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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

26 fevereiro 2013

TRIBUTO - ODE AO MESTRE ALEXANDRE LANGA


TRIBUTO - ODE AO MESTRE ALEXANDRE LANGA


“Hoyo-hoyo Masseve/ Hoyo-hoyo masseve, hoyo-hoyo masseve/ Ashi rwalo shawu canhi shi cala ngopfu masseve/ Hinga tsama hi lani nitaku rungulissa
Nitaku rungulissa/ Nitaku rungulissa/ A xi nhimu xa wena xa navelissa masseve hinga tsama hi lani niatku rungulissa/ Ni ta rungulissa/ Ni tarunguilissa/Hoyo-hoyo masseve, hoyo.hoyo masseve”. Alexandre Langa


Hoyo-hoyo masseve; Uma nota de boas vindas que insinua o intimismo. É assim que hoje recordamos Alexandre Langa. 
Alexandre Langa nasceu no Chibuto, província de Gaza, no dia 26 de Fevereiro de 1943. Se fosse vivo, completaria agora os seus 70 anos de idade.
A sua paixão pela música expõe-se aos quinze anos, quando na companhia da sua viola, feita de lata de azeite de oliveira, inicia uma brilhante carreira que viria a ser interrompida com a sua morte, em Dezembro de 2003.
Ele ajudou no ganho da consciência nacionalista. Fez canções de luta contra alguns males da sociedade, tais como a prostituição, a candonga, o banditismo, o alcoolismo, a ociosidade e a corrupção.
Muitos consideram-no como um dos maiores guitarristas moçambicanos e um dos melhores compositores da música moçambicana. Em palco, Alexandre Langa, era elegante, grave, fechado, praticamente imóvel, mas muito competente.
Foi parceiro e líder da banda do velho Fany Mpfumo, o Rei da Marrabenta, e é o mais influente dos guitarristas moçambicanos, tendo o seu estilo moldado a música ligeira moçambicana do período pós-independência.
Uma das suas maiores produções discográficas foi o álbum, “Magasso ya Mpfundla”, considerado pela crítica “de uma obra-prima absoluta”. Uma mistura de Marrabenta e Magika e ritmos sul-africanos – onde Alexandre Langa viveu e tocou – impressionante, um álbum perfeito. Com oito grandes músicas. De “Xiguevenga” a “Mpfula”, é um desfile sucessivamente impressionante de músicas brilhantes, com referências à queda do Império de Gaza (“Ngungunhana”), odes à independência do Zimbabwe (“Tinena”), lamentos de misérias sociais (“Madlaya Nhoka”), comentários sobre a guerra civil moçambicana (“Magasso ya Mpfundla”), relatos de violência em ambientes de bebedeira (“Va Bandzanile”), ironias contra a má escolha de parceiros amorosos (“Xiguevenga”), descrições do ambiente e comportamento rural de sua zona de origem, em comparação ao ambiente urbano, quanto às práticas alimentares (“Mpflula”) para além da condenação da incompreensão e descriminação de que eram vítimas os músicos na sociedade moçambicana (“Mugunda”).




Maputo, Quarta-Feira, 27 de Fevereiro de 2013:: Notícias

PÔSTERES DE MOÇAMBIQUE: HISTÓRIA


PÔSTERES DE MOÇAMBIQUE: HISTÓRIA

Em 25 de Junho de 1962, em Dar es Salaam, na Tanzânia, vários indígenas  que faziam parte dos movimentos de libertação de Moçambique uniram-se no único movimento- a  Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique). Depois de uma longa luta Moçambique conquistaram a independência de Portugal em 1975. Sob a liderança da Frelimo marxista-leninista, Moçambique foi posteriormente transformado em uma república de  operários e camponeses.
O Internacional Institute of Social History (IISH)  detém uma bela colecção de cartazes moçambicanos de arquivos do Nederlands Instituut voor Zuidelijk Afrika (Dutch Institute of Southern Africa, NIZA). A propaganda era uma arma importante na luta pela independência, para ganhar apoio dentro e fora de Moçambique. Do final dos anos 1960 em diante, o sector de propaganda da Frelimo (Departamento de Propaganda e Informaςão - DIP) utilizou cartazes políticos como um meio de propaganda. Nos primeiros anos os cartazes às vezes eram um pouco estranho (n º 1), mas graças a artistas talentosos como José Freire, João Craveirinha e Milhafre Agostinho, ao longo dos anos tornaram-se mais sofisticados. Após a independência cartazes políticos permaneceram como importante meio de propaganda e passaram ser produzidos sob a supervisão da Direcςão Nacional de Propaganda e Publicidade (DNPP), mas com os mesmos artistas que produziram os  cartazes anteriores.
Os cartazes pré-1975 enfatizavam a crueldade dos governantes coloniais, os objectivos da luta e a coragem e auto-sacrifício dos combatentes da libertação. Depois da independência, a ênfase deslocou-se para a necessidade de reconstruir e desenvolver o país, sob a orientação da Frelimo e do socialismo. Assuntos frequentes foram a comemoração do Dia da Independência (25 de Junho), visitas de chefes de estado, a homenagem a morte do primeiro presidente da Frelimo Eduardo Mondlane e outros "heróis da luta de libertação", anúncios de congressos da Frelimo, bem como campanhas contra a violência doméstica, doenças venéreas e do analfabetismo, e as campanhas de vacinação e do primeiro censo nacional.
A linguagem visual dos cartazes foi parcialmente derivado da arte de propaganda socialista da União Soviética, Cuba, China e Coréia do Norte, incluindo o uso de símbolos como bandeiras vermelhas, o martelo e enxada (uma variação do martelo e foice), estrelas vermelhas e os punhos cerrados, e do uso de estereótipos socialistas, como os trabalhadores resistentes, soldados, enfermeiros, estudantes e camponeses que marchavam em diante, unidos para um futuro feliz. Mas também a influência da arte do cartaz político ocidental e comercial pode ser detectado no uso de fotomontagem, as modernas técnicas de deslocamento, e o idioma design moderno dos anos sessenta e setenta (n º 8). Os cartazes foram principalmente concebidos por artistas moçambicanos, mas às vezes os estrangeiros também (artistas norte-coreanos, por exemplo): os resultados são imediatamente reconhecíveis por sua composição rígida e estereotipada em branco (n º 10).

Outras leituras:
·         Sahlström Berit . Cartazes políticos na Etiópia e Moçambique. Imagens visuais em um contexto revolucionário. Uppsala 1990 (IISH nr de chamadas.1993/352 fol)

·         Sahlström Berit, António Sopa - Catálogo dos Cartazes de Moςambique, Catálogo de Pôsteres moçambicanos . República Popular de Moςambique, 1988 (IISH nr de chamadas.  2011/3893)

Pôsteres de Moçambique:

Foto 10: Defender a pátria / Combater o  subdesenvolvimento / Construir o socialismo / IV Congresso do Partido Frelimo
(Moçambique, 1983) chamada IISH nr: BG E24/140 


Foto 1:  Na zona ocupada: opressão, na zona liberada: a liberdade (Tanzânia, Maputo, Moçambique, ca 1972) IISH chamada nr: BG D41/590



25 de Abril,1974 Projeto Ricardo Rangel (foto) e José Freire, o Grupo dos Democratas de Moçambique (Moçambique, 1974) chamada IISH nr: BG E9/723




 Dia da Independência de Moçambique, 25 de junho de 1975  Desenho José Freire, DNPP (Moçambique, 1975) chamada IISH nr: BG E9/737




Fundação comemoração do SNASP, 11 de outubro de 1981  Serviço Nacional de Segunça Popular (Moçambique, 1981) chamada IISH nr: BG E35/311






 Primeiro Censo Nacional  Ministério da Informação, Moçambique, DNPP (Moçambique, 1980) chamada IISH nr: BG E9/733




Dia da luta contra a SIDA 



 Dia de comemoração da morte de Eduardo Mondlane (Tanzânia, a Frelimo, 1973) chamada IISH nr: BG D17/472




Visita amigável por Fidel Castro (Moçambique, DNPP, 1977) IISH nr chamada: BG D41/577




 Primeiro Congresso Nacional de Agricultura (Moçambique, 1975) IISH nr chamada: BG D17/480





Temos que planejar a produção para melhorar nossas vidas no caminho para o socialismo! (Moçambique, 1978) chamada IISH nr: BG E35/301





7. III Congresso da Frelimo design José Freire (Moçambique, 1977) IISH chamada nr: BG H2/868





Rovuma - Maputo, 03 de fevereiro de 1975 Desenho José Freire (Moçambique, 1975) chamada IISH nr: BG D17/482




Foto 8: Comemoração da Revolução de Moçambique, 1973  design Agostinho Milhafre (Tanzânia, a Frelimo, 1973) chamada IISH nr: BG D17/463


Comemoração de cinco anos da independência Projeto João Craveirinha (Moçambique, 1980) chamada IISH nr: BG E35/308

22 fevereiro 2013

Líderes tradicionais influenciam resultados eleitorais – estudo

Líderes tradicionais influenciam resultados eleitorais – estudo

Os líderes tradicionais em Moçambique influenciam o sentido do voto e a participação eleitoral nas zonas onde se encontram, indica um estudo do investigador português João Morgado.
“A influência das Autoridades tradicionais no processo eleitoral em Moçambique” é uma investigação de João Morgado que conclui que os líderes exercem uma “forma de poder muito relevante” e capaz de influenciar os resultados eleitorais e mesmo a afluência às urnas durante processos eleitorais.
“O meu estudo indica o impacto que estas autoridades tradicionais têm nas áreas de influência da Frelimo, mas é muito provável que a mesma coisa se passe em áreas de influência da Renamo. São pessoas que são muitas vezes a única autoridade em muitas localidades”, disse à Lusa o economista João Morgado, da Universidade Nova de Lisboa.
A investigação incide sobre 161 localidades nas regiões de Gaza, Maputo, Cabo Delgado e Zambeze, e estudou 1.154 líderes tradicionais com “poder muito significante em áreas onde não há estradas nem serviços públicos”. A Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), depois da independência, em 1975, decidiu banir as autoridades tradicionais porque considerava estarem ligadas às autoridades coloniais portuguesas que as utilizavam, nas áreas rurais, para a coleta de impostos e para o recrutamento de mão-de-obra. “Por esse motivo, a Frelimo decidiu ilegalizá-los e substitui-los por uma entidade mais integrada no espírito de Estado socialista que eles queriam montar e que se chamavam Grupos Dinamizadores”.
“Isto não resultou bem e os líderes tradicionais nunca deixaram de existir e quando começa a guerra civil, a Renamo começa a utilizar, nas áreas que começa a controlar, os líderes tradicionais, partindo do descontentamento por terem sido ilegalizados como base de apoio”, explica o investigador.
Depois dos acordos de Roma, em 1992, a Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) ainda estava bastante associada aos líderes tradicionais, mas a Frelimo acaba por mudar de posição sobre os líderes tradicionais em 1995, adianta o investigador. “O então presidente Chissano, após uma reunião com líderes tradicionais, diz à imprensa que os líderes tradicionais existem e logo depois é aprovado um decreto-lei que restitui parte dos poderes com a atribuição de um subsídio pela ajuda na coleta de impostos”, diz João Morgado. O estudo indica também os poderes de facto dos líderes tradicionais em localidades isoladas, onde, entre outros, existe inclusivamente a possibilidade de alocação de terras. “No contexto atual, o líder tradicional pode ser um ex-combatente, quer da luta pela libertação quer da guerra civil, e o sistema de nomeação pode variar de região para região, mas, na maior parte das vezes, é dinástico. Noutras regiões, são simplesmente apontados por serem uma pessoa com mais idade, um veterano, e às vezes pode até dar-se o caso de serem apontados por influência política, quer pela Frelimo quer pela Renamo”, refere o autor do estudo, que sublinha que em Moçambique não há partidos étnicos mas sim formações políticas nacionais. A tese de João Morgado vai ser apresentada na quinta-feira na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. As eleições autárquicas em Moçambique realizam-se este ano e as eleições gerais em 2014.
LUSA – 21.02.2013

Diamantes de Sangue: Carta ao presidente de Angola

Diamantes de Sangue: Carta ao presidente de Angola
Pretória (Canalmoz) – O defensor dos direitos humanos Rafael Marques endereçou, a 15 de Fevereiro passado, uma carta ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, denunciando a denegação de justiça por parte da Procuradoria-Geral da República em investigar os casos de assassinatos e tortura nas zonas diamantíferas das Lundas.
Nove generais encontram-se entre os denunciados como os autores morais de centenas de crimes de tortura e homicídio. Os generais são accionistas da Sociedade Mineira do Cuango e da empresa privada de segurança Teleservice.
O general Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente, lidera o grupo de oficiais generais. Do grupo constam o inspector-geral do Estado-Maior General das FAA, Carlos Alberto Hendrick Vaal da Silva; o chefe da Direcção Principal de Preparação de Tropas e Ensino das FAA , Adriano Makevela Mackenzie; o governador de Benguela, Armando da Cruz Neto; o deputado do MPLA, António dos Santos França “Ndalu”; bem como os generais inactivos João Baptista de Matos, Luís Pereira Faceira; António Pereira Faceira, António Emílio Faceira e Paulo Pfluger Barreto Lara.
A petição, dirigida a José Eduardo dos Santos, na qualidade de mais alto magistrado da Nação, apela à investigação imparcial dos casos denunciados, e lembra que os casos de crime de homicídio, à luz da legislação angolana, nunca se encerram, “ficando sempre pendente de investigação ou a aguardar melhor prova.”
Os casos denunciados fazem parte do livro Diamantes de Sangue: Tortura e Corrupção em Angola, de Rafael Marques, publicado em Portugal, em 2011. Dois meses após o seu lançamento, o autor apresentou, em Novembro de 2011, uma queixa-crime contra os generais.
A Procuradoria-Geral da República arquivou o caso após uma investigação preliminar, em que ouviu apenas quatro vítimas e testemunhas, das dezenas que deveria ter ouvido.
Recentemente, o Ministério Público português arquivou um processo de difamação e injúria contra Rafael Marques e a editora do livro, Tinta da China, interposto pelos referidos generais. As autoridades portuguesas consideraram que a publicação da obra se encontra protegida pelos direitos de liberdade de expressão e informação.
A carta entregue a José Eduardo dos Santos a semana passada é apenas a última de várias tentativas para levar as autoridades angolanas a investigar as graves violações de direitos humanos nas Lundas. A 9 de Janeiro, uma delegação de altas autoridades tradicionais das Lundas deslocou-se a Luanda, para entregar uma petição ao Procurador-Geral da República, General João Maria Moreira de Sousa, denunciando a violação sistemática dos direitos humanos nas suas comunidades e apelando à reabertura do inquérito preliminar.
De forma extraordinária, o gabinete do Procurador-Geral recorreu a uma falsa notícia, publicada no semanário O Continente, para emitir um comunicado contra Rafael Marques e publicamente revelar que não reabriria o inquérito, apesar da diligência dos sobas.
“Quando a Procuradoria-Geral da República, um órgão com a função de zelar pela legalidade usa um ardil tão baixo, como o de uma falsa notícia, para se pronunciar através da comunicação social do Estado, bem podemos aferir a falta de responsabilidade e sensatez de quem a dirige. É simplesmente ridículo”, disse Rafael Marques. (Maka Angola , Fevereiro 21, 2013)



19 fevereiro 2013

ARTES - "NA MÃO DE DEUS" DE PAULINA CHIZIANE ADAPTADA PARA O CINEMA


ARTES - "NA MÃO DE DEUS" DE PAULINA CHIZIANE ADAPTADA PARA O CINEMA
Paulina Chiziane


Um documentário sobre a vida e obra da escritora moçambicana, Paulina Chiziane vai ser rodado em Maputo, numa iniciativa do jovem cineasta, Aldino Languana.

O documentário terá como base a mais recente obra literária da escritora, intitulada “Na mão de Deus”, editado ano passado, na qual aborda a questão de espiritismo.
"Na mão de Deus", evoca a experiência da autora durante um internamento numa psiquiatria.
Através do relato da personagem Alice, a autora descreve o que lhe aconteceu durante a semana em que esteve internada numa ala psiquiátrica, em 2010, evocando todo o drama que diz ter vivido, desde as perturbações físicas e psíquicas, a “visões e vozes de entidades espirituais que se manifestavam de diferentes formas”.
O facto, segundo a própria escritora descreve numa entrevista que recentemente concedeu à agência Lusa, despertou-lhe para a mediunidade.
"Não existe margem nenhuma entre a Alice e a Paulina Chiziane porque fui eu que fiquei doente, tive um transtorno mental, baixei na psiquiatria uma semana", disse a escritora à Lusa.
A família, que a acompanhou no tratamento da doença, diz, nunca percebeu que se tratava do "despertar da mediunidade", fenómeno que é descrito à Lusa como "a capacidade de se estar num meio entre os planos físicos e extra físico", pela co-autora da obra, Maria do Carmo da Silva, uma médium e estudante de espiritismo.
"A minha família está ligada à cultura ocidental e como todas as famílias julga-se superior. Entretanto, elas não têm capacidade para gerir o invisível que é muito bem gerido pelas tradições africanas e asiáticas, algumas delas, e pelo espiritismo", defende Paulina Chiziane.
"O que pude constatar é que, com a minha doença, eu encontrei respostas muito positivas tanto na esfera tradicional, como tive assistência também do espiritismo", afirma.
Mas durante dois anos, a mulher escritora mais lida e traduzida de Moçambique optou pelo silêncio.
"A omissão tem a ver com o estigma social, que vem da religião cristã. Das tradições africanas nem tanto, porque sabem como lidar com este tipo de problemas. As tradições cristãs, a cultura ocidental onde tudo é palpável, tem que ser visível. Então, quando aparece uma doença causada pelo invisível, então a igreja vem dizer que não", afirma.
De resto, a autora de obras como "A balada de Amor ao Vento" ou "O Alegre Canto da Perdiz", acredita que, neste campo "não há mais esclarecidos".
"Acho que a cultura ocidental é menos esclarecida do que a africana neste campo. Quando um padre, por exemplo, diz que ele sabe, abençoa e que faz, o que é que ele está a fazer? Será que o que ele faz é superior ao que os nossos antepassados faziam?", questiona.
Paulina Chiziane acredita que "o caso da doença levanta todos os aspectos de cultura e tradição desde os tempos mais antigos: se foi o próprio Deus que criou a multiplicidade, porque a expressão divina não pode ser múltipla? Eu sou negra, sou africana, de uma terra lá de Manjacaze (sul de Moçambique). Eu para chegar a Deus não preciso da cultura de outro, porque Deus está em mim".
E, defende, "cada indivíduo deve ter a sua maneira individual, cultural de encontrar o supremo".
"Por que é que tenho que ficar presa a dogmas criados por tantas outras culturas? Temos que nos libertar. Eu rejeito a ideia de um Deus que vem da mão do ocidente. E a minha descrição toda caminha nesse sentido", afirma.


SAMORA O PROFETA” EM PREPARAÇÃO

Entretanto, Aldino Languana vencedor em 2010 do programa DOCTV CPLP com o filme “Timbila e Marimba Chope”, têm no prelo o documentário “Samora o Profeta”, o qual revive as ideias e a visão do primeiro Presidente de Moçambique.
A película reacende as ideias e a visão de Samora Machel sobre o futuro de Moçambique, procurando fazer a ponte entre o passado, presente e futuro do país.
“Samora Machel era um visionário e nalgum momento da sua vida e de governação falou das coisas que hoje estão a acontecer no país”, recorda Aldino Languana.
O documentário também vai revisitar a participação de Samora Machel no processo de luta de libertação nacional.
Para a produção do documentário, Aldino Languana recorreu a vários arquivos, entrevistas a individualidades da vida política, académicos, e cidadãos anónimos para deles obter testemunhos sobre a figura de Samora Machel. Nestes testemunhos recorreu também a algumas imagens do jornal cinematográfico Kuxa Kanema, produzido nos primórdios da independência do país pelo Instituto Nacional do Cinema (INC), incluindo algumas gravações de discursos.
Maputo, Quarta-Feira, 20 de Fevereiro de 2013:: Notícias


"OPERAÇÃO ALBATRÓS" - CAPACETES AZUIS ITALIANOS EM MOÇAMBIQUE(1993/4) (VIDEO)




VEJA AQUI ESTE DOCUMENTÁRIO DA RAI SOBRE A PRESENÇA ITALIANA EM MOÇAMBIQUE NA SEQUÊNCIA DO ACORDO GERAL  DE PAZ EM 1992.


CLICK NA FIGURA PARA INICIAR O VIDEO.


18 fevereiro 2013

MALI: ANÁLISE DE SAMIR AMIN


MALI: ANÁLISE DE SAMIR AMIN
A intervenção francesa no Mali suscitou entre progressistas e anti-imperialistas posições, por vezes, contraditórias. Este texto, vindo de um militante anti-imperialista e terceiro-mundista incontestável, constitui um contributo importante para o debate. Coloca a intervenção francesa no quadro da geopolítica mundial.

Eu sou daqueles que, por princípio, condenam qualquer intervenção militar das potências ocidentais nos países do Sul, dado que estas intervenções estão, por natureza, submetidas às exigências da alargamento do controlo do Planeta pelo capital dos monopólios que dominam o sistema.
A intervenção francesa no Mali é uma exceção à regra?
Sim e não.
É por essa razão que eu apelo a que seja apoiada, sem  minimamente pensar, todavia, que ela irá trazer a resposta necessária à contínua degradação das condições políticas, sociais e económicas não apenas do Mali, mas do conjunto dos países da região, que é ela própria o produto das políticas de extensão do capitalismo dos monopólios da tríade imperialista (Estados Unidos, Europa, Japão), sempre em ação, tal como é ela que está na origem da implantação do Islão político na região.

O Islão político reacionário, inimigo dos povos concernentes e aliado maior das estratégias da tríade imperialista
O Islão político - para lá da variedade aparente das suas expressões - não é um «movimento de renascimento da fé religiosa» (quer esta agrade ou não), mas uma força política arqui-reacionária que condena os povos que são vítimas eventuais do exercício do seu poder, à regressão em todos os planos, tornando-os por essa via incapazes de responder positivamente aos desafios com que são confrontados.  Este poder não constitui um travão à prossecução do processo de degradação e de empobrecimento em curso há três décadas. Pelo contrário, acentua-lhe o movimento de que ele próprio se alimenta.
Essa é a razão fundamental pela qual as potências da tríade - tal como são e permanecem - veem nele um aliado estratégico. O apoio sistemático dado por essas potências ao Islão político reacionário foi e continua a ser uma das principais razões dos «sucessos» que ele registou: os Talibãs do Afeganistão, o FIS (Frente Islâmica de Salvação) na Argélia, os «Islamitas» na Somália e no Sudão, os da Turquia, do Egito, da Tunísia e, além disso, beneficiaram todos deste apoio num momento decisivo da sua tomada do poder local. Nenhuma das componentes ditas moderadas do Islão político se demarcou nunca verdadeiramente dos autores de atos terroristas das suas componentes ditas «salafistas». Todas beneficiaram e continuam a beneficiar do «exílio» nos países do Golfo, quando é necessário. Ontem na Líbia, na Síria ainda hoje, elas continuam a ser apoiados por estas mesmas potências da tríade.  Ao mesmo tempo, as extorsões e os crimes que cometem estão perfeitamente integrados no discurso de acompanhamento da estratégia fundada no seu apoio: permitem dar credibilidade à tese de «uma guerra de civilizações» que facilita  a união «consensual» dos povos da tríade ao projeto global do capitalismo dos monopólios. Os dois discursos - a democracia e a guerra terrorista - completam-se mutuamente nesta estratégia.
É preciso uma boa dose de ingenuidade para acreditar que o Islão político de alguns - qualificado de «moderado» - poderia ser dissolvido na democracia. É verdade que há partilha de tarefas entre estes e os «salafistas» que os ultrapassariam, diz-se, com uma falsa ingenuidade pelos seus excessos fanáticos, criminosos, até mesmo terroristas. Mas o seu projeto é comum - uma teocracia arcaica por definição nos antípodas da democracia mesmo minimal.

O Sahelistão, um projeto ao serviço de que interesses ?
De Gaulle tinha acariciado o projeto de um «Grande Sahara francês». Mas a tenacidade da “Frente de libertação nacional” (FLN) argelina e a radicalização do Mali e da União Sudanesa de Modibo Keita fez falhar definitivamente o projeto a partir de 1962-1963. Se porventura existem ainda em Paris alguns nostálgicos do projeto, creio que não estão em condições de convencer os políticos dotados de uma inteligência normal da possibilidade de o ressuscitar.
De facto, o projeto do Sahelistão não é o da França - apesar de Sarkozy se lhe ter juntado. É eventualmente o da nebulosa constituída pelo Islão político em questão e beneficia do olhar eventualmente favorável dos Estados Unidos e, na sua senda, dos seus apoiantes na União europeia (que não existe) - a Grã-Bretanha e a Alemanha.
O Sahelistão « islâmico » permitiria a criação de um grande  Estado que cobriria uma boa parte do Sahara maliano, mauritano nigeriano e argelino dotado de grandes recursos minerais: urânio, petróleo e gás. Este recursos não seriam abertos principalmente à França, mas em primeiro lugar às potências dominantes da tríade. Este «reino» à imagem do que é a Arábia saudita e os Emirados do Golfo, poderia facilmente «comprar» o apoio da sua escassa população e os seus emires podiam transformar em fabulosas fortunas pessoais, a fração da renda que lhes seria deixada.  O Golfo, continua a ser, para as potências da tríade, o modelo de melhor aliado/servidor útil, apesar do caráter ferozmente arcaico e esclavagista da sua gestão social - eu diria, graças a esse caráter. Os poderes estabelecidos no Sahelistão abster-se-iam de prosseguir ações terroristas no seu território sem, no entanto, se coibirem de as apoiar eventualmente noutros lugares.
A França, que tinha conseguido salvaguardar do projeto do « Grande Sahara » o controlo do Níger e do seu  urânio, passaria a ocupar apenas um lugar secundária no Sahelistão.
E acontece que F. Hollande – honra lhe seja feita – o compreendeu  e recusou. Não devíamos admirar-nos de ver que a intervenção que ele decidiu foi imediatamente apoiada por Argel e alguns outros países não classificados, no entanto, por Paris como «amigos». O poder argelino demonstrou a sua perfeita lucidez: ele sabe que o objetivo do Sahelistão visa também o Sul da Argélia e não apenas o Norte do Mali. Aliás, não nos deveríamos espantar que «os aliados da França» - os Estados Unidos, a Inglaterra, a Alemanha, para já não falar da Arábia Saudita e do Qatar - que são, na verdade, hostis a esta intervenção - tenham aparentemente aceitado a decisão de F. Hollande, só porque foram postos perante o facto consumado.  Mas não ficariam nada descontentes se vissem a operação estagnar e falhar. Isso dar-lhes-ia força para retomar o projeto do Sahelistão.

Ganhar a guerra do Sahara
Por isso, eu sou daqueles que desejam e esperam que a guerra do Sahara seja ganha, que estes Islamitas sejam erradicados da região (do Mali e da Argélia em particular) e que as fronteiras do Mali sejam restabelecidas. Esta vitória é a condição necessária incontornável, mas está longe de ser a condição suficiente, para uma posterior reconstrução  do Estado e da sociedade do Mali.
Esta guerra será longa, dispendiosa e penosa e o seu fim continua incerto. A vitória exige que se reúnam certas condições. Seria, efetivamente, necessário que as forças armadas francesas não abandonassem o terreno antes da vitória, mas também que um exército maliano digno deste nome seja rapidamente reconstituído. Porque é preciso garantir que não é a intervenção militar dos outros países africanos a garantir a vitória.
A reconstrução do exército maliano é, no entanto, possível. O Mali de Modibo tinha conseguido formar um exército competente e dedicado à nação, suficiente para dissuadir os agressores como são hoje os Islamitas de AQMI (Al Qaeda no Magrebe Islâmico). Este exército foi sistematicamente destruído pela ditadura de Moussa Traoré e não foi reconstruído pelos seus sucessores. Mas como o povo maliano tem plena consciência de que o seu país tem o dever de estar armado, a reconstrução do exército beneficia de um terreno favorável. O obstáculo é financeiro: recrutar milhares de soldados e equipá-los não está ao alcance dos atuais meios do país e nem os Estados africanos nem a ONU consentirão em ultrapassar esta miséria.  A França tem que entender que o único meio que permitirá a vitória obriga-a a fazer isso. A estagnação o e a derrota não seriam apenas uma catástrofe para os povos africanos, mas sê-lo-iam também para a França. A vitória constituiria um meio importante para restaurar o lugar da França no concerto das nações, até para além da Europa.

Não há muito a esperar dos países da CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental). Os guardas pretorianos da maior parte destes países têm um exército apenas de nome. É verdade que a Nigéria dispõe de forças numerosas e equipadas, mas infelizmente pouco disciplinadas, é o mínimo que se pode dizer; e muitos dos seus oficiais superiores perseguem como único objectivo a pilhagem das regiões em que intervêm. O Senegal também dispõe de uma força militar competente e além disso disciplinada, mas pequena, à escala do país. Mais longe, em África, Angola e a África do Sul podiam dar alguns apoios eficazes; mas o seu afastamento geográfico, e talvez outras considerações, fazem correr o risco de não verem interesse nisso. Um empenhamento da França, firme, determinado e com a duração necessária, implica que a diplomacia de Paris entenda que é necessário tomar as devidas distâncias dos seus parceiros da NATO e da Europa. Esta partida está longe de estar ganha e nada indica, de momento, que  o governo de F. Hollande seja capaz de o ousar.

Ganhar a batalha diplomática
O conflito visível entre os honrosos objetivos da intervenção francesa no Mali e a prossecução da atual linha diplomática de Paris acabará rapidamente por ser intolerável. A França não pode combater os «Islamitas» em Tomboctu e apoiá-los em Alep!
A diplomacia francesa, ligada à NATO e à União europeia, partilha a responsabilidade dos seus aliados nos sucessos do Islão político reacionário. Ela provou-o de forma evidente na aventura líbia cujo resultado foi (e isso era previsível e certamente desejado, pelo menos por Washington) não para libertar o povo líbio de Kadhafi (um palhaço mais que um ditador), mas destruir a Líbia, que se tornou terra de operação dos senhores da guerra, diretamente na origem do reforço de AQMI no Mali.
Esta hidra do Islão político reacionário tanto recruta nos meios do grande banditismo como nos fanáticos de Deus. Para lá da «Jihad», os seus emires - que se autoproclamam defensores intransigentes da fé - enriquecem com o tráfico de droga (os Talibãs, o AQMI), de armas (os senhores da guerra líbios), da prostituição (os Kosovars).
Ora a diplomacia até hoje tem apoiado os mesmos, na Síria, por exemplo. Os media franceses dão crédito aos comunicados do pretenso Observatório Sírio dos Direitos do Homem, um laboratório conhecido por ser o da Irmandade  Muçulmana, fundado por Ryad El Maleh, apoiado pela CIA e pelos serviços britânicos. O mesmo é dar crédito aos comunicados de Ansar Eddine!  A França tolera que a designada «Coligação Nacional das Forças da Oposição e da Revolução» seja presidida pelo Cheikh Ahmad El Khatib escolhido por Washington, Irmão Muçulmano e autor do incêndio do bairro Douma em Damasco.
Eu ficaria surpreendido (mas a surpresa seria agradável) se F. Hollande ousasse dar um murro na mesa, como De Gaulle o tinha feito (sair da NATO, praticar na Europa a política da cadeira vazia). Não se lhe pede para fazer tanto, mas apenas para infletir as suas relações diplomáticas no sentido exigido para prosseguir a ação no Mali, para compreender que a França conta com mais adversários no campo dos seus «aliados» que no dos seus «inimigos»! Não seria a primeira vez que isso acontecia quando dois campos se confrontam no terreno diplomático.

Reconstruir o Mali
A reconstrução do Mali não pode ser obra apenas dos Malianos. Mais uma vez seria desejável ajudá-los em vez de erguer barreiras que tornam impossível essa reconstrução.
As ambições «coloniais» francesas - fazer do Mali um Estado cliente à imagem de alguns outros na região - talvez não estejam ausentes de certos responsáveis pela política maliana de Paris. A Françáfrica encontra sempre os seus porta-vozes, mas não constituem um perigo real, ainda menos maior. Um Mali reconstruído saberá também afirmar - ou reafirmar - rapidamente a sua independência. Em contrapartida, um Mali saqueado pelo Islão político reacionário seria incapaz, antes que passasse muito tempo, de conseguir um lugar honroso no tabuleiro regional e mundial. Como a Somália, arriscar-se-ia a ser riscado da lista dos estados soberanos dignos desse nome. 
O Mali tinha feito, na época de Modibo, avanços no sentido do progresso económico e social bem como da sua afirmação independente e da unidade das suas componentes étnicas.
A União Sudanesa tinha conseguido unificar numa mesma nação os Bambara do Sul, os pescadores Bozo, os camponeses Songhai e os Bella do vale do Níger, desde Mopti até Ansongo (esquece-se hoje que a maioria dos habitantes do Mali não é constituída pelos Tuaregues), e até fazer aceitar aos Tuaregues a libertação dos seus servos Bella. Acontece que por falta de meios - e de vontade após a queda de Modibo - os governos de Bamako, a seguir, sacrificaram  os projetos de desenvolvimento do Norte. Algumas reivindicações dos Tuaregues são, por este facto, perfeitamente legítimas.  Argel, que preconiza distinguir na rebelião dos Tuaregues (doravante marginalizados), com os quais é preciso discutir, Jihadistas vindos de outros lados - muitas vezes perfeitamente racistas relativamente aos «Negros» - dá prova de lucidez neste aspeto.
Os limites das realizações do Mali de Modibo, mas também a hostilidade das potências ocidentais (e da França em particular), estão na origem da deriva do projeto e finalmente do sucesso do odioso  golpe de estado de Moussa Traoré (apoiado até ao fim por Paris) cuja ditadura é responsável pela decomposição da sociedade maliana, do seu empobrecimento e da sua impotência. O poderoso movimento de revolta do povo maliano que surgiu, à custa de dezenas de milhar de vítimas, para derrubar a ditadura, tinha alimentado grandes esperanças de renascimento do país. estas esperanças foram defraudadas. Porquê?

O povo do Mali beneficia, desde a queda de Moussa Traoré, de liberdades democráticas sem paralelo. Contudo isso parece não ter servido para nada: centenas de partidos fantasma sem programa, parlamentares impotentes, corrupção generalizada. Analistas de espírito nem sempre livre de preconceitos racistas apressam-se a concluir que este povo (como os Africanos em geral) não está maduro para a democracia! Finge-se ignorar que a vitória das lutas do povo do Mali coincidiu com a ofensiva «neoliberal» que impôs a este país extremamente fragilizado um modelo de lumpen-desenvolvimento preconizado pelo Banco mundial e apoiado pela Europa e a França, gerador da regressão social e económica e do empobrecimento sem limites. São estas políticas as responsáveis máximas da falência da democracia, descredibilizada. Esta involução criou aqui, como noutros lugares, um terreno favorável ao crescimento da influência do Islão político reacionário (financiado pelo Golfo) não apenas no Norte capturado a seguir pelo AQMI, mas também em Bamako
A decrepitude do Estado maliano que daí resultou está na origem da crise que conduziu à destituição do presidente Amani Toumni Touré (refugiado depois no Senegal), ao golpe de Estado irrefletido de Sanogho e depois à tutela do Mali pela «nomeação» de um Presidente «provisório» - dito de transição- pela CEDEAO, cuja presidência é exercida pelo presidente da Costa de Marfim A. Ouattara que nunca foi senão um funcionário do FMI e do Ministério francês da cooperação.
É este Presidente cuja legitimidade aparece aos olhos dos malianos como nula, que faz apelo à intervenção francesa. Este facto enfraquece consideravelmente a força do argumento de Paris embora seja diplomaticamente impecável: que Paris respondeu ao apelo do Chefe de Estado «legítimo» de um país amigo. Mas então em que é que o apelo do chefe de Estado Sírio - incontestavelmente não menos legítimo - ao apoio do Irão e da Rússia é «inaceitável»? Cabe a Paris corrigir esta tirada e rever a sua linguagem.
Mas sobretudo a reconstrução do Mali passa doravante pela rejeição pura e simples das «soluções « liberais que estão na origem de todos os seus problemas. Ora, neste ponto, é fundamental que os conceitos de Paris permaneçam os mesmos que correm em Washington, Londres e Berlim. Os conceitos de «ajuda ao desenvolvimento» de Paris não saem das litanias liberais dominantes  [4].  Nada mais. A França, mesmo que ganhe a batalha do Sahara - o que eu desejo - fica mal colocada para contribuir para a reconstrução do Mali. O fracasso, certamente, permitiria então que os falsos amigos da França se vingassem.
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NOTAS
Com a preocupação de conservar, neste artigo, a sua brevidade e a sua centralidade apenas sobre a questão do Mali, afastei desenvolvimentos  das questões maiores adjacentes, reduzidas a indicações em nota de rodapé, evitando assim longas digressões.
O artigo não trata da agressão d’In Amenas.
Os Argelinos sabiam que, se ganharam a guerra maior contra o projeto do Estado Islamita do FIS (na altura, apoiado pelas potências ocidentais em nome da «democracia»!), o combate contra a hidra continua permanente, a travar em duas frentes: a segurança, a prossecução do progresso social que é o único meio de estancar o terreno de recrutamento dos movimentos ditos islamitas. Evidentemente que o assassinato de reféns americanos e britânicos obriga Washington e Londres a compreender melhor  que Argel agiu como precisava: nenhuma negociação é possível com matadores.  Infelizmente não creio que, a longo prazo,  este «erro» dos terrorista faça infletir o apoio dos Estados Unidos e da Inglaterra para o que eles continuam a chamar o Islão político «moderado».
Tradução:  Maria José Cartaxo