho a nomenclatura de todos os governadores de todas as colónias, mas foi o homem que esteve no poder em Díli durante mais tempo (14 anos). Tinha a proteção do rei D. Carlos (até ao seu assassínio), mas quando foi da sucessão foi afastado do poder por D. Manuel. Tinha demasiados inimigos. Era um homem ativo, que tinha como principal objetivo na vida entrar na História como o primeiro governador de Timor a ser dono de todo o território. Conseguiu-o por meios extraordinariamente brutais.
'Cortar as cabeças contra os maus espíritos'

Sanguinários?
Sim. Tinha poucos soldados moçambicanos mas reuniu em 24 campanhas 60 mil timorenses e mandou cortar muitas...
... cabeças?
Exato. Não foi mais sanguinário que outros governadores, mas para conseguir a adesão dos "arraiais" - as tropas supletivas timorenses -, tinha de lhes dar qualquer coisa. Como não tinha dinheiro, havia que dar uma compensação material - o direito de se apoderar dos cavalos, porcos, vacas, etc. -, mas também mística, digamos. Isto é: cabeças cortadas, que para os guerrilheiros constituíam uma espécie de defesa sobrenatural da sua própria aldeia. Cortavam as cabeças e encastravam-nas nas tranqueiras - uma defesa mágica contra os maus espíritos e contra os inimigos que, por sua vez, também queriam cortar as cabeças dos habitantes da aldeia. Era uma espécie de salvaguarda. José Celestino da Silva era um que também ambicionava enriquecer.
Conseguiu-o?
Sim. Quando havia uma vitória num reino com muito terreno para o café, ele requisitava os ditos terrenos para lançar uma ou várias companhias agrícolas, de que era sócio. Com os vencidos não decapitados, utilizava o trabalho forçado. Transformava-os praticamente em escravos, que cultivavam café para si, a troco de uma pequena 'gorjeta'.
Onde descobriu essas histórias?
Não foi uma verdadeira descoberta. Os raros especialistas de Timor já a conheciam. Encontrei isso nos testemunhos publicados pelos próprios governadores. Em 1896, o primeiro relatório sobre uma campanha em Timor, conta como mataram cerca de 700 pessoas em 1895 - cortando as cabeças. É um livro trágico, que não esconde a verdade, publicado para contrabalançar o prestígio mediático de Mouzinho de Albuquerque, que era o grande herói de Moçambique. Julgo que aceitaram publicar os relatórios dos oficiais de José Celestino da Silva, que era o novo e longínquo herói de Timor, para mostrar que nos confins do Império também havia um homem que tinha a situação militar bem controlada. A conquista continuou ainda em 1900, contra o maior regulado que era o Manufai, onde estava a alma ou o coração da resistência à colonização. Foi uma conquista muito dura, primeiro contra o liurai D. Duarte, e depois contra o seu filho D. Boaventura, que se tornou o pior inimigo dos portugueses durante a I República. Foi uma guerra atroz. Oficialmente houve 3424 mortos. Não é verdade - calculo que tenham sido 15 a 25 mil timorenses mortos, seja em combate, seja à sede, seja sobretudo pela cólera. A conquista acabou em 1913 pelo esmagamento de todas as chefias. A colonização de Timor não tem nada a ver com a mitologia do Estado Novo, nem com a de agora. É preciso olhar a história colonial com os olhos bem abertos.
O primeiro a estudar a moderna colonização portuguesa

Timor foi a última colónia que estudou?
Foi. Quando comecei, fui o primeiro investigador francês a estudar a colonização portuguesa moderna, posterior aos Descobrimentos, à Índia e ao Brasil...
Porque escolheu Portugal?
Porque gosto das descobertas pessoais. Tenho uma alma de descobridor, de explorador. Cheguei um pouco tarde: tudo já fora descoberto geograficamente. Mas descobri um mundo que estava completamente fechado aos não-lusófonos pela propaganda, que exaltava os cinco séculos de colonização portuguesa.
O que está longe de ser verdade.
Justamente. Mas era preciso prová-lo e demonstrar. Tinha que encontrar uma chave para destruir o mito. E a única chave que estava em meu poder era fazer a história militar da conquista. Avancei num terreno completamente ignorado pelos não-lusófonos.
Creio que começou por Angola.
Em 1965. Angola era difícil para mim.
Veio a Lisboa?
Sim. O Arquivo Histórico-Ultramarino não estava aberto para os que queriam estudar a época mais recente. Mas não mo disseram frontalmente. Como eram muito hábeis, o diretor disse-me que podia vir ao Arquivo consultar unicamente os livros! Só que, para isso, podia ir a Sociedade de Geografia... Não pude fazer nada e expliquei na minha tese que não tivera acesso ao Arquivo Histórico Ultramarino. Mas os militares deram-me acesso aos arquivos militares na medida em que iam sendo desclassificados. Aproveitei e encontrei coisas que ninguém tinha encontrado antes de mim, como o fim da conquista dos Dembos.
Os relatórios de Paiva Couceiro e João de Almeida 

Teve que aprender português?
Sim, em Portugal. Nunca aprendi propriamente. Comecei por ler e conversar. E conversando apanhei um pouco da língua. Os militares da época da conquista do Terceiro Império escreviam e publicavam muito. Foi a minha salvação.
Literatura de memórias e das campanhas.
Exatamente. Não apenas Mouzinho de Albuquerque, mas António Enes e muitos outros. A conquista não foi propriamente um caminho que levasse à santidade: não havia apenas rosas nessa história. Em 1904, mesmo em 1907, a Angola realmente portuguesa representava no máximo 1/10 do território atual. E isso não era confidencial. Estava escrito em "Angola Dois anos de Governo", do governador Paiva Couceiro, um documento notável. João de Almeida, que foi o seu braço direito, contou as suas próprias campanhas. Fez o seu trabalho de conquistador, normal na época. Se empreendeu, a partir de 1845, 180 operações militares, isso significava que a colónia não estava pacificada. Esta foi a chave que demonstrou a falsidade do slogan "Cinco séculos de colonização portuguesa em Angola". Antes de meados do sec XIX não havia propriamente dito uma colonização portuguesa, salvo em Luanda, no corredor do Cuanza até Malange, em Benguela, Moçâmedes, Novo Redondo e pouco mais. Todo o resto tinha de ser conquistado.
Visitou Angola?
Não sou um historiador militante ou partidário de uma causa - nenhuma. Nada disso. Obtive licença para visitar Angola em 1966. Já tinha escrito pequenas coisas e viram que não era um adversário da colonização. Realmente não sou. Sou, isso sim, um adversário do mito da colonização, o que é diferente. Visitei praticamente 13 distritos (em 15 que havia na época), vi a situação, que era favorável a Portugal do ponto de vista económico. É incontestável: Angola nunca foi tão próspera e rica como na véspera da morte da colonização portuguesa.
'Não partilho do entusiasmo por Mouzinho de Albuquerque'

Creio que é uma verdade indiscutível
.
Indiscutível. Na minha opinião (que não é a opinião de um propagandista e que expus no livro "História de Angola", com Douglas Wheeler), a situação era instável mas provisoriamente favorável aos portugueses. Fiz a minha tese de doutoramento em dois volumes sobre Angola. O primeiro é sobre a conquista, que foi traduzida para português pela Estampa, "História das Campanhas de Angola". O segundo volume, com 700 páginas, ainda não foi traduzido; chama-se "La colonie du Minotaure". E o Minotauro é a colonização portuguesa que devora as suas vítimas africanas. Como sou um homem que ama a descoberta, com alma de explorador, e não queria ficar a vida toda a estudar Angola, passei a Moçambique. Comecei em 1977. A conquista de Moçambique são essencialmente as 150 campanhas ou operações mais importantes nos séculos XIX ou XX - o que significa que não se pode falar de "cinco séculos de colonização". Seria uma burla!
A mesma tese de Angola...
É preciso ser verdadeiramente cego, ou não querer olhar a verdade de frente. Terminei Moçambique em 1983 e continuei pela Guiné. Mais pequena, mas um país relativamente mais difícil de conquistar, em razão da geografia, do clima e da resistência dos guineenses, gente que não estava disposta a submeter-se sem ser vencida.
O grande herói da colonização de Angola foi Paiva Couceiro?
Não há verdadeiramente um herói. O melhor organizador da conquista durante a Monarquia foi Paiva Couceiro e o seu braço-direito, João de Almeida. A conquista do Sul foi "épica" entre 1885 e 1915.
E em Moçambique?
Não partilho do entusiasmo por Mouzinho de Albuquerque. Em Angola, não havia a premência de Moçambique, a braços com as ambições de Cecil Rhodes, dos britânicos e até dos alemãos, que olhavam, a partir do norte, o que podiam apanhar dos portugueses.
A pressão de Cecil Rhodes sobre Moçambique

Em Angola não havia esse tipo de problemas.
Havia o problema dos alemães e o seu domínio do Sudoeste africano. Mas a pressão alemã era inferior à de Cecil Rhodes, que queria conquistar a Rodésia e aceder ao mar através da Beira. Quem teve a visão mais clara foi António Enes. Enes era um civil: era um autor dramático, foi diretor da Biblioteca Nacional em Lisboa e ministro, e tinha uma conceção relativamente eficaz sobre a organização da conquista. Não tinha poder militar, mas encontrou entre os seus oficiais intermédios gente corajosa e soube ampliar exageradamente a ameaça do Gungunhana. O Gungunhana era um imperialista africano - não há que ter vergonha em dizê-lo. Agora é um herói em Moçambique - cada país encontra os heróis onde pode. Mouzinho de Albuquerque conseguiu o feito apreciável de se apoderar da pessoa de Gungunhana sem resistência, em Manjacaze. Isso deu confiança aos oficiais portugueses, que se batiam com poucos meios e homens e com pouco espírito de organização. Perceberam que, uma vez vencido o Gungunhana, podiam apoderar-se de todo Moçambique - e fizeram-no, lentamente. No início da I Guerra Mundial, o essencial de Moçambique estava conquistado, exceto a parte Norte, os atuais Cabo Delgado e Niassa, que pertenciam a uma sociedade privada comercial, uma pura sociedade de predadores. Os acionistas eram sul-africanos, alemães, franceses, etc. e apenas o presidente era português.
Seguiu-se o estudo da Guiné...
Cheguei à Guiné com muita dificuldade. Porque é muito complicada, ao lado de Angola...
Mais difícil que Angola?
Sim. Quando estudei Angola, tinha uma vantagem: salvo no Sul e no Noroeste, não havia muitas relações (em termos de pesquisa) com os territórios vizinhos. Enquanto a Guiné está completamente rodeada por territórios franceses, pelo que era necessário absorver a história dos povos que também habitam o Senegal e a Guiné Conakry. Fiz, assim, o conjunto das três colónias continentais que nunca tiveram cinco séculos de colonização, que existiu unicamente em Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, e Goa e territórios adjacentes. E mesmo Goa estava dividida, até à véspera da conquista indiana, em duas partes: as velhas conquistas (um território muito pequeno) e as novas conquistas, feitas no fim do Sec. XVIII. Só me faltava a última colónia onde houve grandes combates: Timor, que acabei em 1996. Depois tive problemas de saúde e pessoais, que me obrigaram a trabalhar mais lentamente. Estabeleci, depois, em termos cronológicos, uma síntese das quatro histórias separadas. Associando as várias conquistas, demonstrei que no principio do sec. XX Portugal esteve em guerra permanente e simultânea em vários territórios. O que impressiona, uma vez que o país era pobre - o Portugal do fim da monarquia não se podia comparar à Bélgica do rei Leopoldo. Portugal é, indiscutivelmente, o país que mais se bateu, e mais tardiamente, para obter o seu terceiro Império. O que foi trágico para Portugal é que, à conquista, não se seguiu uma administração estável. Faltou dinheiro, homens e espírito de continuidade. E isso custou muito caro: era preciso reconstruir perpetuamente. Norton de Matos escreveu, num dos seus relatórios, que "não sabemos colonizar..." Exagerava um pouco, mas havia grande parte de verdade nisso. Fez falta uma continuidade do esforço colonial.
'A República liquidou as elites africanas'

E a República?
Coitada! Continuou a mesma política, não tendo sido nem mais gentil nem mais reformadora... Liquidou as elites africanas - não no sentido de as ter morto, mas abafou os primeiros movimentos nacionalistas.
Visitou todas as colónias?
Visitei Angola três vezes - a última, em 1973. Não fiquei apenas em Luanda; fui a Teixeira de Sousa, Cazombo, Gago Coutinho, Cuito Cuanavale, Mavinga, Serpa Pinto...
Vejo que tem uma memória fantástica...
Um pouco... Visitei todos os distritos, menos dois: o Zaire e o Kuanza-Sul.
Quem financiou?
Em 1966, a Junta de Investigações do Ultramar, dirigida por um homem notável: Carlos Cruz Abecassis. Foi honesto comigo e eu com ele. Escrevi um livro que se chama "Explorar. Voyages en Angola et autres lieux incertains", em que descrevo a visita à prisão de S. Paulo, em Luanda, com São José Lopes, o diretor da PIDE em Angola.
Conheceu-o?
Fui até lá. Fez-me visitar de noite a sua prisão que estava vazia.
Vazia?
Não sou ingénuo. Se há historiador ingénuo, não sou eu. Estava quase vazia. Fui depois ao campo de concentração de Missongo; vi os prisioneiros, falei com eles, fiz um pequeno inquérito sobre as origens religiosas e políticas; os portugueses tinham sido astutos e hábeis, tinham misturado os FNLA com os MPLA para ter 'bufos' dos dois lados... Não se deve desprezar a astúcia dos portugueses. Há autores estrangeiros que o fazem. Eu não. É preciso reconhecer qualidades aos portugueses. Ninguém consegue aguentar três guerras durante 14 anos, em dois milhões de quilómetros quadrados insalubres, sem ter uma resistência fora do comum. Os seus adversários, salvo o PAIGC, não estavam tão bem organizados nem eram tão numerosos como a FLN argelina contra a França - mas, apesar disso, é preciso tirar-lhes o chapéu. E eu tiro-o. Mas eles estavam militarmente num beco sem saída.
Reportagem mal-tratada pelo 'Le Monde'

Visitou Moçambique?
Duas vezes. Paguei uma vez, mas não vi muita coisa, fui apenas à Beira, Lourenço Marques e Gaza. A segunda foi em 1973; paguei a viagem até África e na Beira fiquei a cargo das autoridades militares e da administração. Visitei Tete (pouco depois do escândalo do massacre de Wiriamu), Metangula, Vila Cabral, Nangade (no Rovuma). Escrevi um artigo para o "Le Monde" sobre Nangade, que aliás foi mal-tratado por um jornalista da redação, que cortou o que eu dizia de bem dos portugueses, acusando-me de ser um propagandista da causa colonialista...
Visitou a Guiné?
Nunca. O que era normal. Gosto dos jornalistas, porque põem perguntas embaraçosas. E na Guiné sabiam que eu poria questões muito embaraçosas, a que não poderiam responder sem violar completamente a verdade.
Visitou algum destes países depois da independência?
Nunca. Nunca fui à África lusófona depois da independência. Fui a Goa por minha conta em 1979 e verifiquei que estava marginalmente mais desenvolvida que no tempo dos portugueses.
Todos os seus livros estão traduzidos para português?
Não e isso é uma pena. Tenho cinco livros e meio traduzidos para português (ao todo, cerca de 3500 páginas). Sou provavelmente o único historiador estrangeiro a ter cinco livros traduzidos em português: "História das campanhas de Angola", "História de Moçambique", "História da Guiné", "Timor em Guerra" e "As campanhas coloniais de Portugal" (que é a síntese dos quatro). E escrevi, juntamente com Douglas Wheeler, "História de Angola".
Que foi o último a ser traduzido.
Sim. O "Minotauro" nunca foi. Procuro um editor, mas são mais de 700 páginas. Não é apenas a guerra em 1961, é também a administração portuguesa nas véspera das revoltas.
Recensões sobre livros publicados em 52 países

Você é conhecido por ser um máquina de ler...
Sou um explorador do passado.
Quantos livros leu sobre as colónias portuguesas?
Sobre Moçambique, mais ou menos mil livros e artigos; 1100 sobre Angola, pelo menos 400 sobre a Guiné e mais de 300 sobre Timor.
Fez recensões sobre todos esses livros?
Não. Li e utilizei-os para compor os meus próprios livros. Além disso, publico recensões de livros recentes sobre a colonização portuguesa moderna (os cinco PALOP e Timor) e um pouco sobre Goa e Macau. Publiquei mais de três mil recensões desde 1964. É um serviço de informação para o público.
Publicou muitas recensões na "Análise Social". Porque acabou?
Não fui eu que interrompi a minha colaboração. Gostaria bem de a manter. A revista mudou de programa, depois de ter publicado 27 crónicas bibliográficas minhas. E a tradução custava dinheiro!
Em que línguas lê?
Francês, português, espanhol, catalão, italiano, inglês, alemão, holandês (aprendi por causa de Timor) e um pouco de dinamarquês. Quando não leio uma língua, peço ao autor que me envie um resumo, o que já aconteceu com livros escritos, por exemplo, em finlandês, checo e polaco. O mais exótico que recensei foi o primeiro livro em hebraico sobre Angola, da primeira embaixadora de Israel em Luanda.
Escrito em hebraico?
Eu não leio e pedi à autora que me desse um apanhado. Tenho recensões sobre livros publicados em 52 países - na Índia, Nicarágua, Colômbia. Rússia, Roménia, no país basco (sobre missionários em Angola), etc.. É uma cobertura internacional... Publiquei parte dessas recensões num livro enorme (748 páginas) chamado "Angola, Guinées, Mozambique, etc. Una bibliographie internationale critique (1990-2005)". Às vezes muito crítica.
Uma biblioteca com 12 mil títulos 

Está a escrever para revistas portugueses?
Tento, mas é muito difícil. Enquanto crítico, preciso que os meus trabalhos sejam publicados rapidamente. É a mesma atitude que um jornalista: é preciso que saia rápido, atendendo às motivações do editor.
Ouvi-o falar sobre Angola. O que contou foi uma autêntica reportagem jornalística...
Sim. Vocês fazem o mesmo trabalho que eu, mas com uma faca na garganta: o tempo e, por vezes, o chefe-de-redação. Eu tenho bastante mais tempo e menos constrangimentos.
O historiador também é um jornalista?
Não. Eu estou na fronteira. Sou um homem curioso e sistemático. Em França, um grande jornalista é o que trabalha num grande jornal. Eu não trabalho em nenhum jornal e só o faço para pequenas revistas confidenciais, que geralmente não interessam aos editores comerciais. Pelo que sou eu que todos os anos compro uma centena de livros para a minha biblioteca. Além dos livros enviados para a comunicação social, que analiso sempre.
Quantos volumes tem?
Doze mil. Incluindo livros sobre a Índia e Macau e sobre os territórios espanhóis de África, área de que também sou especialista. Unicamente para o período 1840-2010.
'Um bom livro é o que me traz coisas novas'

Tem esses livros todos em sua casa?
Sim, mas não há mais espaço! Gostaria de fazer uma coisa útil para as gerações futuras: uma bibliografia crítica de tudo quanto foi publicado em livro sobre Angola, Moçambique, etc. a partir de 1840. Mas isso custa uma fortuna.
Qual foi o melhor livro que leu sobre as colónias portuguesas?
É uma escolha difícil. Talvez o do americano John Marcum, sobre Angola, em dois volumes e alguns do grande Charles Boxer até 1825.
E de autores portugueses?
Há muitos, visto que também leio romances, na condição que falem da situação e do drama colonial. Enquanto historiador, destaco o livro de António Monteiro Cardoso, "Timor na Segunda Guerra Mundial: O Diário do Tenente Pires". Gosto também de um precursor que escreveu a primeira história séria de Angola, chamado Ralph Delgado; era um autor colonialista, mas com visão de historiador e fez um trabalho de pioneiro. E eu respeito os pioneiros.
O que é, para si, um bom livro?
Se um livro me traz coisas novas, considero-o bom; se me traz muitas coisas novas, é excelente, qualquer que seja a tendência política do autor. Como não tenho nenhuma opção política, se fizer bem o seu trabalho, não tem nenhuma importância que seja de esquerda ou de direita. Desde que faça bem o seu trabalho...
Versão integral da entrevista publicada no Expresso de 31 de Julho de 2010, Caderno Atual, páginas 38 a 40

15 outubro 2012

POLÍTICA DA NECESSIDADE: A ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA E DEMOCRACIA NA ÁFRICA DO SUL.




Elk Elke Zuern. Política da Necessidade: a organização comunitária e Democracia na África do Sul. Madison: University of Wisconsin Press, 2011. 264 pp; ISBN 978-0-299-25014-0; ISBN 978-0-299-25013-3.
Avaliado por Alex Wafer (Instituto Max Planck, Alemanha - Universidade de Wits, de Joanesburgo, África do Sul) Publicado em H-SAfrica (Outubro de 2012) Encomendado por Elisabeth Peyroux.
Em 2006, um volume editado intitulado Vozes do Protesto: Movimentos Sociais no pós-apartheid da África do Sul , foi publicado pela Universidade de KwaZulu-Natal Press. Esse livro foi o resultado de um projeto de pesquisa de vários anos de colaboração, e representou, talvez, a primeira tentativa abrangente de entender um fenômeno emergente de ação de protesto generalizado e aparentemente não coordenados contra falhas de prestação de serviços de infra-estrutura e atrasos nas comunidades pobres, menos de uma década depois democracia. O autor de The Politics of Necessity , Elke Zuern, estava entre os pesquisadores e autores que contribuíram para que o volume original, evidenciando um compromisso pessoal com a política confusa e às vezes opaca de mobilização do movimento social que se estende por quase uma década. A profundidade do conhecimento de Zuern sobre o escopo, escala e dinâmica interna do que é uma paisagem em constante mudança micropolítica - como é influenciado pelas manifestações locais de condições materiais, dinâmicas de personalidade locais, mais amplas alianças políticas, bem como debates sobre base e experiências com formas alternativas de democracia - é evidente em A Política de necessidade . Mais importante, talvez, enquanto que o volume original editado representou uma primeira tentativa de mapear um fenômeno emergente, fornecendo alguma teorização experimental sobre a economia política do Estado pós-apartheid, em The Politics of Necessity Zuern faz muito mais empírica e teoricamente rigorosa discussão sobre a emergência e resistência dos movimentos sociais no pós-apartheid da África do Sul.
Em suma, Zuern argumenta que dentro tanto o movimento anti-apartheid e do pós-apartheid "contrato social", e influenciado por uma série de precedentes históricos e internacional, reside uma ligação implícita entre articulações de igualdade socioeconômica e direitos políticos democráticos. Muito contrário das formas em que os meios de comunicação e instituições do estado freqüentemente retratam os movimentos sociais como protesto condições materiais, Zuern sugere que "os protestos visam contestar, e ao fazê-lo, para desestabilizar a autoridade" (p. 4). A medida em que a mobilização de protesto social serve para reforçar a cidadania democrática ou para ser encerrado como contra-revolucionário ou causar instabilidade social, é, em última análise depende de resultados históricos. No entanto, o rastreamento dos discursos ligados de desigualdade e democracia do movimento anti-apartheid, Zuern é capaz de localizar contemporâneos protestos do movimento social mais amplo dentro de contestação sobre a democracia, e as preocupações não só materiais.
Além da amplitude de detalhes empíricos Zuern, portanto, a segunda grande força de seu livro é o movimento bastante simples, mas, teoricamente, muito significativo, de vincular o surgimento de movimento de protesto social, com uma história mais longa de protesto na África do Sul. Este é sem dúvida um movimento potencialmente controverso e cheio, no contexto das reivindicações feitas muito poderosas sobre a história da África do Sul luta. Mas Zuern não é uma reapropriação nostálgica de uma história heróica, mesmo como alguns líderes do movimento têm atraído sobre esta narrativa como parte de seu repertório. Em vez disso, Zuern quer traçar por meio de uma investigação de movimento social protestar contra a mudança de sentido da democracia no contexto de desigualdade no momento presente, tendo surgido de uma história muito particular do poder do Estado não-democrático. Como Zuern argumenta, "a maioria das análises acadêmicas de democratização empregar definições liberais e processual de democracia que o foco sobre os direitos civis e políticos. [Esta definição] está em contraste gritante com os entendimentos da democracia que, muitas vezes inspirar pessoas comuns a protesto "(p. 17). Para fazer isso, Zuern leva seu leitor através de uma história que abrange tanto o apartheid e pós-apartheid protesto, bem como uma geografia que abrange muito mais do que as fronteiras da África do Sul. A tentativa de ligar a experiência Sul-Africano para os de outros contextos nem sempre parece apropriado. Em parte, o leitor é deixado um pouco convencida com as comparações aparentemente superficiais que Zuern é obrigado a fazer. A brevidade dessas excursões é naturalmente compreensível, e estou convencido de que tem Zuern de qualquer maneira tinha que tomar decisões editoriais difíceis sobre como incluir um grande volume de material empírico para seu estudo de caso primário. No entanto, a ligação muito convincente de que é feita entre o passado eo presente não é sempre elogiado pela referência tangencial para outros lugares. Isso, porém, é uma crítica muito menor do que é um argumento convincente de outra forma escrita e historicamente abrangente, e outros leitores podem achar que essas excursões de fato acrescentar algo para o grande relevância do argumento do Zuern.
Nos dois primeiros capítulos, Zuern cobre uma história aparentemente familiar, o da ascensão dos movimentos cívicos nos municípios em 1970 e 1980. Cobrindo uma variedade impressionante variedade de fontes, as trilhas do Zuern no primeiro capítulo não só de convergência gradual de articulações particulares de democracia com demandas políticas e socioeconômicas feitas através do movimento anti-apartheid, mas também a natureza contingente e contestado deste processo. Como ela sugere, a forma de democracia que emerge após o apartheid foi em nenhum momento na visão clara, e foi o resultado de eventos contestados políticas e circunstâncias que não foram restritos às fronteiras da África do Sul.No capítulo 2, Zuern recorre a noção de Arjun Appadurai, da "capacidade de aspirar", e centra-se no papel de líderes comunitários em comunidades conscientizar, ligando privação imediato a uma crítica mais ampla estrutural do sistema de apartheid. Ela traça uma mudança das relações entre os líderes dos protestos e instituições do Estado, chegando ao momento do pós-apartheid protestos de movimentos sociais, e colocar questões sobre os discursos de democracia que têm tração no interior do estado pós-apartheid. Zuern está principalmente preocupado nessa história com a persistência de formas particulares de ação cívica, que continuam a circular em cidades e áreas marginais do país trinta ou quarenta anos depois que surgiu pela primeira vez no movimento anti-apartheid. Nem sempre é claro como os civismo anti-apartheid e os movimentos pós-apartheid social estão ligados a este argumento, além da marginalização contínua ea exclusão social que a experiência de muitas comunidades. Seu argumento, porém, não é o primeiro e mais importante que o protesto surgiu na coalface do sonho não do Estado pós-apartheid de desenvolvimento. Enquanto para Zuern há dúvida de crítica do fracasso do Estado para viver até as expectativas de 1994, ela é, no entanto, preocupado principalmente com a forma como a experiência deste sonho interrompido está localizado dentro dos significados que circulam através do tempo e do espaço da democracia incorporados em uma história de ação de protesto.
Nos próximos três capítulos Zuern tenta periodizar articulações de democracia dentro dos movimentos de protesto do apartheid para a era pós-apartheid. Em linhas gerais, Zuern movimentos da era do apartheid, para a transição, para a era pós-apartheid, e pergunta de cada um desses períodos que as possibilidades e os limites da participação democrática pode ser, do ponto de vista de organizações comunitárias de base e movimentos de protesto. Ela considera que os movimentos de protesto extensão foram fundamentais na concretização de transição democrática, o seu papel na definição de um novo contrato social, e seu papel ainda no aprofundamento ou minar a democracia. No capítulo final (capítulo 6), e com base em uma procissão muito completo e deliberado por meio de uma história muito rica, Zuern tenta ler as articulações da democracia feitos por pessoas comuns em acção de protesto contra as teorias dominantes de democracia. Ela argumenta convincentemente uma vez que o protesto contra a desigualdade material é também sobre a articulação de visões alternativas da democracia, sugerindo que finalmente cernelha democracia quando as pessoas comuns parar de questionar isso.
Talvez os para a maioria de leitores a diferença que se pode notar na obra de Zuern é o seu engajamento experimental e hesitante com as teorias de mobilização do movimento social. Dado que o seu argumento é sobre a ligação entre as articulações da democracia e demandas para a igualdade material, Zuern está relutante em ter arrastado para debates teóricos sobre a mobilização do movimento social. A energia teórica do volume é direcionado a teorias da democracia, a eficácia de diferentes grupos sociais de mobilização constitucionais versus direta práticas democráticas eo papel do movimento de protesto social em trazer uma mudança de regime democrático, ou de aprofundamento das instituições democráticas.Aqueles que procuram compreender a emergência dos movimentos sociais no pós-apartheid da África do Sul na conjuntura particular na história de dez anos após o fim do apartheid pode ser decepcionado com a incompletude do argumento Zuern sobre a intersecção de privação e do trabalho necessário para ligar este ao maior poder institucional.Certamente, não há envolvimento muito limitado com a literatura clássica movimento social. Esta crítica seria, no entanto, ser uma crítica injusta de um livro cujo objetivo é sem dúvida algo muito diferente. Na minha avaliação, Zuern não está a tentar teorizar a emergência dos movimentos sociais. Em vez disso, ela está tentando e de fato consegue convincente para demonstrar como os movimentos sociais, em e através de seus repertórios de protesto contra a desigualdade material, colocar questões radicais sobre a natureza da democracia tão penosamente conquistada na África do Sul. Política da Necessidade é leitura essencial para aqueles interessado na paisagem mudando de Estado, participação política e discursos de direitos no pós-apartheid da África do Sul.
Se há uma discussão adicional desta revisão, você pode acessá-lo através da lista de discussão registra em: http://h-net.msu.edu/cgi-bin/logbrowse.pl .
Citação: Wafer Alex. Revisão de Zuern, Elke, A Política de Necessidade: a organização comunitária e Democracia na África do Sul . H-SAfrica, H-Net Comentários. Outubro de 2012. URL: http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=36033

12 outubro 2012

ANGOLA - COMANDOS ESPECIAIS CONTRA OS CUBANOS


ANGOLA - COMANDOS ESPECIAIS CONTRA OS CUBANOS


É esta uma obra, já publicada em 1978, de Pedro Silva, Francisco Esteves e Valdemar Moreira e colaboração do então Ten. Cor. Gilberto Santos e Castro, sobre a acção dos próprios como Comandos Especiais em Angola e dos autores posteriormente em Moçambique, onde colaboraram na fundação da RENAMO.
Dela extraí 2 capítulos:

- PORQUE NÃO CONQUISTÁMOS LUANDA, em Download Gilberto Santos e Castro
- COMANDOS ESPECIAIS EM MOÇAMBIQUE, em Download Comandos Especiais em Moçambique

10 outubro 2012

BLACK ECONOMIC EMPOWERMENT... UM ELEFANTE BRANCO


BLACK ECONOMIC EMPOWERMENT... UM ELEFANTE BRANCO
Secretário Geral do ANC, Gwede Mantashe

XIPALAPALA por João de Sousa
Os métodos de funcionamento do BEE (Black Economic Empowerment), programa lançado pelo Governo sul- africano como forma de reduzir as desigualdades criadas pelo sistema do apartheid, dirigido particularmente aos empresários de cor negra, começam a ser postos em causa pelo Secretário-Geral do ANC. Gwede Mantashe, cuja permanência neste cargo ainda está em dúvida, diz não concordar com o sistema de benefícios que está a ser concedido aos accionistas. Ele ataca o empresariado negro por não ser competitivo e não produzir e realizar serviços de qualidade”.
Este não é um problema novo. Há analistas locais que consideram que a política de apoio ao empresariado negro, via BEE, continua a ser obscura.
Este programa, como muitos têm referido, virou um elefante branco. E há quem diga que as políticas definidas estão erradas e dissociadas do actual estado de desenvolvimento do país, a braços com vários problemas, numa altura em que todas as atenções estão viradas para o próximo Congresso do ANC, a ter lugar em Dezembro.
Problemas de insatisfação da população pelas más condições de habitabilidade, das reivindicações salariais e das greves, em sectores como o mineiro, que são “o grande suporte económico do país”, principalmente numa altura em que 12 mil trabalhadores da Anglo American despedidos ameaçam colocar o gigante das minas da África do Sul em tribunal.
Gwede Mantashe ataca o regime anterior, quando diz que “durante 40 anos (de 1948 a 1994) os afrikaaners não foram capazes de formar um único gestor negro para a indústria mineira”. Todos os gestores, segundo palavras suas, eram sul-africanos brancos ou ingleses. Perante esta afirmação, surge, de diferentes quadrantes, a pergunta: “em 18 anos de democracia, quantos gestores negros para o sector mineiro foram formados?” Poucos, muito poucos.
Não deixa de ser interessante uma observação feita pelo Secretário-Geral do ANC, quando se refugia no exemplo da construção duma escola. Se o pedido de construção for feito via BEE o custo é de 20 milhões de randes. Se o pedido for dirigido ao sector privado pode custar entre cinco a 10 milhões de randes. Por isso, adianta, “algo está errado”, porque afinal a construção da escola é relegada para segundo plano, porque a prioridade é facilitar o trabalho dos beneficiários.
Duma forma bem directa, como aliás é o seu estilo, Gwede Mantashe coloca o dedo na ferida e confirma que afinal “o Black Economic Empowerment é de facto um elefante branco”.

In: CORREIO DA MANHÃ – 10.10.2012

PROSTITUIÇÃO NA BAIXA DA CIDADE DE MAPUTO


PROSTITUIÇÃO NA BAIXA DA CIDADE DE MAPUTO

Veja o estudo elaborado por Baltazar Muianga sobre a prostituição na Baixa da Cidade de Maputo. Interessante abordagem sociológica e histórica para quem quer compreender este fenómeno na antiga Rua Araújo, hoje Rua do Bagamoyo na baixa da Cidade de Maputo. Clica o link:
http://repositorio.iscte.pt/bitstream/10071/1499/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20Mestrado_Baltazar%20Muianga.pdf


09 outubro 2012

UGANDA 50 ANOS DE LIBERDADE INQUIETA


UGANDA  50 ANOS DE LIBERDADE INQUIETA

"Vamos fazer uma pausa por um momento e olhar para trás, o caminho que percorremos ... Que outras finalidades temos, hoje, ao olhar para a frente? Uma de nossas primeiras necessidades deve ser de unidade nacional. As ambições estreitas de uma tribo, uma seita , ou de um partido deve ser subordinada às necessidades maiores de uma Uganda completa ... sobre a independência alcançada, este governo [Uganda] tem necessidades mais pesadas ​​do que aqueles que qualquer outro governo antes tenha suportado ".
Esses trechos  de 9 de outubro de 1962, foram do discurso do Apollo Milton Obote, primeiro ministro de Uganda, por ocasião da independência do país, em Kololo na capital Kampala e vai repercutir-se claramente 50 anos depois de auto-governo completados na terça feira (9 de Outubro de 2012).
Obote dirigiu o Uganda Congresso do Povo (UPC), um dos mais antigos partidos políticos. As demonstrações sagazes, feitos no local exacto do aniversário deste ano do jubileu de ouro, as forças que estão no comando reflectiram se o país esta no caminho pretendido pelo pai da nação, como Obote carinhosamente passou a ser conhecido.
Uganda, tal como o seu vizinho do Leste Africano - o Quênia, cairam sob o domínio colonial da Grã-Bretanha até em 1962.  Apenas um ano após a independência, um motim de soldados exigindo melhores salários e promoções rápidas, abalaram o regime e levou Obote a pedir ajuda das tropas coloniais para restabelecer a ordem.
Para garantir a estabilidade, Obote preferiu rapidamente promover um soldado semi-analfabeto, Idi Amin, uma decisão que mais tarde criou desastre político com derrube de  Obote em um golpe militar em 1971.

Crise política

Desde então e até 1986, Uganda mergulhou -se em uma crise política com  mudanças violentas de líderes. Assim, Uganda teve vários  presidentes como  Yusuf Lule, Godfrey Binaisa, Milton Obote II e Tito Okello.
A ascendência de Yoweri Museveni ao poder, depois de travar uma guerra de guerrilha de cinco anos, restaurou a esperança perdida que a nação havia desejada. 
 A economia do país alcançou estabilidade e teve um crescimento significativo. O lançamento do programa de recuperação económica em 1987 criou um ritmo de crescimento na faixa de 6,5% entre 1986 e 1987 e de 7,5% entre 1997 e 2005.
No entanto, um dos marcos importantes para Uganda foi a elaboração da Constituição de 1995, que significou o restabelecimento do Estado de Direito no país. Para nutrir a democracia e garantir que o país não caísse para a anarquia, a Constituição previa um limite de dois mandatos, de prazo de cinco anos  para um presidente eleito.
Para um país que nunca tinha experimentado uma transição pacífica de poder de um presidente para outro, o artigo sobre os limites de mandato criou esperanças desejadas para a população. Porém, a alteração da Constituição  de Uganda em 2005, suprimindo o artigo 105, em limites de mandato presidencial, lançou o partido NRM de  Museveni, na mesma lista dos regimes ditatoriais do passado que lutaram para substituir. Além de sufocar o descontentamento entre os cidadãos, a alteração de 2005, fez com que a Uganda torna-se o único país nos cinco Estados-membros da Comunidade do Leste Africano, sem limite de mandatos presidenciais.
O período entre 2005  até agora tem visto Uganda com níveis alarmantes de corrupção, o que tem contribuído para uma perda anual de 500 bilhões de shillings (1,6 bilhões de randes) para o país. A repressão política caracterizada por militares e brutalidade policial também tem contribuido para declínio do crescimento econômico.
O crescimento econômico que em média era 8% entre 2005 e 2007 reduziu para 4,1% em 2011, principalmente devido a protestos maciços de populações devido do alto custo de vida e má governação. A dissidência crescente contra o regime vigente permitiu a popularidade do partido de oposição, liderado pelo principal líder, Kizza Besigye do Fórum para a Mudança Democrática (FDC)Besigye, juntamente com vários líderes da oposição, têm sido frequentemente presos por protestar contra as más políticas do regime. Os  analistas políticos descrevem Kampala, como uma cidade com forte presença militar e policial para evitar protestos.

Comícios proibidos

Quinze dias para o jubileu de ouro, a polícia proibiu comícios e manifestações pacíficas dentro da cidade.Na semana passada, Besigye foi preso por infringir a directiva.
"Para mim, eu tenho a sensação de que a Grã-Bretanha devia mais uma vez re-colonizar Uganda, por exemplo, por apenas 15 anos, para salvá-lo do sofrimento e da impunidade que está acontecendo. Cinquenta anos de estrada os ugandenses ainda não tem a permissão de se associarem livremente? Então é melhor estar sob domínio britânico ", argumenta José Elunya, morador de distrito de Gulu, norte de Uganda.
Mesmo assim, a má governação e a impunidade do governo NRM parece ter solidificado uma frente unificada entre os cidadãos, a sociedade civil e os partidos de oposição que lutam para restauração da sanidade na governação.
Ultimamente, tem havido campanhas em todo o país para a restauração do limite de mandatos presidenciais. Bispo emérito anglicano, Zac Niringiye, é um dos que tem feito muito por esta campanha.
"É apenas o Uganda na África Oriental, onde nunca houve uma transição pacífica de governo. Todo governo que vier é removido à força através de rebelião armada e golpes de Estado. Museveni abriria um precedente como o primeiro líder a entregar pacificamente o poder se os limites dos mandatos  forem restaurados "  afirmou Niringiye.

In: mg.co.za

SERÁ QUE VAQUINA NÃO ACREDITA QUE JÁ É PRIMEIRO - MINISTRO? (VEJA A IMAGEM FOTOGRÁFICA)


SERÁ QUE VAQUINA NÃO ACREDITA QUE JÁ É PRIMEIRO - MINISTRO? (VEJA A IMAGEM FOTOGRÁFICA)

Alberto Vaquina -Novo PM de Moçambique a entrar para o seu mercedes protocolar

08 outubro 2012

CIDADE DE LUANDA-UMA "NOVA DUBAI" ESTA SURGINDO


CIDADE DE LUANDA-UMA  "NOVA DUBAI" ESTA SURGINDO

 

Por Christophe Châtelot
LE MONDE / Worldcrunch )
Cidade de Luanda, esta virando uma "Nova Dubai"- foto de Bety Balboni

LUANDA - A cortina em breve será tocado para baixo pela última vez no Teatro Elinga na capital de Angola, Luanda.
O teatro, onde muitos artistas rebeldes tem seu início, ocupa um lugar importante na cultura angolana.Mas em breve será destruído, suas paredes cor de rosa reduzida a escombros por escavadeiras. Como tantos edifícios antigos no centro da capital angolana, que cairam em desgraça com promotores imobiliários atraídos pelo negócio do petróleo . A ex-colônia Português, Angola é o segundo maior produtor de petróleo na África sub-saariana.
O teatro possui ativos que possam lhe permitir escapar a este triste destino. Além da reputação internacional da sua dança e criações de teatro, o prédio tinha sido classificado como monumento histórico pelo Ministério da Cultura. Mas isso não foi suficiente para salvá-lo.
O teatro, construído como uma escola pelo portugueses no século 19, foi simplesmente removido da lista monumento de histórico em Abril pelo Ministério da Cultura. "De repente, não havia nenhuma razão histórica para protegê-lo mais. Esta é a única explicação que foi dada. Caso isso não significa a morte do teatro, isso pode realmente ser risível", lamenta o diretor, dramaturgo José Mena Abrantes.
A verdadeira razão é financeira. O bairro inteiro está sendo demolido para construir um parque de estacionamento e edifícios de escritórios, a um custo de dezenas de milhões de dólares, liderada por financistas misteriosos próximos ao regime. Eles estão esperando para receber um rápido retorno do seu dinheiro alugando os imóveis para os bancos ou para as multinacionais petrolíferas americanas, brasileiras ou francesas .
Eles fizeram a matemática. De acordo com a empresa de consultoria Mercer, Luanda é a segunda cidade mais cara do mundo para estrangeiros, depois de Tóquio . O preço dos escritórios está batendo recordes na cidade, onde a renda média mensal de uma da casa para os estrangeiros é de cerca de US $ 20.000.
Desde o boom do petróleo na década de 1990, quando o surto de crescimento de Angola começou (chegando a 15% ao ano durante a década de 2000), Luanda tem sido efervescente com novas construções. Estaleiros, onde operários chineses trabalham dia e noite, são evisceração da cidade. As construções antigas não têm sido capazes de suportar a pressão. "Os angolanos tinham orgulho de viver em uma das mais antigas capitais da África, mas em breve  nada terão para se vangloriar.  Não haverá mais nada velho na cidade", lamenta Abrantes.
Quase debaixo de sua janela passa uma nova estrada de 200 milhões de dólares-litoral, inaugurada em 28 de agosto pelo presidente angolano José Eduardo dos Santos, que está no poder há 33 anos e que foi reeleito em 2012 para mais um mandato. 

Favelas aos arranha-céus
Arranha-céus estão surgindo como cogumelos. Ajudado por tratores ilegais e os cassetetes da polícia, os arranha-céus estão se espalhando para os musseques:  as favelas angolanas, cortiços, sem água ou eletricidade, onde a maioria dos 6-7000 000 habitantes de Luanda vivem. "As autoridades planejam fazer de Luanda, o Dubai de África", diz Claudia Gastrow, um acadêmico de Boston que está a estudar o desenvolvimento da cidade. "Mas não há lógica ou coordenação. O centro da cidade é apenas uma fachada."
A analogia Dubai inclui a construção potencial, como na nação do Golfo, de ilhas artificiais de Luanda.Esta foi a idéia de José Recio, um pneu-mecânico que se tornou um magnata do mercado imobiliário.Seu plano foi bloqueada pelo presidente angolano e do conselho de ministros, mas é tarde demais para o teatro Elinga.
Abrantes, que também é conselheiro do presidente na área de comunicação, fez o possível para usar sua posição para evitar o desastre, mas sem sucesso. Petições não funcionaram, nem a iniciativa privada. O Elinga vai se tornar uma garagem.
Abrantes, de origem Portuguesa, nasceu em Angola em 1945. Estudou em Portugal, de onde saiu no início da década de 1970 para evitar o projecto, que na época era o envio de jovens portugueses a lutar contra os movimentos de independência em sua colônia. Abrantes juntou o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, o partido que governa Angola desde 1975), na Alemanha, sem ser capaz de lutar na guerra da independência. "Eles me disseram: 'Nós não queremos os brancos!" Uma luta silenciosa estava acontecendo no momento em que o MPLA, queria "africanizar" a rebelião.

Guerra civil
Ele voltou para Luanda quando se tornou independente, em 1975. Uma guerra civil estava rasgando o país.
O conflito mortal entre o MPLA, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) continuou até 2002. Durante esse tempo, meio milhão de pessoas morreram e quatro milhões tornaram-se refugiados.
"Não fui a uma guerra, eu só queria fazer teatro", lembra ele. Ele teve de esperar mais de 10 anos, durante o qual fundou a Angop agência oficial de imprensa. Ele acabou sendo demitido por "não-cooperação com a esfera ideológica."
Aliados do governo angolano na época eram soviéticos e cubanos. "Mas a partir de meados dos anos 1980, Dos Santos começou a trabalhar na reforma do sistema. Foi antes da perestroika", diz Abrantes.
Eu escolhi “o teatro , de modo a não ter nada a ver com política", diz ele. Pouco a pouco, o marxismo desapareceu, em favor de uma economia de mercado, com o dinheiro retirado da superfície por uma camarilha de oficiais do Exército, como o general Helder Vieira Dias, chamado de "Kopelina", diretor do Escritório ligeiramente sombrio Nacional de Reconstrução. "Muita gente ficou rica naquela época", mesmo antes do boom do petróleo, diz Abrantes.
José Mena Abrantes é um idealista. Fiel ao Presidente José Eduardo dos Santos, mais do que para o MPLA, ele diz que está convencido de que o presidente tem prestado atenção às vozes dissidentes que foram varrendo a cidade por mais de um ano. "Antes que eles pudessem começar a trabalhar em política social, eles tiveram que reconstruir a infra-estrutura. Mas agora é hora de resolver os problemas sociais." Nas paredes do teatro, você pode ler um pequeno pedaço de grafite: "Este caos está me matando." Foi a morte do teatro.


Todos os direitos reservados © Worldcrunch - em parceria com LE MONDE
Publicado em 2012/10/02 21:53:07
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Nota do Blog: Título adaptado pelo blogueiro