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06 agosto 2013

LANÇAMENTO DO LIVRO “ENTRE AS MEMÓRIAS SILENCIADAS”: UMA AMÁLGAMA DE CELEBRAÇÕES AO RITMO DA NARRATIVA UNGULANIANA

Fotografia de Ungulani Ba Khosa (sentado) no acto do lançamento no novo livro

O LANAÇAMENTO do livro “Entre as memórias silenciadas” foi um pretexto para o escritor Ungulani Ba Khosa juntar no mesmo espaço vários amigos e confrades, políticos e académicos. Amantes das artes e das letras. Boémios. Alguns dos quais já reformados.

Um acto com vários significados, pois no mesmo dia, 1 de Agosto, o autor completava 56 anos de idade, e escolheu um local – o Museu da História Natural – que este ano também assinala cem anos de sua criação. O lançamento da obra sublinha também a passagem dos 25 anos de carreira literária de Ungulani.
E tudo foi feito ao som da guitarra e voz do músico Roberto Chitsondzo, que emprestou alguns dos seus temas compostos à base dos contos da obra “Orgia dos Loucos”, um dos mais emblemáticos do escritor.
Neste romance o escritor nos oferece uma viagem ao mundo da primeira república, tendo a revolução como pano de fundo.
Mas também um livro de cujo “parto” Ungulani se queixa de ter sido bastante difícil. Até porque já estava quase abandonado.
E o escritor se explica: “Este livro é fruto de um incontornável impulso de consciência. Tive, em 2002, uma primeira tentativa, inteiramente fracassada, de abordagem ao tema. De lá para cá, os personagens foram perseguindo-me, exigindo, uma nova abordagem, uma outra entrega. E recusava-me a tal empreitada. Estava então em São Tomé, buscando dados sobre as mulheres de Ngungunhane, quando o tema se impôs e passou para o plano secundário as vozes de Namatuco, Fussi, Patchina, Muzamussi, Maxaxa, Uessipe e Dabondi, mulheres do imperador; e Pambone, Óxaca e Debeza, mulheres de Zilhalha. As mulheres do imperador, livro anunciado aos amigos, foi postergado ao segundo plano”.
Sublinha que, “para alguns, estas Memórias serão o avivar de páginas recentes e tristes da nossa história. Para outros, uma simples efabulação.
Mais do que retratar as pequenas e grandes misérias da primeira república, Ungulani afirma que o livro revela os desencontros de uma geração que já não se exalta com os feitos de uma revolução que não consegue renovar o seu discurso.
“Na verdade, a secura de António, em não aceitar outros paradigmas, outros discursos, tem a ver com a sua profunda solidão. Ao negar os pais, que retornaram às lusas terras, por questões meramente ideológicas, António perdeu o seu chão. No fundo, António, ante o eminente descalabro da revolução, teme em tornar-se, de novo, órfão, desse adoptivo pai que era a revolução em farrapos”, explica, avançando, por outro lado, que, os gémeos do romance, colocados em zonas totalmente distintas, não se reviam na sociedade em construção. Ao se oporem a certas práticas, não recusavam a Nação, queriam outras portas e janelas para o grande edifício da pátria.
Na sua visão, a cultura, que é o berço de toda a criação social, não teve a valorização necessária para a construção do Homem novo. Por isso não indigna que sem o tecido cultural este Homem facilmente se tenha tornado num sonâmbulo.
E é ele que outra vez nos diz: “A todos, grandes e pequenos senhores da nação, faltou-lhes o grande chão da cultura, o cimento que faz respeitar as instituições e admirar os mitos de uma nação. Foi-lhes cortado, à nascença do país, o encontro com o seu passado, o convívio com as práticas antigas. Eles andavam à deriva. Esse é o drama das personagens. Jovens que eram, não conseguiam descortinar que o grande laço da moçambicanidade está para além da política, do discurso único, de pertencer a esta ou oura cor política”.
Ele outra vez volta a clamar e fala do conceito da lacto do ser moçambicano, da moçambicanidade e que, na sua visão, está para lá dos detalhes marginais e fúteis, pois, segundo ele, a moçambicanidade está em aceitarmos a nossa condição de branco, preto, indiano, mulato, china, changana, nyungué, macua, chuabo, maconde, nyanja, e tudo o que nos diferencia e une neste vasto território.
Na sua viagem, Ungulani recorda a cultura oriental que, tendo marcado profundamente os laços moçambicanos, hoje tende a apagar-se entre nós. Os sabores e saberes orientais estão cada vez mais distantes, os seus incensos continuam a queimar, mas já ninguém os sente.
“Olhando de viés para a narrativa, ocorre-me a não integração duma componente importante desta nossa diversidade: os sabores do oriente. Sinto que essa componente se arredou da história. E de facto, ao tempo, esse grupo que trouxe cores e aromas e sabores, fechou-se na sua concha bivalve. Os sabores que emprestavam nos bairros de Chamanculo, com os seus achares, nas palafitas da Catembe, com os frutos do mar, foram-se tornando uma raridade. A sociologia deste tempo explicará as razões do afastamento desta secular comunidade ao nosso convívio”.
E os personagens do “Entre as memórias silenciadas”, como reagem? Eis que do escritor vem a resposta vem: “Os meus personagens estão presos a um tempo histórico que pouco lhes permite descortinar outros espaços que não a política. Eles não sabem que o que lhes liberta é a cultura. É por isso que Pedro que terá que fazer a grande viagem aos tempos da sua ancestralidade. É isso que Ngodo lhe pede: “O Mutsitso Final. António ficar-se-á pela amargura, pelo desencanto.
Olhando agora para o livro, diria que os personagens pedem uma outra viagem. Uma viagem a estes tempos de também recusa ao grande denominador da nossa existência: a cultura. Mas não é tarefa da minha lavra, porque as mulheres do Ngungunhane pedem o seu regresso a Moçambique”.
Nataniel Ngomane: uma provocação

O académico moçambicano Nataniel Ngomane ateve-se a três aspectos do livro de Ungulani para, segundo ele mesmo disse, tentar estimular curiosidades, instigar à leitura e fazer algumas provocações. E estas são o título da obra, imagem da capa e a nota do autor. Eis, então:
Entre as memórias silenciadas. A palavra “entre”, segundo alguns dicionários, significa “no meio de”, “no intervalo de”, “no número de”, “dentro de”. Olhando atentamente para esses significados, lembrando que olhar, além de “fitar os olhos em”, também significa “observar”, “notar” – entre outros - , percebe-se que as expressões “no meio de”, “no intervalo de” e “dentro de” são bastante próximas entre elas, ao sugerirem a localização de alguma coisa, um fenómeno, inserida(o) num determinado domínio ou universo de coisas ou coisa. Parece a explicação mais óbvia dessa palavrinha que nos empurra para, entre outras questões possíveis, as seguintes: “o que será que Ungulani Ba Ka Khosa inseriu n’ “as memórias silenciadas”? E que memórias são essas? Ainda por cima, silenciadas!? (Silenciadas é uma palavra forte!) Muita coisa, por certo, quando consideradas as 226 páginas que totalizam o livro.
A imagem da capa: Rostos anónimos com olhares desconfiados, alguns; olhares sombrios, tristes, outros; olhares cheios de ódio e certa raiva contida, outros ainda. Mas também olhares submissos, cabisbaixos. Pela mancha verde que se destaca entre esses multifacetados rostos, junto com árvores gigantescas, parece que esses rostos se erguem de uma densa floresta. Erguem-se? Ou habitam? Haverá bichos, nessa floresta? Mas também se nota que nos separa desses rostos uma vedação de arame farpado. Arame farpado…lembram-se? E um garboso soldado de camuflado, nome que se dá a um tipo de vestimenta militar, em posição de sentinela. E outra pergunta se levanta: “o que será que Ungulani inseriu neste seu livro, com essas imagens tão…tão...? e o título aponta para “memórias silenciadas”? Esta expressão é forte: memórias silenciadas!
Nota do autor: Cito: “O que encanta nas noites africanas são os pirilampos, animais de brilho intermitente, descontínuo, fugaz. Por entre as árvores deslustradas, eles adquirem a plenitude do brilho por segundos. A luz ténue dá outra cor à savana. São momentos fascinantes as noites, segundos que ficam nas retinas da memória. Depois, ao de súbito, vem a escuridão, as trevas. Momentos de incerteza, de receio. E de repente a luz, a vida. Inconstância. O viver intermitente entre a graça e a aflição.
Quantos de nós não assistimos, apavorados, ao acender e apagar de luzes das nossas independências?”
Está feita a provocação. Agora, reajam!
  • Francisco Manjate

In: Notícias, Maputo, Quarta-Feira, 7 de Agosto de 2013:: 

4 comentários:

kamal disse...

LAUNCH OF THE BOOK "BETWEEN SILENCED MEMORIES": A CHANGE OF CELEBRATIONS TO THE RHYTHM OF UNGRAULIAN NARRATIVE is a nice post.
thank you so much for sharing this one .

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