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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

07 outubro 2012

Justiça britânica aceita ação de quenianos por crimes da era colonial


Justiça britânica aceita ação de quenianos por  crimes da era colonial




Simpatizantes de quenianos protestam em frente ao Tribunal Superior de Londres em julho. Foto: Leon Neal / AFP



Um tribunal britânico aceitou nesta sexta-feira 5 a demanda apresentada contra o Reino Unido por três quenianos do movimento “Mau Mau” que afirmam ter sido vítimas de crimes durante a era colonial no Quênia.
O juiz do Tribunal Superior de Londres, Richard McCombe, considerou que “um julgamento justo nesta parte do caso continua sendo possível e que as provas das duas partes continuam sendo consideravelmente convincentes para que o tribunal possa desenvolver sua tarefa de maneira satisfatória”. A decisão foi anunciada três meses depois da ação ter sido examinada em uma audiência de 15 dias.
Jane Muthoni Mara, Paulo Muoka Nzili e Wambugu Wa Nyingi, que não compareceram nesta sexta-feira ao tribunal, afirmam ter sofrido torturas e abusos sexuais em campos de detenção durante o levante Mau Mau contra os colonizadores britânicos nos anos 1950. Segundo os advogados, Mara foi vítima de abusos sexuais, Nzili foi castrado e Nyingi duramente agredido.

Os três querem um pedido de desculpas do governo britânico e a criação de um fundo para as vítimas. O julgamento pode estabelecer jurisprudência para quase mil quenianos que foram vítimas de repressão e continuam vivos.
A brutal repressão da revolta Mau Mau provocou mais de 10.000 mortes entre 1952 e 1960, três anos antes da independência do Quênia. Dezenas de milhares de pessoas foram presas, incluindo o avô do presidente dos Estados Unidos Barack Obama.

04 outubro 2012

SOBRE 20 ANOS DE PAZ EM MOÇAMBIQUE


SOBRE 20 ANOS DE PAZ EM MOÇAMBIQUE




Dom Jaime, arcebispo emérito da Beira, faz-nos voltar ao passado e desvenda os bastidores da paz no país.
“O País” traz, nesta edição, uma entrevista com Dom Jaime,  arcebispo emérito da Arquidiocese da Beira. Dom Jaime foi um dos principais negociadores da paz de que desfrutamos há 20 anos .
O que teria levado a igreja católica a envolver-se na procura de paz para Moçambique?
A Conferência Episcopal de Moçambique entendeu que a resistência liderada pela Renamo incitava os moçambicanos à revolta, expandido por todo o país a guerra civil ou de desestabilização, como queira, isto a partir do início da década 80. Esta resistência contava com o apoio de forças internas, neste caso, os próprios moçambicanos, e externas. Estou a referir-me àquele grupo de países ou pessoas que pretendiam criar a chamada África branca, ou seja, os que não consentiam ligação com países comunistas.
Podemos voltar à intervenção da igreja católica no processo de paz em Moçambique?
A guerra civil foi ganhando consistência, expandia-se pelo país todo e a nossa sociedade estava a ser destruída. A segurança dos cidadãos tornou-se problema tanto nas cidades assim como nas zonas rurais. A unidade nacional era uma cantiga, e o governo da Frelimo tinha perdido  o controlo da soberania nacional, pois, aos poucos, a Renamo ia controlando um vasto território nacional, onde o governo revolucionário não tinha nenhum poder. Era um governo descontrolado, com uma soberania dividida e com matanças e choros por todos os lados. Para a nossa felicidade, a Frelimo reconcilia-se com as instituições religiosas em 1982. Foi um grande abertura para os caminhos da paz.
Mas onde e quando entra a igreja católica no processo de paz?
Bem, tanto a Igreja Católica como o Conselho Cristão de Moçambique defendiam junto do governo a política de reconciliação para com a resistência. Dado o nosso insucesso, a Conferência Episcopal de Moçambique criou, em 1987, duas comissões. Uma tinha a responsabilidade de continuar a escrever cartas pastorais, que era a forma mais comum para nos comunicarmos com o resto dos moçambicanos, e a outra comissão teve a missão de procurar a Renamo, para lhe dizer que a solução das suas apreensões não seria com recurso a tiros, mas sim com o diálogo. Eu, que era o presidente da comissão de justiça e paz, passei a chefiar a segunda comissão, e, portanto, fiquei com a responsabilidades de procurar a Renamo, juntamente com o então cardeal da cidade de Maputo, Dom Alexandre.
Como localizou a Renamo, tendo em conta que estava nas matas?
  Não foi fácil. Decidimos começar por procurar os seus representantes fora do país. percorremos Tanzania, Malawi, Quénia, Portugal, Itália e até Estados unidos da América durante um ano, sem sucesso. Importa referir que, numa das minhas viagens à busca do representante da Renamo em Portugal, que  na altura era o já falecido Ivo Fernandes, fui abordado por um político muito desenrascado, o Máximo Dias, que me convidou para um restaurante onde a iluminação era ténue. Acredito que ele estava com medo. Acabei aceitando o convite, e ele disse que estava a representar Ivo Fernandes. Por desconfiança, não abordei a minha preocupação. Limitámo-nos a tomar um chazinho e abordámos a questão da Renamo de forma muito superficial. Na mesma altura, Dom Alexandre estava nos estados Unidos da América à procura de Artur Vilanculos, que era representante da Renamo, mas sem sucesso. Artur Vilanculos orientou-lhe a procurar o governo do Quénia. Já no Quénia, Dom Alexandre foi orientado pelo executivo do então presidente Arap Moi a retornar àquele país com mais pessoas, se efectivamente estava interessado em encontrar -se com a Renamo.
Como é que vai a Gorongosa?
Em Novembro de 1988, saí da Beira rumo a Lesotho. De Lesotho parti numa avioneta com destino desconhecido. Saímos às 15h00 e só chegámos às 18h00 ao destino. Já no ar, um jovem piloto perguntou-se se sabia qual era o meu destino. Apenas afirmei que ia ao encontro de Afonso Dhlakama. Ele pôs-se a rir e, sinceramente, nunca entendi. Aterrámos numa pista deserta e, no fundo da mesma, estava um outro avião relativamente maior. O meu jovem piloto disse: “Senhor Arcebispo, entre naquele avião”. Entrei, e dentro do avião havia apenas um pequeno espaço para eu me sentar. Estava tudo ocupado com mantas, bebidas, alimentos de diversa natureza. Cerca das 19h00, saímos na mesma escuridão.
Qual era o destino?
Apenas disseram-me que íamos a Gorongosa. Durante 30 minutos, o avião sobrevoou o mar e, de repente, fez um desvio. Lembro-me que foi num dia de lua cheia, e, como o avião estava a voar à baixa altitude, notei que, gradualmente, estávamos a entrar em florestas cada vez mais densas. Aterrámos numa pista onde vários guerrilheiros empunhavam tochas em fila nas extremidades da pista a fim de facilitar a aterragem do avião. Minutos depois, ouvi o roncar de uma moto de grande cilindragem. Era Afonso Dhlakama. Todo sorridente, jovem na altura, esticou a sua mão e disse: “Boa noite senhor Bispo. Respondi, todo trémulo. Virou-me as costas e vi-o a dialogar com os seus guerrilheiros. Não entendi nada, nem me preocupei. Retornou ao meu encontro e ordenou-me que fosse com ele na moto, tendo de seguida me pedido para lhe segurar bem. Fi-lo, pois não estava interessado em cair. Arrancámos e seguimos um caminho em zigue-zague no meio de muitas árvores. Cerca de 10 minutos depois, chegámos a um local onde havia muito mais guerrilheiros e várias fogueiras. Em redor, diversas infra-estruturas destruídas e equipamento bélico destruído. Dhlakama levou-me a um alpendre feito de capim e barro, também com uma fogueira no meio. Não havia energia.
Como o encarou?
Eu estava aflito, não sabia como iniciar a conversa. Não sabia como ele reagiria à nossa proposta de diálogo, de negociações à busca de paz. Para a minha felicidade, foi ele mesmo que iniciou a conversa para o lado que eu pretendia. Perguntou-me se eu tinha notado a destruição em redor, e respondi que sim. Perguntou-me se a luz eléctrica não me fazia falta, também respondi sim. Depois disse-me que não tinha comida, muito menos um café para me servir, porque não havia. Dhlakama disse: “Estamos a sofrer e cansados desta guerra. Queremos dialogar com a Frelimo e pedimos a mediação da igreja”. Respirei de alívio. Estava dado o primeiro e importantíssimo passo rumo à paz em Moçambique. Discutimos as condições, que passavam necessariamente pela escolha do local das conversações e as pessoas que estariam envolvidas no processo. Ficou acordado que o encontro seguinte seria em Nairobi, em Fevereiro de 1989. Parti de regresso a Beira, via África de Sul, quando eram cerca de duas horas de madrugada.
No encontro de Nairobi, Dhlakama apareceu?
Não, mas os seus representantes estavam lá. Importa referir que, depois do primeiro contacto com Dhlakama, o presidente Alberto Chissano dispensou a Igreja Católica no processo e envolveu de forma directa os seus homólogos do Zimbabwe e do Quénia. Sei que, no encontro de Fevereiro, nada de concreto foi acordado. Foi agendada uma outra reunião para Agosto do mesmo ano. Também não trouxe bons resultados. Robert Mugabe chateou-se, porque estava a gastar muito dinheiro, sem sucesso, e pediu ao presidente Chissano para voltar a convidar a igreja católica para estar no processo. Retornámos, e mesmo sem ser diplomatas iniciámos uma séria de diplomacia no sentido de convencer a Renamo a avançar com as negociações sem desconfiar. Mas acontece que o presidente Chissano estava a mostrar resistência para o início das negociações.
Como conseguiram convencer o presidente Chissano?
Usámos diplomacia que ele não entendeu. Fui à Itália e pedi ao Vaticano, assim como ao governo italiano, para aproximarem ao então presidente norte -americano Jorge Bush(pai), no sentido de apelar ao nosso presidente a dialogar com a oposição. Como os EUA são uma potência mundial, acreditámos que o apelo de Bush seria uma especial ordem para Chissano. Funcionou. O presidente Chissano anunciou, a partir de Washington, em finais de 1989, que estava aberto ao diálogo.
E como a Renamo reagiu?
De forma satisfatória, mas levanta-se, então, um outro problema. O local das negociações. A Frelimo propôs Malawi; a Renamo recusou, alegando que a SNASP circulava à vontade naquele país, o que seria um risco para ela. A Renamo propôs Portugal; a Frelimo recusou, alegando que havia muitos descontentes que fugiram de Moçambique e que as negociações seriam minadas. A igreja voltou a entrar em cena. Fomos pedir socorro ao Vaticano e foi identificada a Comunidade de Santo Egídio.
Constou-nos que Afonso Dhlakama esteve na Comunidade de Santo Egídio, antes do inicio  das negociações?
Esteve, realmente, em Fevereiro de 1990. E agora recordo-me de um episódio que criou muito embaraço. Afonso Dhlakama não tinha passaporte. Foi muito difícil fazê-lo viajar, mas a comunidade de Santo Egídio usou as suas influências junto do governo italiano e conseguiu-se um documento para ele viajar dentro da Itália e noutros pontos da Europa.
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 “EMBAIXADOR DA ITÁLIA EM MOÇAMBIQUE VIAJAVA A GORONGOSA PARA CONVENCER DHLAKAMA”

Numa entrevista sobre a experiência de cobertura jornalística das negociações de paz, Tomás Vieira Mário diz que o ambiente vivido entre as delegações foi inicialmente de tensão, mas os mediadores souberam quanto cedo “debelar” o fogo.
Qual era o ambiente das negociações?
O ambiente foi tendo facetas diferentes ao longo dos anos. Foram mais de dois anos. No início, era de tensão porque cada parte diabolizava a outra. Mesmo para haver um aperto de mão em 1990 entre Guebuza e Dhlakama foi difícil. O que tornou possível a convivência foi a natureza da mediação. Havia uma exaltação da informalidade, não havia aquele rigor típico duma mediação. Este acordo que, inicialmente, era visto como de fraqueza, mais tarde tornou-se um aspecto forte. Quando havia uma tensão, uma saturação, os mediadores, estrategicamente, interrompiam as sessões e as delegações tomavam um chá. Havia uma bananeira onde os moçambicanos se sentavam e tomavam chá e, assim, reviviam o seu ambiente doméstico que levavam da terra natal. Se estamos recordados, estes mediadores eram, na sua maioria, religiosos da Igreja Católica, D. Jaime Gonçalves, D. Matteo Zuppi e Andrea Riccardi. Portanto, são pessoas com muita formação em contenção, prudência, calma e absorção da tensão. 
Era frequente a convivência entre as duas delegações?
Fora do âmbito da Comunidade Sant´Egídio, não era frequente. Mas aconteceu uma e única vez em que o ministro dos Transportes e Comunicações, Armando Guebuza, e o Chefe do Departamento das Relações Exteriores da Renamo, Raul Domingos, saíram para almoçar num restaurante indicado pelos mediadores. Estes entendiam que esse tipo de práticas ajudava a convivência entre os outros. Os mediadores ficaram próximo do restaurante para vigiar e ver se algum deles abandonava o local. Mas, segundo nos contaram “a posterior”, jantaram bem e ninguém abandonou o local. Este é o único momento, que eu me recorde, em que confraternizaram.

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Afonso Dhlakama diz que o balanço dos 20 anos de paz é negativo.
A partir da província da Zambézia, onde se encontra de visita, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, faz uma análise do Acordo Geral de Paz e reitera que à guerra não volta mais.
Como é que foi o período de negociação até chegar ao acordo de paz?
Recordo-me que foram dois anos e meio de negociações em Roma e aquilo foi muito difícil. Difícil porque, na altura, o governo moçambicano não queria reconhecer a Renamo, queria que a Renamo depusesse as armas e que Dhlakama e seus guerrilheiros fossem reintegrados, sem negociarmos uma agenda política. Em face disso, obrigámos a Frelimo para retornarmos às negociações políticas, um processo que levou dois anos e meio até à criação dos protocolos. Cada protocolo definiu a pretensão de cada uma das partes sobre os destinos de Moçambique. Nós, a Renamo, queríamos democracia multipartidária e que, depois, tivéssemos eleições livres e transparentes, justiça, direitos humanos, economia do mercado, liberdade de circulação e religiosa, entre outras. foi duro, mas valeu a pena a demora das negociações - foram dois anos e meio -, pois, por isso, até hoje temos esta paz.
Dois anos e meio de negociação da paz, porquê? Alguma coisa falhou neste processo?
Não. Em termos de negociação, nada falhou. foram dois anos e meio porque nós exigíamos que as negociações fossem sérias. Não seria bom que as negociações da paz em Moçambique fossem como acontece com os outros países, onde negociam para satisfazer a vontade de mediadores, cessam-fogo hoje e, volvidos dois dias, regressam às matas. Ora, nós queríamos que a Frelimo aceitasse o fim da guerra numa condição de entrada de multipartidarismo em Moçambique. Também queríamos que a Frelimo aceitasse a criação de um exército único, apartidário, técnico com parte dos guerrilheiros da Renamo e as tropas do governo. Queríamos que se acabasse com guia de marcha, aldeias comunais, a lei de pena de morte e tudo aquilo que fosse política de comunismo. A Frelimo acabou por aceitar porque, quando tentasse fazer manobras no interior, mandava a minha ofensiva militar, daí que ficava com medo e acelerava o processo.
Volvidos 20 anos, que balanço faz da paz em Moçambique?
 É negativo. Foram 20 anos de sacrifício e da pior vida do que a que vivemos no período da guerra dos 16 anos. Foram 16 anos de luta com armas e 20 anos de calar das armas. Entretanto, em termos de perseguição, sofrimento e escravidão, os 20 anos foram duros. Já imaginou alguém como Dhlakama a assinar acordo com Chissano para, depois, ser excluído de tudo e ser atacado fisicamente, incluindo os seus seguranças, pelas forças policiais a mando da Frelimo. Já fomos atacados em Marínguè no ano passado, e, no dia oito de Março, em Nampula. Vou contar-lhe um episódio: durante a campanha para as eleições de 2009,  quando estive em Mandimba, no Niassa, entrei num restaurante e o proprietário veio até a mim e retirou-me do seu espaço, alegando ter instruções para o efeito. Será que estamos em paz? 
Fala-se de nova ordem política na Renamo, porquê?
Eu não gostaria de assustar as pessoas, porque jurei que jamais haverá guerra iniciada pela Renamo. nós vamos fazer manifestação pacífica como forma de pressionar a Frelimo. O limite para o efeito é até ao dia 30 de Outubro. Se a Frelimo aceitar negociação para assinar acordos que ponham termo os abusos, de facto, tudo será tranquilo. Mas se até ao dia 30 não houver nenhuma indicação positiva no seio da Frelimo, vamos, efectivamente, manifestar, fechar todas as linhas-férreas, aeroportos, estradas e tudo, e ninguém pode tentar intervir. Se mandarem a Força da Intervenção rápida, vou ordenar a segurança da Renamo para esmagar todos. Não sou belicista, mas de paz. A Frelimo fala da reconciliação, unidade nacional e boa governação todos os dias, mas o que faz é um autêntico terrorismo (...).
O discurso de manifestação não é novo...
Comecei com este discurso logo após de resultados eleitorais de 2009, antes do Egipto e a Líbia, que copiaram o meu discurso. Eu cheguei à conclusão de que África não precisa de pegar em armas para matar, é só manifestar e fechar todos os pontos estratégicos. Se assim procedermos, o governo será obrigado a resolver os problemas. É por isso que já formei seis homens para negociarem com os ministros da Frelimo.
Sente que os acordos de Roma não estão a ser cumpridos?
Pelo amor de Deus, não há nenhuma coisa que está a ser cumprida.... 
Algumas correntes contestam o facto de o líder da Renamo ter homens armados, é legal a sua força?
São estas correntes que não percebem nada. sinto muito quando vejo figuras académicas a falar disso. O acordo de paz diz que a Renamo deve ter a sua segurança, que é composta por guerrilheiros que combateram durante a guerra. está escrito que o desaparecimento desta segurança vai depender do cumprimento, por parte de governo, que tinha como obrigação despartidarizar a polícia, de modo a que a Renamo e outros partidos emergentes se sentissem à vontade. mas a Frelimo, até hoje, não faz nada. Eu estou disposto a entregar a minha força para integrar uma polícia apartidária.
Sente que há falta de compromisso nos acordos de Roma?
Sim, porque a Frelimo não está cumprir nada daquilo que assinou. Se eu quisesse vingar-me já em 1994, teríamos acabado com a paz, o que não seria bom para o país, porque a guerra não faz bem a ninguém. E se eu responder, todos os investimentos vão fugir e eu não quero fazer isso.
Que tem a dizer sobre as recentes conversações que manteve com o chefe do estado, Armando Guebuza, em Nampula?
Não surtiram efeitos e espero que o desfecho seja urgente.
Para terminar, o líder da Renamo é pela paz? 
Sim, sou pela paz e não pretendo voltar a pegar em armas.

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Um olhar sobre o passado com o negociador Raul Domingos.
O antigo chefe de relações exteriores da Renamo e chefe da delegação nas negociações de Roma diz que havia poucas oportunidades para “um social” com a delegação do Governo. Só houve uma ocasião, e essa, por sua iniciativa.
Qual é a sua opinião sobre o estágio da paz 20 anos depois?
20 anos depois, a paz que temos é uma paz do calar das armas. É aquilo a que chamo paz militar. É o que estamos a viver ao longo destes 20 anos. Tenho receio de dizer que Moçambique está efectivamente em paz. Prefiro dizer que estamos apenas num tempo depois do calar das armas. Estamos na possibilidade de uma convulsão social ou política, porque não estão a ser respeitados muitos aspectos, quer do Acordo de Paz, quer da constituição. Basta olhar para o que acontece em cada eleição quanto ao nível de participação dos eleitores. Perguntamo-nos: por que em 1994 as pessoas se interessaram por eleições, e agora não? Estamos a falar de um partido dominante que, do ponto de vista legal, o é porque tem o Parlamento, o Executivo, tem nomeado quase todos os membros do judiciário, mas esse partido, do ponto de vista de legitimidade, é eleito pela minoria. 80% da população não vai votar e não sabemos por que esta população não está a votar. Isto significa que, um dia destes, podemos acordar com um 5 de Fevereiro ou 1 e 2 de Setembro.
É mais difícil manter a paz do que fazer a guerra...
A paz, tal como o poder, faz-se com o simbolismo. É por isso que vemos pessoas vestidas de branco, soltam pombos nas celebrações. No caso da oposição e do partido no poder, por que nunca os vemos juntos nas praças no dia 4 de Outubro? Que mensagem os mentores da paz estão a lançar para a sociedade? O simbolismo desta paz militar é a constituição das FADM. O simbolismo que existe é ao nível de discursos, mas a materialização destes discursos ainda é uma miragem. O meu apelo é que, ao celebrarmos os 20 anos da Paz, os jovens peguem nesses discursos e os tornem materializáveis.
Levando-nos de volta a Roma,  para o período das negociações, como é que era a convivência entre as delegações que se encontravam nas negociações?
Em Roma não tivemos muitas ocasiões para convívio, mas há um aspecto que tentámos cultivar, que era o informal. Para além do momento formal com os mediadores, observadores e a imprensa, nós desenvolvemos um momento informal, no qual trocávamos ideias e opiniões longe dos  media e da imprensa. Eu próprio e o chefe da delegação do Governo promovíamos debates sobre aquelas coisas que não havia consensos, para que, de uma forma informal, sem compromissos, sem pressão da imprensa e de observadores, encontrássemos soluções. e por vezes encontrávamos. Chamávamos a isto o cultivar de uma confiança mútua.
Vamos falar de um outro informal... Havia momentos em que as duas delegações privavam, saíam juntas a um café, um jardim ou mesmo conversar e confraternizar?
Para ser franco, eu recordo-me apenas de um almoço entre os dois chefes de delegações. Foi uma iniciativa minha que os mediadores consideraram-na muito ousada. Garanti que o senhor Armando Guebuza havia de aceitar, e, por acaso, aceitou. Estávamos acompanhados pelos membros das nossas delegações. eles ficaram numa mesa e eu e o chefe da delegação da Frelimo estivemos numa outra. Era esta uma forma de procurarmos aproximação.
Onde é que aconteceu esta conversa informal?
Lá na Comunidade Santo Egídio havia um espaço que estava consagrado para isso.
Há quem diga que a maioria das decisões que corporizaram o Acordo Geral de Paz de 4 de Outubro de 1992 foi conseguida nos corredores e não na mesa das negociações como tal. Confirma a informação?
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In O Pais, 04 de Outubro de 2012

03 outubro 2012

MERCENÁRIOS BASEADOS EM LISBOA INFILTRADOS NA FRELIMO E NOS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA


MERCENÁRIOS BASEADOS EM LISBOA INFILTRADOS NA FRELIMO E NOS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO EM ÁFRICA


Mais revelações agora passadas a livro pela investigação de José Duarte Jesus, um diplomata português que escreveu sobre 'A guerra secreta de Salazar em África', incluindo Moçambique, confirmam que nos anos 1960 e 70, a agência noticiosa Aginter Press, sediada em Lisboa, era a fachada perfeita para uma organização de mercenários e espiões da Alemanha, França e Bélgica.
O investigador diz que o fascista António de Oliveira Salazar sabia da existência da organização e até apoiava este grupo secreto. Eles envolveram-se na guerra colonial e até nos movimentos de Libertação Africanos, incluíndo a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o MPLA, em Angola, entre outros.
Eduardo Mondlane foi morto, em Dar-es-Salaam, na Tanzania, em 1969 por uma carta-bomba enviada por agentes da PIDE.
Os grupos tinham por missão combater o comunismo em África, América Latina e na Europa. “Tentaram tomar parte no pós 25 de Abril, envolveram-se no 11 de Março e nos ataques bombistas em Portugal”.
À venda nas livrarias em Portugal, o livro conclui que os referidos mercenários e espiões se infiltraram na FRELIMO, no MPLA, entre outros movimentos.
José Duarte de Jesus, embaixador, demitido do M.N.E (Ministério Português dos Negócios Estrangeiros) em 1965, convidado pelo ministro Franco Nogueira a deixar Portugal em 24 horas quando se soube que andara em conversas com o fundador da FRELIMO e arquitecto da unidade moçambicana, Eduardo Chivambo Mondlane, foi reintegrado no corpo diplomático depois em 1974.

“A Guerra Secreta de Salazar em África” foi editado este ano (2012) pela Dom Quixote.
Longa introdução (metade do livro), denuncia o envolvimentos dos Estados Unidos da América (EUA) com a primazia («pecado original») no recrutamento de elementos do Eixo e de Vichy como agentes anti-subversivos para contenção do comunismo no Ocidente após a II Grande Guerra.
Dá conta da rede e organizações criadas por estes elementos com esse fim, nomeadamente duma Organisation Armée Secret, suas ramificações e excrescências; enforque na Aginter cuja actividade em Portugal e Ultramar visa ser o principal do livro.
O livro revela o trabalho dos agentes da Aginter fomentado por Portugal (por intermédio da Polícia Política Portuguesa (PIDE), ministérios da Defesa e dos Estrangeiros) e motivado pela estratégia da defesa do Ultramar, desde operações de apoio ao Congo Belga, fomento da contra-revolução no Congo-Brazzaville (apoio ao abade Youlu), operações de contra-subversão sobre os 'terroristas de Angola, U.P.A./F.N.L.A (liderada por Holden Roberto) e M.P.L.A'
Aventa ainda a intervenção (incerta) da Aginter no Biafra.
DM/DT
AIM – 22.06.2012

In: http://macua.blogs.com

JACOB ZUMA PODE TER O MESMO DESTINO DE THABO MBEKY


JACOB ZUMA PODE TER O MESMO DESTINO DE THABO MBEKY


 Xipalapala por João de Sousa

A previsão é do analista político sul-africano William Gumede
O analista político William Gumede considera que o Presidente Jacob Zuma pode ser afas­tado das suas funções de Chefe de Estado, mesmo que seja reeleito Presidente do ANC no Congresso de Mangaung a ter lugar em Dezembro, seguindo assim o exemplo do que aconteceu com o antigo presidente Thabo Mbeky. Gumede considera, por outro lado, que a reeleição de Jacob Zuma “vai dividir ainda mais o partido”.
Será oportuno recordar que Thabo Mbeky foi afastado das suas funções de Chefe de Estado em 2008, nove meses depois de Jacob Zuma ter assumido a presidência do ANC, no Congresso de Polokwane de 2007.
Estas considerações aparecem no seu livro denominado “Restless Nation” (Nação Inquieta) que foi lançado a semana passada em Joanesburgo. O autor refere que o Presidente Jacob Zuma tem apoio apenas nas províncias do Kwazulu Natal, Mpumalanga e Free State. O autor refere-se a um outro facto que pode incomodar o Presidente. É que Zuma não tem o apoio de todos os sindicatos e isso deriva do facto de o Chefe do Estado sul-africano não ter atendido aos pedidos das instituições sin­dicais, no sentido de efectuar reformas na política económica e social.
O autor do livro Restless Nation prevê que os oponentes directos de Jacob Zuma podem ser intimidados, já que, não havendo certezas de um apoio massivo à sua recandidatura, o mais provável será “retirar de imediato do caminho quem lhe possa fazer frente em Dezembro”.
William Gumede faz outras considerações sobre o processo interno de eleições no Congresso do ANC de Dezembro que, segundo ele, podem passar pela inclusão do empresário Cyril Ramaphosa na lista dos candidatos a eleger (eventualmente para assumir o cargo de vice- presidente do partido) sem esquecer, no entanto, que para esta corri­da, embora que de uma forma mais subtil, entra também Tokyo Sexwale, o actual ministro do reassentamento humano.
Outro dos aspectos referidos pelo analista po­lítico nesta sua mais recente publicação relaciona-se com o actual vice-presidente do ANC. William Gumede considera que “Kgalema Motlhante pode desistir desta corrida, porque ainda não se mostrou como candidato opositor a Jacob Zuma”.
Restless Nation” é, certamente, um livro que pode interessar a um variado leque de leitores, e, especialmente, aos que se dedicam à investigação ou à área das ciências políticas.
CORREIO DA MANHÃ – 15.08.2012
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Nota do Blog:
Vice-presidente Kgalema Motlanthe é a escolha da Liga da Juventude da  ANC  para o cargo de presidente do ANC. Tudo leva a crer que será o próximo presidente da RSA.
Kgalema Montlanthe, actual vice presidente da Africa do Sul



QUEM GOVERNA A ÁFRICA DO SUL? - TÍTULO DO DE MARTIN PLAUT E PAUL HOLDEN


QUEM GOVERNA A ÁFRICA DO SUL? - TÍTULO DO DE MARTIN PLAUT E PAUL HOLDEN


 XIPXLAPALA por João de Sousa
Ao percorrer pelas 420 páginas deste livro percebe-se que a África do Sul respira democracia. Que as mudanças chegaram. Que o apartheid foi abolido no país. Por isso mesmo os autores desta publicação, são de opinião de que os dias de hoje são (ou deviam) ser outros. E neste escrito de análise ao que hoje se passa por aqui, uma pergunta: “Mais de duas décadas depois da libertação de Mandela, por que é que a África do Sul continua a ser uma Nação em permanente turbulência” ? Para uns uma resposta fácil de ser encontrada. Para outros não.
O racismo infelizmente ainda está presente. Hoje o país está mergulhado num mar de pobreza e desemprego.
A pequena elite negra tenta florescer, agarrada ao Black Economic Empowerment (BEE), a quem, muitos críticos designam de “elefante branco”.
Os 100 milhões de randes (o equivalente a pouco mais de 350 milhões de meticais) que vão ser gastos em Mangaung no próximo congresso do ANC são a prova evidente de que “não há mãos a medir” no que a dinheiro diz respeito.
Desde Outubro de 2009 que políticos do interior do ANC afirmam, abertamente, a existência de divergências internas. Não só entre os apoiantes de Jacob Zuma e do antigo presidente Thabo Mbeky, mas também através de “muitas outras linhas”. Um outro dado revelador. Alguns políticos já dizem que o próximo congresso de Mangaung (Bloemfontein) vai ser pior do que o de Polokwane em 2007, quando Zuma afastou Mbeky da chefia do Estado.
Nas hostes dos sindicatos nem tudo é um mar de rosas. As dissidências, particularmente quando o massacre de Lonmin invadiu as páginas dos jornais e fez manchete durante vários dias na Rádio e Televisão, são evidentes. A Central Sindical tenta lutar contra isso, mas não encontra no seu secretário-geral o tal homem de concenso, embora ele tenha sido reeleito para o seu quarto mandato.
Este livro que tem servido de base à minha crónica de hoje, está dividido em cinco partes. Na primeira os autores abordam questões relacionadas com aquilo que designam “bons amigos, piores inimigos”.
Aqui são referidos aspectos de natureza histórica relacionados com algumas figuras centrais de topo do ANC e analisados os prós e os contras da formação da Aliança Tripartida, que congrega no seu seio o ANC, o Partido Comunista e a COSATU, a frente alargada que funcionou como travão às intenções dos partidos existentes ao tempo do apartheidtomarem o poder, com especial destaque para o Partido Nacional, que depois de 1994 passou a designar-se de Aliança Democrática e que controla política e administrativamente a Província do Cabo.
Os autores tentam analisar os aspectos essenciais da corrupção e das instituições que ainda resistem ao processo de depradação do ANC, com tentáculos virados para o judiciário, para os meios de comunicação social privados (ou independentes) e para a sociedade civil em geral.
Um capítulo é dedicado a perceber que mecanismos utiliza o ANC para se auto-financiar com referência ao BEE que acabou por criar no país um grande número de milionários, que jogam um papel importante nas decisões de natureza política e que de acordo com os autores deste livro não passam duma “burguesia patriótica”.
Martin Plaut Paul Holden são de opinião de que o poder não reside nas instituições tradicionais, como por exemplo o Parlamento ou no Conselho de Ministros. Num país onde a pobreza atinge níveis alarmantes e as instituições, nomeadamente as do Estado, são fracas, estão criadas as condições para intensificar a batalha pelo poder. Eles desvendam por outro lado o mistério de como é que a “Nação do arco-íris” chegou a esse ponto. Questionam as origens da Aliança Tripartida e perguntam se ela vai resistir a estas lutas pelo poder. Quais as forças sombrias que operam no interior desta aliança? Mais importante do que isso: será que a África do Sul está predestinada a ser mais uma tragédia africana, ou se ainda há uma luz no fundo do túnel que faz vislumbrar crescimento e democracia estável?
Para quem se interessa por estas coisas este é um livro que vale a pena ler.

CORREIO DA MANHÃ – 03.10.2012

CRONOLOGIA/20 ANOS DO ACORDO GERAL DE PAZ EM MOÇAMBIQUE


CRONOLOGIA/20 ANOS DO ACORDO GERAL DE PAZ EM MOÇAMBIQUE
Acordo Geral de Paz  (Roma- 4 de Outubro de 1992)

Cronologia dos principais acontecimentos em Moçambique relacionados com o Acordo Geral de Paz, assinado há 20 anos:
25 de junho de 1975 -- Proclamação da Independência de Moçambique da República Portuguesa.
Fevereiro de 1976 -- Início da guerra civil moçambicana movida pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) contra o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).
18 de outubro de 1977 -- Morte em combate do primeiro presidente da Renamo, André Matade Matsangaíssa, e consequente substituição por Afonso Marceta Macacho Dhlakama.
1980 - Cessação do apoio da ex-Rodésia (atual Zimbabué) à Renamo e transferência das bases do movimento para a África do Sul, ainda sob domínio do regime do "apartheid".
16 de março de 1984 - Governo da Frelimo assina com o Governo da África do Sul o Acordo de Incomati, que preconizava o fim do apoio de Moçambique ao Congresso Nacional Africano (ANC) em troca da renúncia do apoio de Pretória à Renamo.
19 de outubro de 1986 -- Morte do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, num acidente de viação.
1988 -- São reportados contactos secretos entre líderes religiosos e representantes da Renamo sobre a possibilidade de encontros diretos com a Frelimo com o objetivo de acabar com a guerra civil.
09 de março de 1989 -- Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, anuncia em Washington desejo de manter negociações com a Renamo, para o fim da guerra civil.
Agosto de 1989 -- Líderes religiosos encontram-se com Afonso Dhakama, na principal base da Renamo, no centro de Moçambique, com quem discutem o fim da guerra civil em Moçambique.
Agosto e dezembro de 1989 -- Presidentes Robert Mugabe, do Zimbabué, e Daniel Arap Moi, do Quénia, envolvem-se como mediadores das negociações ainda indiretas entre o Governo moçambicano e a Renamo.
Novembro de 1989 -- Presidente moçambicano, Joaquim Chissano, anuncia a introdução da primeira Constituição multipartidária, a entrar em vigor em 1990.
1990 -- Representantes da Renamo e do Governo da Frelimo reúnem-se em Blantyre, Malaui, em mais um esforço para a busca da paz em Moçambique. Nesse mesmo ano, as duas partes aceitam transferir para a capital italiana, Roma, as negociações de paz.
- Comunidade de Sant`Egídio e Governo italiano envolvem-se como mediadores do processo de paz.
Agosto de 1992 -- Primeiro encontro entre Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama em Roma.
01 de outubro de 1992 -- Falha a Assinatura do Acordo Geral de Paz.
02 e 03 de outubro de 1992 -- Impasse em relação a alguns pontos do acordo. Afonso Dhlakama ameaça prosseguir com a guerra civil.
04 de outubro de 1992 -- Assinatura do Acordo Geral de Paz.
27 a 29 de outubro de 1994 -- Realização das primeiras eleições presidenciais e legislativas, ganhas pela Frelimo.
04 de outubro de 2012 -- 20.º aniversário da Assinatura do Acordo Geral de Paz.
PMA // VM.
Lusa – 03.10.2012

Nova lei europeia anti-corrupção em negócios com África


Nova lei europeia anti-corrupção em negócios com África
 
A Europa deu um passo em frente no sentido de refrear a corrupção nas indústrias extractivas em países subdesenvolvidos.

Um comité do Parlamento Europeu aprovou legislação que requere às companhias europeias a publicação de pagamentos feitos a governos. A medida é similar a uma lei já em vigor nos Estados Unidos.
O grupo internacional Global Witness disse que muitos países subdesenvolvidos sofrem do que classifica por “maldição dos recursos”. Apesar de serem ricos em petróleo, gás, madeiras ou minerais, os cidadãos nesses países muitas vezes não vêm quaisquer benefícios quando esses recursos são extraídos e vendidos.
Brendan O’Donnell, da Global Witness, afirmou que a legislação agora aprovada pelo Parlamento Europeu vai dar luz à indústria extractiva:
“Este é o primeiro grande passo para termos uma boa legislação europeia que permitirá aos cidadãos saberem quanto é que as companhias estão a pagar aos governos por recursos naturais nos seus países.”
A legislação é similar a uma lei que entrou em vigor nos Estados Unidos em Agosto. A Comissão de Controle da Bolsa publicou novas leis como parte da Lei Dodd-Frank de Protecção do Consumidor e de Reformas na Wall Street:
“Companhias extractivas terão de informar o que pagaram numa base anual na lista das suas acções e nos seus relatórios anuais exactamente o que pagaram aos governos por recursos naturais como o petróleo, gás e minerais numa base projecto a projecto. Agora isso é realmente importante porque os projectos definem o que foi acordado. É realmente importante para os cidadãos terem capacidade de verificar os pagamentos a esse nível.
O’Donnell acrescentou que quando os números financeiros estão aglomerados é muito difícil o que chamou de “seguir o dinheiro” e determinar quanto foi canalizado para programas sociais, de saúde e educação, por exemplo.
A Global Witness calcula que desde que começou o “boom” do petróleo na Nigéria nos anos 60, o país perdeu cerca de 400 mil milhões de dólares em actos de corrupção.

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Nota do Blog: Os europeus já fizeram a sua parte. Cabe aos africanos fazerem a sua. Que mania esta dos africanos esperarem sempre a salvação dos ocidentais!