Por José dos Remédios
Ao David Bamo e ao Sangare Okapi
Se cometem um erro grosseiro os que admitem,
ou postulam, uma relação de estrita fidelidade especular, de imediata
dependência analógica entre o texto literário e um concreto contexto empírico,
atribuindo portanto ao discurso literário o funcionamento referencial que se
verifica noutros tipos de discurso, homólogo erro, embora inverso, praticam os
que concebem o texto literário como uma entidade puramente automórfica e
autotélica, como se a pseudo-referencialidade implicasse necessariamente uma
ruptura semântica total com o mundo empírico (…).
Vítor Manuel de Aguiar e Silva
Incomoda-nos o título do quarto livro de
Aurélio Furdela, como se sabe, publicado depois de O Golo que Meteu o
Árbitro (2006), Gatsi Lucere (2005) e De Medo
Morreu o Susto (2003). O incómodo a que nos referimos não deve ser
confundido com o vedete (1) convencionado nos dicionários de língua portuguesa,
no seu sentido literal, mas no seu sentido literário, caso exista algum. Na
verdade, o que pretendemos nesses dois sinuosos períodos é justificar a razão
de, entre várias obras pertencentes à literatura moçambicana, termos escolhido
esta, e, entre vários títulos que se poderiam forjar, termos escolhido aquele,
aparentemente subjectivo, sobretudo aos que se dignam deixar embalar pela
letargia – passemos então para o próximo parágrafo, pois neste parecem
esgotadas todas as possibilidades de clarificarmos as nossas escolhas: da obra
e do título desta intervenção.
Tivemos o primeiro contacto com esta obra já
havia sido lançada há uma semana. Nessa altura, uma irritação causada pelo nojo
e aversão que temos das hienas, que num ápice se transformou em incómodo,
envolveu-nos num interesse (dez)necessário(2) de obtermos os sentidos
subjacentes no título – longo como o primeiro e o terceiro livro do autor –, na
capa do livro e nos enredos dos oito (8) contos da obra. Portanto,
tivemos de ler o livro às pressas a fim de que assim compreendêssemos os
devaneios da(s) entidade(s) encarregue(s) pelo título e pelas histórias da
colectânea. Mesmo assim, a irritação, já transformada em incómodo, não se
esvaiu antes que déssemos um full stop, quiçá intermitente, a estas
linhas que se esgotam numa árdua tentativa introdutória.
A Outra Face d’As Hienas Também Sorriem, de
Aurélio Furdela, emerge no mesmo instante em que depois de
lido o livro brotam alguns raciocínios: não é de hienas que se está a falar, as
hienas não sorriem coisíssima nenhuma. Se é verdade que não se está a falar de
hienas e as hienas não sorriem, resta-nos o advérbio “também”, quer dizer,
mesmo que as hienas sorrissem, não nos escapava uma questão óbvia: que outro
ser sorri, para que se legitime o uso do advérbio “também” no título da obra? A
resposta a esta pergunta é escusável, por isso iremos nos centrar nos
raciocínios – os tais incómodos impulsionadores desta reflexão – há pouco
referidos.
A hiena "Tiger wolf (Inglês) ou Hyène
(Francês)" é um mamífero carnívoro, da família Hyaenidae. Quando adulta,
uma hiena mede cerca de 1,5m de comprimento, 80cm de altura e chega a pesar
70kg. Sua pelagem tem cor castanha escura. Diferente dos outros predadores, não
é um animal tão rápido (a sua velocidade não ultrapassa os 60 km/h). A hiena é
capaz de emitir um grito áspero, parecido com uma gargalhada (será por isso que
Aurélio Furdela “assume” que As Hienas Também Sorriem?), que os
antigos acreditavam ser de um homem mau, que colocava armadilhas para capturar
os viajantes. Seus hábitos são nocturnos, embora possa desenvolver actividades
durante o dia. Geralmente ataca em grupo (por não possuir uma sagacidade
necessária para agir individualmente) e é famosa por se alimentar dos restos
dos animais que os outros predadores deixam (3). Para além de possuir uma boa
capacidade de adaptação, quer nas savanas quer nas florestas, a hiena, em
muitas culturas, é tida como um animal que transporta espíritos maus.
Com efeito, em nenhum momento deste excerto
apropriado de Pacievitch (s/d), nos é dito que as hienas sorriem ou que também
sorriem. Emitem um grito – preferimos assumir que se trata de um som – parecido
a uma gargalhada, mas é apenas isso, parecido, gargalhada/sorriso são coisas
diferentes. Bem analisada a lógica natural dos seres vivos, o sorriso é
exclusivo do Homem. A existir um outro ser que sorri, ou melhor, que parece
sorrir, não se deve acreditar que o faça consciente e em momentos apropriados,
ou não, como o homem. Aliás, não é pelo facto de o papagaio imitar algumas
falas humanas que se deve assumir que o papagaio (também) fala. Do mesmo jeito,
assumir que As Hienas Também Sorriem é qualquer coisa de
inquietante ou, se quisermos, incómoda.
Melhor dizendo, sendo o sorriso um traço
tipicamente humano, realmente não é de hienas comuns, as que caracterizamos a
dois parágrafos, que se está a falar, mas sim do Homem, não o comum também, e
sim aquele que age de um certo modo – começamos a revelar o que só depois de
mergulharmos na obra se tornará mais evidente. Logo, recorrendo aos processos
de transferência de significados peculiares à metáfora, Furdela transfere os
atributos do Homem para as hienas, porém pretendendo o contrário. Como diz
Mário Benedetti, citado por Mbate Pedro, autor do prefácio do livro, “Há sempre
um modo de ocultar a porcaria e enterrar a denúncia e o denunciante”. Claro
está. Mas ocultar porcarias não é intenção do escritor, e ao ocultar alguma
coisa pretende salvaguardar o que Mbate Pedro chama de “(…) cómica imagem, a
metáfora cruel, do mundo amorfo em que vivemos, em que, quando a justiça não
consegue condenar os seus ladrões e corruptos, defende-os e eleva-os à
categoria de Doutores deputados” (p. 13).
Ao se ler a obra, em primeira instância
fica-se com a ideia de que os Doutores deputados é que são as hienas. Essa
impressão até é verosímil, sobretudo se se tomar em conta que hiena, (do grego
hýaina do latim hyaena) para além de ser um “mamífero carnívoro, da família dos
Hienídeos, feroz e devorador de carne putrefacta, que vive na África e na
Ásia”, é, no sentido figurado, “pessoa cruel e traiçoeira” (Costa e Melo, 1999:
871). Todavia, há na obra outras entidades que sem serem Doutores deputados
tornam-se hienas pelo facto de possuir atitudes a elas semelhantes:
desprezíveis. É o caso dos políticos, no consciente do narrador autodiegético
de “O Homem com 33 Andares na Cabeça”, primeiro conto da colectânea,
evidenciada na seguinte passagem: “Tio João, homem de palavra, não igual a
salamandra, ou os políticos com duas línguas, cada a falar a sua
própria coisa sobre o mesmo assunto (4), nas férias de fim-de-ano
seguintes, mandou uma carta e dinheiro para a minha passagem de avião (p. 19)
ou, em “O Homem Espinha de Peixe”, “Devias saber, os que nos fazem gritar essas
coisas nos comícios (abaixo o obscurantismo!), são os primeiros a sacrificar
cabritos nos gabinetes” (p. 82).
Há ali uma intenção de ao se desenrolar os
eventos diegéticos o narrador aproveitar-se das circunstâncias para denunciar
um facto que lhe parece inquestionável e sem meios-termos: inferiorizar as
hienas humanas através da ridicularização. Tal situação não só sucede no
primeiro conto, no terceiro, “Pescando o Meu Filho”, num episódio, no mínimo
prosaico, a voz do narrador enuncia: “A rádio transmitia nesse mesmo instante,
uma notícia de louvores a um grupo de deputados, que apoiavam, algures, nos
subúrbios da cidade, outras vítimas das enxurradas, distribuindo pacotes de
bolachas e rebuçados às crianças” (p. 35).
Havendo enxurradas, oferecer bolachas e
rebuçados às vítimas parece uma troça quando as pessoas (inclusive as crianças)
precisam de abrigo, assistência médica, produtos alimentares e higiénicos
indispensáveis ao ser humano.
Numa outra perspectiva, esses
políticos/Doutores deputados tornam-se hienas na medida em que, à semelhança do
animal, aproveitam-se até dos restos das suas presas. No segundo caso os restos
são as peles, os ossos, as patas ou cabeças de outros animais e no primeiro
caso os restos são, por exemplo, uma porção de terreno que o deputado Costa –
personagem de “As Visitas do Barbudo” – arranca veemente do seu vizinho por
pretender alargar a entrada da casa de sua mãe a fim de que o seu Nissan
Navara 2.5 tivesse acesso ao átrio maternal; o salário miserável que
um patrão não paga ao seu segurança, José, restando-lhe ter de roubar uma pele
de Zebra pendurada algures na sala de visitas do patrão na expectativa de que
ao deixar de molho durante algum tempo permitir-lhe-ia preparar um tocossado para
a amada grávida; os restos é a honra que o secretário do bairro de Phatarata –
espaço imaginário comum a quase todos os contos, quanto a nós inventado para
que assim se ocultassem os sentidos que descortinamos – , outra hiena, retira
de dona Joana, mãe do Deputado Costa, quando lhe obriga a deitar-se consigo ao
ameaçar fazer os (im)possíveis para enviar o marido a Niassa, na então afamada Operação
e Produção, caso não cedesse às suas pretensões. Esses são os restos porque
aquelas personagens nada têm além do que lhes é arrancado pelos
políticos/Doutores deputados: as hienas da obra.
Do mesmo jeito que poetas como José
Craveirinha usaram nos seus poemas (“Lustro”, por exemplo) o substantivo
hiena/quizumba (“Velha quizumba/ de olhos raiados de sangue”(5) ou “tem o
paladar da baba das hienas uivando”) para se referirem a um regime, o colonial
português, por ser tão nojento, carnívoro, covarde e áspero como o animal, ao
dar tal título a esta sua quarta aparição em livro, Furdela também parece
pretender atingir um regime: o político vigente. Assim, se é verdade que a
escrita de Aurélio Furdela não pauta, volvendo ao excerto de Aguiar e Silva,
por uma relação de estrita fidelidade especular, de imediata dependência
analógica entre o texto literário e um concreto contexto empírico, os universos
instaurados nos seus contos através da ficcionalidade muito se relacionam com o
mundo empírico a que o escritor faz parte como um ser também empírico. Por isso
nota-se uma crítica clara – disfarçada pela ficção – às mediocridades
quotidianas protagonizadas por individualidades moçambicanas de há trinta (30)
e da actualidade.
As Hienas Também Sorriem,
portanto, deixam de ser apenas uma obra literária pertencente aos contos para
passar a ser – numa classificação ou tanto ou quanto ondulante dada a subversão
dos cânones que tipificam uma colectânea de contos – uma criação oscilante entre
o conto, a crónica e a fábula, pois ao mesmo tempo que “Doutor Seringas e a
Burra que Sabia” é sem dúvida alguma um conto com características do “modelo
tradicional moçambicano”, o já citado “As Visitas do Barbudo” parece oscilar
entre o conto e a crónica já que ao se narrar a trama revela-se uma tendência
de se informar o receptor sobre as manhas protagonizadas pelos Doutores
deputados/políticos/hienas do seu contexto social. Em terceiro plano, a ideia
desta obra tender também a fábula ganha relevo quando através da personificação
as personagens antropomórficas, ao nível do raciocínio, de “A Fábula do Búfalo
Africano” (os búfalos, os carrapatos e as aves), portando-se como seres
racionais com capacidades astutas e opondo-se às ordens de seres hierarquicamente
superiores (as feras/os carrapatos em relação às aves e ao búfalos), não deixam
de ser isso mesmo: búfalos, carrapatos e aves.
Teixeira (2013) parece atento ao facto de a
escrita de Aurélio Furdela ser produto, por exemplo, de suas experiências
cronistas. Talvez, por isso, o autor assume que a já citada obra O Golo
que Meteu o Árbitro é “(…) constituída por cruzamentos de episódios,
onde (Furdela) transpirava a sua actividade como cronista do mundo do desporto,
avisadamente tomando este como um palco da vida quotidiana, seus desenlaces e
desmandos” (Teixeira, 2013: 6). Pode ser esta uma razão válida para que “As
Visitas do Barbudo” e mesmo “A Fábula do Búfalo Africano” apresentarem o
carácter informativo da crónica sem deixarem de ser contos. Esta diversidade
resultante da complexidade semântica dos enredos cuidadosamente projectados faz
com que a obra de Furdela atinja o que Roberto Pontes, ao tratar do fenómeno
literário atinente ao circuito afrobrasiluso (6), do qual na
época em que o artigo é publicado a escrita de Aurélio Furdela ainda não fazia
parte, designa esplendor poético, por estar (…) a fazer-se numa
dimensão mais rica, significante e bela, do que pode ter sonhado Luiz Vaz de
Camões” (Pontes, 1999: 164).
Já identificados alguns tipos de hienas na
obra, colocamo-nos as seguintes perguntas: do que é que As Hienas
Também Sorriem? O que Aurélio Furdela pretende com este As Hienas
Também Sorriem (se é que realmente há alguma pretensão)? Respondidas
estas questões, talvez esfume-se o incómodo ocasionalmente referido.
Na capa deste quarto livro de Furdela, as
doze (12) hienas existentes rodeiam, como se a caçar ou a vigiar um homem que
sentado numa cadeira de uma praça pública, de um jardim ou algo parecido, cose,
aparentemente, um dos seus sapatos. A imagem em causa, pela sua relação,
faz-nos citar a seguinte passagem de O Arquipélago de Sangue (7):
“O Homem nasce livre e em toda a parte está a ferros.”. Se nos deixarmos levar
pela sua indumentária e pelos estereótipos sócias podemos chegar à conclusão
(talvez errónea) de que se trata ou de funcionário público/privado ou de um
cidadão com um estatuto social considerável. Esta última ideia cai em terra
porque o facto de estar a coser o sapato, pessoalmente, revela que não tem
condições financeiras para comprar uns tantos pares de sapato ou para pagar um
sapateiro de modo que o cosa por si. É uma imagem curiosa, que nos faz pensar
em que miséria esse homem, modelo da sociedade a que pertence, está mergulhado.
A imagem representa duas situações: miséria e uma espécie de “prisão
domiciliária”. As hienas também sorriem disto: do facto de o Homem estar a
ferros e ser incapaz de se desembaraçar da miséria que lhe envolve.
Em “As Visitas do Barbudo”, como já dissemos,
as hienas sorriem da aflição do José ao roubar a pele de zebra para preparar um tocossado para
a esposa grávida e da dona Joana quando o secretário do bairro arranca-lhe a
sua honra. No conto seguinte, “Ratos Milionários”, mais uma vez as hienas
também sorriem da miséria das personagens pelo facto delas fazerem de uma caixa
vazia de cerveja mesa ou cadeira, devido à falta dos dois tipos de mobiliários
e sorriem ainda dos que depois de muitos anos de trabalho árduo e expectativas
construídas, como Guidione, vêem os seus sonhos desvanecerem-se num repente
horroroso.
No conto “Doutor Seringa e a Burra que Sabia”
as hienas sorriem da “cómica imagem” em que o Doutor Seringa, aflito em
envolver-se sexualmente com uma mulher numa região em que, por causa da guerra,
as mulheres ficavam escondidas na outra margem do rio, precipitando-se a
obedecer um raciocínio falsamente lógico, possui a burra que os homens usavam
para atravessar o rio rumo ao encontro das mulheres.
Em a “Fábula do Búfalo Africano” as hienas
sorriem quando os carrapatos, outras hienas, mas numa escala inferior,
conseguem calar as aves, seres que no conto/fábula representam gente lúcida,
embora sem a intrepidez necessária para a preservação da sua emancipação.
No conto “Pescando Meu Filho”, título que
pretende inferiorizar Zidrito, o filho em causa, por estar mergulhado numa
calamidade natural, as cheias, e o pai, por ser incapaz de zelar pelo bem-estar
do filho como se espera de quem ostenta esse substantivo masculino, as hienas
humanas sorriem do episódio em que a mãe de Zidrito vai dormir numa linha
férrea, pois lá a água da chuva e os dejectos a escaparem das latrinas nunca
atingiam os carris e sorriem ainda da passagem em que o pai, usando uma rede
mosquiteira que se colocada sobre cama, pesca o filho depois deste ter sido
engolido pelas águas da chuva.
No “Vagão Fornalha” as hienas também sorriem
do instinto de sobrevivência que leva um pai a traçar um plano de maneira que a
sua família, no tempo da guerra dos 16 anos, pudesse colher vantagens dos
diferentes lados. Neste contexto, um dos filhos do homem (João) alinharia para
o exército da Frelimo, o outro (Acácio) alinharia para o exército dos matsangas,
o terceiro (Jorge) iria se tornar padre no seminário e o pai, distribuidor de
tarefas, cuidaria do gado bovino e enterraria os cadáveres da guerra. Além
disso, as hienas também sorriem de Matate quando se suicida por não suportar a
ideia de vir a trabalhar sob as ordens de um comandante cruel, Morteiro, o
qual, por teimosia, levara à morte 141 rapazes na emboscada implantada pelos matsangas numa
ferrovia.
Em “O Homem Espinha de Peixe de Peixe” a
“cómica imagem” que também faz sorrir as hienas torna-se mais uma vez evidente:
primeiro quando não compreendendo como uma espinha de peixe se encravara nas
costas de Carlos Samananga, o protagonista da estória, Bawuti e Marta, Doutores
do Hospital Central, mandam chamar um curandeiro para lhes ajudar a resolver o
problema e segundo quando Punhetchev, no meio da cavaqueira que tinha com
Samananga, afirma: “Vim aqui parar por ser acusado de masturba-me a pensar na
mulher de um grande chefe… (…) Os gajos deram-me esse nome durante uma reunião
no círculo. Apresentaram-me à população como um estuprador psicológico! (p.
84).
Estes são apenas alguns exemplos flagrantes
que fazem com que as hienas também sorriem. Com isto, a escrita de Aurélio
Furdela esmera-se em denunciar e criticar a “passividade animal (8)” de todos
aqueles que ocupando cargos políticos importantes ao nível de um Governo
mostram-se insensíveis aos melodramas sociais. Por isso, a ridicularização dos
Doutores deputados ou dos políticos em geral é um fenómeno permanente em
(quase) todos os contos, pois eles, os políticos, à semelhança das hienas,
operam em grupo por não possuírem a destreza e coragem necessárias para
individualmente arrancarem dos miseráveis o que a eles pertence.
Ao usar a hiena (no título e nos enredos)
para substituir os dirigentes políticos, Furdela Fá-lo pelo facto de ambos os
seres, neste contexto, possuírem características comuns: ambos têm uma pelagem
de cor castanha escura (com isto não pretendemos excluir as excepções, pois
existem hienas, sobretudo humanas, com um outro tipo de pelagem); ambos têm um
grito áspero, no caso dos políticos são os discursos irritantes, redundantes,
hipócritas, vazios e reveladores de pouca criatividade; ambos têm hábitos
nocturnos, embora hajam durante a luz do dia (no caso das hienas humanas, tem a
ver com as acções desenvolvidas nas sombras, as quais, algumas/muitas delas,
resultam em “segredos de Estado”); ambas têm a capacidade de adaptação, o que,
por exemplo, faz com que uma hiena concebida para operar como “servo da
Agricultura” “opere sem quaisquer constrangimentos” numa “selva do Interior” e
ambas são hienas vis, não possuem remorsos e não se importam com mais nada para
além de satisfazer as suas ambições.
Teixeira (2013) parece atento ao facto de a
escrita de Aurélio Furdela ser produto, por exemplo, de suas experiências
cronistas. Talvez, por isso, o autor assume que a já citada obra O Golo que Meteu o Árbitro é “(…) constituída por cruzamentos de
episódios, onde [Furdela] transpirava a sua actividade como cronista do mundo
do desporto, avisadamente tomando este como um palco da vida quotidiana, seus
desenlaces e desmandos” (Teixeira, 2013: 6). Pode ser esta uma razão válida
para que “As Visitas do Barbudo” e mesmo “A Fábula do Búfalo Africano”
apresentarem o carácter informativo da crónica sem deixarem de ser contos. Esta
diversidade resultante da complexidade semântica dos enredos cuidadosamente
projectados faz com que a obra de Furdela atinja o que Roberto Pontes, ao
tratar do fenómeno literário atinente ao circuito afrobrasiluso[1], do
qual na época em que o artigo é publicado a escrita de Aurélio Furdela ainda
não fazia parte, designa esplendor poético, por estar (…) a fazer-se numa dimensão mais rica, significante
e bela, do que pode ter sonhado Luiz Vaz de Camões” (Pontes, 1999: 164).
Já identificados alguns tipos de hienas na obra,
colocamo-nos as seguintes perguntas: do que é que As Hienas Também Sorriem? O que
Aurélio Furdela pretende com este As
Hienas Também Sorriem (se é
que realmente há alguma pretensão)? Respondidas estas questões, talvez
esfume-se o incómodo ocasionalmente referido.
Na capa deste quarto livro de Furdela, as doze
(12) hienas existentes rodeiam, como se a caçar ou a vigiar um homem que
sentado numa cadeira de uma praça pública, de um jardim ou algo parecido, cose,
aparentemente, um dos seus sapatos. A imagem em causa, pela sua relação,
faz-nos citar a seguinte passagem de O
Arquipélago de Sangue[2]: “O Homem nasce livre e em toda a parte
está a ferros.”. Se nos deixarmos levar pela sua indumentária e pelos
estereótipos sócias podemos chegar à conclusão (talvez errónea) de que se trata
ou de funcionário público/privado ou de um cidadão com um estatuto social
considerável. Esta última ideia cai em terra porque o facto de estar a coser o
sapato, pessoalmente, revela que não tem condições financeiras para comprar uns
tantos pares de sapato ou para pagar um sapateiro de modo que o cosa por si. É
uma imagem curiosa, que nos faz pensar em que miséria esse homem, modelo da
sociedade a que pertence, está mergulhado. A imagem representa duas situações:
miséria e uma espécie de “prisão domiciliária”. As hienas também sorriem disto:
do facto de o Homem estar a ferros e ser incapaz de se desembaraçar da miséria
que lhe envolve.
Em “As Visitas do Barbudo”, como já dissemos, as
hienas sorriem da aflição do José ao roubar a pele de zebra para preparar um tocossado para a esposa grávida e da dona
Joana quando o secretário do bairro arranca-lhe a sua honra. No conto seguinte,
“Ratos Milionários”, mais uma vez as hienas também sorriem da miséria das
personagens pelo facto delas fazerem de uma caixa vazia de cerveja mesa ou
cadeira, devido à falta dos dois tipos de mobiliários e sorriem ainda dos que
depois de muitos anos de trabalho árduo e expectativas construídas, como
Guidione, vêem os seus sonhos desvanecerem-se num repente horroroso.
No conto “Doutor Seringa e a Burra que Sabia” as
hienas sorriem da “cómica imagem” em que o Doutor Seringa, aflito em
envolver-se sexualmente com uma mulher numa região em que, por causa da guerra,
as mulheres ficavam escondidas na outra margem do rio, precipitando-se a
obedecer um raciocínio falsamente lógico, possui a burra que os homens usavam
para atravessar o rio rumo ao encontro das mulheres.
Em a “Fábula do Búfalo Africano” as hienas sorriem
quando os carrapatos, outras hienas, mas numa escala inferior, conseguem calar
as aves, seres que no conto/fábula representam gente lúcida, embora sem a
intrepidez necessária para a preservação da sua emancipação.
No conto “Pescando Meu Filho”, título que pretende
inferiorizar Zidrito, o filho em causa, por estar mergulhado numa calamidade
natural, as cheias, e o pai, por ser incapaz de zelar pelo bem-estar do filho
como se espera de quem ostenta esse substantivo masculino, as hienas humanas
sorriem do episódio em que a mãe de Zidrito vai dormir numa linha férrea, pois
lá a água da chuva e os dejectos a escaparem das latrinas nunca atingiam os
carris e sorriem ainda da passagem em que o pai, usando uma rede mosquiteira
que se colocada sobre cama, pesca o filho depois deste ter sido engolido pelas
águas da chuva.
No “Vagão Fornalha” as hienas também sorriem do
instinto de sobrevivência que leva um pai a traçar um plano de maneira que a
sua família, no tempo da guerra dos 16 anos, pudesse colher vantagens dos
diferentes lados. Neste contexto, um dos filhos do homem (João) alinharia para
o exército da Frelimo, o outro (Acácio) alinharia para o exército dos matsangas, o terceiro (Jorge)
iria se tornar padre no seminário e o pai, distribuidor de tarefas, cuidaria do
gado bovino e enterraria os cadáveres da guerra. Além disso, as hienas também
sorriem de Matate quando se suicida por não suportar a ideia de vir a trabalhar
sob as ordens de um comandante cruel, Morteiro, o qual, por teimosia, levara à
morte 141 rapazes na emboscada implantada pelos matsangas numa ferrovia.
Em “O Homem Espinha de Peixe de Peixe” a “cómica
imagem” que também faz sorrir as hienas torna-se mais uma vez evidente:
primeiro quando não compreendendo como uma espinha de peixe se encravara nas
costas de Carlos Samananga, o protagonista da estória, Bawuti e Marta, Doutores
do Hospital Central, mandam chamar um curandeiro para lhes ajudar a resolver o
problema e segundo quando Punhetchev, no meio da cavaqueira que tinha com
Samananga, afirma: “Vim aqui parar por ser acusado de masturba-me a pensar na
mulher de um grande chefe… (…) Os gajos deram-me esse nome durante uma reunião
no círculo. Apresentaram-me à população como um estuprador psicológico! (p.
84).
Estes são apenas alguns exemplos flagrantes que
fazem com que as hienas também sorriem. Com isto, a escrita de Aurélio Furdela
esmera-se em denunciar e criticar a “passividade animal[3]” de todos aqueles
que ocupando cargos políticos importantes ao nível de um Governo mostram-se
insensíveis aos melodramas sociais. Por isso, a ridicularização dos Doutores
deputados ou dos políticos em geral é um fenómeno permanente em (quase) todos
os contos, pois eles, os políticos, à semelhança das hienas, operam em grupo
por não possuírem a destreza e coragem necessárias para individualmente
arrancarem dos miseráveis o que a eles pertence.
Ao usar a hiena (no título e nos enredos) para
substituir os dirigentes políticos, Furdela Fá-lo pelo facto de ambos os seres,
neste contexto, possuírem características comuns: ambos têm uma pelagem de cor
castanha escura (com isto não pretendemos excluir as excepções, pois existem
hienas, sobretudo humanas, com um outro tipo de pelagem); ambos têm um grito
áspero, no caso dos políticos são os discursos irritantes, redundantes,
hipócritas, vazios e reveladores de pouca criatividade; ambos têm hábitos
nocturnos, embora hajam durante a luz do dia (no caso das hienas humanas, tem a
ver com as acções desenvolvidas nas sombras, as quais, algumas/muitas delas,
resultam em “segredos de Estado”); ambas têm a capacidade de adaptação, o que,
por exemplo, faz com que uma hiena concebida para operar como “servo da
Agricultura” “opere sem quaisquer constrangimentos” numa “selva do Interior” e ambas
são hienas vis, não possuem remorsos e não se importam com mais nada para além
de satisfazer as suas ambições. Teixeira (2013) parece atento ao facto de a
escrita de Aurélio Furdela ser produto, por exemplo, de suas experiências
cronistas. Talvez, por isso, o autor assume que a já citada obra O Golo que Meteu o Árbitro é “(…) constituída por cruzamentos de
episódios, onde [Furdela] transpirava a sua actividade como cronista do mundo
do desporto, avisadamente tomando este como um palco da vida quotidiana, seus
desenlaces e desmandos” (Teixeira, 2013: 6). Pode ser esta uma razão válida
para que “As Visitas do Barbudo” e mesmo “A Fábula do Búfalo Africano”
apresentarem o carácter informativo da crónica sem deixarem de ser contos. Esta
diversidade resultante da complexidade semântica dos enredos cuidadosamente
projectados faz com que a obra de Furdela atinja o que Roberto Pontes, ao
tratar do fenómeno literário atinente ao circuito afrobrasiluso[1], do
qual na época em que o artigo é publicado a escrita de Aurélio Furdela ainda
não fazia parte, designa esplendor poético, por estar (…) a fazer-se numa dimensão mais rica, significante
e bela, do que pode ter sonhado Luiz Vaz de Camões” (Pontes, 1999: 164).
Já identificados alguns tipos de hienas na obra,
colocamo-nos as seguintes perguntas: do que é que As Hienas Também Sorriem? O que
Aurélio Furdela pretende com este As
Hienas Também Sorriem (se é
que realmente há alguma pretensão)? Respondidas estas questões, talvez
esfume-se o incómodo ocasionalmente referido.
Na capa deste quarto livro de Furdela, as doze
(12) hienas existentes rodeiam, como se a caçar ou a vigiar um homem que
sentado numa cadeira de uma praça pública, de um jardim ou algo parecido, cose,
aparentemente, um dos seus sapatos. A imagem em causa, pela sua relação,
faz-nos citar a seguinte passagem de O
Arquipélago de Sangue[2]: “O Homem nasce livre e em toda a parte
está a ferros.”. Se nos deixarmos levar pela sua indumentária e pelos
estereótipos sócias podemos chegar à conclusão (talvez errónea) de que se trata
ou de funcionário público/privado ou de um cidadão com um estatuto social
considerável. Esta última ideia cai em terra porque o facto de estar a coser o
sapato, pessoalmente, revela que não tem condições financeiras para comprar uns
tantos pares de sapato ou para pagar um sapateiro de modo que o cosa por si. É
uma imagem curiosa, que nos faz pensar em que miséria esse homem, modelo da
sociedade a que pertence, está mergulhado. A imagem representa duas situações:
miséria e uma espécie de “prisão domiciliária”. As hienas também sorriem disto:
do facto de o Homem estar a ferros e ser incapaz de se desembaraçar da miséria
que lhe envolve.
Em “As Visitas do Barbudo”, como já dissemos, as
hienas sorriem da aflição do José ao roubar a pele de zebra para preparar um tocossado para a esposa grávida e da dona
Joana quando o secretário do bairro arranca-lhe a sua honra. No conto seguinte,
“Ratos Milionários”, mais uma vez as hienas também sorriem da miséria das
personagens pelo facto delas fazerem de uma caixa vazia de cerveja mesa ou
cadeira, devido à falta dos dois tipos de mobiliários e sorriem ainda dos que
depois de muitos anos de trabalho árduo e expectativas construídas, como
Guidione, vêem os seus sonhos desvanecerem-se num repente horroroso.
No conto “Doutor Seringa e a Burra que Sabia” as
hienas sorriem da “cómica imagem” em que o Doutor Seringa, aflito em
envolver-se sexualmente com uma mulher numa região em que, por causa da guerra,
as mulheres ficavam escondidas na outra margem do rio, precipitando-se a
obedecer um raciocínio falsamente lógico, possui a burra que os homens usavam
para atravessar o rio rumo ao encontro das mulheres.
Em a “Fábula do Búfalo Africano” as hienas sorriem
quando os carrapatos, outras hienas, mas numa escala inferior, conseguem calar
as aves, seres que no conto/fábula representam gente lúcida, embora sem a
intrepidez necessária para a preservação da sua emancipação.
No conto “Pescando Meu Filho”, título que pretende
inferiorizar Zidrito, o filho em causa, por estar mergulhado numa calamidade
natural, as cheias, e o pai, por ser incapaz de zelar pelo bem-estar do filho
como se espera de quem ostenta esse substantivo masculino, as hienas humanas
sorriem do episódio em que a mãe de Zidrito vai dormir numa linha férrea, pois
lá a água da chuva e os dejectos a escaparem das latrinas nunca atingiam os
carris e sorriem ainda da passagem em que o pai, usando uma rede mosquiteira
que se colocada sobre cama, pesca o filho depois deste ter sido engolido pelas
águas da chuva.
No “Vagão Fornalha” as hienas também sorriem do
instinto de sobrevivência que leva um pai a traçar um plano de maneira que a
sua família, no tempo da guerra dos 16 anos, pudesse colher vantagens dos
diferentes lados. Neste contexto, um dos filhos do homem (João) alinharia para
o exército da Frelimo, o outro (Acácio) alinharia para o exército dos matsangas, o terceiro (Jorge)
iria se tornar padre no seminário e o pai, distribuidor de tarefas, cuidaria do
gado bovino e enterraria os cadáveres da guerra. Além disso, as hienas também
sorriem de Matate quando se suicida por não suportar a ideia de vir a trabalhar
sob as ordens de um comandante cruel, Morteiro, o qual, por teimosia, levara à
morte 141 rapazes na emboscada implantada pelos matsangas numa ferrovia.
Em “O Homem Espinha de Peixe de Peixe” a “cómica
imagem” que também faz sorrir as hienas torna-se mais uma vez evidente:
primeiro quando não compreendendo como uma espinha de peixe se encravara nas
costas de Carlos Samananga, o protagonista da estória, Bawuti e Marta, Doutores
do Hospital Central, mandam chamar um curandeiro para lhes ajudar a resolver o
problema e segundo quando Punhetchev, no meio da cavaqueira que tinha com
Samananga, afirma: “Vim aqui parar por ser acusado de masturba-me a pensar na
mulher de um grande chefe… (…) Os gajos deram-me esse nome durante uma reunião
no círculo. Apresentaram-me à população como um estuprador psicológico! (p.
84).
Estes são apenas alguns exemplos flagrantes que
fazem com que as hienas também sorriem. Com isto, a escrita de Aurélio Furdela
esmera-se em denunciar e criticar a “passividade animal[3]” de todos aqueles
que ocupando cargos políticos importantes ao nível de um Governo mostram-se
insensíveis aos melodramas sociais. Por isso, a ridicularização dos Doutores
deputados ou dos políticos em geral é um fenómeno permanente em (quase) todos
os contos, pois eles, os políticos, à semelhança das hienas, operam em grupo por
não possuírem a destreza e coragem necessárias para individualmente arrancarem
dos miseráveis o que a eles pertence.
Ao usar a hiena (no título e nos enredos) para
substituir os dirigentes políticos, Furdela Fá-lo pelo facto de ambos os seres,
neste contexto, possuírem características comuns: ambos têm uma pelagem de cor
castanha escura (com isto não pretendemos excluir as excepções, pois existem
hienas, sobretudo humanas, com um outro tipo de pelagem); ambos têm um grito
áspero, no caso dos políticos são os discursos irritantes, redundantes,
hipócritas, vazios e reveladores de pouca criatividade; ambos têm hábitos
nocturnos, embora hajam durante a luz do dia (no caso das hienas humanas, tem a
ver com as acções desenvolvidas nas sombras, as quais, algumas/muitas delas,
resultam em “segredos de Estado”); ambas têm a capacidade de adaptação, o que,
por exemplo, faz com que uma hiena concebida para operar como “servo da
Agricultura” “opere sem quaisquer constrangimentos” numa “selva do Interior” e
ambas são hienas vis, não possuem remorsos e não se importam com mais nada para
além de satisfazer as suas ambições.
Parece-nos ser esta A Outra
Face d’As Hienas Também Sorriem, de Aurélio Furdela.
Referência bibliográfica
Aguiar e Silva, V. (1984) Teoria da
Literatura, 6ª Edição. Coimbra: Livraria Almedina.
Chomscky, N. e Herman, E. (1976) O
Arquipélago de Sangue. S.L: Círculo de Leitores.
Costa, J. e Melo, A. (1999) Dicionário
de Língua portuguesa, 8ª Edição. Porto: Porto Editora.
Craveirinha, J. (1980) Cela 1.
Maputo: Instituto Nacional do Livro e do Disco.
Craveirinha, J. (2008) Xigubo.
Maputo: Alcance Editores.
Furdela, A. (2012) As Hienas
Também Sorriem. Maputo: AEMO.
Teixeira, J. (2013) A Sambrowera em Aurélio
Furdela. Suplemento Cultural do Jornal Notícias, 5 de Junho de
2013, p. 6.
Pontes, R. (1999) Poesia Insubmissa
Afrobrasileira. Rio de Janeiro/Fortaleza: Oficina do Autor.
Outra fonte: Pacievitch, T. (s/d)
www.InfoEscola.com [acessed 6 de Junho de 2013].
(1) É a palavra que serve de entrada a um
artigo de dicionário (Dubois et al, 1973: 610).
(2) Entenda-se, dez vezes necessário.
(3]) Por Thais Pacievitch, extraído de
infoesccola.
(4) Os sublinhados são nossos.
(5) Versos do poema “Lustro”, de José
Craveirinha, in Cela 1.
(6) Palavra formada por aglutinação. Deriva
de África, Brasil e Luso.
(7) Chomscky, N. e Herman, E.
(1976: 7).
(8) Alusão a um dos versos do poema de José
Craveirinha, “Subida”, in Xigubo (p. 25), no qual o sujeito de
enunciação manifesta o seu descontentamento pelo facto de as condições sociais
no que respeita aos produtos de primeira necessidade, por exemplo, agravarem-se
e os membros dessa sociedade [a nossa, logo se vê], manterem-se numa
“passividade animal”. Tal é a passividade das hienas humanas, em Furdela, mas
também dos que delas são vítimas.
In:
Notícias, Maputo, Quarta-Feira, 3 de Julho de 2013::
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