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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

02 agosto 2013

CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DE MOÇAMBIQUE


Por Marcelino Síthole

Quem são os heróis?

É uma pergunta, que vem ao espírito de quem acaba de ler o relatório de Fanuel Guidion MAHLUZA, que o «Canal de Moçambique» publicou há dias.
Mahluza apressou-se a escrever (em inglês) e enviar para «Amnesty International» (Amnistia Internacional) este relatório, pouco depois de chegar a Nairobi, em proveniência do campo de "reeducação" de «Ruarua», planalto de Mueda de onde se tinha evadido, a 27 de Agosto de 1977, com Artur Janeiro da Fonseca, Atanásio Filipe Muhate e Lumbela.

Cansado pela viagem e traumatizado pelas privações e a perda de dois dos companheiros de evasão, a principal preocupação de Mahluza era a sorte dos numerosos combatentes da liberdade, estudantes e intelectuais, que a FRELIMO tinha internado nos seus campos de concentração, oficialmente designados por campos de "reeducação". Como se sabe, também o governo de Hitler, na Alemanha, tinha designado os seus campos de concentração e exterminação por campos de "trabalho": Die Arbeií machlfrei! (O trabalho liberta!), era a divisa destes campos.

Entre os presos políticos e de consciência dos campos de "reeducação" encontravam-se milhares de Testemunhas de Jeová, por adorarem Deus e cumprirem os seus mandamentos, quase todos os dirigentes do COREMO e de outros partidos nacionalistas moçambicanos não financiados pelo neocolonialismo soviético, por acreditarem no pluralismo, tolerância e valores morais tradicionais do povo moçambicano, Joana Simeão admirada e recordada até hoje, por força da sua coragem de mulher africana, assim como dezenas de estudantes regressados de vários países da Europa, da América e de África, por terem aprendido a pensar com as suas próprias cabeças. Entre estes estudantes havia Samuel Mapilele, brilhante intelectual, militante da UGEAN, diplomado em economia pela Universidade de Belgrado, Sebastião Mucavaca, regente agrícola formado na Tunísia, que tinha alcançado com Bartolomeu Mbalica, depois de atravessarem a África do Oceano Índico ao Mediterrâneo pêlos seus próprios meios e tantos outros, que lá perderam a vida e de cujos talentos e conhecimentos Moçambique nunca viria a beneficiar. Saídos com vida destes campos de "reeducação", só tenho notícia de F. G. Mahluza e Artur Janeiro da Fonseca, que um dia nos contará, como conseguiram atravessar o Rovuma, escalar o Kilimanjaro e chegar a Nairobi a pé, pelo mato, entre as feras.


Dos que lá desapareceram, Mahluza cita muitos nomes. Será uma metade, um terço,...? O número de nacionalistas, estudantes e intelectuais moçambicanos desaparecidos, logo após a independência, parece atingir proporções de genocídio, sobretudo para a nossa jovem nação desprovida de recursos humanos qualificados. Os Nazis, que dirigiam os campos de "trabalho" da Alemanha, mantiveram registos, que permitiram apurar os números do genocídio de milhões de alemães. No Camboja, ainda se podem contar as caveiras. Haverá jornalistas e historiadores moçambicanos interessados em esclarecer o que se passou, no nosso país? Se a publicação deste relatório contribuísse de alguma maneira para suscitar o interesse dos profissionais competentes e isentos, que já cá temos, sobre este aspecto da nossa história recente, F. G. Mahuza, apesar de não ter podido evitar o pior, quando redigiu o seu relatório, não o teria feito em vão.

Mahluza, que nos deixou o ano passado e está sepultado na sua terra de Moçambique, foi um combatente da liberdade corajoso e um patriota e nacionalista exemplar.

Foi fundador e dirigente da UDENAMO, antes de Marcelino dos Santos ter aderido a essa organização. Foi fundador e eleito para o Comité Central da FRELIMO. Quando, depois do Congresso Constitutivo, o Presidente Professor Eduardo Mondhlane se ausentou temporariamente para a sua Universidade de Syracuse, a direcção da FRELIMO em Dar Es Salaam entrou em crise, registando-se expulsões e demissões. A UDENAMO foi reconstituída e abriu escritório no Cairo, com Paulo Gumane e F. G. Mahluza, para, mais tarde, se integrar no COREMO, em Lusaka.

Foi Mahluza, quem abriu a frente de luta armada em Tete: atacou o posto administrativo e içou a bandeira do COREMO em Fingoè. Antes de atacar, mandara avisar o chefe do posto, que tinha andado com ele na Escola Técnica de Lourenço Marques, permitindo-lhe fugir com a família. Os guerrilheiros do COREMO da província de Tete dirigidos por Mazunzu Bobo foram, mais tarde, convidados pela FRELIMO a discutir sobre a "unidade de acção contra o colonialismo" e trucidados, numa cilada. Depois da independência e da evasão de Ruarua, Mahluza tornou-se dirigente da RENAMO e trabalhou, em Pretória, com o Secretário-Geral Orlando Cristina, que ele, como muitos outros, considerava um Homem. A RENAMO, todos sabem, trouxe, mal ou bem, a democracia para Moçambique.


Nas suas conversas Mahluza, referia-se às vezes ao seu primo, rindo-se com tristeza daquele ilustre e consagrado herói, que, por ambição, más influências, insensatez e complexos pessoais, tinha feito cair Moçambique dentro dum poço muito fundo cheio de águas turvas.


Mahluza foi um nacionalista moçambicano da primeira hora e de todos os momentos guiado por princípios nobres, pêlos ideais da fraternidade, justiça, liberdade e democracia, que sempre se manteve alheio a interesses mesquinhos e ao racismo e tribalismo e que sempre se levantou contra as injustiças.
In: CANAL DE MOÇAMBIQUE – 16.03.2006
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Por Fanuel Guidione Malhuza


Ao Sr. Malcolm Smart
Amnistia Internacional
Soutthampton Street, 19
Nairob, Quénia – 3 de Abril de 1978

Caro Sr. Smart


Obrigado pela sua carta datada de 22 de Março de 1978. Também lhe endereço os meus sinceros agradecimentos pelo seu interesse pelo estado dos meus colegas que continuam presos em Moçambique.

Além do documento que preparei para um jornalista a quem pedi que o publicasse, envio-lhe dados sobre a situação nas cadeias e “campos de concentração” que vivi durante a minha detenção em Moçambique.

Em Junho de 1974, as autoridades zambianas sob pressão da Frelimo e do governo da Tanzania invadiram as instalações dos escritórios do «Coremo» e prenderam todos os seus líderes e membros proeminentes. Mais tarde foram todos entregues à Frelimo que deveria formar o governo de transição em Moçambique como medida para destruir qualquer tipo de oposição dentro do país. Poucos dias depois da nossa detenção, graças a Deus, fui agraciado por uma pequena sorte. Com sucesso consegui escapar do campo onde estávamos detidos na Zâmbia e passei a viver escondido em Lusaka sob protecção do embaixador zairense na Tanzania.

Como ele não me pudesse garantir uma prolongada protecção juntamente com a minha família, passados poucos dias mais tarde após ter enviado minha família para Moçambique fui de novo detido quando me preparava para abandonar a Zâmbia. Fiquei preso numa cadeia de máxima segurança até 03 de Outubro de 1975, dia em que as autoridades zambianas, via aérea, me embarcaram de regresso a Moçambique. Chegado ao Aeroporto de Maputo estava o Comandante Provincial da Polícia, Sr. Manuel Verniz que me conduziu para o Comando Geral da Polícia onde fui objecto de prolongados interrogatórios durante 08 meses. Aqui encontro o Dr. António Chade, secretário administrativo do «Coremo» o qual, passados alguns dias, foi enviado para província de Cabo-Delgado. Após isso fui conduzido à Cadeia Civil de Maputo onde permaneci outros 10 meses. Aqui encontrei vários ex-estudantes moçambicanos os quais, após o seu regresso do estrangeiro, foram levados presos directamente do aeroporto para a cadeia. Entre vários ainda conservo alguns nomes que consegui fixar de memória:

- Prof. Manuel S. Prova, vindo da Serra Leoa.

- Prof. José Brito Simango vindo dos Estados Unidos da América.

- Domingos Aníbal, vindo do Quénia.

- Teodoro Mpunga, vindo do Quénia.

- Feliciano Dimbejo, vindo do Quénia.

- Artur J. da Fonseca vindo da RDA (República Democrática da Alemanha), e mais Atanásio Muhate e Raimundo Lumbela que desertaram da Frelimo durante a luta armada. Daqui, fui transferido para Cadeia da Machava, ainda em Maputo. Machava era a antiga cadeia da PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado) agora usada pela Frelimo para encarcerar presos políticos e os chamados sabotadores económicos. Aqui fui mantido durante um mês. Aqui encontrei outros prisioneiros:

- Absalom Bahule, secretário geral do «Coremo».

- Kampira Momboya, influente membro do «Coremo».

- Matias Mbowa, ex-comissário político da Frelimo.

- Dr. António ex-estudante da Frelimo.

- Irene Buque, antiga esposa de Machel.

- Dr. Mapilale, ex-estudante da Frelimo que foi mandado estudar para o exterior pela própria Frelimo, e todos aqueles que participaram no motim de 17 de Dezembro de 1975.

Da Machava com outros 23 presos fomos mandados de avião para Pemba, (ex.Porto Amélia), capital da província de Cabo-Delgado. Aqui fomos mantidos em celas subterrâneas durante 70 dias. Finalmente fomos enviados para o «campo de concentração de RUARUA». Oficialmente estes campos são chamados de «Campos de Re-Educação». Aqui fiquei até 27 de Agosto de 1977, dia em que consegui escapar com mais três companheiros, Dr. Artur J. da Fonseca, Atanásio Muhate e Raimundo Lumbela. Muhate e Lumbela foram descobertos pelas autoridades tanzanianas como fugitivos e foram detidos e recambiados para Moçambique.

Enquanto estive no campo de concentração de RUARUA encontrei vários outros presos membros de outras organizações políticas que também haviam sido transferidos de outras cadeias e «campos de concentração»:
- Matsinhe, membro do «Gumo» (Grupos Unidos de Moçambique).
- Dr. Waya, ex-estudantes nos Estados Unidos da América.
- José Vilankulos, vindo do Quénia.

Existem ao todo 14 campos de concentração em Moçambique. Três na província do Niassa; 03 em Cabo-Delgado: «RUARUA», «Bilibiza» e «Chaimite». Três na província da Zambézia. Dois em Sofala: «Gorongosa» e «Inyangawi» (Inhangau). Dois em Inhambane (Inyambane): «Inhassune» (Inyassune) e «Inhassoro» (Inyassoro). Um (1) em Maputo, na ilha de Xefina.
Todos os 11 mil testemunhas de jeová estão detidos na província da Zambézia.

Minha experiência nas prisões e campos de concentração

No «Comando da Polícia» as celas estavam superlotadas. Uma cela com capacidade para 70 detidos, continha cerca de 280 presos. Uma refeição por dia. Durante as investigações os oficiais usam violência brutal. Eles colocam uma colher entre os dedos e pressionam-na, enroscado-a entre os dedos até partir os dedos. Também amarravam e penduravam o preso ao tecto pelos pés com a cabeça virada para baixo por um longo período. Alguns presos que não aguentavam esta tortura eram desamarrados inconscientes.

Na «Cadeia Civil» para além dos dois métodos que mencionei, eles queimavam o corpo do preso durante várias horas desde os membros inferiores até ao pescoço. Também podiam obrigar o preso a ficar ajoelhado durante várias horas. Aqui éramos cerca de 2 mil presos. As celas estavam abarrotadas que os oficiais tinham que recorrer à capela existente para enclausurar os presos a mais. Na «Cadeia da Machava» eles usavam todos os métodos sofisticados de tortura.


Machava é a sede da cadeia do «Snasp» (Serviço Nacional de Segurança Popular). Eram também usados choques eléctricos, na tortura.


Em Pemba, na cadeia subterrânea as condições são humilhantes, degradantes e quebram física e moralmente os presos. Éramos mantidos em celas subterrâneas completamente nus, no chão, sem luz dia e noite e fisicamente violentados diariamente. Podiam bater-nos as chambocadas até ficarmos inconscientes. Aqui encontrámos 10 rodesianos, nove homens e uma mulher que eram opositores de Mugabe e da «Frente Patriótica» apoiada pelo governo de Samora Machel. Era-nos dado a cada um meia refeição por dia.

Em RUARUA havia 900 presos. A vida é dura e penosa.


Éramos obrigados a cultivar durante a noite, carregar comida para o abastecimento dos campos em distância de 60 Km com uma carga de uns 30 Kg. Não se importavam como o preso podia estar fraco ou doente. Não havia assistência médica.

Há uma cela subterrânea alcunhada de «Universidade de Lekeni». Era destinada aos presos suspeitos de tentativas de fuga ou quando quebravam as normas da reclusão. Uma vez o preso levado para lá as chances de voltar vivo eram escassas. Este é um método usado para amedrontar outros presos e evitar tentativas de fugas. Uma refeição pobre é servida uma vez por dia, após longas horas, longas horas de sede e de duro trabalho.

Ainda há muitos prisioneiros, que tal como eu, eles têm tentado escapar. Aquele que for apanhado após escapar pelas autoridades ou populações que vivem à volta, são devolvidos e sumariamente executados. Durante as fugas, alguns são devorados por animais selvagens, outros morrem de fome nos respectivos esconderijos. No campo não há nenhuma assistência médica. Presos doentes acabam por morrer sem nenhum socorro. Em toda minha experiência não vi ninguém ser julgado ou acusado num julgamento conforme mandam as regras.


Em Moçambique não existe sistema judicial. Todos os presos são sumariamente detidos e mantidos indefinidamente por longo tempo. Alguns foram detidos no longínquo ano de 1972 durante a luta armada e ainda não foram acusados nem julgados. Muitos nem sabem sequer porquê estão presos:

Chaimite

Líderes e membros do «Coremo»
- Paulo José Gumane, presidente.
- Arcanjo Kambeu, secretário para Informação.
- Uria Simango, secretário para Relações Exteriores.
- Joaquim Nawawa, secretário para Segurança.
- Valentino Sithole, secretário para as Finanças.
- Sebastião Sigauke, secretário para Organização.
- José Maria, secretário para Assuntos Sociais.

Membros do «Gumo»
- Dra. Joana Simeão.
- Dr. Unyayi
- Dr. Razão

Outros
- Pedro Mapangelane
- Lázaro Kavandame
- Adelino Gwambe
- Basílio Banda
- Narciso Mbule.

Todos estão detidos no «Campo de Chaimite» a mais de 100 Km de Pemba e situa-se entre Pemba e Macomia. A informação referente a «Chaimite» me foi facultada no «Campo de RUARUA» por outros presos vindos transferidos de lá. Todos estavam ou ainda estão vivos. O Dr. Absalão Bahule, secretário geral do «Coremo», está preso na Cadeia da Machava. O Dr. António Chade, secretário para Administração do «Coremo» está no campo de RUARUA.

Meus planos futuros

Sobre o meu futuro, desejo, somente, apanhar um local onde possa viver sem temer pela minha vida. Também espero uma eventual reunificação com a minha família de 5 elementos que os deixei à sua sorte em Moçambique. Gostaria de ter uma formação que me permitisse garantir uma vida decente à minha família. Em relação ao país, estou pronto para seguir para qualquer lugar onde a minha segurança e da minha família estejam garantidas.


Atenciosamente,

Fanuel Guidione Malhuza

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A confissão de Uria Simango

Veja e ouça aqui a voz de Uria Simango desvrevendo, em Nashingueia, como Eduardo Mondlane foi assassinado. Recordo que Uria Simango já se encontrava na altura prisioneiro.
(Aguarde um pouco para abrir)
Excerto retirado do CD-ROM comemorativo dos 25 anos de Independência
25 de Junho -Moçambique
Vitória de um povo
Narrador - Leite de Vasconcelos
Edição Creatix-Promédia

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SIMANGO: DE REACCIONÁRIO A HERÓI


DEMOS(Maputo)
19 de Maio de 2004
Para as gerações mais jovens, educadas num ambiente em que com devoção se
cantava: "Simango,reaccionário..." a obra de Barnabé Lucas Ncomo é verdadeiramente o resgate de uma figura histórica deste país. Com efeito, "Uria Simango: Um homem, uma causa" é, uma obra: que estava a faltar ao imaginário político moçambicano. Aliás, quando colocado face desta imagem tão sinuosa quanto emblemática, uma das questões que se erguem é de saber se estamos perante um herói ou perante um mercenário.
Relegado para a condição de reaccionário, Simango, hoje resgatado por Barnabé Lucas Ncomo, começou a despertar interesse enquanto tal através de um questionamento suscitado pela interrupção do som de 
uma emissão televisiva alusiva aos vinte anos da morte de Eduardo Mondlane. Ia Janeth Mondlane a dizer que, antes da sua morte, todo o povo moçambicano saberia quem matou Mondlane descartando a teoria 
que liga o pastor Simango ao assassinato do primeiro presidente da Frelimo, quando houve corte do som por um período suficientemente longo e não seguido de alguma explicação como sempre acontecia.
Muito mais recentemente Mahluza, o homem que se apresentou como quem sugeriu o nome FRELIMO para o movimento de libertação, afirmaria de boca cheia uma espécie de heroísmo para a mesma figura.
A obra de Ncomo apresenta-se como algo de particularmente impressionante na medida em que em quase quinhentas páginas, o autor nos conduz no meio de um ambiente obscuro e proibido à busca do um 
Simango reinterpretado e, através de um percurso histórico resgata a figura histórica.
Sem se preocupar pelo rigor científico, vai a busca da verdade e não teme deixar questões em aberto, como foi o caso da data e circunstâncias da sua morte.
Por outro lado, mesmo sem sucumbir ante a dificuldade de discernir um pensamento simanguiano vai mostrar o caminho tortuoso e difícil da formação e desenvolvimento da Frente. Mais do falar em consensos, 
ele mete em evidência as várias tendências que era necessário fazer convergir.
Nas linhas que se seguem Demos transcreve alguns excertos da obra.

MORTO EM DATA E LOCAL INCERTO
Difícil estabelecer com exactidão as datas. O certo é que em dia impreciso do período que vai de Maio de 1977 a Junho de 1980, durante o mandato do então governador da província do Niassa, Aurélio Benete Manave, M'telela acolhe no seu solo o que resta de um homem que muito fez para a libertação de Moçambique. O Rev. Uria Timóteo Simango era barbaramente assassinado na companhia de outros 
moçambicanos tidos como reaccionários pelo regime totalitário da Frelimo.
O acto, executado dentro do secretismo que caracterizava as hostes do poder político em Moçambique, só viria a tornar-se público cinco anos mais tarde com a fuga para a Africa do Sul de um destacado 
membro do SNASP (Serviço Nacional de Segurança Popular) e pela voz da Resistência Nacional Moçambique.

DISCIPLINA PARTIDÁRIA
A primeira tentativa de se conciliar ideias a volta do assunto nas hostes do. poder a politico em Maputo ocorre em1980 quando o Comité Politico Permanente da Frelimo ensaia a intenção de informar o país 
e o mundo sobre o destino de Simango. De certa forma ao que tudo indica, essa tentativa criou algumas desinteligências no seio do próprio partido no poder, pois um considerável número de membros da 
cúpula daquele partido não terá aceite pactuar com a farsa de que se pretendia forjar.
Desde então, a Frelimo tem-se esforçado por apresentar o caso como encerrado, visto que o plano denominado Código Namuli, conforme mais adiante se verá, não seria levado avante.
O que se sabe sobre a morte de Uria Simango e seus companheiros gira em torna informações colhidas junto de pessoas que de M'telela escaparam com vida mantendo-se o silêncio dos mandantes e dos 
executores directos do acto. Tudo leva a crer que houve um pacto entre a classe dirigente, consubstanciado a disciplina partidária.

Segundo assevera o então governador Manave:
"Uma das características da Frelimo é a disciplina e o sigilo partidários. Ninguém está autorizado a tocar na questão Simango senão os que têm autoridade. Eu, como indivíduo singular, não tenho essa autoridade. Houve um juramento de sigilo à volta da questão e apenas a quebra oficial desse juramento poderá libertar os pactuantes para falarem do assunto. Duvido que algum dia isso aconteça. A maioria dos pactuantes está viva e acho que mesmo com a garantia de se manter seus nomes no anonimato, dificilmente podem 
dizer algo sobre a figura de Uria Simango.
Conheci Simango e com ele convivi durante muitos anos. O que posso dizer e apenas que aquando da captura dos reaccionários em 1974 eu era o Comandante do Campo de preparação político-militar de 
Nachingweia, para onde foram conduzidos esses reaccionários. Todos eram humanamente tratados e nunca torturámos alguém. Fui igualmente o governador de Niassa até 1983, altura em que de lá saí para 
cumprir outras tarefas que me confiaram. Nada mais posso acrescentar, senão isso. (Aurélio Benete Manave).


NÃO HÁ RAZÃO PARA TAL
Sintomático do receio e terror psicológico que a questão provoca nos então detentores do poder político em Moçambique, passados que são décadas do silêncio absoluto, e a indisponibilidade mostrada por alguns em abordar com profundidade a "questão Simango". Tal é o caso de Óscar Monteiro, um nome sonante da vida nacional moçambicana após independência. Monteiro afirma que apesar de ter conhecido Simango, conviveu pouco tempo com ele, pois cedo passou a representante da Frelimo em Argélia, o que, de certo modo, o impediu de o conhecer com profundidade. Pouco adiantou sobre o homem. Contudo reconhece 
ter tido alguns contactos com o Reverendo no contexto da luta armada de libertação nacional. Nada mais acrescentou, porque "ando muito ocupado e não sei quando é que terei disponibilidade para falarmos 
disso." (Óscar Monteiro) Apesar da insistência do autor, visando marcar uma entrevista para outra ocasião, Monteiro pouco interesse mostrou em abordar o assunto. Todavia, Monteiro aparecera mais tarde 
a lamentar-se do fim que tiveram Os presos de M'telela dizendo que não se devia ter feito uma tal coisa, pois "não havia razão para isso" (Óscar Monteiro)

O EMBARAÇO DE CHISSANO
Joaquim Chissano, que subira ao trono depois da: morte de Samora Machel em Outubro de 1986, num comício em Maputo a 9 de Janeiro de 1990, igualmente denotando perturbação, em resposta a uma questão sobre os presos políticos levantada na ocasião por um cidadão Zebedias Jaime Machava, viria sub-repticiamente a confundir a questão que lhe era colocada. Estava-se no auge da paz, e uma amnistia em favor dos chamados "bandidos armados", e os considerados "traidores da Pátria", havia sido decretada. 
Corajosamente, e em resposta ao apelo formulado por Chissano para que as pessoas naquele comício apresentassem livremente as suas preocupações, implicitamente, Machava levantou a questão de Simango 
e outros presos de consciência, tendo-se estabelecido então com o presidente um estranho diálogo nos seguintes termos:
(Machava) Chamo-me Zebedias Jaime Machava. Eu vim aqui para poder apresentar algumas questões que sinto. Eu tenho acompanhado passo a passo a evolução política do nosso país, do nosso partido, e tenho
também acompanhado as iniciativas do nosso governo no sentido de estabelecer a paz neste país. E também queria aproveitar esta oportunidade para poder exprimir o meu sentimento perante os membros 
do governo, os membros do Bureau Político e membros do partido para poder fazer chegar essa preocupação que eu tenho.
O governo da República Popular de Moçambique procedeu a uma amnistia aos bandidos armados. Essa amnistia abrange todos aqueles que estão a matar. Os que foram os primeiros que ainda permaneciam no 
banditismo armado beneficiam dessa lei quando vieram se entregar voluntariamente, e quando abandonaram a via violenta. Estão beneficiados por essa lei.
Então, eu queria pedir a todos os membros que estão aqui para podermos também rectificar, ver também aqueles que praticaram crimes durante a luta de libertação nacional, os desertores, aqueles que desertam ou que .. .aqueles que nós consideramos como dissidentes, aqueles que não quiseram corresponder com a linha da Frelimo. Estes até este momento estão numa situação de privação, não é? Estão privados não ouvimos falar deles, não se ouve quase nada, não é? não se ouve. Não sei se existem ou já morreram eu não sei. Portanto, eu queria que o povo moçambicano, dentro do sentimento que nós temos de amnistiar aqueles que fizeram ma1, ou que fazem mal, então.
(Chissano) - Sim podemos responder a sua preocupação,já compreendemos.
(Machava) -Sim
(Chissano) - A amnistia era para todos, incluindo esses aí.
(Machava) - Sim
(Chissano) - Não estão incluídos. Estão amnistiados.
(Machava) - Estão amnistiados?
(Chissano) - Uns estão em Portugal, estão na América. Não são muitos. Podem vir a qualquer altura aqui e esses aí para eles a amnistia não acaba. Podem
(Machava) - E também...
(Chissano) - Obrigado
(Machava) - Desculpe Sua Excelência.
(Chissano) - E por causa dos outros. Temos que limitar o tempo.
(Machava)_ Há aqueles que estão nas nossas mãos. Aqueles...
(Voz de mulher) A luta continua! (Rádio Moçambique)

EXECUTADO À REVELIA
Entre as escassas informações (a maioria das quais desencontradas) existem também acusações e ilibações caricatas que ilustram o peso de consciência que reina nos que detinham o poder nas mãos. Fernando Ganhão, outra figura de destaque nas hostes do regime, afirma que tomou conhecimento da liquidação física de Simango posteriormente ao acontecido. Segundo ele, "aquilo foi decidido lá no norte sem o conhecimento de ninguém cá em Maputo.
Foi "AM" quem fez aquilo. Mandou para lá um indivíduo que andava com a filha dele. Parece que mandou liquidar esse indivíduo e, por extensão, todos os presos políticos que estavam a guarda dele no Niassa. Todos foram mortos. Samora chateou-se muito com isso. Ninguém sabia de nada cá. Mesmo Marcelino dos Santos não sabia de nada. Foi uma decisão unilateral de alguém consultar o próprio Chefe do Estado e a direcção máxima do partido. (Fernando Ganhão)

EXEMPLO DE JUSTIÇA POPULAR
Marcelino dos Santos altura segunda pessoa importante na hierarquia partidária foi categórico ao afirmar que a decisão de executar sumariamente Simango e outros presos políticos fora um exemplo de "justiça altamente popular", tendo frisado:
"Mas que se diga bem claramente que nós não estamos arrependidos da acção realizada porque agimos utilizando violência revolucionária contra traidores e contra traidores do povo moçambicano. (Marcelino 
dos Santos)
As informações existentes - fruto de mais de 15 anos de cuidadosa investigação - indicam os anos entre 1977 como o período mais provável em que o Rev. Uria Timóteo Simango terá sido morto cruelmente. A sua esposa, professora Celina Simango, viria a ser executada, segundo uma das fontes, em Julho de 1982 na companhia de duas outras senhoras dentre as quais Lúcia Tangane, esposa de um destacado prisioneiro de M'telela -(Raul Casal Ribeiro), ex-comissário politico da Frelimo e secretário-adjunto do Departamento 
de Defesa após a morte de Filipe Samuel Magaia.

SAMORA NÃO QUERIA AQUELE HOMEM MORTO
Por sua vez, Mariano de Araújo Matsinhe, outro proeminente membro da hierarquia da Frelimo, afirma que "a confissão Política não foi informada sobre a liquidação física dos presos. Samora não queria 
aqueles homens mortos. Queria mantê-los vivos para depois mostrar-lhes o Moçambique independente que ele sonhava.
Ele foi pressionado para fazer aquilo. Nem eu, nem o presidente Chissano sabíamos da morte de Simango e de outros. Alguns passaram a saber que os presos foram liquidados através de uma informação que o 
presidente Chispando acabou dando em resposta a perguntas feitas por alguns moçambicanos exilados nos Estados Unidos foi numa reunião com moçambicanos em Nova Iorque. (Mariano Matsinhe)
Mas Matsinhe não ousa divulgar quem terá pressionado Samora Machel a fazer a que ele chama "aquilo", remetendo para a inconcebível ideia de uma Frelimo com separação de poderes, onde par um lado estava 
Machel dirigindo uma Comissão Política (Bureau Político) imaculada nos actos e, por outro, o mesmo Machel, na companhia alguns veteranos da luta ar como Salésio Nalyambipano, Lagos Lidimo, Abel 
Asikala e alguns mais, agindo independentemente. Uma espécie de anarquia que não bate certo com a realidade, mas, em todo o caso hipótese que não se pode descurar se se tiver em conta que o Serviço 
Nacional de Segurança Social (SNASP), então instituído em Outubro de 1975, conferia ao Chefe do Estado plenos poderes de agir (em alguns momentos) num círculo restrito com os oficiais daqueles serviços, 
sem prévia consulta aos diversos órgãos do partido no poder.

A IMPRENSA ESTRANGEIRA
No início do último trimestre de 1976, um grupo de jornalistas nacionais e o cineasta mauritano Abid Med Honda, contra todas as previsões, visitaram M'telela no âmbito de uma digressão que faziam pelo norte do País. Com a excepção de Muradali Mamadhusen, então Director Nacional de Informação no Ministério da Informação, os restantes componentes do grupo não sabiam em que local de Niassa se encontravam. De Lichinga, foram todos introduzidos em viaturas tendo seguido para um destino incerto. Chegados a -M'telela, reconheceram de imediato Uria Simango e Joana Simeão.
"Na altura" - segundo relataria um dos jornalistas "a nossa preocupação imediata foi ver o estado de espírito em que se encontravam esses homens e se estavam sendo bem tratados, embora o comandante do campo - um tipo alto e forte, todo ele simpático para connosco - nos tivesse garantido que os presos estavam sendo bem tratados, custou-nos a acreditar pelo semblante que ostentavam aqueles detidos. Ao responderem as nossas perguntas, os presos transmitiam no seu olhar uma mensagem de tristeza e profunda angústia. Víamos medo nas suas respostas porque estavam a volta guardas a controlar todos os movimentos. Para despistar aqueles guardas, e pôr os presos à-vontade. alguns de nós tiveram que mentir 
dizendo que eram jornalistas estrangeiros. Fomos fazendo perguntas em inglês e francês ao que Simango e Joana iam respondendo sem problemas porque os guardas não entendiam essas línguas. De regresso a Lichinga ficou combinado que nenhum jornalista deveria fazer uso do material recolhido. E como o seguro morreu de velho. Muradali recolheu tudo, desde apontamentos, filmes, gravações, etc. Esse material está algures aí em Maputo, certamente com os detentores do poder. Os presos estavam sendo maltratados. Julgo que previam um fim fatal. 
(Eliodoro Baptista)

UMA DATA PROVÁVEL
Mas a data de 25 de Junho de 1977, segundo aniversário da Independência nacional, tida como o dia da saída dos presos do Centro de acordo com Maria Flora Ribeiro - e data prováveis da execução dos mesmos, entra em colisão com uma das principais testemunhas de M'telele - Manuel Pereira - como mais adiante se verá, Contudo, é curioso notar que aquela data poderá, de facto, ter sido a data da execução de diversas sentenças decretadas nos corredores do poder em Maputo. Com efeito, a 25 de Junho de 1977, no 
outro extremo de Moçambique, na zona de Nambude em Cabo Delgado, o então director local da Contra Inteligência Militar, António Miguel, é referido como tendo presidido à execução pública de dois antigos 
combatentes, nomeadamente do comandante Joaquim Mandeio Muthamangue, cognominado Francisco Ndeio e do seu adjunto Pedro Canisio.
No decurso da tarefa que the fora incumbida, Pereira constatou que Uria Simango e outros políticos detidos no Centro de M'telela, haviam sido executados em Outubro de 1978. O ano de 1978 como altura 
provável da execução dos prisioneiros políticos voltaria a ser ventilado pelo próprio Sérgio Vieira no decurso de um debate televisivo em 2001. Ao se abordar o sistema de reeducação no Moçambique pós-Independência, Vieira admitiu terem havido falhas durante a vigência do monopartidarismo em Moçambique. Sem precisar datas, afirmou que no período entre 1978 e 1979 se haviam cometido excessos, tendo os mesmos culminado com a execução sumária de presos políticos. Em particular, Vieira afirmou ter assinado e ordenado diversas execuções extrajudiciais. Todavia, em jeito de conclusão, 
afirmou que não se sentia arrependido.

E SIMANGO NÃO PEDIU PERDÃO
Para RR, os presos políticos foram executados em Junho de 1980 pouco depois da passagem de Samora Machel por Niassa a caminho de Madagáscar. RR que estava ligado as Forcas de Defesa e Segurança na 
cidade de Lichinga, diz que lembra-se muito bem do mês porque Samora fez uma escala rápida em Lichinga e no dia seguinte estava de volta a Maputo para anunciar a nova moeda, a metical.
CF por sua vez, citando afirma que a sua fonte informou que o Rev. Simango foi severamente maltratado durante a sua audição. Permaneceu de pé quase seis horas consecutivas perante as pardas figuras que o exigiam que pedisse perdão. Alguns dos presos aflitos, acabaram acedendo ao pedido na esperança de verem as suas penas comutadas. 
Contudo, a despeito do cansaço físico que denotava e a constante zombaria à sua volta, Simango negou continuamente pedir perdão. "Não vejo razão nenhuma que me leve a ter que pedir perdão. Não fiz mal 
nenhum. A quem devo pedir perdão, aos senhores?" - insurgia-se constantemente Simango, de acordo com a mesma fonte.

NACIONALIDADE E RELIGIÃO
Em 1957 foi-lhe concedida uma bolsa de estudos por uma instituição religiosa nos Estados Unidos da América. Todavia, as autoridades coloniais impediram-no de se ausentar de Moçambique para prosseguir 
os estudos. Segundo pessoas da época, a recusa fundava-se no facto de, até então, estarem frescos na memória das autoridades portuguesas os transtornos causados por Kamba Simango aquando do seu 
regresso dos Estados Unidos à cidade da Beira. Certamente, as autoridades consideravam ser perigoso se Uria trilhasse os mesmos caminhos que kamba. Para além do mais, vivia-se nessa altura outra turbulência causada por um outro Simango-Sixpence - promotor do Núcleo Negrófilo de Manica e Sofala. A coberto do Núcleo, Sixpence Simango e seus correligionários, os Negrófilos, como habitualmente se identificavam os membros do Núcleo, transformaram-se em ouvido e fiéis mensageiros das populações negras perante as autoridades. 
Contra as sevícias infringidas pelas autoridades coloniais contra a população negra, o Núcleo Negrófilo de Manica e Sofala destacava-se nos pronunciamentos em nome dos oprimidos.
O destino havia apanhado o jovem pastor Uria Simango nesse ambiente de discriminação racial e de perseguições. 
A semente do nacionalismo havia sido plantada anos antes pelo Rev. Kamba. Todavia, o conceito de nação em Manica e Sofala, e em particular entre as populações da etnia shona, agudizar-se-ia com o deflagrar do motim da Machanga. O motim seria urna das principais fontes de inspiração para uma luta aberta contra a presença colonial portuguesa em Moçambique. Vários jovens abandonaram nessa época a colónia indo refugiar-se na então Rodésia do Sul. Do Búzi, onde trabalhava numa empresa açucareira, saiu o principal percursor da Udenamo, Lhomulo Chitofo Cwambe, mais conhecido por Adelino Gwambe. 
Muitos outros abandonariam Mocambique exilando-se nos países vizinhos.
Mas da leitura de um estudo recente sobre e motim de Machanga, 
depreende-se que o levantamento não tinha um cunho político, pois foi motivado pelo comportamento irresponsável de alguns funcionários administrativos corruptos que haviam desviado donativos de 
emergência para as vitimas dum ciclone que havia assolado a zona.
Simango havia tomado conhecimento da Constituição na África do Sul, por um grupo de moçambicanos oriundos maioritariamente de Mambone e Machanga de uma associação denominada Associação Fúnebre de Moçambique (AFM). Ferraz de Freitas queria saber de Urias Simango e Ngwenha qual o papel que a Igreja Protestante havia tido nos levantamentos de Machanga e Mambone.
Para além de mais, sendo Resende um agente do Vaticano, não poderia na altura fazer mais ondas do que então fazia. Pelo que Simango nunca se expunha muito perante o bispo no respeitante à independência das colónias portuguesas. Contudo, de Resende e Bertulli, soube Simango extrair grandes ensinamentos. Tanto um como outro nutriam denodada admiração pelo jovem pastor negro que, contrariamente à maioria naquela época, falava bem o português e o inglês, e tinha ideais claros sobre a salvação humanidade.
 --------------------------------------------------------------------------------MOÇAMBIQUE: OS FANTASMAS DE  NACHINGWEA
Centenas de pessoas foram julgadas no campo de Nachingwea nos meses que antecederam a independência de Moçambique. O que lhes aconteceu? Um investigador responde.
Estávamos em 1975 a pouco meses da independência de Moçambique. O fervor revolucionário de mudança sentia-se em todo o país. A Frente de Libertação de Moçambique, Frelimo preparava-se para assumir o poder na certeza absoluta das suas convicções e linha política. Não havia lugar para dissidência ou pontos de vista diferentes.
Nesses meses que antecedem a independência na Tanzânia centenas de pessoas são julgadas pela Frelimo acusadas de vários crimes contra a luta de libertação e contra a revolução.
Agora familiares desses acusados querem saber o que aconteceu aos réus do julgamento de  Nachingwa. Vão formar uma associação. Nachingwea é conhecida pelos moçambicanos como uma das principais bases da Frelimo na Tanzânia. Mas não só. Neste regresso ao passado falamos com o investigador João Cabrita que nos disse que cerca de 300 pessoas foram, julgadas em Nachingwea. Foram acusados de traição ou deserção. Algumas delas são figuras conhecidas como Urias Simango e Joana Simião que seriam fuzilados anos mais tarde num campo de reeducação. Mas Cabrita disse nos que ninguém sabe o que aconteceu á esmagadora maioria daqueles que foram julgados. “Só as autoridades moçambicanas podem revelar isso,” disse o investigador.
Escute  a entrevista de João Cabrita.   

Nota do blog:   Entre a Memórias Silenciadas, título do novo livro do escritor moçambicano  Ungulani Baka  Khosa lançado no dia 1 de Agosto de 2013 em Maputo desvenda o ambiente que se viveu no período em que as pessoas foram concentradas nos centros de reeducação  que João Cabrita prefere chamar de campos de concentração  Vale apenas ler.



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