Bem vindos,

Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

27 junho 2012

DOCUMENTÁRIO- ILHA DE MOÇAMBIQUE- PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE

DOCUMENTÁRIO- ILHA DE MOÇAMBIQUE- PATRIMÓNIO MUNDIAL  DA  HUMANIDADE
O filme documentário abaixo retrata de forma resumida a história da Ilha de Moçambique (norte de Moçambique)  e a sua importância estratégica na navegação portuguesa a caminho das Índias.
Veja também o filme da descoberta do navio São José  da esquadra comandada por Francisco da Gama afundada perto da ilha de Moçambique em 1662 e do resgate do seu tesouro no site: http://www.macua1.org/arqueonautasilha/arqueonautasilha.html.  Existem também vários links sobre a Ilha de Moçambique em http://www.macua.org/ilharecuperacao/index.html.

26 junho 2012


DOCUMENTÁRIO- OPERAÇÃO NÓ GORDIO

 A famosa Operação Nó Gordio engedrada pelo General Kaulza de Arriaga que visava estancar as operações da Guerrilha da FRELIMO não surtiram efeito desejados. A partir daí, os portugueses aperceberam-se que não seria possível vencer a Luta Armada. Assista o documentário para compreender os contornos desta Operação.



24 junho 2012

Massacre de Wiriyamu












 
Massacre do Wiriyamu- 40 anos depois
 
As consequências políticas do massacre do Wiriyamu resultou numa decisiva vitória política para os insurgentes, o que aumentou a pressão diplomática sobre Portugal e os desacordos entre a Igreja, os militares, os serviços de inteligência e as elites políticas. Isto, por sua vez, contribuiu decisivamente para uma crescente atmosfera de descontentamento entre os militares portugueses com as campanhas em África (veja o video abaixo).




AS  7 MARAVILHAS DO MUNDO

O vídeo abaixo mostra as 7 maravilhas do Mundo que podem ser considerados os maiores monumentos históricos construídos na face da Terra. São magníficas obras arquitectónicas que vale apenas apreciar. Os monumentos estão espalhados pela Ásia (China e Jordânia), América Central e do Sul (México, Brasil e Peru), África (Egipto) e Europa (Itália). Depois de assistir o vídeo deixe o seu comentário.

22 junho 2012

O jubileu do luto e da mentira: o outro lado da história

O jubileu do luto e da mentira: o outro lado da história
Maputo (Canalmoz) – 2012 foi declarado pelo partido que tem estado no poder, o “Ano do Jubileu”, justificando-se que este ano o partido Frelimo completa 50 anos da sua criação. Estamos, no entanto, perante uma descarada mentira como provam os factos.
A FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique e Partido Frelimo são duas entidades diferentes e em rigor é mentira que a organização que está presentemente no poder seja a mesma que proclamou a autodeterminação e independência de Moçambique. É verdade que usurpou o acrónimo FRELIMO da Frente de Libertação de Moçambique, mas Partido Frelimo não é a mesma coisa que Frente de Libertação de Moçambique.
É preciso que os moçambicanos saibam que estão a querer enganar-nos quando pretendem fazer crer que o Partido Frelimo faz 50 anos.
É preciso que os moçambicanos se recordem ou fiquem a saber que a 03 de Fevereiro de 1997 foi extinta a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e no mesmo 3.0 Congresso, que decorreu em Maputo até 07 de Fevereiro, foi criado o Partido Frelimo. Seguiu-se até, como o comprovam os jornais da época, a campanha de “Estruturação do Partido”, um processo que levou à exclusão de milhares de antigos combatentes pela Independência Nacional que se recusaram a subscrever o marxismo-leninismo que passou a ser a ideologia do Partido Frelimo. Muitos antigos combatentes da libertação nacional foram até espancados e assassinados por discordarem quando se deu a ruptura entre os que subscreveram o “socialismo científico” ou marxismo-leninismo e os outros.
Os próprios Estatutos do Partido Frelimo, aprovados no 7.0 Congresso na Matola, que decorreu de 19 a 24 de Maio de 1997, e revistos a 17 de Junho de 2002 no 8.º Congresso, este também na Matola, fez domingo último 10 anos, no seu preâmbulo refere e citamos: “nós, militantes do Partido, herdeiros da Frente de Libertação de Moçambique…”. Quem herda não é. “Pela boca morre o peixe”…
Nos mesmos estatutos refere-se no ARTIGO 1.2 que o Partido Frelimo foi fundado em Dar-es-Salaam, na Tanzania, a 25 de Junho de 1962. Também isso é uma redonda mentira porque o que foi realmente fundado na capital tanzaniana nessa data foi a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). O Partido Frelimo foi fundado a 03 de Fevereiro de 1977, em Maputo, capital de Moçambique já independente, na altura há cerca de dois anos.
No Artigo 2 dos Estatutos em vigor o próprio Partido Frelimo admite que “o Partido continua a acção e tradições gloriosas da FRENTE DE LIBERTAÇÃO DE MOÇAMBIQUE…”, mas admite isso só em 1997, já depois do Acordo Geral de Paz quando começa a querer limpar as nódoas do passado.
Em 1977 os que criaram o Partido Frelimo romperam com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), extinguindo-a. A parte de militantes que não subscreviam o marxismo-leninismo não deixaram de ser antigos combatentes pela Independência Nacional, não deixaram de ter sido da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), mas deixaram de ser do “Partido Frelimo – Partido de Vanguarda Marxista-Leninista”.
Uria Simango e muitos outros foram fundadores e membros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), foram mortos pelo regime em processos extra-judiciais e até hoje se desconhece onde estão os seus restos mortais. Nunca foram do Partido Frelimo.
A morte de Eduardo Chivambo Mondlane que também ainda hoje se ensina nas escolas que foi na sede da Frente de Libertação de Moçambique, em Dar es Salaam, é mentira que tenha sido aí. Foi, de facto, a mais de quinze quilómetros da sede da FRELIMO na baixa da capital tanzaniana. Foi em Oyester Bay, na residencial de uma americana, Betty King, que era na altura secretária da esposa de Mondlane, Janet Mondlane, também ela de origem americana. Porque esconderam a verdade que até veio expressa no Boletim da FRELIMO editado em Dar es Salaam pelo falecido jornalista Ian Christie?
Por que razão mentem estes senhores do Partido Frelimo?
Usam os bens do Estado Moçambicano para seu próprio benefício. Usurpam os meios do Estado e servem-se de datas nacionais que a todos cobrem e não dizem respeito apenas ao partido Frelimo e ignoram as valias dos outros tão moçambicanos como eles, porquê?
Falam de paz mas usam sistematicamente armas para atingir os seus fins, porquê?
Os moçambicanos terão todos muito orgulho na Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) mas não têm todos orgulho do Partido Frelimo.
Os moçambicanos terão todos orgulho de serem hoje cidadãos de um País soberano, mas nem todos se revêem ou se identificam com o Partido Frelimo.
Moçambique tem hoje mais de 20 milhões de habitantes e o Partido Frelimo reivindica como seus membros cerca de 2 milhões. Admitindo essa probabilidade os membros do Partido Frelimo não chegam a 10% dos cidadãos moçambicanos.
Como já foi anunciado, as comemorações deste partido que merece tanto respeito como todos os outros, mas a que não assiste o direito de se julgar dono do País e dos seus cidadãos, vão continuar, e tudo leva a crer que a partidarização das datas nacionais vai também continuar a servir para confundir todo um Povo a quem se insiste em enganar fazendo crer que quem libertou Moçambique foi apenas quem está no Partido Frelimo.
Na próxima segunda-feira é dia 25 de Junho, Dia da Independência Nacional que se proclamou em 1975. Para ela contribuíram milhões de compatriotas que não se revêem no partido Frelimo, mas este partido porque se tem mantido no poder, irá certamente mais uma vez usar esta data nacional para enganar os moçambicanos no geral fazendo crer que foram apenas os que criaram o Partido Frelimo que criaram a Frente de Libertação de Moçambique. Até omitem a memória do III Congresso que criou o partido marxista-leninista a 3 de Fevereiro de 1977.
A Frente de Libertação de Moçambique foi criada a 25 de Junho de 1962 e foi extinta a 03 de Fevereiro de 1977. Não chegou a fazer 15 anos. Já o Partido Frelimo, criado a 03 de Fevereiro de 1977, a 25 de Junho, na próxima segunda-feira não faz anos. Já fez 35 em Fevereiro. Isto são factos.
Durante esta fase preparatória do dito “jubileu”, muitas coisas foram acontecendo, perante as quais só se pode manter calado, quem beneficia do caos instalado no País pelo regime que vigora eliminando opositores, aldrabando eleições, prendendo quem discorda, roubando bens do Estado, viciando a Justiça, fechando os olhos às práticas dos que violam as leis só porque pertencem ao mesmo “clube”.
Para além da usurpação dos meios e datas do Estado, os discursos que têm estado a ser propalados pelos dirigentes do Partido Frelimo e seus acólitos, são um verdadeiro insulto à memória de muitos moçambicanos desaparecidos, mortos e espoliados, e de suas famílias e herdeiros.
Nesta edição voltamos a falar de uma das vítimas do célebre processo de Nachingweia em que uma parte dos membros da Frente de Libertação de Moçambique que viria a criar o Partido Frelimo eliminou fisicamente a outra alegando apenas que eram reaccionários.
No recente “simpósio”, que foi realizado na Matola a semana passada perfilaram antigos membros do “Bureau Político do Partido Frelimo” entre os quais uns membros fundadores outros não da Frente de Libertação de Moçambique – o Movimento de Libertação que congregava diferentes sensibilidades de moçambicanos. Os que foram afastados do Partido Frelimo quando foi extinta a Frente de Libertação de Moçambique, os que foram forçados a sair do País e muitos combatentes anónimos pela Independência Nacional, como sempre foram marginalizados e estão a ser marginalizados, precisamente porque este “jubileu” ainda é o do luto e da mentira.
Foram marginalizados os que não concordavam com as ideias marxistas-leninistas adoptadas pelo grupo do Partido Frelimo. Foram presos e mortos porque defendiam para Moçambique uma sociedade diferente, com direitos, liberdades e garantias que só uma guerra civil tremenda e devastadora acabou por forçar a que fossem admitidos e institucionalizados constitucionalmente.
No “simpósio” da semana passada na Matola, mais uma vez, a história voltou a ser escamoteada. Os moçambicanos voltaram a ser presenteados com meias verdades e mentiras. A verdade continua a ser escamoteada incompreensivelmente.
De todos os oradores do dito simpósio, desde Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos, a Feliciano Gundana, e tantos outros, ninguém ousou tocar no outro lado da história. Todos falaram do que convém. Ocultaram factos relevantes.
Ninguém falou dos assassinatos dos chamados reaccionários; ninguém falou das aldeias comunais e do desastre sócio económico e cultural que foi essa experiência. Ninguém falou da operação produção em que milhares de inocentes foram levados de Maputo para serem deixados à mercê de leões em Niassa. Ninguém falou dos campos de reeducação de onde milhares de moçambicanos não voltaram mais, nem ninguém os voltou a ver. Ninguém falou das torturas e fuzilamentos públicos dos chamados “inimigos da revolução ou inimigos do povo”.
É importante que se diga a verdade para não se continuar a alienar as mentes dos moçambicanos.
Se os autores desses crimes hediondos os escondem porque têm vergonha dos seus actos, então estão a tomar a decisão errada. O que devem fazer é retratarem-se e redimirem-se publicamente, confessando os seus crimes, pedindo perdão às vítimas e devolvendo os restos mortais das vítimas aos seus entes queridos. Acreditamos que se o fizessem estariam a promover a unidade nacional. Com a mentira não!! (Canal de Moçambique

18 junho 2012

DOCUMENTÁRIO: THOMAS SANKARA, PRESIDENTE DO BURKINA FASO

DOCUMENTÁRIO: THOMAS SANKARA, PRESIDENTE DO BURKINA FASO
O documentário retrata a vida de Thomas Sankara, presidente do Burkina Faso, que apesar de ser jovem possuia uma visão progessista da África. Os seus ideais socialistas levaram ao seu assassinato. Assista para compreender a história deste grande nome da História de África.
Se as legendas não aparecerem automaticamente, posicione o mouse (rato) na seta para cima que aparece na barra inferior da moldura da tela do Youtube, e depois, clique em CC e selecione o idioma da legenda. Isto só funciona com o vídeo em execução.

17 junho 2012

FILME SHAKA ZULU

FILME SHAKA ZULU
Shaka Zulu é um filme que retrata o Império Zulu do sul da África.Mostra como foi contacto com entre africanos e ingleses  e as contradições políticas internas do Império derivados da política marcial e ambicionista do Imperador Zulu o que contribuiu para a destruição política do  mesmo. O filme ajuda-nos também a compreender o processo da colonização europeia no sul da África.

FILME HOTEL RWANDA

Hotel Rwanda é um filme  que retrata a violência étnica entre Hutus e Tutsis no Rwanda e que culminou com milhares de mortes.

As razões deste genocídio ainda carecem de pesquisas mais aprofundadas. Há hipóteses que sustentam a ideia de que houve uma influência externa, ou seja, os franceses contribuiram para ocorresse este fenómeno. Outros aindam procuram buscar as evidências na colonização alemã e belga na região na medida que estes fomentaram o tribalismo através da prática de dividir para reinar. Poucos são os estudos que buscam a compreensão do fenómeno partindo  das relações étnico-raciais desde o período pré-colonial.  Não pretendo de forma alguma afirmar que esta última argumentação seja a mais próxima da verdade, mas gostaria de chamar atenção que é preciso que na análise do genocídio seja analisado os intervenientes (hutus e tutsis)  como sujeitos históricos activos do processo.
Alguns autores e responsáveis pelo  genocídio foram julgados, mas a justiça esta  longe de ser concluída sobretudo porque o Ocidente ainda escondem nos seus países alguns deles. Acompanhe atentamente para compreender a dimensão moral da tragédia. No fim elabore o seu comentário.

16 junho 2012

Prefácio do livro "Futebol e Colonialismo. Corpo e Cultura Popular em Moçambique" de Nuno Domingos


Prefácio do livro "Futebol e Colonialismo. Corpo e Cultura Popular em Moçambique" de Nuno Domingos
A perspectiva de conjunto é por vezes melhor apreendida nos mais pequenos detalhes. De acordo com Thomas Hylland Eriksen a importância da antropologia reside precisamente na habilidade para examinar «grandes questões» em «lugares pequenos»1. É exactamente isso que Nuno Domingos consegue em Futebol e Colonialismo. Corpo e Cultura Popular em Moçambique.

À primeira vista este trabalho é sobre futebol e o modo como era praticado em Lourenço Marques – a maior cidade e centro administrativo da colónia portuguesa de Moçambique – na primeira metade do século XX. O trabalho interpreta o desenvolvimento do jogo, desde a fundação dos primeiros clubes formados por expatriados ingleses, passando pela organização em Moçambique de filiais de clubes metropolitanos como o Sporting e o Benfica, até à abertura deste clubes a membros de uma elite Africana, a maior parte deles mestiços, e à criação da Associação de Futebol Africana, com jogadores, na sua maioria, provenientes das classes trabalhadoras africanas que viviam na periferia pobre da cidade onde estes jogos decorriam.

Os historiadores do futebol irão, com certeza, ficar interessados em aprender algo mais sobre o contexto que produziu talentos como Mário Coluna ou Eusébio, ambos figuras maiores do futebol europeu em meados do século XX. E a reivindicação de que o futebol é um – senão o – desporto mundial será apenas reforçada pelas descrições do entusiasmo com que os moçambicanos, de diferentes origens, abraçaram o jogo há tantos anos. O trabalho de Nuno Domingos vai, no entanto, muito além de uma narrativa histórica da disseminação de um jogo europeu (na sua versão moderna) numa colónia africana. A sua «grande questão» é a relação ente o colonizador e o colonizado concebida desde o jogo de futebol.

Deste modo, esta investigação baseia-se e dá continuidade a uma tradição das ciências sociais que tem vindo a produzir, no domínio dos Estudos Africanos, resultados relevantes nas últimas décadas: o estudo da «cultura popular». Até à data, os estudos da cultura popular africana focaram-se sobretudo nas artes, na escultura, na pintura, na música, na dança, na literatura, no cinema e no teatro. Estes trabalhos tornaram visível a interacção dinâmica entre tradição e modernidade no continente africano, destacando os meios pelos quais as formas africanas de expressão se articularam com a experiência vivida dos processos históricos que ligaram o continente com um mundo mais largo, do colonialismo até ao nacionalismo revolucionário, ao socialismo e ao neo-liberalismo. Através destes processos, os africanos adoptaram e adaptaram géneros expressivos para os seus próprios fins e, como este trabalho demonstra, contribuíram profundamente para as trajectórias globais destas diversas formas.

O próprio Nuno Domingos adopta e adapta os estudos da «cultura popular» para perseguir os seus objectivos neste trabalho. Fazendo-o, estende a abordagem a uma área ignorada com demasiada frequência por historiadores e cientistas sociais, o desporto. Ao observar a forma como o futebol era jogado no Moçambique urbano por intermédio do enquadramento conceptual do genre põe de parte a asserção de que o jogo – definido como é por um conjunto de regras – viaja inalterado de um contexto social para o outro. Tal como as artes, o trabalho mostra-nos que o futebol foi transformado por aqueles que o praticaram em locais como o Moçambique colonial. Mas não é a transformação do jogo em si mesma que mais interessa a Nuno Domingos. Ele está, sobretudo, mais interessado nas «grandes questões», isto é, em saber como o jogo transformou, ou não, aqueles que jogavam neste contexto colonial, e de como foram, ou não, capazes de usar o jogo para transformar o mundo em que viviam.

O pouco que se tem escrito sobre desporto em contexto colonial tende a focar-se no seu uso como instrumento de poder. Ao jogar – ou sendo compelidos a jogar – os jogos dos colonizadores, defende-se que os corpos dos colonizados foram disciplinados e as suas mentes orientadas em direcção a novas ideias tais como a «competição estruturada», o «fair play» e o «Estado de direito». O trabalho de Nuno Domingos demonstra claramente que, em certa medida, o regime colonial português concebeu o desporto, nomeadamente o futebol, como uma forma de «civilizar». Demonstra também, no entanto, que este não foi um projecto inteiramente bem sucedido. O modo como os moçambicanos urbanos jogaram futebol permitiu-lhes exprimir e reforçar as suas formas de estar no mundo, em parte para se transformarem a si próprios, numa tentativa de acederem a um universo que quase sempre os excluía.

A utilização neste livro dos textos do poeta e jornalista proto-nacionalista José Craveirinha – que escreveu sobre o futebol praticado nos bairros suburbanos da «cidade de caniço» – proporciona aos leitores um aprofundamento acerca do modo como o jogo foi praticado pelos africanos de classe trabalhadora, inclusivamente sobre os detalhes mais ínfimos tais como os termos que designavam a performance, os gestos físicos e as disposições morais que animavam jogadores e público nos inúmeros «pequenos lugares» onde se encontravam. Em campos improvisados, no meio dos subúrbios sujos e sobrepovoados que rodeavam a «cidade de cimento», o humor, a criatividade, a dissimulação e a violência faziam parte do jogo, tal como faziam parte da vida de todos os dias dos residentes destes bairros sob domínio colonial. Ao jogar futebol desta forma, os habitantes destas «ruas perigosas» submetiam-se às regras do futebol e simultaneamente desafiavam-nas, resistindo ao poder colonial e procurando capturá-lo. O reconhecimento e a exploração pelo autor de paradoxos como estes sustenta uma narrativa histórica de rico e subtil detalhe.

Nestas páginas o futebol não é apenas um jogo, mas a peça chave de um quadro vivo cujos personagens principais têm até ao momento sido insuficientemente estudadas. Assim sendo, o trabalho de Nuno Domingos não só identifica as peças em falta na visão de conjunto da história portuguesa e moçambicana, para não falar da história do futebol, como oferece uma perspectiva excepcionalmente pormenorizada da experiência vivida do colonialismo português em Moçambique – permitindo comparações com experiências semelhantes noutros contextos – ao mesmo tempo que nos alerta para as inúmeras e muitas vezes contraditórias potencialidades do desporto enquanto meio para moldar as subjectividades humanas.

·         1. Thomas Hylland Eriksen, Small Places, Large Issues: An Introduction to Social and Cultural Anthropology (Pluto Press, 1995).


Documentário: A História do Racismo

A História do Racismo

O documentário analisa a evolução  do racismo do século XVI-XVII estimulado pelo comércio de escravos até aos nossos dias. É de realçar que neste documentário de forma explicita e  evidente compreende-se que o racismo esta directamente ligado a motivos  económicos. Vale a pena assistir. No fim peço o seu comentário.

Jorge Fernando Jairoce

14 junho 2012

Documentário: diamantes de sangue


Um documentário que vale a pena ver, pois retrata a forma como os recursos naturais (diamante) foi explorada em Africa e as repercussões da mesma na promoção da violência armada (guerras em Angola e Serra Leoa). Sempre que usar uma joia de diamante questione a origem legal do mesmo. 

Jorge Fernando Jairoce

Documentário: Africa-história rejeitada

Este e um documentário sugestivo para assistir para quem se interessa em compreender a representação da historia e cultura africana pelos eurocentristas. Essa representação por sua vez produziu uma serie de preconceitos em relação a Africa e ao homem negro. Não ha duvida que estes preconceitos raciais e eurocentricos contribuíram por sua vez para um aproveitamento econômico, refiro me particularmente ao trafico negreiro e a colonização do continente africano. Vale a pena assistir.

Jorge Fernando Jairoce

MUSEUS E O PATRIMÓNIO HISTÓRICO CULTURAL MOÇAMBICANO


MUSEUS E O PATRIMÓNIO HISTÓRICO CULTURAL MOÇAMBICANO





Jorge Fernando Jairoce





Neste artigo pretendo fazer uma  reflexão em relação a situação dos museus e o património histórico cultural no nosso país. O brasileiro Mário Chagas (2007), considera o museu “como um espaço de trocas, de relação e de preservação de documentos, que só possuem sentido se para eles houver um uso social”(p.4).

A partir desta definição, podemos dizer que o museu não é um espaço acabado, restrito a quatro paredes para existir, ou seja, o local onde se depositam coisas velhas, gabinete de curiosidades, tal como demonstram os museus moçambicanos. Os museus em Moçambique ainda são vistos na perspectiva tradicional, ou seja, estáticos e  fechados (restritos ao seu plano conceptual e não prático). Os museus em Moçambique carecem de programas educativos e sociais específicos. No estudo por mim efectuado em 2004,  para avaliar a utilizaçao dos museus da Cidade de Maputo pelos professores e alunos no ensino de História trouxeram dados supreendentes. As escolas da Cidade de Maputo que estão próximos do museus passam anos e anos sem visitá -los, o que vale referir que os professores mesmo com os museus próximos  da escola (Museu da Revolução próximo da Escola Secundária Francisco Manyanga; o Museu de História Natural e de Geologia próximo da Escola Comercial de Maputo e Escola Secundária Josina Machel) não utilizam  como recurso educativo, o que contribui para o seu desconhecimento por parte dos alunos.

Outra razão que contribui para o desconhecimento dos museus tem a ver com a sua fraca divulgação e publicitação, uma vez que não promovem o contacto com as escolas divulgando a sua realidade aos alunos  e pior ainda não possuem serviços educativos organizados. Os nossos museus carecem de profissionais formados que possam acompanhar didácticamente os visitantes.

A preservação de alguns museus e os acervos deixam a desejar, tal é como é o caso do Museu da Revolução em Maputo e o Museu Nacional de Etnologia em Nampula só para citar alguns exemplos. Estes museus carecem de uma restauração urgente. De uma forma geral, os museus do país precisam de acompanhar a dinâmica do mundo culturalmente mais diverso, senão os mass media cada vez mais criativos e abrangentes acabarão substituindo o seu papel na divulgação do património histórico cultural nacional. Os museus nacionais  devem investigar cada vez mais, renovar os seus acervos, promover círculos de interesse educativos e tornarem –se mais interventivos com vista a  preservação do património histórico cultural indispensáveis para promoção do espírito patriótico e de cidadania moçambicana. Considerando este último os museus deviam ser geridos por instituições académicas  e de pesquisa e não por partidos políticos como se pretende com o Museu da Revolução.

Quando referimos o património histórico cultural estamos  a incluir os seus elementos constituintes que são os bens culturais materiais (florestas sagradas, objectos arqueológicos, monumentos, livros, instrumentos musicais, etc) e imateriais  (tradições orais- contos, danças, canções, provérbios, mitos, línguas, etc) indispensáveis para a promoção da identidade cultural e preservação da memória colectiva.

Estes bens culturais constituem importantes  documentos históricos que merecem a sua valorização e preservação para a construção da nossa história que ainda constitue uma floresta virgem a ser desbravada. As nossas cidades capitais, ilhas, algumas vilas, montanhas, edifícios antigos, etc, devem ser preservados, restaurados e utilizados com  vista ao desenvolvimento do País, sobretudo através de promoção de actividades turísticas, educativas e sociais.

Com vista a valorização  e preservação do património histórico cultural do país alguns passos foram dados com realização em Julho de 1978, da 1ª Reunião Nacional dos Museus na Ilha de Moçambique, onde foram discutidas questões relacionadas a organização e  funcionamento dos museus bem como a necessidade da recolha e estudo do património histórico cultural do país. Este encontro conduziu à realização de campanhas de preservação e valorização cultural do património cultural em todo país. Estas campanhas duraram cerca de 4 anos, ou seja, até 1982 quando foi criado o então Serviço Nacional de Museus e Antiguidades que recolheu informações e testemunhos sobre a História, manifestações artísticas, múmias e danças, cerimónias e rituais, utensílios e instrumentos de produção,  que deveriam ser legalmente protegidos pelo Estado.

Foi então que, em 1988, como forma de regulamentar a protecção do património cultural, o Conselho de Ministros aprovou a lei 10/88 de 22 de Dezembro de 1988, relativa a protecção do patrimóno cultural moçambicano. Esta lei, no seu capítulo III, artigo 4, atribui ao estado a responsabilidade de incentivar a criação das instituições científicas e técnicas como museus, bibliotecas, arquivos, laboratórios e oficinas de conservação e restauro, necessárias à protecção e valorização do património cultural. A lei estimula a  utilização dos meios do Sistema Nacional de Educação e orgãos de comunicação sociais para educar os cidadãos sobre a importância do património cultural e a necessidade da sua protecção.

Passados vinte anos após a aprovação desta lei, os meios do Sistema Nacional da Educação continuam ineficientes na sua acção educativa com a vista a valorização e protecção do património cultural moçambicano. Aliás, este constitui um dos principais desafios enfrentados pelo país no relacionamento prático da educação com a realidade sócio cultural  da comunidade, o que seria extremamente importante do ponto de vista afectivo e didáctico tendo em conta que a educação afigura-se como o mecanismo mais adequado para a valorização e preservação do nosso património histórico cultural, tal como foi reconhecido no I Conselho Coordenador da Cultura realizada em 2000.

É interessante registar, entretanto, que os conteúdos,  transmitidos pelas nossas escolas ao longo dos anos, têm privilegiado padrões de cultura importados, aplicados sem a devida redução social, em conteúdos impostos de cima para baixo, dissociados da realidade dos alunos, em escolas burocratizadas e distantes das comunidades na qual estão inseridas. Então, é altura de valorizarmos estudos da nossa realidade  cultural e da nossa memória histórica.

Perante esta situação urge reflectirmos sobre a função educacional dos nossos museus (educação patrimonial), da nossa política nacional da cultura e dos museus e o lugar do património histórico cultural como elemento de desenvolvimento e da promoção da cidadania moçambicana. Valorizando o património cultural nacional  estaremos a valorizar a nossa história e consequemente a promover a cidadania moçambicana.

10 junho 2012

CELEBRANDO MOÇAMBIQUE: PROGRAMA DAS ACTIVIDADES PARA A COMEMORAÇÃO DA SEMANA DA INDEPENDÊNCIA DE MOÇAMBIQUE



UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS)

ESTUDANTES MOÇAMBICANOS EM PORTO ALEGRE



TERMOS DE REFERÊNCIA DAS ACTIVIDADES PARA A COMEMORAÇÃO DA SEMANA DA INDEPENDÊNCIA DE MOÇAMBIQUE

CELEBRANDO MOÇAMBIQUE

Porto Alegre, 25 a 29 de Junho de 2012


INTRODUÇÃO



No âmbito da comemoração do trigésimo sétimo aniversário da Independência de Moçambique, a ser celebrado no dia 25 de Junho, os estudantes universitários moçambicanos em Porto Alegre pretendem realizar palestras sobre a realidade política, económica e sócio-cultural de Moçambique, feira de gastronomia e divulgação da cultura moçambicana (danças, música e outras formas de expressão artística). Estas atividades enquadram-se na promoção de debate e troca de experiências com a comunidade universitária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e aos demais interessados em torno da realidade moçambicana no contexto das nações.

Assim estas atividades irão decorrer na semana de 25 a 29 de Junho de 2012 na UFRGS e é subordinada ao lema CELEBRANDO MOÇAMBIQUE. A escolha desta semana justifica-se pelo facto da Independência Nacional ser celebrada no dia 25 de Junho e assim sendo, demarca a preocupação da moçambicanidade pelas questões referentes à visibilidade e desenvolvimento de seu País.

1. OBJECTIVOS

As actividades a serem realizadas na semana de Moçambique visam:

    i. Enaltecer o percurso histórico da Independência Nacional de Mocambique;
    ii.Mostrar o universo sócio-cultural moçambicano;
    iii.Divulgar a realidade política, económica, social e cultural de Mocambique.

2. ATIVIDADES

Celebrando Moçambique será caracterizada pelas diversas atividades, tais como:

  1. Uma mesa redonda em sessão plenária;

  2. Exposição de objetos artísticos de Moçambique;

  3. Exibição de documentários sobre (i) a história de Moçambique; (ii) danças e instrumentos tradicionais de Moçambique; e (iii) potencialidades turísticas de Moçambique;

  4. Amostra da gastronomia moçambicana;

  5. Convívio de encerramento Celebrando Moçambique que se fará através divulgação da cultura de moçambicana através das danças, músicas e outras formas de expressão artística.
3. PARTICIPANTES
Com o evento prevê-se a participação de académicos, docentes, estudantes, convidados e o público em geral.

    4. PROGRAMA DE ACTIVIDADES

Data: 25, 27 e 29 de Junho de 2012

Primeiro dia, Segunda Feira- 25 de Junho de 2012
Local: Campus Universitário do Centro - Salão dos Atos II (UFRGS)



Horas



Actividades/Eventos



Orador/Interveniente



Moderador/Mestre de Cerimónias



14: 00



Entrada dos participantes



Protocolo



Protocolo



14: 25



Endereço de boas vindas aos participantes



Representante de estudantes moçambicanos em Porto Alegre
Lourenço Cossa



Mestre de Cerimónia (Bernardino Feliciano)



14: 30



Declamação de poema



Sheila António



Mestre de Cerimónia (Bernardino Feliciano)



14: 35 às
16: 35



Mesa Redonda



• Moçambique: caracterização físico-geográfica e sua história – Jorge Fernando Jairoce
• Evolução económica de Moçambique – Faizal Carsane;
• As diversas manifestacões sócio-culturais de Moçambique – Segone Cossa



Eduardo Sequela



16: 40 às 17:00



Exposição de objetos artísticos de Moçambique



Todos participantes



Expositores
Comissão organizadora



17:00



Fim das actividades do dia



Fim das actividades do dia



Fim das actividades do dia




 
Segundo dia, Quarta Feira- 27 de Junho de 2012
Local: Instituto de Educação


Horas



Actividades/Eventos



Orador/Interveniente



Moderador/Mestre de Cerimónias



14:00
às
14: 30



Entrada dos participantes



Protocolo



Lourenço Cossa
Moshin Sidi



14:30
às
17:00



Exibição de documentários sobre (i) a história de Moçambique; (ii) danças e instrumentos tradicionais de Moçambique; e (iii) potencialidades turísticas de Moçambique;



Participantes



Lourenço Cossa
Moshin Sidi



17:00



Fim das actividades do dia



Fim das actividades do dia



Fim das actividades do dia





Terceiro dia, Sexta Feira - 29 de Junho de 2012

Local:
Restaurante Per Tutti (Rua Marechal Floriano Pexoto, Nº 44 – Sobreloja - Centro Porto Alegre)


Horas de início:
19h

  • Gastronomia;

  • Festa de confraternização;

  • Musica africana e Moçambicana com DJ Muali: Marrabenta, Passada, Pandza, Kuduro e outras.

  • Convite: 30 Reais a venda nos contactos abaixo (Elmer e Jorge).
5. RESULTADOS ESPERADOS


  1. Debate académico e informal sobre Moçambique;

  2. Divulgação da realidade política, económica, social e cultural de Moçambique e;

  3. Celebração da Independência Nacional de Moçambique.
6. SUBMISSÃO DOS RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES (ABSTRACTS)

    Os resumos dos trabalhos deverão ser enviados por e-mail à Comissão Organizadora até
    15 de Junho de 2012. Os resumos não podem exceder 200 palavras, têm que conter palavras-chave (5 a 6), devem ser escritos a espaço simples, formato da letra times new roman ou arial, tamanho 12. No resumo terão que constar os objectivos, metodologia, resultados e conclusões.
7. COMISSÃO ORGANIZADORA

        • Jorge Fernando Jairoce

        • Segone Cossa

        • Elmer Matos

        • Bernadino Cordeiro

        • Fulgêncio Muchisse

        • Faizal Carsane

        • Lourenço Cossa

        • Cacilda Nhanisse


      Porto Alegre, 21 de Maio de 2012
      Os Coordenadores
      ________________________________________
      Jorge Jairoce (51 – 812067746; 51 – 84 736155)
      Elmer Matos (51 – 82895481)

      05 junho 2012

      Revoluções Africanas:
      Angola, Moçambique e Etiópia

      Visentini - Paulo Fagundes

      Sinopse
      Na 18ª obra da Coleção Revoluções do Século 20, Paulo Fagundes Visentini traça o cenário que possibilitou a eclosão das revoluções de cunho social ou socialista na África nos anos 1970, focalizando as consideradas mais marcantes: as que mudaram os regimes de Angola, Moçambique e Etiópia.
      Segundo o autor, essas revoluções têm as mesmas características políticas e, do ponto de vista histórico, compartilham a mesma conjuntura que estimulou revoluções semelhantes em vários países do terceiro mundo naquele período. Tal cenário abrangia a crise econômica nos países desenvolvidos, a derrota dos Estados Unidos no Vietnã e a queda de governos autoritários que integravam o flanco sul da OTAN.
      No caso africano, mais um ingrediente viria a integrar essa conjuntura: os movimentos de libertação das tardias colônias portuguesas, que acabaram por abrir caminho para revoluções nacionais democráticas e até socializantes.
      Visentini analisa as lutas árduas decorrentes desses movimentos revolucionários, que tiveram de enfrentar forças conservadoras nacionais e estrangeiras poderosas, e as transformações sociopolíticas que promoveram ao longo dos 15 anos seguintes à tomada do poder.
      “Hoje, pouca gente conhece ou se lembra de tais experiências, pois a historiografia pós-Guerra Fria rotulou-as simplesmente como “regimes autoritários de partido único”, escreve Visentini, lembrando que, embora possa ser aplicado a quase todos os Estados africanos nascidos naquele período, tal rótulo foi usado apenas para designar os governos que se posicionaram como de esquerda.

      http://www.editoraunesp.com.br/catalogo-detalhe.asp?ctl_id=1407

      Marcos Vinícius Santos Dias Coelho
      Doutorando em História Social da África
      Universidade Estadual de Campinas
      Campinas - SP - Brasil
      marvindico@hotmail.com

      CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE POR URIA SIMANGO (NOVEMBRO, 1974)


      Um alerta que o mundo desconheceu

      Situação actual em Moçambique

      De modo a informar todos aqueles que se interessam pelos acontecimentos em Moçambique, decidi escrever estas breves linhas na esperança de que elas possam vir dar uma visão geral da situação.

      O golpe de estado de 25 de Abril em Portugal, foi seguido de promessas dadas pela junta militar dirigida pelo General Spínola de que às colónias iria ser conferida a liberdade de escolherem o seu futuro. Deste modo, a independência seria concedida após eleições gerais, nos princípios de 1975, em que todos os partidos políticos poderiam participar. Com efeito, foi concedida uma amnistia a todos os políticos e aos movimentos de libertação, autorizando-se o seu regresso aos seus respectivos países de forma a terem a oportunidade de expressar os seus ideais antes das eleições.

      Porém, a preocupação imediata de Portugal foi a de criar uma atmosfera de paz como condição necessária para uma pacífica actividade política e elaborar os instrumentos necessários para as eleições e transferência de poderes para os povos colonizados. Por conseguinte, viu-se que as conversações para um cessar fogo eram prioritárias. Por esse motivo, as conversações começaram para Guiné Bissau.


      Cessar fogo

      Em telegrama endereçado ao governo zambiano, o governo provisório português indicou que uma delegação liderada pelo Dr. Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, deveria estabelecer conversações em Lusaka com ambas forças – Frelimo e Coremo. Essas conversações não incluiriam questões relacionadas com a independência dado que as mesmas careciam da participação de outras forças políticas no interior do país.

      Por razões por nós desconhecidas, na véspera das primeiras conversações as tropas zambianas atacaram as bases militares do Coremo em Moçambique, tendo procedido à detenção dos nossos combatentes. Os dirigentes do partido que na altura se encontravam em Lusaka foram detidos e posteriormente encarcerados.

      As informações que obtivemos junto das autoridades prisionais são de que esses dirigentes foram transferidos para a Tanzânia, não sendo possível obter directamente quaisquer notícias dos mesmos.

      Não nos causará surpresa ouvir dizer que todos eles acabaram por ser entregues a Frelimo, às mãos de quem a morte é o destino certo.

      No decurso do mês transacto, tropas da Zâmbia e guerrilheiros da Frelimo, numa acção combinada penetraram no distrito de Tete no encalço das nossas forças que não haviam sido destruídas durante a primeira operação.

      Não restam dúvidas de que a eliminação física do COREMO foi planeada de modo a manter a FRELIMO como o único interlocutor nas negociações com o governo português. Não cremos que as autoridades zambianas tenham agido de forma prudente, independentemente das suas melhores intenções.


      A exclusão

      Talvez os arquitectos do plano de exclusão não estivessem cientes do seu acto. Todavia, ao procederem dessa forma, acabaram por dividir o povo que pretendiam unir, pois um sector da população representado por outros partidos não foi ouvido e consequentemente, alienado ao acordo de Lusaka. Não seria lógico e correcto afirmar-se que o acordo foi imposto ao Povo? Que obrigações terão eles num acordo de que não fizeram parte?

      (...) Milhares de pessoas já deixaram o país com destino à África do Sul e Rodésia. Algumas dessas pessoas encontram-se armadas. O número de desempregados cresceu em flecha como resultado do encerramento de diversos estabelecimentos. A economia atingiu o seu nível mais baixo – não há dinheiro no país.

      Confrontos entre a Frelimo e o povo são frequentes e já provocaram a morte de mais de 1000 pessoas, maioritariamente em Lourenço Marques. Outras 2000 pessoas foram detidas, muitas delas por não apoiarem a Frelimo. Três campos de trabalhos forçados foram abertos para essas pessoas. Este número inclui 4 membros do Partido de Coligação Nacional – PCN, nomeadamente o SG, Basílio Banda, a secretária para Educação, Dra. Joana Simião, Pedro Mondlane e José Vilankulos. Já há unidades de guerrilha a operar contra a Frelimo em vários pontos do país, tendo já causado morte a 500 guerrilheiros da Frelimo. No dia 5 de Novembro, guerrilheiros da Frelimo e tropas portuguesas atacaram a residência de dirigentes do PCN tendo causado um morto.

      (...) O PCN considera que Portugal deve honrar a sua promessa de que todos os partidos políticos, e particularmente o PCN, devem tomar parte nas tarefas de reconstrução nacional. Por aquilo que nos é dado a observar, a tensão aumenta diariamente. (...) Tudo resulta da forma errada como o governo português conduziu o processo da independência, e da ideologia defendida por Lisboa em nome da qual deseja sacrificar tudo e todos.

      Por um lado, o governo português julga ser necessário restaurar a democracia em Portugal. Mas por outro, as autoridades portuguesas não acham que o mesmo seja necessário para Moçambique. Resta-nos rezar para que a situação não piore, pois ainda é possível evitar o desastre. (...). (In Uria Simango - um homem uma causa).

      N.R.: Este texto resulta de fragmentos de um documento de Uria Simango que em Novembro de 1974 ele dirigiu às diversas embaixadas e comunicação social. Na altura a comunicação social nacional já estava em mãos de elementos próximos da Frelimo e o documento não chegou a ser publicado como o seu autor esperava.