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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

09 abril 2013

FORA DOS PALCOS - “BONS RAPAZES” NA TERNURA DOS 30

FORA DOS PALCOS - “BONS RAPAZES” NA TERNURA DOS 30

A banda Ghorwane - “bons rapazes” - celebra a 10 de Maio próximo, 30 nos de existência. São três décadas de um percurso marcado pelo activismo cívico e pela consciência crítica. Com efeito, os Ghorwane afirmaram-se contra a estagnação artística do panorama artístico moçambicano, cantando em diversos linguas nacionais.

A banda tornou-se um agrupamento único ao criar um estilo musical próprio, baseado em vários ritmos tradicionais moçambicanos, acompanhados por letras com um alto teor de crítica social.
Em 1986, os Ghorwane gravaram uma série de canções de contestação à guerra que grassava o país, de entre elas, o tema “Massotcha” que ganharia amplo destaque nas tabelas de vendas, ao lado de bandas sul-africanas como os PJ. Powers e os Stimela. Conseguido algum destaque junto dos admiradores da World Music, viriam a ser convidados por Peter Gabriel para tocarem no certame WOMAD, em 1990. É durante esse festival que a etiqueta Realworld, de Gabriel, lhes sugere a gravação do CD. “Majurugenta”.
Em 1994, os Ghorwane escrevem a música da série “Não É Preciso Empurrar”, sob a direcção artística de Karen Boswell e com textos de outro nome grande da cultura moçambicana, o escritor Mia Couto. A série educativa conheceria grande sucesso e estabeleceria definitivamente os Ghorwane como um dos projectos mais relevantes da música moçambicana. Mantendo uma agenda de espectáculos bastante preenchida, a banda não deixou de manter uma certa regularidade nas gravações de estúdio. Em 2000, na sequência das dramáticas cheias que assolaram o território moçambicano, os Ghorwane integram o projecto “Mozambique Relief”, com o intuito de produzir um CD cujas receitas de vendas beneficiariam as vítimas da catástrofe. Em 2005, a banda gravou um álbum de homenagem ao saxofonista e compositor Zeca Alage, morto em 1993.
Entretanto, para celebrar os 30 anos de existência, o Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM) irá acolher no dia 10 de Maio, o primeiro de uma série de eventos comemorativos que se realizarão entre Maio e Dezembro do corrente ano.
DISCOGRAFIA
1993, Majurugenta
1994, Não é preciso empurrar
1997, Kudumba
2000, Mozambique Relief
2005, Vana-Va-Ndota



Maputo, Quarta-Feira, 10 de Abril de 2013:: Notícias

04 abril 2013

CONFRONTO ENTRE A RENAMO E AS FORÇAS DE INTERVENÇÃO RÁPIDA MUXUNGUE EM PÉ DE GUERRA


CONFRONTO ENTRE A RENAMO E AS FORÇAS DE INTERVENÇÃO RÁPIDA

MUXUNGUE EM PÉ DE GUERRA 

Há informação de fontes hospitalares que indicam haver quatro agentes da Polícia mortos 13 agentes da polícia feridos e uma senhora civil ferida. Todos deram entrada no hospital local, segundo fontes hospitalares não autorizadas a falar a Imprensa

No hospital local a reportagem do Canalmoz viu na sala de tratamentos oito agentes da Polícia fardados que estão a receber tratamento com sinais de ferimentos graves. Entrevistados, disseram que foram atacados pela Renamo.

Na vila, a população está a abandonar em debandada as suas residências. Não há comércio nem outra actividade desde ontem. As escolas estão fechadas. 




Muxungue (Canalmoz) – Um ataque conduzido pelos agentes da Força de Intervenção Rápida (FIR) à sede da Renamo no posto administrativo de Muxungue, distrito de Chibabava, em Sofala, está a degenerar em situação de conflito armado. Desde a madrugada de ontem (quarta-feira) que a FIR atacou a sede da Renamo onde alega-se que estavam reunidas dezenas de pessoas, a vida em Muxungue deixou de ser normal.
A Reportagem do Canalmoz estacionada em Muxungue descreve a realidade no terreno que é caracterizada por medo, boatos e falta de informação oficial por parte das autoridades. As autoridades não falam. Por exemplo, no hospital local onde estão a ser assistidos agentes da Polícia feridos, esta manhã de quinta-feira esteve a equipa do Canalmoz que foi recomendada a contactar o administrador distrital para qualquer informação que queira apurar.
Sem informação oficial, só se houve o que contam as populações locais, os que ainda estão na vila, pois a maioria já abandonou as suas casas em busca de refúgios em locais seguros. 
Há também versão não conformada de que os polícias feridos e mortos foram vítimas de tiros da própria corporação, mas até aqui tudo não passa de suposições. A verdade custa apurar pois neste momento Muxungue está sitiado. Andar pela pequena cidade é perigo eminente de ser atingido pelos tiros.

 Ataque de quarta-feira
O que a população diz ter acontecido é que agentes da Força de Intervenção Rápida atacaram nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira a sede da Renamo no bairro de Mutongoti onde encontravam se membros do partido. A FIR entrou a disparar para matar sem razão aparente tendo inclusive morto uma senhora que nem era membro da
Renamo mas que se encontrava nas imediações.
Cerca de oito pessoas contraíram ferimentos graves sendo que parte delas foi transferida para o Hospital Central da Beira, na Capital de Sofala. Segundo relatos há mais de uma dezena de membros da Renamo detidos pela polícia. Todas as pessoas que falaram para o Canalmoz estão convictas de que “foi um ataque da FIR a homens civis que sempre trabalharam na sede da Renamo. A população diz que é a FIR que começou com a violência.
Segundo contaram ao Canalmoz as fontes, há dias que a FIR chegou em Muxungue e “está a semear medo e terror”. “Pessoas são violentamente espancadas por falta de Bilhetes de Identidade. Até arrancam dinheiro e bens das pessoas” contou-nos uma jovem que trabalha numa das inúmeras barracas da pequena, mas movimentada cidade localizada junto a Estrada Nacional Número 1 (N1).


Ambiente de guerra




Depois do ataque da FIR instalou-se um verdadeiro ambiente de zona de combate na vila do Muxungue. Os habitantes da vila estão desesperadamente a deixar seus bens fugindo para Chibabava, sede do distrito. Durante todo o dia ontem, quarta-feira, não havia corrente eléctrica e as redes de telefonia móvel eram constantemente interrompidas em Muxungue. As comunicações foram restabelecidas durante a noite de ontem. Muxungue está irreconhecível. Os camionistas não estacionam na vila por causa do medo de serem alvejados.
A reportagem do Canalmoz está no terreno e testemunhou a transformação quase que repentina da movimentada vila de Muxungue numa vila fantasma. Quase todos os estabelecimentos nocturnos fecharam durante a noite. Até as bombas da BP que ali funcionam tiveram que fechar mais cedo.
“A população está com medo da FIR” disse-nos um funcionário da BP que se encontrava a encerrar as bombas a recusar abastecer viaturas.
O Canalmoz conversou com um professor da Escola Primária Completa de Mucolocoche onde estudam mais de 600 alunos e confirmou-nos que ninguém foi à escol na quarta-feira. As pessoas estão aterrorizadas com a acção da FIR que segundo contam-nos terá a resposta violenta da Renamo. 

Situação na quinta-feira

Pela madrugada da quinta-feira voltou a se ouvir tiros na pequena cidade. A partir de 3h40 minutos ouviam-se disparos de armas de guerra, pesadas e ligeiras. Os disparos pararam cerca de 4 horas.

Mortos e feridos no hospital


A reportagem do Canalmoz deslocou-se ao hospital local onde apurou de fontes hospitalares terem dado entrada quatro mortos e 13 feridos, todos agentes da FIR. Imagens captadas pelo Canalmoz no local mostram feridos em tratamento na unidade sanitária.
Ninguém sabe como os polícias teriam sido alvejados. Ninguém fala de ataque da Renamo, mas a verdade é que há estes mortos e feridos. Os polícias feridos em tratamento disseram que foram atacados pela Renamo.

 “É tudo mentira”

Contactado o inspector da Polícia e porta-voz do Comando Geral da polícia Pedro Cossa, disse que não houve nenhum ataque em Muxungue. “Isso é mentira. Esses teus colegas que estão em Muxungue estão a mentir”, disse Pedro Cossa. Mesmo após informa-lo que o Canalmoz dispõe de imagens que retratam a situação, Pedro Cossa insistiu que é “tudo mentitra”.
“Se o senhor telefonou para mim para saber a verdade, diga que isso é mentira”, disse e desligou o telemóvel. 

Versão da Renamo

Contactado o General da Renamo que está em Maputo, Hermínio Morais, disse que da parte do seu partido não houve ordens para atacar a polícia, nem para ripostar o ataque da FIR. 
Desconhece-se como os polícias estão feridos e outros mortos. 

Camião carregado de gás

Um camião carregado de gás que pernoitou nas bombas da BP em Muxungue é dado como perigo eminente. O seu condutor disse ao Canalmoz que em caso de ser atingido por um disparo de arma de fogo, a carga pode explodir e queimar tudo ao redor num raio de 5 quilómetros.
Entretanto, o tráfego até as 7 horas de hoje, quinta-feira continuava na N1 em Muxingue, nos dois sentidos norte e sul, mas a qualquer momento pode ser cortado dado o medo que se vive na pequena vila. (Fernando Veloso e Luciano da Conceição, em Muxungue)

(NR: Notícia em actualização em www.canalmoz.co.mz)

Para mais informações assista a reportagem da RTP-África in: 


02 abril 2013

OS JOGOS POLÍTICOS REVELAM ALGUNS “COMPLEXOS DE SUPERIORIDADE” NA “MANGA DOS CASACOS”


OS JOGOS POLÍTICOS REVELAM ALGUNS “COMPLEXOS DE SUPERIORIDADE” NA “MANGA DOS CASACOS”

… Os complexos de Dar es Salaam não foram enterrados…

Beira (Canalmoz) - Aquele barulho que ecoa na arena política moçambicana não é saudável na medida em que sugere mistura indigesta para a maioria dos moçambicanos.
Parece que alguém está disposto a “pescar nas águas turvas” que dominarão o cenário se o “comboio político” moçambicano descarrilar.
Que ninguém se esqueça que antes, durante todo o período colonial se criou uma mentalidade baseada no complexo de superioridade e no complexo de inferioridade. Era comum que os moçambicanos negros se considerassem por eles próprios, inferiores ao colonizador branco. Foi montada uma cultura e procedimentos sociais que associavam as pessoas conforme a cor de sua pele e daí se caminhou para comportamentos racistas que estão documentados.
Outra coisa que convém não esquecer é que entre as diferentes tribos e etnias que compõem o mosaico nacional também se criaram mentalidades e comportamentos que exploravam diferenças culturais, tradições e colocavam uns moçambicanos acima de outros, com base num critério étnico-tribal. Promoveram-se classificações que remetiam e consideravam as pessoas conforme o seu lugar de nascimento.
Aqueles esforços empreendidos de maneira mecânica pela Frelimo, dizendo em comícios “Abaixo o tribalismo” ou outros “ismos” não acabaram com nada.
As pessoas que viviam concebendo-se superiores continuaram a fazê-lo. Mesmo em própria sede do comité central da Frelimo, da liderança governamental verificou-se ao longo dos anos uma tendência para dar primazia aos naturais de uns locais e não de outros em tudo que se referia a colocações e nomeações para funções em órgãos governamentais.
O que uns chamavam de confiança política para outra não passa de simples manifestação de fazer política com base na tribo. Há um exercício activo de “Acção Afirmativa” com bases étnicas, quando interessa, ao se destinarem quotas, a dirigentes provenientes de algumas províncias potencialmente com mais votantes.
Há muito que se pode dizer sobre o assunto e alguns sociólogos moçambicanos tem falado embora levemente sobre ele. Em certa e grande medida, falar de complexos de superioridade e inferioridade é tabu em Moçambique. Poucos querem e se atrevem a dizer que alguma política e a tal confiança política se fazem e se constroem com bases mais étnicas do que qualquer outra coisa. Conquistar votos eleitorais tem passado por alocar quotas no comité central e na comissão política dos partidos.
Da mesma maneira não se pode dizer que não tenha havido evolução natural e politicamente induzida nas relações entre as diferentes etnias e raças existentes em Moçambique. Hoje difere de ontem onde até o mais simples funcionário do estado tinha unicamente um só proveniência.
Mas reconheçamos que ainda há muitas desconfianças entre nós.
Quem ignora que os naturais do sul do Save muitas vezes colocam-se acima dos outros como se tivessem herdado a governação de Moçambique directamente das mãos dos portugueses? Quem ignora que por todo o país há designações pejorativas para classificar quem não seja de uma etnia? Quem não sabe que muitos negros de gerações mais velhas veem e consideram o branco um ser superior?
Mas isto tudo vem a lume a propósito da relutância de dialogar-se abertamente sem tabus sobre os problemas actuais de Moçambique?
Não haverá de algum modo alguma carga de complexos de superioridade e de inferioridade interferindo na formulação de estratégias e tácticas políticas que importa analisar?
Quem tem medo de falar sobre este assunto?
Não haverá alguns substractos visíveis de pessoas que acreditam que se vive no ”Império de Gaza”? Alguma da reacção política vivenciada em Moçambique não se baseia no insucesso em se eliminarem as assimetrias no desenvolvimento e sobretudo na apropriação dos resultados?
A quem tem beneficiado as grandes joint-ventures que se constituem cada vez que se registam descobertas de recursos minerais?
De quem são as empresas que dominam as principais áreas de procurement nacional?
A quem pertencem milhares e milhares de hectares de terra já com DUAT atribuído?
Oferecer quotas financeiras a alguns segmentos especiais não vaio resolver o problema de Moçambique.
O que dizem alguns dos que se opõem ao actual establishment é que as coisas têm de mudar pois assim não faz sentido algum se afirmar que se está combatendo a pobreza ou qualquer outra coisa.
E é necessário possuir a sensatez de reconhecer que não estão mentindo.
Antes de se tratar da grande política, da economia política do país é preciso deixar as almas dos cidadãos sossegadas….
O reducionismo e a tendência de demonizar os opositores existem e são manifestações de intolerância política antiga. Houve e resiste uma tendência de apropriação em regime de exclusividade do processo político nacional que não corresponde ao discurso oficial de democracia e combate contra a pobreza.
Quem tem medo de descentralizar as competências políticas e administrativas?
Se já tivesse sido acordado que o ordenamento legislativo contemple a eleição de governadores províncias teríamos menos atritos de natureza política ou não?
Na actual conjuntura uma abertura em direcção ao federalismo afastaria muitos demónios e seria uma forma prática e segura de concorrer para a eliminação dos potenciais de confrontação política em Moçambique.
Os opositores políticos de nomeada em Moçambique estão perdendo a oportunidade histórica de fazerem a diferença ao recusarem-se a assumir em toda a sua dimensão os problemas do país.
Os moçambicanos estão “fartos de papos furados” e procuram ver seus problemas resolvidos.
“Ganhar tempo” dialogando no autêntico “faz de conta” como tem sido feito entre o governo d a Frelimo e a Renamo não produziu até agora qualquer sinal na direcção da estabilização política.
É preciso com frontalidade dizer-se que alguns dos actores políticos mais proeminentes ontem, na sua tese de que sua permanência no poder é um “imperativo nacional”, manifestam-se abertamente contrários a qualquer diálogo ou negociação sérios, dos diferentes pontos apresentados pela Renamo. Por outro lado, da Renamo, parece surgir sinal preocupante de que a opção militar, face a um exército governamental desarticulado e sem apoios externos de relevo, seja a melhor e mais rápida solução para atacar os diferendos existentes.        
Uma coisa é certa temos falcões dos dois lados sedentos de sangue sem qualquer consideração pelos milhões de moçambicanos que não estão de acordo com sua postura.
A militarização dos partidos políticos tem o potencial de fazer desaparecer aquele diálogo democratizante. Quem se julga coberto e protegido pelas armas tem a tendência de optar pelo seu uso para a conquista e manutenção do poder.
A musculação da PRM através de aquisições de equipamentos para a repressão de manifestações apontam nesse sentido.
Quem se recusa a dialogar em que é que confia?
Os “duros” e irredutíveis de ontem, os que diziam e dizem que “não apertam as mãos a bandidos armados” não estarão colocando seu complexo de superioridade acima dos interesses nacionais?
O tempo não está para a continuação de análises do tipo académico como forma de explicar as motivações dos interlocutores no nosso processo político.
É tempo de acção no sentido de salvar uma nação que nos pertence antes de ser prerrogativa de algum político ou partido…
Sensatez e maturidade superam de longe apresentações ou tentativa de brilhantismo retórico…

 In: CanalMoz,  02 de Abril de 2013- Noé Nhantumbo




29 março 2013

“PALMADINHAS NAS COSTAS” ALIMENTAM EGOS MAS TRAZEM NEOCOLONIALISMO

“PALMADINHAS NAS COSTAS” ALIMENTAM EGOS MAS TRAZEM NEOCOLONIALISMO

Assim era antes mas agora também…

Beira (Canalmoz) - É por demais evidente que quando os líderes de países como Moçambique recebem “palmadinhas nas costas” e elogios, bem como prémios de Boa-Governação e desempenhos apreciáveis, que se trata tudo de conversa fiada. Quem o faz está perfeitamente ciente de que os egos de alguns africanos precisam de ser alimentados que nem a propalada autoestima dos dias de hoje.
Mesmo Mo Ibraimo que instituiu um prémio para celebrar e encorajar a Boa-Governação em África está tendo imensas dificuldades em encontrar quem entregar o prémio a cada ano que passa. Mesmo alguns dos premiados hoje revelam que não mereciam tamanha premiação.
Se antes era de Moscovo e de Pequim que partiam a maior parte de iniciativas elogiando dirigentes africanos também não se pode dizer que das chancelarias não surgissem prémios e elogios destinados a engradecer os feitos “não feitos” de dirigentes africanos convenientes. Herói socialista, Ordem de Lenine, Comendador do Império Britânico, Membro da Ordem do Infante Dom Henrique, Doutor Honoris Causa desta ou daquela universidade, títulos não faltam e gente a quem distribuir também abunda. 
O casamento por exemplo de Nyerere com interesses socialistas era sobejamente conhecido e ele e sua Tanzânia beneficiaram-se imenso por terem albergado vários movimentos guerrilheiros de países africanos. Como prémio recebiam-se medalhas e abria-se caminho para uma cooperação económica denominada socialista e avançada. Quando Henry Kissinger organizava o reportório que Mobutu Sesse Sekou deveria cantar e dançar em defesa dos interesses belgas e americanos numa perspectiva de impedir a expansão dos ideais socialistas e comunistas estava em jogo um conjunto de factores e fenómenos que importa não esquecer. Este Mobutu e outros ditadores africanos de várias estirpes, com tendências socializantes ou professantes do que se chama hoje de economia de mercado ou capitalismo selvagem, dançavam a música que os poderosos tocavam.
As viagens de estado minuciosamente organizadas serviam para insuflar e inflamar os egos de gente sedenta de grandeza. 
Os corredores diplomáticos aprenderam a terem em stock os alimentos e bebidas preferidas dos déspotas africanos de ontem. Se hoje surgem notícias de alguns dirigentes de países ricos em petróleo em África possuem jactos executivos que se deslocam à Europa para adquirir o stock de bebidas preferidos de dignatários do estado não se trata de mentira alguma ou exagero.
Os exageros em exuberância e luxo dos governantes africanos constituem um verdadeiro insulto a maioria de seus concidadãos que tem de sobreviver com migalhas ocasionalmente distribuídas quando as calamidades naturais chegam com ou sem aviso.
Quando falamos hoje de problemas no continente seria conveniente que não nos negássemos a olhar frontalmente para as verdadeiras causas. Há que dizer de boca cheia que as lideranças africanas no seu conjunto são o principal factor de degenerescência governativa que se verifica no continente. Muito poucas são as excepções.
Quem se ocupa de transformar a governação de um país num feudo familiar não pode ser considerado de bom governante. Filhos e filhas de chefes de estado não deveriam estar pendurados nas responsabilidades políticas e governamentais dos pais para construírem impérios empresariais. Herdeiros políticos em repúblicas seguem um curso que não deixa margem para que surjam oportunidades para que filhos biológicos de presidente se tornem eles mesmos presidentes no desaparecimento de cena de seus progenitores.
Aquilo que foi feito no Egipto de Mubarak, na Líbia da Kadaafi, que foi ensaiado no Senegal, que foi concretizado no Gabão, que está sendo ensaiado em Angola e noutros quadrantes de África significa que África é o paraíso das oligarquias.
A sustentabilidade de uma apreciável parte do empresariado africano cairia no dia seguinte se perdesse os seus apoios e ligações na esfera governativa e política. Há uma incipiência tal que está tardando a ser descoberto que rico rodeado de gente muito pobre nunca está a vontade.
 Os salamaleques frequentemente recebidos por nossos governantes, os elogios e tratamento diferencial que merecem nas suas deslocações ao estrangeiro são produto de uma afinada estratégia de acesso facilitado aos recursos naturais de nossos países. A neocolonização de África começou no dia em que os diferentes países proclamaram suas independências políticas.
As capitais dos países antes metrópoles jamais desarmaram e abandonaram suas aspirações de dominarem e acederem aos recursos considerados vitais para o andamento de suas economias.
O fomento e guerras intestinas e golpes de estado fazem parte do arsenal utilizado para desestabilizar os países que são renitentes. Aos líderes que cumprem religiosamente as prescrições das chancelarias internacionais outorgam-se prémios e convites para tomarem parte de importantes e conceituadas academias e centros de pensamento internacionais (think-tanks).
Os convites para participação no circuito diplomático internacional como os encontros de Davos não faltam. A participação nos encontros da ONU em nome de sua experiencia e sabedoria estão garantidos pelo tipo de relacionamentos e contactos que criaram.
É tudo parte de um extenso clube que tem uma agenda específica. 
As proclamações de cariz nacionalista e em defesa de uma pretensa soberania só acontecem quando tem os seus interesses particulares ameaçados. De maneira visível comandam as operações em seus países com uma postura de “acumuladores” vorazes de riqueza.
Quase todos os que se diziam membros do quase defunto Movimento dos Não Alinhados em seus países eram déspotas repressores como a história o documenta.
Uma vil combinação de interesses tem muitos países inaceitavelmente com seus povos vivendo na mais completa penúria. Cidadãos com os seus direitos consagrados na lei são tratados como se de burros de carga se tratasse.
Na mais completa conspiração contra seus concidadãos vemos nossos governantes conluiando-se com as corporações multinacionais para explorarem em seu benefício os recursos naturais existentes.
Os políticos de proa do ocidente e oriente estabelecem alianças estratégicas em África que como dividendo garantem o fluxo encoberto de fundos para suas contas bancárias.
Chefes de governo e partidos políticos na reforma continuam levando uma vida de “lordes” que sua renda mensal não explica. Os favores em nomeações e atribuição de apetecíveis cargos são pagos atempadamente nestas esferas.
África, com seu desenvolvimento combalido, sente na carne as consequências de acção premeditada encetada por quem dá “palmadinhas nas costas de nossos governantes e por estes que as recebem com “apreço criminoso”.
Aquele neocolonialismo de que se falava com tanto fôlego, hoje está virtualmente esquecido e como se pode verificar todos os recursos naturais de que os países africanos dispõem está sob controlo de empresas transnacionais provenientes dos países que ontem eram as potências colonizadoras.
Tantas voltas foram dadas para no fim se estar neste beco aparentemente sem saída.
Os gloriosos “libertadores e revolucionários” de ontem renderam-se ao capital que diziam combater e por causa do qual emitiram sentenças de morte que foram cumpridas.
Esta é a realidade nua e crua que mesmo os acérrimos defensores de regimes oligárquicos desta África não podem desmentir ou desfazer.
Quando um “combatente pela libertação” de seu país, aproveita a primeira oportunidade e fundos que não se sabe de onde saíram, para adquirir um castelo na antes potência colonizadora estamos em presença de um comportamento até certo ponto doentio, de uma elite sofrendo de megalomania. Alguns podem estar esquecidos mas tanto Mobutu como Robert Mugabe adquiriram mansões e castelos algures na Europa. A revolução que muitos diziam defender e que juraram proteger diluiu-se logo que chegaram a poder.
Quem explora seus concidadãos, recruta menores para combater rivais, quem submete milhares a uma escravatura moderna na mineração de ouro, diamantes ou coltan são africanos com relações conhecidas com seus clientes internacionais. Se hoje existe uma confusão na República Democrática do Congo temos ou existe uma mão dos EUA, Bélgica, apoiando o Ruanda e o Uganda. Quem se beneficia directamente da instabilidade na RDC são estes dois países que possuem militares e guerrilheiros no terreno dirigindo operações de mineração com trabalhadores forçados. Quem cobra taxas de passagem a cidadãos são guerrilheiros com ligações conhecidas ao Ruanda e Uganda. Quem promoveu e executou manobras durante o processo eleitoral é o actual presidente Joseph Kabila que mesmo assim tem garantido o apoio de seus pares na região, na União Africana e algures em Nova Iorque. 
Os recursos naturais servem para “lubrificar” todo o tipo de engrenagens…
Com algum marketing político, com lobbies activos, tem sido possível estabelecer e manter “profícuas” relações em África… (CanalMoz, 29 de Março de 2013, Noé Nhantumbo)


28 março 2013

BRICS EM ÁFRICA: NEOCOLONIZAÇÃO OU COOPERAÇÃO?

BRICS EM ÁFRICA: NEOCOLONIZAÇÃO OU COOPERAÇÃO?


Uns dizem que é uma nova linha de colonização, outros preferem chamar de cooperação.
Teorias à parte, África é o único lugar onde há matéria-prima para a indústria dos BRICS e, ao mesmo tempo, só eles têm força para investir no continente. O caminho está aberto, mas o destino depende das escolhas políticas.
O grupo dos países emergentes denominado BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, terminou, esta quarta-feira (27 de Março de 2013), a sua reunião em Durban, na África de Sul, com a decisão de criar um banco de desenvolvimento para apoiar infra-estruturas (portos, rodovias, aeroportos) e desenvolvimento sustentável (energia, irrigação, agricultura) nas suas potências e nos países em desenvolvimento.
Uma outra decisão tomada na V Cimeira dos BRICS foi a criação de um fundo de reservas, de 100 biliões de dólares, que deverá ser usado em caso de crise financeira internacional. O fundo anti-crise é denominado Arranjo de Contingente de Reservas.
A China vai entrar com 41 biliões de dólares, Brasil, Rússia e Índia com 18 biliões cada e a África do Sul, menor economia do grupo, vai ingressar com 5 biliões de dólares.
Estas decisões surgem numa altura em que se verifica uma corrida em massa destes países para África, onde disputam os recursos naturais e mercados para venda dos seus produtos.
Alguns analistas internacionais não acreditam que este apoio dos BRICS a infra-estruturas dos países em desenvolvimento traga algum benefício às comunidades, isto porque até mesmo os chineses, que são os maiores investidores do grupo em África, têm importado matéria-prima e até trabalhadores da China, para levantar infra-estruturas, deixando de criar emprego no continente.
Não será esta entrada dos países emergentes em África uma forma de fortificar a sua presença no continente, no sentido de aproveitarem as grandes jazidas de minérios, petróleo e outros recursos naturais valiosos existentes em abundância?


Analistas consideram que a ideia dos BRICS, de apoiar os projectos de construção de infra-estruturas nos países em desenvolvimento, pode ter surgido também para melhorar as condições de manuseamento e logística dos recursos explorados pelas empresas que fazem parte do seu bloco.
A África do Sul tinha esperança de sediar a nova entidade bancária, para acelerar o ciclo de desenvolvimento criado nos últimos anos pelos investimentos chineses e brasileiros e irradiar optimismo a todo o continente. Mas as negociações emperaram com a resistência da Rússia. Moscovo não vê utilidade no banco de fomento dos BRICS.
A Rússia tem menos necessidades em infra-estruturas e, além disso, os emergentes já têm bancos de desenvolvimento nacionais consolidados, que podem tocar os projectos intra-Brics.
Foram convidados a participar no encontro os presidentes em exercício das oito comunidades económicas regionais africanas, nomeadamente da SADC, da Comunidade da África Oriental, da Comunidade Económica dos Estados da África Central, da Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, do Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA), da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e da União Árabe do Magrebe (UAM), e ainda o Presidente da União Africana.

BRICS COMPETEM PARA GANHAR TERRENO NA ÁFRICA
Para os habitantes da cidade de Durban (local da reunião dos Brics) consideram que quando se pensa  na reunião de cúpula entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, os Brics – um empreendimento vem à mente quando o assunto é o aumento da presença dos países emergentes na África do Sul: o "Shopping Center China".
Com 40 mil metros quadrados e mais de 400 lojas, esse megacentro comercial inaugurado há sete anos (e expandido três vezes) fica aberto sete dias por semana para vender os mais variados tipos de produtos com apenas dois aspectos em comum - preços acessíveis e a etiqueta que informa: "Made in China".
O Shopping Center China – com filial em Johanesburgo – é a face mais visível do fenômeno que ganha força e tornou-se um dos principais temas da cúpula dos Brics: a corrida da China e dos outros países do clube de emergentes para "fincar o pé" na África, ocupando espaços que tradicionalmente pertenciam a potências coloniais europeias.
Se no passado os europeus brigavam pelo direito de explorar terras e jazidas minerais do continente, agora, cada vez mais, são os Brics que disputam os recursos naturais e os mercados africanos.
"É natural haver um acirramento na disputa por alguns filões de negócios entre os países emergentes, conforme os investimentos na África cresçam", disse à BBC Brasil Wayne Morris, diretor da consultoria africana GSEC e membro do conselho da Brand South Africa, entidade que cuida da imagem e promoção de negócios da Africa do Sul.
"Os indianos e os chineses são os que têm presença mais forte na África do Sul, por exemplo – e entre eles já há disputa. O Brasil e a Rússia também estão ampliando sua presença em outros lugares. Mas a competição entre esses países têm tudo para ser saudável – para eles e, principalmente, para a África que terá mais opções de investimentos", acredita.
Harry Shmelzer, presidente da WEG - empresa brasileira líder do mercado de motores elétricos que há três anos tem uma fábrica com 600 funcionários na África do Sul (embora faça negócios com o país há mais de três décadas)- , disse à BBC Brasil que a concorrência com os chineses em sua área já é acirrada.
"Os chineses oferecem uma concorrência agressiva aqui e em outros lugares – mas já sabemos que precisamos estar preparados para isso", diz ele.

Presença dos Brics
Segundo um estudo do sul-africano Standard Bank (banco no qual hoje os chineses têm uma participação de 20%), na última década o volume de trocas comerciais dos Brics com a África aumentou dez vezes, chegando a US$ 340 bilhões – mais que o comércio entre os demais países do grupo (de US$ 310 bilhões)
A China é sem dúvida o país dos Brics cujos negócios mais avançaram no continente africano nos últimos anos, principalmente em função do interesse chinês por recursos naturais. Só o comércio com a África aumentou 20 vezes de 2002 a 2012, passando dos US$ 200 bilhões – o que em parte explica o sucesso do Shopping Center China e outros empreendimentos similares. Segundo estimativas do governo chinês, o país teria um estoque de investimento na África de US$ 20 a US$ 40 bilhões.
A Índia também teve um aumento substancial dos investimentos na região nos últimos anos, apostando em áreas como agricultura, telecomunicações e o setor automobilístico, principalmente no sul e no sudeste sul-africanos. A Rússia tem investimentos na Tunísia, Nigéria, Uganda e África do Sul. Já o Brasil, tem uma presença cada vez mais forte na África lusófona – Moçambique e Angola – embora empresas como a Marcopolo, a Weg e a Camargo Correa também estejam presentes na África do Sul.
Moçambique abriga empreendimentos da Vale e da Odebrecht, uma das maiores empregadoras locais, e Angola é o maior receptor dos investimentos brasileiros no continente (seriam R$ 7 bilhões, segundo estimativas de 2011 da Associação de Empresários e Executivos Brasileiros em Angola). Empresas como Petrobras e as construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez têm operações sólidas no país há muitos anos.
Além disso, Angola é também a principal receptora de investimentos da China na África – então já é natural que brasileiros e chineses tenham de competir para ganhar a licitação de projetos de infra-estrutura e exploração de recursos naturais.
"Nossos investimentos ainda estão muitos concentrados nesses dois países. Comparando com os indianos e chineses, acho que os brasileiros estão perdendo oportunidades no continente africano em função de um certo receio dos empresários em explorar o continente", acredita Roberto Paranhos do Riobranco, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Índia que está na África do Sul para participar do encontro de empresários que acompanha a cúpula dos Brics.


'Representação'
Não foi à toa que os investimentos dos Brics na África se tornaram um dos principais temas do encontro do clube dos emergentes em Durban, como explicou à BBC Brasil Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas que está na África do Sul participando de uma série de debates acadêmicos paralelos ao encontro.
A África do Sul foi incluída nos Brics em 2010 - antes disso o grupo era chamado de Bric. Stuenkel diz que o país obteve sucesso em sua candidatura ao clube dos emergentes, apesar do tamanho de sua economia ser equivalente a de uma Província chinesa, ao se apresentar como um "representante" ou um "interlocutor" para a África frente aos outros quatro países.
"A verdade é que se a África (continente) fosse um país, certamente seria um Brics. O tamanho de sua classe média é comparável a indiana e está se expandindo. Além disso, muitas partes do continente têm crescido em um ritmo acelerado", diz Stuenkel. "Mas é difícil pensar que a África do Sul possa falar por todos os países da região."
Três fatores tornam a África atrativa para investimentos dos Brics. Primeiro, a presença de grandes jazidas de minérios, petróleo e outros recursos naturais valiosos no continente. Segundo, o grande crescimento da classe média africana – e aumento do consumo provocado por tal enriquecimento. Por fim, a previsão de gastos bilionários no setor de infraestrutura em países que recém adquiriram estabilidade política e econômica, mas nos quais faltam estradas, portos, aeroportos, etc.
Segundo o FMI, sete dos dez países que mais crescem no mundo estão na África. E ainda que isso ocorra porque tais países partem de uma base muito baixa de desenvolvimento econômico, para muitos empresários dos Brics tal crescimento significa bons negócios e margens de lucro satisfatórias para compensar os riscos africanos.

Novo colonialismo?
Durante a cúpula em Durban, o presidente sul-africano Jacob Zuma irá mediar uma série de encontros entre países do Brics e outros líderes africanos. Nas preparações para o encontro, porém, o que chamou mais a atenção em seu discurso sobre os investimentos do Brics foi uma aparente expectativa de que eles sejam "cooperativos", diferente dos investimentos europeus – que segundo o líder sul-africano seriam "colonialistas".
Uma semana antes do encontro, durante uma conferência sobre temas educacionais, Zuma prometeu: "Os Brics vão contribuir imensamente para satisfazer as necessidades dos jovens da África do Sul de encontrarem trabalho."
A promessa foi feita dias depois de o presidente sul-africano ter dado uma entrevista ao jornal britânico Financial Times na qual exortou as empresas europeias a mudarem seu "velho estilo colonialista na África", lembrando que agora o continente tem a "alternativa" dos Brics.
"Os Brics pretendem apoiar os esforços da África para acelerar a diversificação e modernização de suas economias através do desenvolvimento de infraestrutura, troca de conhecimento, acesso a tecnologias, construção de novas capacidades e investimento em capital humano", diz um documento oficial do encontro, divulgado pelo governo sul-africano.
Para alguns analistas, porém, as expectativas de Zuma podem não ser atendidas. Marcos Troyjo, do laboratório sobre Brics da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, por exemplo, lembra que os chineses são conhecidos por um estilo "agressivo" de fazer investimentos – importando matéria prima e até trabalhadores da China para levantar obras de infraestrutura em países africanos.
Além disso, seu interesse maior seria a extração de recursos naturais da África e a venda de produtos chineses para o continente, atividades que não são conhecidas por sua ampla geração de empregos qualificados (apesar de o Shopping Center China dizer que emprega um total de 1.600 pessoas).

'Moderar otimismo'
Jim O’Neill, economista conhecido por criar o termo Bric em 2001, concorda que é preciso moderar o otimismo com os investimentos dos Brics: "Não há como garantir que multinacionais desse ou daquele país vão se comportar de forma diferente. Empresas globais enfrentam os mesmos desafios para se adaptar às regras locais e ao final têm o mesmo objetivo, que é conseguir retorno para seus investimentos", diz.
No caso dos investimentos brasileiros, analistas e empresários costumam enfatizar as diferenças de "estilo" em relação aos chineses. As empresas do país seriam mais flexíveis e mais dispostas a se adaptar à cultura e realidade local, contratando trabalhadores africanos, por exemplo. Mas em Durban alguns empresários e executivos brasileiros que não quiseram se identificar também expuseram para a BBC Brasil o receio de que o governo sul-africano esteja esperando demais das empresas.
"Não dá para querer que as companhias estrangeiras façam todo o trabalho para desenvolver a África", disse um deles. "Os africanos também precisam fazer suas obrigações e investir mais na formação de trabalhadores e racionalização da burocracia de seus países para compensar os riscos e contratempos de se investir no continente – que ainda existem e são muitos."
Para explica o consultor Wayne Morris, da Brand South Africa, "não há como negar que existe um debate sobre os 'elementos colonialistas' dos investimentos dos Brics, e em especial dos chineses."
"A África do Sul e os outros países do continente estão plenamente cientes desses riscos", diz. Ele lembra, porém, que por muito tempo países africanos atraíram o interesse apenas de países desenvolvidos e que a aprovação de empréstimos para projetos de infraestrutura por entidades como FMI e Banco Mundial era condicionada à adoção de reformas neoliberais.
"A grande novidade é que agora temos mais opções e ao menos podemos discutir as condições dos investimentos e empréstimos com empresas e países de ‘igual para igual’ – o que nos dá uma margem de manobra que não tínhamos no passado para evitar esses riscos", opina.
Ruth Costas (Enviada especial da BBC Brasil a Durban (África do Sul- Atualizado em  26 de março, 2013 - 07:18 (Brasília) 10:18 GMT)

BRICS REJEITAM ACUSAÇÕES DE SEREM NOVOS IMPERIALISTAS
Brics rejeitam acusações de serem "novos imperialistas" na África. "Brics, não dividam a África" diz um cartaz no salão de uma igreja no centro de Durban, onde ativistas da sociedade civil juntaram-se para lançar um olhar crítico sobre a cúpula dos cinco poderes globais emergentes. Ativistas anti-pobreza afirmam que as grandes empresas dos Brics que atuam na África buscam o lucro, assim como as empresas do mundo rico. Os chineses e outros líderes dos Brics rejeitam indignados às críticas de que o grupo representa um tipo de "sub-imperialismo". A gigante brasileira da mineração Vale, nomeada em 2012 pelo grupo suíço sem fins lucrativos Public Eye como a empresa com o maior "desprezo para o meio ambiente e os direitos humanos" no mundo. O presidente da Associação Mato-Grossence dos Produtores de Algodão (Ampa) afirmou que “Moçambique é um Mato Grosso no meio da África, com terra de graça, sem tanto impedimento ambiental e frete mais barato para a China”. O ProSavana, projecto para a produção de soja e outros alimentos para a exportação pelas empresas brasileiras abrangerá uma área estimada em 14,5 milhões de hectares nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia, onde cerca de 5 milhões de camponeses vivem e produzem alimentos para o abastecimento local e regional.

Jornais: A Verdade e CanalMoz – 27/03/2013 e 25/03/2013.

Numa altura que se critica a relação Norte Global com o Sul Global como sendo de dominação ou de hegemonia da primeira sobre a segunda, hoje constata-se que mesmo nas relações entre os países do Sul Global começam a aparecer novos grupos dominantes e hegemónicos- como é o caso da BRICS. É uma situação a ser refletida. Afinal o que pretendem os BRICS em África?

Compilação de Jorge Fernando Jairoce