ZECA CALIATE RESPONDE, QUASE 30 ANOS
DEPOIS, A JOSÉ MOIANE
Pela sua importância
destaco este comentário.
Homens cruéis como o
Major General de Campo Sr. José Moiane
Este é um homem que
odeia as suas vítimas mesmo após estas encontrarem-se inactivas ou mortas. Na
sua entrevista (1984) sobre o Direito e Justiça nas chamadas Zonas Libertadas
da FRELIMO, José Moiane, afirma e aponta-me e torna-me a mim Zeca Caliate, como
um exemplo, mas esqueceu-se de falar de si sobre os muitos massacres por si perpetrados
aos Nyanjas, o povo mártir de Catur no Niassa, quando ali se instalou a mando
do chefe da Seita, Samora Machel, juntamente com Sebastião Marcos Mabote e
quando assassinaram a sangue frio o comandante da Zona, Luís Arrancatudo.
Também não nos esquecemos
de como assassinou, com as suas próprias mãos, a sua esposa Salomé Moiane, em
plena cidade de Maputo, quando Moçambique acabava de se tornar um país
Independente. Eu fui um dos visados a ser assassinado. Mas quando descobri o
Plano e as pessoas envolvidas no meu possível assassinio, além de José Moiane e
Sebastião M. Mabote, Chefe das Operações Nacional, estavam os seguintes
elementos envolvidos: João Fascitela Phelembe, Comissário Politico da
Província, Tomé Eduardo (OmarJuma), Chefe de Segurança Provincial, bem como os
seus informadores António Hama Thai, Armando Mfumo e Sesínio Mbaga, Chefe das
Transmissões. Mas escapei antes que os 7 mencionados pudessem deitar-me a mão e
executar-me.
Ao descobrir este
plano de assassinio, um qualquer ser humano, teria que agir desta ou de outra
forma para se escapar da morte anunciada, ou cruzar os braços para ser morto. O
Senhor José Moiane,está preocupado com a minha fuga e quer saber como foi? O
Comandante Zeca Calíate abandonou o Comando do 4º Sector; pois os cinco homens
seus mensageiros com ordem para matar, infelizmente, para eles, não eram
suficientes para me dominarem, pois todos eles adormeceram e esqueceram-se da
missão, parecendo hipnotizados, cada um na sua palhota ressonando profundamente
naquela base central do Sector, pertencente ao comandante Henrique João Ataíde.
Se eu fosse assassino
como eles, matava-os antes de abandonar a base. Não estou arrependido, por não
o ter feito, pois não sou como eles, felizmente. Eu já tinha toda a informação
sobre o dia e hora da minha morte. Por isso antes do amanhecer do dia,
antecipei a minha fuga, e às 04 horas levantei e preparei-me e de seguida fui
acordar os meus guarda-costas e eles, que bem sabiam o que ia acontecer comigo,
retirámo-nos da base sem ninguém se aperceber,rumando em direcção à base do
povo que se localizava junto ao rio Luia,onde fui bem recebido por populares e
milícias. Ali passei um dia para dizer adeus aos meus guerrilheiros daquela
pequena base. Ao pôr-do-sol, recebi informação vinda da base central, pois
quando acordaram de manhã e se aperceberam da minha falta naquela base, sem
conhecimento de ninguém, claro que todos entraram em pânico e em debandada, e
rapidamente empossaram António HamaThai, para substituição do comandante Zeca
Caliate, do comando do 4º Sector, recomendando este a mudar imediatamente a
base para outro local com o medo de represália por parte do Zeca Caliate.
Eles não se
despediram, fugiram rapidamente rumando para norte do rio Zambeze para o 1º
sector. Eu, no dia seguinte,dispedi-me da população e dos guerrilheiros e
prossegui calmamente a minha viagem com os meus guarda-costas para o 3º
Destacamento, que se situava no Mocumbura, e era comandado por Fackson Sandramo
Banda( Kalulu-Sapezeka ), homem da minha confiança, e que sabia que não ia
trair-me com os seus guerrilheiros, onde fui calorosamente recebido.
Quando os informei
sobre o plano de José Moiane e outros para me assassinarem, houve revolta e
gritavam “vamos comandante atacar a base central e punir os assassinos”, mas eu
não aceitei, pois não queria o derrame de sangue entre camaradas, Por isso, ele
seguiu-me e apresentou-se um mês depois às tropas portuguesas. De seguida,
fui-me instalar na base do povo onde estava a Violeta a viver com a minha filha
que acabava de nascer. O comandante F. Banda, deu-me todo apoio e enviou-me um
reforço de guerrilheiros para a minha protecção. Ali fiquei 8 dias na companhia
da Violeta e filha, promovendo festas populares com abate de três cabeças de
bois pelo nascimento da minha filha e também pela minha estadia ali. Ninguém do
povo veio incomodar-me como o José Moiane o diz.
Durante a minha
estadia naquele local, o António Hama Thai, tentou enviar três grupos de
guerrilheiros para me convencer a regressar à base Central para dialogarmos, e
eu recusei e a última vez mandou um pelotão comandado pelo camarada Waite, para
me prender ou matar. Este não teve coragem para tal, pois bem sabia não ser
tarefa fácil prender ou matar o Comandante Caliate. Durante a minha estadia
naquela base do povo, não tive plano de rendição, embora indirectamente em
conversa com a minha ex.-mulher quando ela perguntava a chorar o que eu
tencionava fazer, lhe dizia sempre “se me acontecer alguma coisa do pior, levas
a nossa filha e atravessam a fronteira para a Rodésia”, isto no tempo de lan
Smith. Sabe-se lá se um dia era capaz de eu aparecer por lá. Também conversava
com o comandante Frackson Banda, na hipótese de algum dia procurarmos um aliado
que apoiasse a nossa luta contra os usurpadores e criminosos dentro da Frelimo.
A Violeta, com os meus
guarda-costas bem como o próprio Comandante Frackson Banda, receavam que eu
fosse capaz de me suicidar, garantindo-lhes que não ia cometer essa locura,
pois isso era o que o José Moiane e seu grupo queriam que acontecesse. Naquela
manhã muito cedo, despedi-me da minha filha e da minhaq mulher e disse-lhes que
tinha chegado a hora de regressar à base central para enfrentar o grupo que
queria a minha morte! Ela ficou a chorar, e foi a última vez que vi aquelas
duas pessoas que muito eu amava. Parti para o 3º Destacamento e disse para o
comandante F. Banda, que tinha chegado a hora de enfrentar os meus assassinos.
Ele ficou alarmado a olhar para mim, e disse “conte comigo comandante Zeca”,
onde quer que esteja, e também me perguntou se podia acompanhar-me, dizendo-lhe
que não. Ficou a olhar para mim e saí com os meus guarda-costas na direcção da
Central. Eu estava armado com a minha Kalashnikov, com 2 carregadores com 30
balas cada e 60 no total, 1 pistola Tocrov-fabric.soviético, com 2 carregadores
com 7 balas cada, 14 no total, 2 granadas, 1 defensiva, 1 ofensiva.
Assim estava pronto
para qualquer eventualidade, o que tornava mais difícil deitar a mão o
comandante João Henrique Ataíde como era conhecido durante a guerra. A decisão
de abandonar a FRELIMO,veio-me de repente quando caminhava para a Base Central,
revoltei-me e decidi estar sozinho, afastando-me dos meus guarda-costas e
comecei a caminhar para a direcção da fronteira Moçambique/Rodésia, até
anoitecer. No seio da FRELIMO, existem muitas mentiras: afirmações sobre 8 de
Março de 1968, data de abertura da frente de Tete, que dãao gratuitamente esse
dia ao José Moiane, é pura sabujice, cegueira e mentira para enganar os
inocentes. Quando indivíduos não sabem dos acontecimentos recorrem a métodos
falsos para alcançar os objectivos impróprios.
Por isso eu estive lá
e testemunho: a realização das acções nas zonas de Chimuala e Cassuende no vale
do rio Capoche, deveram-se aos três chefes em 1968. A luta armada naquela
frente, foi organizada por falecido Francisco Manhanga, Secretário Provincial
da Defesa, Pascoal Nhampule (António Almeida), Chefe das Operaçoões e Alfredo
Wassira, comissário político desta mesma província. Os comandantes das zonas em
guerra, são António Kanhemba, Zeca Caliate, Miguel Ferrão, Héder Manuel Bongwe,
António Monteiro Ernesto Selemane, Moyo, Adjunto comissário político e Jaime
Rivas. Esta foi a equipa operacional que organizou a Luta Armada na frente de
Tete. Não o José Moiane, pois este, em 1968 e até nos meados de 1969,
encontrava-se a chassinar o povo de Catur Niassa em colaboração com o Sebastião
Marcos Mabote. Os dois muito têm a haver com a politica retrógrada de terra
queimada que obrigou o Samora Machel, a retirá-los dali. Apesar destes dois homens
altamente corruptos e perigosos no Catur, Samora acaba por nomear o Mabote para
chefe das Operações Nacionais e enviar o José Moiane para Tete, em substituição
do Pascoal Nhampule em 1969.
Acho que as mentiras
que foram espalhadas por toda parte, por causa da confusão que reina e existe
no seio da própria cúpula da FRELIMO, onde todos vivem de mentiras para serem
heróis da revolução, é o que se vê no seio daquela organização politica, que
até nomearam pessoas sem qualidade ou capacidade para ocuparem postos
extremamente importantes, apenas por serem próximos de fulano, sem um
conhecimento mínimo da verdadeira história da Frelimo. É tudo feito por
amizades, nomeando-se indivíduos para membros de Comité Centra! e Chefes de
Quadros ,casos de Cara Alegre Thembe e António Hama Tai,promovidos Chefe dos
Quadros das Forças Populares de Libertação de Moçambique. A nomeação destes que
não estavam presentes nos primeiros confrontos da luta armada, é um absurdo e é
desrespeito por aqueles verdadeiros heróis que tombaram pela causa de
Independência na frente de Tete. Como o Moiane,são muitos os que andam por aí
camuflados, mas que se não esqueçam de que um dia o poder acaba, mas a justiça
permanece. Muitas vidas de Moçambicanos foram ceifadas a chumbo e balas das próprias
armas da FRELIMO. Existiam no seio da organização FRELIMO indivíduos bem
instalados nos seus gabinetes ou nas bases a planearem assassinatos políticos,
sendo um deles o próprio José Moiane.
A maior parte dos
mortos no seio da FRELlMO, são anunciados aos familiares como tendo morrido em
combate contra as tropas colonialistas. É tudo mentira da FRELIMO que matou
mais combatentes das suas próprias fileiras antes e depois da Independência,
que as tropas portuguesas. Mas, cobardemente, chamaram-nos de heróis e mártires
da Pátria, simplesmente para enganar o povo e a opinião pública Internacional.
Zeca Caliate, se se
deixasse assassinar e nínguém o soubesse, no dia da Independência era colocado
também na lista dos heróis mortos.
Zeca Caliate
Fevereiro de 2013
(Recebido em carta)
Ver http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2013/02/zeca-caliate-responde-quase-30-anos-depois-a-jos%C3%A9-moiane.html
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