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A Presidência da África do Sul
distanciou-se na sexta-feira das disputas que envolvem a família do antigo
presidente Nelson Mandela, que considerou “lamentáveis”.
“É lamentável que haja uma
disputa entre os membros da família e gostaríamos que fos-se resolvida de
forma amigável e tão rápido quanto possível”, disse o porta-voz da
Presidência, Mac Maharaj, em entrevista à France Presse-TV.
“Mas não estamos envolvidos
e não podemos ser responsabilizados”, acrescentou.
Quinze membros da família do
antigo presidente, que continua hospitalizado em estado crítico, recorreram à
justiça contra o neto mais velho de Mandela, Mandla, por causa da
transladação dos restos mortais de três elementos da família.
Mandla decidiu
unilateralmente, em 2011, transferir os restos mortais do seu pai, de um tio
e de uma tia do talhão familiar de Qunu, vila natal de Nelson Mandela e onde
este deseja ser enterrado, para o cemitério de Mvezo.
Chefe tradicional desta
localidade, Mandla pretende aí desenvolver um grande projecto turístico.
Dando razão aos queixosos,
um tribunal ordenou na quarta-feira o retorno a Qunu dos corpos dos três
filhos de Nelson Mandela, que foram aí sepultados na quinta-feira.
Em documentos apresentados à
justiça para justificar a urgência de uma decisão, pode ler-se que Nelson
Mandela “está em estado vegetativo
permanente” e que, a conselho dos
médicos, a família equaciona desligar as máqui-nas que o mantêm vivo.
“Não tenho que divulgar
documentos judiciais”, disse Mac Maharaj. “Não divulgámos nenhuns documentos
e não temos que dizer se são falsos ou verdadeiros”, acrescentou.
“Verificámos com a equipa
médica e estes médicos negaram que ele esteja em estado vegetativo”
actualmente, disse, sem se alongar sobre o estado de saúde de Nelson Mandela
na semana passada.
Os documentos têm a data de
26 de junho, o mesmo dia em que o presidente sul-africano, Jacob Zuma,
decidiu cancelar uma viagem ao esTrangeiro após uma visita a Nelson Mandela.
Herói da liberdade e da
reconciliação na África do Sul, Nelson Mandela, que completa 95 anos a 18 de
julho, está hospitalizado desde 8 de Junho devido a uma infecção pulmonar
recorrente.
MÁQUINAS
SÓ SÃO DESLIGADAS EM CASOS DE MORTE CEREBRAL - ESPECIALISTA
PORTUGUÊS
O neurologista português Francisco
Sales lembrou na quinta-feira que os aparelhos que mantêm vivo Nelson Mandela
só podem ser desligados quando houver “critérios de morte cerebral”.
“Só é possível desligar os
aparelhos quando houver critérios de morte cerebral, enquanto isso não
acontecer os aparelhos não podem ser desligados”, afirmou à agência Lusa o
especialista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
Instado a comentar a
situação clínica do histórico líder sul-africano, Francisco Sales lembrou que
“há várias degradações nos estados de coma” e que um estado vegetativo é “uma
forma avançada e grave de coma, que muitas vezes antecede o estado de morte
cerebral”.
Contudo, o neurologista
português sustentou que uma pessoa em estado vegetativo “ainda não pode ser
considerada morta”, já que “em alguns doentes é possível manter esse estado
durante alguns meses ou mesmos anos”.
“É o que chamamos estado
vegetativo persistente”, precisou Francisco Sales, acrescentando, contudo,
que essa situação “não é muito frequente - é uma excepção”.
GRAÇA
MACHEL AGRADECE MENSAGENS E DIZ QUE MADIBA ESTÁ BEM EMBORA COM DORES
A mulher do antigo
Presidente sul-africano Nelson Mandela disse a semana passada que Madiba está
bem, embora «às vezes sinta dores», e agradeceu o apoio e as mensagens
recebidas de todo mundo a propósito do estado crítico do marido.
«Madiba às vezes sente-se
desconfortável, sente-se com dor, mas está bem», disse Graça Machel no Centro
de Memória de Nelson Mandela, durante a apresentação dos jogos de futebol e
de râguebi que farão parte de um tributo a Nelson Mandela, no dia 17 de
julho, um dia antes de completar 95 anos.
«Obrigado, obrigado, obrigado»,
agradeceu Graça Machel na apresentação da mais recente série de eventos em
memória de Mandela, numa altura em que o seu marido está internado em estado
crítico no hospital de Pretória.
A também viúva do antigo
Presidente moçambicano Samora Machel destacou «o amor eterno de Madiba pelas
crianças» e sugeriu aos sul-africanos que, além de honrar Mandela com
presentes deixados à frente do hospital ou na sua casa, devem fazer doações a
projectos de caridade patrocinados pelo Pré-mio Nobel sul-africano.
«As demonstrações de amor,
de caridade, de apoio e de esperança são tomadas nos nossos corações todos os
dias», acrescentou.
DEDICAÇÃO
E DIGNIDADE DE GRAÇA MACHEL DESTACADAS PELA IMPRENSA SUL-AFRICANA
Sob o título “A vigília de amor de
Graça”, o semanário “City Press” de Joanesburgo destacou ontem, domingo, em
primeira página na sua peça principal o amor e dedicação de Graça Machel ao
ex-presidente Nelson Mandela, que se mantém em estado crítico num hospital de
Pretória.
À semelhança de outros
artigos, publicados na última semana na Imprensa sul-africana, a peça do
“City Press” realça não só o amor incondicional que Graça Machel tem dedicado
a Madiba, como também a dignidade pela qual a activista moçambicana tem
pautado as suas acções desde que o marido foi admitido, a 8 de junho, no
hospital, com uma infecção pulmonar.
Em contraste, a comunicação
social, amigos e um número crescente de sul-africanos anónimos têm condenado
em uníssono as acções recentes de membros da família de Nelson Mandela, que
na semana passada esgrimiram mesmo em tribunal argumentos sobre quem tem direito
a ditar o local onde Madiba será sepultado um dia.
Poucas semanas antes,
algumas das filhas do Prémio Nobel da Paz e primeiro presidente negro da
História sul-africana tinham já recorrido aos tribunais pedindo acesso a uma
parte da sua fortuna pessoal.
Madiba havia-lhes negado tal
direito em 2008 quando despediu um advogado que alegadamente facilitava o
acesso às suas contas às filhas, substituindo na condução da fundação com o
seu nome e das suas finanças por dois homens de confiança, o advogado George
Bizos e um actual membro do governo, Tokyo Sexwale.
“A África do Sul tem com
Graça Machel uma tremenda dívida de gratidão pela alegria que ela deu à vida
de Nelson Mandela desde o seu casamento. Ela não emprestou apenas alegria a
Madiba como tentou com todas as suas forças unir a família Mandela”, refere
num testemunho recolhido pelo “City Press” o arcebispo emérito Desmond Tutu.
Faz precisamente 15 anos que
Nelson Mandela e Graça Machel casaram.
Segundo fontes contactadas
pelo jornal, Graça Machel dorme numa cadeira, ao lado da cama de Mandela no
Mediclinic - Heart Hospital desde que o ícone da luta anti-”apartheid” foi
admitido no hospital há um mês, e nunca se ausentou por períodos superiores a
três horas desde então.
Para a ex-assistente pessoal
de Nelson Mandela, Zelda la Grange, a presença de Graça é vital para o
ex-presidente, que celebra 95 anos no dia 18 deste mês.
“Madiba quer sempre saber se
Graça está por perto. Ela dá estabilidade emocional não só a ele, mas também
a muitos de nós”, disse La Grande ao jornal.
Pumla Mogodo-Madikizela, uma
académica e investigadora da Universidade do Free State (UFS), assinou no
início da semana um artigo de opinião no “Mercury” de Durban, no qual
enalteceu as virtudes de Graça Machel e a dignidade com que ela sempre
conduziu a sua relação com o herói da luta de libertação dos sul-africanos.
“Quando Madiba necessitou de
apoio físico porque não podia andar sem ajuda, Graça sempre esteve ao seu
lado, nunca negando desempenhar o papel de apoio físico. Sempre de forma
gentil e elegante - um toque aqui, um olhar apaixonado ali, uma mão para ele
se apoiar ou um abraço amoroso. Nenhuma memória do amor inconfundível de
Machel pelo nosso Madiba ressalta de forma tão vívida como a sua última
aparição pública no início do Mundial de futebol de 2010. Ambos
impecavelmente vestidos para o frio intenso das noites de Junho. Graça Machel
e Madi-ba a juntarem-se com a multidão, o seu amor tão visível nos gestos
mais subtis, nos toques entre ambos, tornados ainda mais visíveis à distância
pelos gestos de ternura de Machel com as suas mãos imaculadamente tratadas”,
escreveu aquela académica.
Pumla Mogodo-Madikizela
destaca que “Graça Machel partilha com Madiba um dom especial de amor e que
continua a dar-lhe a dignidade e os cuidados de qualidade que ele não teria
na sua ausência”.
In: O Século de Joanesburgo, 8 de Julho de 2013
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