Por Salomão Moyana
Moçambique está a mergulhar a olhos vistos a um conflito armado que, dentro em breve, ameaça ser generalizado e de consequências inimagináveis. Um conflito armado que começou tipo brincadeira de duas crianças mimadas que não aceitam ceder em nenhum dos seus preciosos pontos de razão.
Um conflito armado resultado de um desentendimento
político aparenteme...nte de fácil solução mas que, devido à intransigência e
casmurrice política das duas partes envolvidas, tudo aponta que o País caminha
para um verdadeiro abismo social, com populações dos distritos de Gorongosa,
Maríngwè, e Chibabava (Sofala) e de Funhalouro e Homoíne (Inhambane) a ficarem
em pânico e a abandonar as suas zonas habituais de residência para buscar
refúgio nas vilas-sedes dos respectivos distritos.
Trata-se, claramente, da maior tragédia da nossa incapacidade de gerar consensos mesmo em questões de menor importância política ou social, como, por exemplo, a constituição em base igualitária de uma simples comissão de arbitragem eleitoral, uma matéria simples e completamente ao alcance dos dois lados negociar e encontrar entendimentos estabilizadores de todo um país.
Custa-nos bastante aceitar que por causa de meia dúzia de
artigos de uma lei aprovada pela nossa Assembleia da República se gere um braço
de ferro entre os dois maiores partidos nacionais ao ponto de os mesmos
concluírem que é melhor mergulhar todo Moçambique em conflito armado do que
ceder e alcançar um entendimento que salve as vidas de milhares de moçambicanos
que tais partidos dizem representar na AR!
Custa-nos imenso aceitar que um “conflitozinho”,
inicialmente localizado em lugar certo, na zona de Muxúngwè, possa, em menos de
um ano, se generalizar, a olhos vistos, para ameaçar toda a paz de que
desfrutava este País nos últimos 20 anos!
Torna-nos impossível aceitar que dois partidos
responsáveis num Estado gerido com responsabilidade e seriedade possam se
permitir, a seu bel prazer, mergulhar todo um país em banho de sangue por
questões que apenas satisfazem o ego político desses partidos!
Esta é a nossa maior desgraça, a desgraça do povo
moçambicano de ser gerido por dois partidos egoístas, casmurros, com uma visão
reducionista centrada no tamanho e dimensão dos seus interesses umbilicais,
dois partidos que se dizem representantes do povo mas que, quando estão em
causa seus interesses umbilicais, não se importam de dizimar, sem pestanejar,
esse mesmo povo à luz do dia.
Pior ainda, trata-se de dois partidos absolutistas
feudais em que os militantes não têm a mínima possibilidade de influenciar a
mudança de rumo que as respectivas lideranças absolutistas tenham decidido. Ou
seja, não existe a hipótese de os militantes desses partidos se rebelarem
contra a má gestão ou a ausência gritante de uma visão congregadora e
visionária dos seus líderes absolutos.
Apenas resta aos militantes em causa murmurar nos cafés,
dizendo em voz baixa que os seus chefes estão a arrastar o País para a lama por
causa da sua ganância desmedida, ou arregimentarem-se às lideranças
absolutistas, bajulando-as impiedosamente, enaltecendo, até ficarem roucos, a
“clarividência e a sabedoria divina” dos respectivos líderes.
Esta é a nossa maior desgraça, a desgraça do povo
moçambicano de até académicos e cientistas sociais estarem condicionados, por variadíssimos
factores, a pensar, falar e agir no tacanho limite do pensamento e orientação
desses partidos, defraudando, desse modo, a genuína expectativa do povo
moçambicano em ver seus filhos académicos a contribuírem para a iluminação da
população, precisamente, com vista à sua libertação das garras ferozes e
mortíferas desses dois partidos políticos.
Esta é a nossa maior desgraça, a desgraça do povo
moçambicano de possuir um governo sem soluções para os prementes problemas que
se colocam, um governo descoordenado em que enquanto o ministro da Defesa
Nacional se diz preocupado pela noticiada presença e circulação de homens
armados em distritos da província de Inhambane, o porta-voz do Comando
Provincial desse território afirma, em conferência de imprensa, não haver
naquela província nenhum homem armado a circular nos distritos referidos! Ou
seja, aquelas populações de Homoíne que passaram o último fim-de-semana
concentradas na vila sede, fugindo de suas zonas de residência habitual, foram
vítimas de um boato sobre a presença e circulação de homens armados?
Como é que
elementos trabalhando para o mesmo governo e integrados na mesma esfera de
Defesa e Segurança não sejam capazes de comunicar, em sintonia, as informações
essenciais e reais sobre o que está acontecendo no terreno?
Esta é a nossa maior desgraça, a desgraça do povo
moçambicano de ser impotente e incapaz de resolver directa e pessoalmente os
problemas que o governo deixa agravar, a olhos vistos, em cada dia que passa.
Trata-se de um governo que se esqueceu, completamente, da
emblemática frase do saudoso Presidente Samora Machel, segundo a qual, “deve se
matar o jacaré enquanto pequeno”, pois ainda circula nas margens do rio porque
se o deixar crescer ele passa a navegar em águas profundas onde a sua força é
maior.
Ou mata-se o jacaré enquanto pequeno ou o jacaré, mais tarde, vai matar muita gente.
Ou mata-se o jacaré enquanto pequeno ou o jacaré, mais tarde, vai matar muita gente.
O jacaré que está a desgraçar o povo moçambicano é a
incapacidade arrogante dos dirigentes deste País em encontrar soluções rápidas
e seguras para problemas que de fácil solução vão, de casmurrice em casmurrice,
a serem incubados até se tornarem em jacaré grande que dizimará o povo
moçambicano.
É urgente que os moçambicanos, de todos os partidos
políticos e os sem partidos políticos, se levantem e dêem um valente murro na
mesa e digam: Basta!
Basta desta desgraça colectiva de ficarmos calados a ver a nossa morte a aproximar-se, diariamente, sem nada fazermos contra os mentores desse suicídio colectivo!
Basta desta desgraça colectiva de ficarmos calados a ver a nossa morte a aproximar-se, diariamente, sem nada fazermos contra os mentores desse suicídio colectivo!
Basta de paninhos quentes e bajulações abomináveis a
atitudes belicistas dos líderes dos dois partidos apostados em desgraçar ainda
mais o martirizado povo moçambicano!
É hora certa para exigirmos, colectivamente, que quem
esteja cansado de dirigir ou liderar um organismo com responsabilidades públicas
como as de um governo, seja liberto, com efeitos imediatos, para descansar ao
invés de ser tolerado a arrastar todo um povo para uma agonia colectiva.
Basta desta tragédia da nossa incapacidade colectiva de
dizer basta aos mentores da nossa desgraça colectiva!
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