FRELIMO
MANDOU FUZILAR JOANA SEMIÃO E OUTROS
“No espírito das tradições,
usos e costumes da luta de libertação nacional, o Comité Político Permanente da
Frelimo reuniu e condenou por fuzilamento os seguintes desertores e traidores
do povo e da causa nacional, os quais já foram executados: Uria Simango; Lázaro
Kavandame; Júlio Razão Nilia; Joana Semião e Paulo Gumane”, ministro da Segurança,
Jacinto Veloso - Maputo, 29 de Julho 1980.
(Maputo) Está confirmado, Joana Semião não está “em parte incerta”. O
juiz José Sampaio tem agora a vida facilitada. O ex-marido, idém. Ela foi
fuzilada juntamente com Uria Simango, Lázaro Kavandame, Júlio Razão Nilia e
Paulo Gumane. Quem os mandou fuzilar foi o Comité Político Permanente do
partido Frelimo e assumiu-o publica e institucionalmente. Não há “acta
judicial” porque não houve julgamento legal. Talvez por isso não se fizeram
acentos notariais. E pela mesma razão até hoje os corpos não foram entregues às
famílias para que possam proceder às exéquias e cerimónias tradicionalmente habituais. O Tribunal
Judicial da Província de Inhambane apesar dos factos serem públicos preparar-se
para considerar que Joana Semião se encontra “em parte incerta” no processo de
“divórcio litigioso” que lhe foi movido pelo seu marido e candidato à
presidência do Município da capital da “Terra da Boa Gente” pela Renamo-União
Eleitoral nas últimas eleições autárquicas, Francisco Joaquim Manuel.
Os factos relativos ao
“fuzilamento” de Joana, acima referidos, estão escritos e assinados em documento
de 29 de Julho de 1980, assinado pelo então ministro da Segurança (SNASP),
Jacinto Veloso e onde são também referidos os nomes de Sérgio Vieira, Óscar
Monteiro, José Júlio de Andrade, Matias Xavier e Jorge Costa como figuras
nomeadas por Samora Machel para integrarem um comité com a função de “compilar
o «dossier» e preparar a comunicação pública das execuções”.
“No espírito das tradições,
usos e costumes da luta de libertação nacional, o Comité Político Permanente da
Frelimo reuniu e condenou por fuzilamento os seguintes desertores e traidores
do povo e da causa nacional, os quais já foram executados: Uria Simango; Lázaro Kavandame; Júlio Razão Nilia; Joana Semião e Paulo Gumane,
em ordem a evitar possíveis reacções negativas, nacionais ou internacionais,
que podem advir em consequência destes contra-revolucionários, a comissão
política publica esta acta como decisão revolucionária do partido Frelimo e não
como acta judicial”, lê-se no referido documento.
“A Comissão Política publica
esta acta como decisão revolucionária do partido Frelimo e não como acta
judicial”, lê-se adiante.
Assumido ser “necessário um
«dossier» estabelecendo a história criminal completa desses individuos, assim
como as suas confissões aos elementos do D.D/S.I que os interrogaram,
declaração das testemunhas, julgamento e sentença”, o Comité Político
Permanente do partido Frelimo ordenou ainda que “um comunicado deverá ser
emitido pelo camarada Comandante-Chefe (Samora Moisés Machel), no qual se
anunciará a execução dos contra-revolucionários acima mencionados”.
No mesmo documento lê-se
ainda que “foi decidido nomear um comité para compilar o dossier e preparar a
comunicação pública”.
“O camarada Comandante-em-chefe decidiu que o comité fosse
dirigido pelo camarada Sérgio Viera e adicionalmente terá os seguintes
camaradas: Óscar Monteiro, José Júlio de Andrade, Matias Xavier e Jorge Costa.
A luta continua. Maputo, 29/7/80. O ministro da segurança, Jacinto Veloso”. (Redacção)
Apesar de confirmadamente fuzilada
Joana Semião é Ré em processo de
“divórcio”
“Apenas cumpri com a lei”, Juíz
José Sampaio
(Maputo) O juíz Presidente do
Tribunal Judicial de Inhambane, José Sampaio, a quem competirá decretar a
sentença no caso de divórcio interposto naquela instância judicial pelo
ex-marido, Francisco Joaquim Manuel, contra Joana Fonseca Francisco Semião,
disse ontem ao «Canal de Moçambique»: “Apenas cumpri com a lei”.
O Juiz Sampaio afirmaria
ainda que o processo é de caracter privado e que “não tem nada de anormal”.
Colocado ao corrente das
declarações ao «Canal de Moçambique» (edição n.º 63) de Edson Macuácua,
Secretário da Mobilização e Propaganda do partido Frelimo, segundo as quais “do
que foi dito pela Frelimo, nada se retira” – referindo-se à morte confirmada de
Joana Semião, o juíz José Sampaio disse que à luz dos manuais de Direito “a
queixa” do ex-marido de Joana Semião “tem razão de ser” pois, reafirmou, “o
paradeiro da ré é incerto”.
“Estamos na presença de um
processo cível, portanto, de natureza privada. Não é como num caso criminal em
que é público” disse o juiz.
O presidente do Tribunal Judicial da Província de Inhambane,
José Sampaio, alega depois que não pode tecer mais comentários, porque “tenho
filhos por alimentar e dependo do meu emprego”. (Luís Nhachote)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 09.05.2006
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