PEDRO BORGES GRAÇA
Centro de Estudos Africanos e Brasileiros. Instituto
Superior de Ciências Sociais e Políticas. Universidade Técnica de Lisboa
bgraca@iscsp.utl.pt
Resumo
Eduardo Mondlane foi pastor, "muleque", estudante, catequista,
emigrante, operário, professor, funcionário das Nações Unidas e finalmente
guerrilheiro e diplomata, "pai fundador" do projecto nacional
moçambicano. A sua biografia não é contudo suficientemente conhecida. Quem não
o confunde com um antropólogo? Ou com um sociólogo? Na verdade, toda a sua
formação académica e investigação se centrou na área da Psicologia Social, em
questões de percepções sociais, conscientemente preocupado com o problema do impacto
da modernidade e da mudança cultural no comportamento dos indivíduos agregados
em comunidades. Quem não o toma por um revolucionário marxista-leninista? Na
verdade nunca se posicionou claramente como tal e defendia que os africanos
tinham de desenvolver os seus próprios e específicos modelos de sociedade.
Eduardo Mondlane foi sem dúvida um grande líder nacionalista africano, culto,
homem de pensamento e de acção, singular, como nos revelam as palavras que
deixou escritas e o virtual projecto político para Moçambique que podemos
vislumbrar com actualidade. Essa foi a razão pela qual em Moçambique, durante o
longo período revolucionário após a Independência, a sua figura foi sobretudo
exaltada sob a forma estética e simbólica. Por exemplo, o seu primeiro livro,
“Chitlango, Filho de Chefe”, escrito com cerca de 25 anos, só seria publicado
em Moçambique quinze anos após a Independência, pela inoportunidade do seu
trajecto heterodoxo e nada revolucionário, simples e essencialmente humanista,
bebendo directamente das suas profundas raízes africanas e rurais. Ainda hoje
se encontra pois aberto o debate sobre o futuro que Moçambique teria tido com
Mondlane.
Inconclusivo para uns, muito claro para outros. Porventura a História não
deixará de ver ressurgir recorrentemente o seu pensamento e acção, o seu
exemplo, estudado pelos jovens moçambicanos no afã generoso de darem o seu contributo
para o desenvolvimento do seu país. Ele, Eduardo Mondlane, que queria ser, mais
que tudo, “um professor universitário”, seguramente rejubilaria por ver o seu
nome na Universidade, talvez a maior invenção da Humanidade e com certeza factor
estratégico de desenvolvimento económico e social.
Palavras-chave: Eduardo Mondlane, Projeto Nacional Moçambicano
Texto completo in: http://2012congressomz.files.wordpress.com/2013/08/t04c01.pdf
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