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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

23 outubro 2012

UM PERFIL DE EDUARDO CHIVAMBO MONDLANE: DESMISTIFICAÇÃO OU MERA REFLEXÃO SOBRE AS SUAS INTERACÇÕES NOS EUA [1]


UM PERFIL DE EDUARDO CHIVAMBO MONDLANE: DESMISTIFICAÇÃO OU MERA REFLEXÃO SOBRE AS SUAS INTERACÇÕES NOS EUA [1]

Eduardo Mondlane (Presidente da Frelimo) e Urias Simango (Vice presidente da Frelimo)


UM dos aspectos dominantes da memória de Mondlane é o revolucionário que muitas vezes acaba sendo parte de um mito criado e sustentado ao longo de muitos anos. No nosso caso, Mondlane tem sido invocado pela FRELIMO, e o Governo de Moçambique, como sendo uma figura quase divina, cuja memória serve para lembrar ao povo do sacrifício que um homem fez para o país. Sendo assim, esta memória serve às vezes de paliativo que obscura a realidade actual do povo.
Importa-me realçar a distinção entre lembrar Mondlane como mito político - herói de coragem e integridade indisputável - e lembrar Mondlane como homem normal, cujo papel na luta contra o colonialismo Português dependeu em grande parte do encorajamento de outros seres humanos com enormes capacidades analíticas dos efeitos do colonialismo.
Numa entrevista (Manghezi, 1999), Janet Rae Johnson, viúva de Eduardo Mondlane, confessa que a imagem de Mondlane foi invocada, muitas vezes, pelo Governo de Moçambique independente como símbolo de conveniência. Johnson, revela que “houve outras ocasiões em que se devia projectar a unidade do país e, nessas ocasiões, iam buscar o Mondlane à arrecadação e limpavam-lhe o pó.”
Neste artigo, o meu interesse é captar também o aspecto humano, na medida do possível não mitológica de Mondlane, dai a intenção de desmistificação.
Louis Krisberg, um professor na Syracuse University, que conheceu Mondlane aquando da última recepção de despedida de Mondlane para se dedicar em liderar a FRELIMO, contou-me que a sua memória de Mondlane é de um indivíduo carismático e dotado de profunda inteligência. Krisberg é um dos poucos testemunhas da presença e contributo de Mondlane na Syracuse University.
Outros testemunhas, contemporâneos na mesma universidade são o Clive Davis, Mashall Segall, e Douglas Armstrong. Mondlane, no entanto, não se viu como carismático; de facto, uma vez confessou a sua inabilidade de comunicar efectivamente, ao seu mentor Melville Herskovits, fundador do Departamento de Antropologia da Northwestern University e fundador do programa de Estudos Africanos.
Em resposta ao convite feito no dia 23 de Marco de 1952 por Herskovits para que Mondlane falasse com os seus estudantes num seminário que teria lugar no dia 28 de Abril, aquando dos seus estudos de licenciatura na Oberlin College, Mondlane (1952) disse: “Estou certo que os seus estudantes vão me estimular. Como sabe, não sou bom orador, dai que ficarei feliz em responder perguntas do que fazer um discurso formal.”
O que foi revelado mais tarde, por Herskovits foi a importância da perspectiva de Mondlane, pois esta intervenção seguiria a apresentação, na mesma série, do Lord Hailey.i
Melville Herskovits foi a pessoa que esteve por detrás da vinda de Mondlane para Northwestern University e se tornou muito importante para o início da sua carreira política. No dia 11 de Dezembro de 1952, Herskovits (1952) escreveu para Mondlane informando-o dos seus planos (junto à sua esposa) de visitar a África Ocidental - por dois meses e depois a África Austral e Oriental - e pediu cartas de apresentação para que usasse em Moçambique, tanto para membros da família de Mondlane, como para pessoas que o mesmo achasse que seria vantajoso conhece-los.
No entanto, prometeu discutir com Mondlane, após regressar, alguns dos problemas que viesse a conhecer em primeira-mão - talvez uma indicação de que Mondlane e Herskovits já travam conversas sérias sobre a situação em Moçambique. 
Numa carta à Herskovits, aos 12 de Dezembro de 1952, Mondlane (1952) manifestou interesse em fazer o seu mestrado na Northwestern University e, confrontado com o obstáculo financeiro, recorreu à Herskovits para que escrevesse uma carta de recomendação para a administração da universidade e para o Departamento de Sociologia.
Nesta altura, a reputação de Mondlane como orador sobre os problemas da África já se fazia sentir. No entanto, foi nesta carta que Mondlane fez uma confissão profunda do seu despertar político sobre os problemas do continente Africano; uma confissão que demonstra profunda introspecção e reflexão sobre as suas origens como Africano, seu presente e seu futuro em relação aos problemas do continente Africano.
Mondlane viu na educação em Sociologia, o facto da Northwestern ter a combinação de Sociologia e Antropologia e a existência do Instituto para os Estudos Africanos como um locus com potencial de aprendizagem que o ajudaria neste dilema, dai a seguinte confissão:
Este semestre tenho dividido o meu tempo entre estudos e palestras em todo este estado (de Ohio). Muitas organizações estão ficando mais e mais interessadas nos problemas da África do Sul. Estou tentando muito ser o mais objectivo possível. Quanto mais falo da África, mais necessidade sinto de estudar os problemas envolvidos; pois embora seja fresco de África, como gostaria de acreditar, há muitas coisas sobre as quais ainda não estou claro.
No âmbito dessa mesma confissão, Mondlane mostrou determinação em ingressar no programa da Northwestern University, sem abandonar a possibilidade de voltar para casa (Moçambique) para trabalhar por alguns anos, caso não fosse possível realizar este desejo. Não havia dúvida na sua mente que, para ele, a solução jazia no estudo directo de Sociologia, e mais especificamente, com foco na “mudança social” e “problemas rurais e urbanos”.
Dentro deste contexto de troca com Herskovits, devo realçar que o comentário de Marshall Seagal, durante a nossa entrevista, de que Mondlane nunca o deu a impressão de ser revolucionário, corrobora esta confissão. De facto, uma conclusão a que cheguei depois de uma entrevista com Segall foi o facto de que o elemento humano muitas vezes se perde em narrativas políticas.
Marshall Segall diz ter conhecido Mondlane na Northwestern University, como colega de escola. Este, por seu turno, foi instrumental na ida de Mondlane à Syracuse University para ocupar a cadeira de docente. Segall era na altura o director dos Estudos da África Oriental na Syracuse University. Foram colegas na Northwestern University nos finais de 1950 durante os estudos de pós-graduação e diz ter passado um tempo com ele em Dar-Es-Salaam pouco antes do seu assassinato. Segundo Segall, a Syracuse University foi a única universidade nos Estados Unidos da América a dar “leave of absence” (ausência) a um membro da faculdade para liderar uma revolução. Segall caracteriza Mondlane como sendo “charmoso, bondoso, inteligente, caloroso, sincero, e amigável” e alguém que “não servia a imagem estereotipada de um revolucionário fogoso, i.e., do tipo levantador de rebeldia...” uma característica que desconfia ter influenciado na direcção da FRELIMO e as eventuais divisões dentro da mesma.
Segall é testemunha do facto de que Herskovits, que segundo ele foi o fundador do primeiro programa de Estudos Africanos nos Estados Unidos da América, teve grande influência no ingresso de Mondlane à Northwestern University. O programa foi financiado pela Ford Foundation. Segall conta que Herskovits organizou um seminário sobre África e escolheu como local para o seminário um edifício, cujo doador tinha como critério não permitir entrada de Judeus e Africanos no edifício. Herskovits era Judeu, o tema do seminário era “África”, e alguns dos estudantes eram Africanos (entre eles Mondlane, que participou activamente no seminário) e Africano-Americanos tal como o próprio Segall.
O presidente da universidade opôs-se ao uso da instalação, mas como Herskovits ameaçou retirar os fundos (milhões de Dollars) da Ford Foundation, o presidente não teve outra alternativa senão deixar que o seminário se realizasse.
O foco de Mondlane pareceu mais académico do que político, mas foi via à exposição aos assuntos de África durante as aulas e discussões em palestras e actividades relacionadas que o interesse concreto na libertação do continente Africano emergiu.
Herskovits pareceu muito instrumental neste processo de transição para a Política, segundo a sua descrição na carta de referência que escreveu em suporte do mesmo aquando da inscrição para o programa de mestrado na Northwestern University (Herskovits, Carta de Referencia Para Eduardo C. Mondlane, 1952). Na carta, Herskovits profetizou que o papel de Mondlane será “de grande significado, ambos pelo ponto de vista do serviço que prestará quando regressar a casa e a contribuição que ele pode fazer na situação dinâmica que caracteriza a África Sub-Sahariana.” Como resultado, Mondlane recebeu uma bolsa da Carnegie (Carnegie Scholarship) no valor de $750.00 para o ano lectivo de 1953-1954, que inclui $225.00 em dinheiro líquido e $525.00 em propinas. Após a conclusão do mestrado e ainda determinado a ver o seu sonho académico realizado, Mondlane fez requerimento para a bolsa de estudo para o nível de doutoramento.
O papel de Mondlane como revolucionário começa a desenrolar-se com clareza depois da sua graduação. Numa carta que escreveu à Herskovits aos 9 de Setembro de 1957, após concluir os estudos de doutoramento e aceitar emprego na Trusteeship Division das Nações Unidas, Mondlane informou a Herskovits sobre a ida do seu muito bom amigo, como o descreve, à Chicago, o Senhor Joseph Biroli-Baranyanka ii que, segundo Mondlane, era filho dum importante chefe supremo duma região de Rwanda-Urundi iii.
A carta foi acompanhada de um documento intitulado “A Study Group of Congo African Problems: An Introduction to the Principles and Programme of the Organization” que descrevia a agenda política do grupo de estudos Alfred Marzorati, cujo nome era de um então antigo administrador Belga em África. No documento, o grupo manifestava interesse num processo de transição suave e passivo e à liberdade dos Africanos e a criação duma nova relação política via programas construtivos, isto como alternativa àquilo que o grupo designava como “o desejo dos povos Africanos em tomar os seus destinos nas suas próprias mãos.” Dois objectivos caracterizavam a agenda: a criação do grupo de estudo e o desenvolvimento de líderes do futuro. É provável que algumas ideias deste grupo tenham tido grande efeito na linha política de Mondlane ou apenas ressoavam com as ideias que este já abraçava, pois o grupo visava a inclusão de Belgas e Africanos, bem como de indivíduos de qualquer raça e religião. Não seria surpreendente se o apelo académico e cristão foi a razão porque Mondlane mostrou-se entusiasmado em relação ao Biroli-Baranyanka segundo o qual (iv), a nossa intenção é fazer um contributo ao crescimento do entendimento mútuo entre os diversos grupos em África e à apreciação própria das complexidades de problemas particulares que enfrentamos no continente. A nossa perspectiva é ao mesmo Africana e Cristã - uma harmonia entre Africano e o Ocidente, o qual estamos apostados a proteger contra os perigos do comunismo ou de qualquer outra invasão à liberdade da democracia. (1957).
A intenção do grupo de estudo estava muito clara, quer em termos teórico-ideológicos, como em termos práticos - a educação superior de Africanos nos Estados Unidos da América seria a solução para a África face aos perigos do comunismo e ao inevitável crescimento do descontentamento das massas com o colonialismo.
Infelizmente, Herskovits não estava em Chicago na altura em que Biroli-Baranyanka devia ter lá estado e nem ouviu sobre a sua vinda. Pelo contrário, Herskovits vira a atenção de Mondlane para o Alioune Diop, então editor da revista Présence Africaine e comenda Mondlane pela posição nas Nações Unidas, manifestando um optimismo na posição estratégica em relação a questões emergentes sobre a África Portuguesa.
Não é possível constatar se a viragem em assunto seria indicação de que Herskovits tinha reservas ou indiferença em relação ao entusiasmo de Mondlane na Agenda do Biroli-Baranyanka ou se era uma forma de voltar a atenção de Mondlane a um fórum mais importante para o seu trabalho intelectual-político (e não o inverso), a revista de Diop. A outra possibilidade é que Biroli-Baranyinka expressava, categoricamente, que a sua agenda era Cristã; enquanto que Mondlane era menos dogmático nesse sentido - o que para Herskovits, como Judeu, talvez a postura de Mondlane fosse mais deleitável, pois o que eles tinham em comum, i.e., o interesse na causa da África e a intelectualidade, deveria se manter o foco da sua relação.
Aos 22 de Maio de 1958, Herskovits reage a um artigo intitulado “Eduardo Mondlane, Um Português Moçambicano” que Mondlane o enviou e que havia sido escrito por Simões de Figueiredo e publicado no Diário de Notícias de Lourenço Marques aos 16 de Maio de 1958. Herskovits, talvez para o desapontamento de Mondlane que parecia entusiasmado pelo artigo, informa-o em duas instâncias no primeiro parágrafo - como que para enfatizar - que quase não o pode reconhecer no artigo de Figueiredo, mas supunha que tal coisa (imagem ou publicidade) não o prejudicaria. Mais uma vez, Herskovits vira a atenção à recente visita dum tal Teixeira que teve dificuldades em responder a algumas perguntas sobre Moçambique, feitas durante o almoço. A carta termina com uma lembrança a Mondlane para terminar a sua tese.
Em 1958, Mondlane candidatou-se a uma posição de docente em Ghana e a Inter-University Council for Higher Education Overseas enviou um pedido, datado Junho 17, à Herskovits para que este escrevesse uma carta de recomendação, pois Mondlane havia dado o seu nome para tal (Maxwell, 1958). A recomendação de Herskovits mais uma vez salientou a capacidade intelectual de Mondlane, apesar de o mesmo reconhecer não estar à par do estado da tese de PhD.
Não foi possível estabelecer o desfecho da situação da tese de Mondlane na correspondência com Herskovits; mas, em Janeiro de 1968, o então Dr. Eduardo Mondlane apareceu como um dos convidados para falar no simpósio para examinar a “violência”, num evento organizado e financiado pelos estudantes da Northwestern University. Entre os oradores estavam: Charles Hamilton, Stanley Milgram, professor de psicologia na City College of New York; Ernest Chambers, barbeiro e porta-voz da Black Militancy em Omaha, Nebraska; Staughton Lynd, professor na Illinois State Teachers College; Vincent Harding, presidente do departamento de Historia na Spellmen College; James Lawson, vice-presidente da Fellowship of Reconciliation, uma organização pacifista religiosa, e ex-conselheiro do Dr. Martin Luther King, Jr.; Robert Theobald, Autor; Leslie Fielder, Autora-critica-educadora; e Bosley Crowther, ex-funcionário da New York Times. É provável que Mondlane participou em alguns destes simpósios - em 1964/65 o tema foi “Rebelião”; em 1965/66, “Diminuindo o Homem”2 ; e, em 1966/67 “A Nova Urgência” - e que os tais o teriam influenciado.
A sessão de Mondlane foi sobre o tema “Violence as Outlet”3 e argumentou, na qualidade de presidente da FRELIMO, que o recurso à violência numa revolução é aceite somente quando for imperativa. Um ano antes, i.e., numa carta aos 10 de Abril de 1967, Mondlane reconheceu à Gwendolyn Carter que a rara oportunidade que tiveram em Northwestern, de serem influenciados por professores “cabeças-duras” que os forçaram a olhar para os factos básicos do comportamento humano estava a ser útil na renhida luta armada. Mais uma evidência de que a atmosfera do programa da Northwestern University influenciou Mondlane para uma carreira política que culminou na sua visão e seu papel na libertação de Moçambique. Na carta, Mondlane passa cumprimentos ao Ray Mack, ao Don Campbell, e à Sra. Frances Herskovits e não há menção de Melville, o que indica que nessa altura ele já havia falecido.
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1 Este artigo foi publicado em Italiano. Cossa, J. (2011). Al di là del “mito”: un ritrato di Eduardo Chivambo Mondlane negli Stati Uniti d’America. In Luca Bussotti and Severino Ngoenha (Eds), Le Grandi Figure dell'Africa Lusofona. Fra storia e attualità, Aviani Editore, Udine.
2 “Diminishing Man”
3 Violência como recurso 
i Lord Hailey trouxe uma contribuição intellectual de enorme significado em torno da questão das independencies dos países Africanos (Hailey, The Role of Anthropology in Colonial Development, 1944); e (Hailey, A Turning Point in Colonial Rule, 1952), na qual destacou o seguinte:
In terms of strict constitutional idiom, the future of units attaining self-government can be expressed either as complete autonomy, or as autonomy only in their internal affairs. It would be polite, even were it not also politic, to let them know now which of these alternatives we propose for them.
ii Devido a falta de dados acessíveis, isto é assumindo que existam algures, não me foi possível traçar a historia do Biroli-Baranyanka de modo a constatar a legitimidade da informação na carta de Mondlane, i.e., primeiro Africano numa universidade Belga. O que foi possível constatar foi o facto de que em 1949 e 1950 um grupo de ilustres figuras nativas visitou a Bélgica pela primeira vez e que parte dos benefícios foi a educação de vários membros da classe media e jovens na Bélgica (Ruanda-Urundi, 1960). No entanto, esta ausência de suficientes factos históricos sobre Biroli-Baranyanka é do género que “levanta sobrancelhas” pois não pude encontrar um único facto na Internet, na Université catholique de Louvain, ou na St. Anthony’s College at Oxford que corrobora a descrição do Biroli-Baranyanka dada por Mondlane à Herskovits (1957). Os traços que pude achar foram em relação (a) ao facto de um tal Joseph Biroli, um dos dois filhos do chefe Baranyanka (o outro, seu gemio, chamava-se Joseph Ntintendereza), ter co-fundado o Parti Démocrate Chrétien (PDC) que travou lutas renhidas com o partido de Ragwasori, UPRONA (l’Union et du Progres National) (Lemarchand, Rwanda and Burundi, 1970), uma rivaldade herdada do ódio que os Hutus tinham para com o seu pai devido ao favoritismo Belga que este gozou enquanto chefe (Lemarchand, 1996); (b) o facto de que Biroli-Baranyanka teve uma formacao académica na Bélgica, embora a instituicao citada por Lemarchand (1970) seja L’institut universitaire des territorre d'outre-mer, em vez da Universidade de Louvain. Lemarchand tende a exaltar o Joseph Biroli, afirmando que este frequentou Oxford e Harvard, de modo a afirmar a sua superioridade intelectual sobre o seu rival politico Ragwasori. Mondalne, por seu turno, providencia mais detalhes sobre a instituicao em Oxford onde Biroli estava na altura a completar a tese de Ph.D.—St. Anthony College at Oxford—e a natureza de business em Harvard, “ele veio a este pais [Estados Unidos da America] nos principios deste verao para a Harvard University Institute of International Economic and Political Sciences (algo de genero)”.
iii Ruanda-Urundi foi uma suserania Belga de 1916 até 1924, Mandato de Class B da Sociedade das Nacoes desde 1924 até 1945 e depois Territorio das Nacoes Unidas até 1962, quando se tornou nos estados independentes de Rwanda e Burundi (Ruanda-Urundi, 1960). Suserania é um território em que o suserano exerce o seu dominio. Suzerano diz-se do soberano de um Estado com respeito aos de outros Estados que, subsistindo em condições de aparente autonomia, lhe rendem contudo vassalagem ou lhe pagam tributo. (veja o “Dicionario Priberam da Lingua Porguesa”).
iv Parte da minha pressuposição extende-se ao facto de que a associação de Mondlane a Biroli-Baranyanka, como Cristao e com a democracia (Americana) como linha política, reflete-se também na fé que Mondlane mais tarde pós nos Reverendos Urias Simango, apesar de mais tarde ter suspeitado o mesmo de ambição de poder, e Mateus Ngwengere, apesar deste ter sido uma espinha na carreira política de Mondlane (Manghezi, 1999). Ned Munger expressa que Mondlane foi fortemente influenciado pelo Ocidente e pelo Cristianismo e Luís Serapião argumenta que Mondlane era nacionalista que manteve laços fortes com o Ocidente (1985). Mondlane, incidentalmente, acusava os Angolanos do MPLA de esconderem a sua ligacao espiritual-material com os Estados Unidos por detrás dum “anti-Americanismo” (Manghezi, 1999). Segundo o mesmo, esta posição da FRELIMO só mudou depois do “Bando de Argel” (McGowan, 1979) ter influenciado a política da FRELIMO ao anti-Ocidente, a favor do Marxismo-Leninismo. 
SOBRE O AUTOR
José Cossa (colaboração), é um estudioso moçambicano residente em Syracasa, Nova Iorque, nos Estados Unidos. É Ph.D em Educação Comparativa e Internacional, autor do livro Power, Politics, and higher Education in Southern Africa: International Regimes, Local Governments, and Education Autonomy, e do livro African Renaissance and Higher Education: A view through the Lenses of Christian Higher Education e autor de várias obras académicas/científicas, técnicas e jornalísticas. Foi docente de Metodologias de Investigação e docente de liderança organizacional na Loyola Univesity Chicago e na Dominican University em Chicago, docente de educação comparativa internacional na Colgate University, consultor da National Center for Women and Information Technology e consultor do Banco Mundial.
  • José Cossa – colaboração
In: Maputo, Quarta-Feira, 24 de Outubro de 2012:: Notícias

MALI: CONVULSÕES QUE AMEAÇAM HERANÇA CULTURAL DA HUMANIDADE


MALI: CONVULSÕES QUE AMEAÇAM HERANÇA CULTURAL DA HUMANIDADE


O CONFLITO militar que alastra no Mali, com os islamitas a dominarem actualmente dois terços do país, está a ameaçar todo um trabalho que estava a ser feito e que tinha por principal objectivo preservar uma preciosa herança histórica, num esforço que contava com o apoio de diversas organizações internacionais ligadas à cultura.

Na cidade de Tombuctu, nas imediações do deserto do Sahara, indiferentes aos perigos da guerra, que a rodeiam um pouco por todos os lados, um grupo de jovens entusiastas tem dado repetidos exemplos de como um determinado objectivo, neste caso a defesa de preciosos valores culturais, pode contribuir para unir aquilo que a intolerância política tenta separar.
Esse grupo de jovens, na sua esmagadora maioria islamitas, juntamente com alguns tuaregues, desenvolvem um aturado trabalho para recuperar, neste caso concreto, manuscritos árabes do século XII, com tópicos referentes a estudos que vão desde a origem do Islão à Filosofia, passando pela Matemática e Astronomia.
Este ano, devido às convulsões que afectam aquela região, não se realizou o famoso Festival Internacional de Tombuctu, que costuma reunir estudiosos do islamismo provenientes de diversas partes do mundo.
Mas, mesmo sem esta actividade, os jovens e especialistas locais resolveram intensificar os seus esforços de preservação da herança cultural, ao mesmo tempo que não hesitaram em lançar apelos ao fim das divisões étnicas e religiosas que estiveram na origem do golpe de Estado que dividiu o país.
Esta cidade funciona como uma espécie de oásis, no meio de um imenso deserto de ideias, onde a intolerância, evidenciada por radicais salafistas, faz com que muitos forasteiros receiem visitá-la, com medo de serem apanhados no meio de um qualquer fogo cruzado.
Essa intolerância já se fez mesmo sentir no interior da cidade, onde algumas tumbas de antigos lideres islâmicos locais acabaram por ser destruídas, sob o argumento de que estavam a “adulterar” a mensagem que os novos líderes querem fazer passar. Algumas livrarias, que guardavam manuscritos já recuperados, tiveram de fechar as suas portas sob o risco de serem vandalizadas e mesmo queimadas.
Este exemplo de patriotismo dado pelos jovens anónimos, que tentam preservar essa herança, com o apoio de organizações internacionais que não reivindicam qualquer tipo de protagonismo, por estarem a ajudar uma causa que se destina a preservar os valores culturais de toda a humanidade, pode servir de guia para os renovados esforços que a União Africana pretende fazer para a resolução do problema do Mali.
Aquilo que inicialmente era um movimento reivindicativo desencadeado por grupos tuaregues que exigiam para as suas regiões o mesmo tipo de tratamento que o governo da altura dispensava a todo o país, rapidamente se transformou num golpe de Estado que colocou o Mali a beira de uma guerra civil.
O Mali, eventualmente por não possuir grandes riquezas e potencialidades naturais, tem sido um país esquecido pela comunidade política internacional, até no que respeita a defesa dos valores existentes na cidade de Tombuctu. Recentemente, o governador Halle Ousmane, viu recusado pela UNESCO um pedido no sentido de ser garantidas as condições que pudessem viabilizar a evacuação da cidade de alguns manuscritos já recuperados, de modo a evitar a sua destruição.
Essa recusa, dada após uma consulta com as autoridades do Mali, fazem aumentar as suspeitas de que o actual líder do país, Ansar Dine, está a projectar a venda de alguns desses tesouros históricos para fazer face à falta de verbas para manter o seu governo.
O próprio director do Museu Nacional do Mali, Samuel Sidibe, através da Cruz Vermelha Internacional, lançou já um apelo denunciando o facto da sua instituição estar, aos poucos, a ser despojada de algum do seu espólio para posterior venda, pelo governo, no mercado internacional.
O continente africano, ainda a braços com os mais diversos tipos de problemas, não pode permitir ver-se despojado da sua própria herança histórica, seja porque razão for, e muito menos se ela servir para alimentar poderes que se impõem pela lei da bala. A União Africana, que acaba de declarar a decisão de se empenhar mais profundamente na busca de uma solução para o problema do Mali, deve encarar, com a devida urgência, a necessidade de preservar os valores culturais de todo o continente, assumindo o facto de que um país sem historia é um país sem futuro.
Independentemente das disputas políticas que muitas vezes apenas servem para dividir nações, os valores culturais, na sua plenitude, são aqueles que deveriam ser usados para unir povos que se revejam nas respectivas histórias e heranças, de modo a salvaguardarem as suas identidades e assim melhor estar preparados para os desafios do futuro.
Aos poucos, de forma silenciosamente criminosa, o povo do Mali está a ser despojado da sua história, correndo o risco de ficar sem referencias de um passado que deveria servir de exemplo para os jovens projectarem o futuro.
E isso não serve a ninguém. Nem aos novos senhores do poder. Mas, isso eles fingem não saber.

Maputo, Quarta-Feira, 24 de Outubro de 2012:: Notícias


22 outubro 2012

HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE: TRAUMA E FUSTRAÇÃO


HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE: TRAUMA E FUSTRAÇÃO


Aula Magna, com Carlos Fico, na PUC-RS, em 13 de março de 2012, sobre História do Tempo Presente: trauma e frustração. 






Cultura Afro-brasileira: um novo sopro à história da África

Cultura Afro-brasileira: um novo sopro à história da África

O vídeo no link abaixo traz a apresentação de Jean-Michel Mabeko Tali, historiador e membro do Comitê Científico Internacional da UNESCO para o Uso Pedagógico da Coleção História Geral da África. Sua palestra “Cultura Afro-brasileira: um novo sopro à história da África”, ocorreu durante a cerimônia de lançamento da Coleção História Geral da África em português, em São Paulo, em 6 de abril de 2011.
O vídeo faz parte da série "Debates e perspectivas para a institucionalização da Lei no 10.639/2003", desenvolvida pelo Programa Brasil-África: História Cruzadas, tem como objetivo divulgar as contribuições realizadas pela UNESCO para implementar e institucionalizar a Lei no 10.639, de 2003. A série se inicia com as discussões desenvolvidas no decorrer dos eventos de lançamento da edição em português da Coleção História Geral da África da UNESCO, realizados no primeiro semestre de 2011.Assista:

COMEÇOU A CONFRONTAÇÃO OU SIMPLESMENTE É UMA ESTRATÉGIA BASEADA NA PRESSÃO?


COMEÇOU A CONFRONTAÇÃO OU SIMPLESMENTE É UMA ESTRATÉGIA BASEADA NA PRESSÃO?

- Onde está o diálogo construtivo?
- Onde encontrar moderação num diálogo de “surdos e mudos”?

Beira (Canalmoz) - O dia em que se assinala a morte em combate de André Matsangaice foi marcado pela deslocação do líder da Renamo para as matas de Gorogosa e a remoção da estátua do primeiro presidente da Renamo, André Matsangaice, na Beira.
Moçambique, país que recentemente comemorou 20 anos da assinatura do Acordo de Paz de Roma parece encaminhar-se para uma incerteza quanto ao seu futuro político.
Uma situação que bem se pode caracterizar de um acumular de vantagens por parte de um dos signatários do acima citado acordo está paulatinamente empurrando o outro para o desespero político. Com um número considerável de ex-guerrilheiros desmobilizados e não socialmente reintegrados, sobre a pressão sobre a liderança da Renamo para que se encontre uma resposta às preocupações de milhares de pessoas que praticamente vegetam no país.
O regresso ao discurso duro e incisivo da liderança da Renamo não é um facto novo mas em abono da verdade é preocupante.
Será que os ex-guerrilheiros estão encostando seu líder à parede?
Da capital, Maputo, não há reacção. Será que o silêncio foi eleito estratégia a seguir? Ou tudo faz parte de uma avaliação mais abrangente que pretende encurralar o líder e eventualmente adoptar-se uma solução como a angolana? O tempo não é para vaticínios mas para a tomada de medidas sérias que preservem a paz e a estabilidade no país.
Quando uma parte de um acordo como ao de Roma se manifesta contrária ao status e procura trazer dossiers que considera mal parados e conduzidos há razão para que os moçambicanos se preocupem. Os que verifica neste momento é uma aparente ausência de estratégia entre interlocutores militarizados que podem fazer a paz entra em derrapagem.
Convém que as autoridades governamentais, os partidos políticos, especialmente a Frelimo e a Renamo não cometam a asneira de desprezar o potencial de violência que está refém de uma abordagem sem tabus nem secretismos.
Não queremos vaticinar um desfecho inapropriado ou perigoso para actual situação que se desenvolve no país.
O comodismo, o silêncio, recurso a estratégias obscuras, avaliações erróneas podem levar este barco que é Moçambique, a um “porto muito mau”.
Há como que uma tendência de regresso a cenários dantescos. Há’ forças sinistras procurando colocar seus interesses acima de tudo.
É processo democrático que está sendo colocado em risco e isso pode muito bem ser estratégia de alguns moçambicanos.
Se não há paz nem segurança não haverá eleições, ou não é essa a lógica?
Existem razões para desconfiar de tanta teimosia entre pessoas que até se conhecem. Porque não se sentam e discutem de uma vez por todas todos os assuntos? Será tão complicado criar condições para um diálogo construtivo?
Poderá ser que Maputo espera que a Renamo e o seu líder recebam condenação internacional por esta acção de aquartelar militares e depois partir para uma acção mais vigorosa de algum tipo. Pode também ser o caso de uma surpresa que apanhou o governo de Maputo com as “calças na mão”. Esperavam tudo mas não o que Dhlakama fez.
Qual será o caminho a seguir? Atendendo a experiência de encontros anteriores, entre Guebuza e Dhlakama, que até aqui nada produziu de concreto é óbvio que os cidadãos desconfiem tanto da postura como dos interesses que movem estes dois líderes.
A diplomacia internacional, nomeadamente a Comunidade de Santo Egídio, patrocinadora do Acordo de Roma, parece relativamente distraída e não estando a fazer as leituras pertinentes em relação à evolução da situação no terreno. De uma maneira até certo ponto habitual o circuito diplomático em Maputo multiplica-se em encontros, conferências, visitas, banquetes e comemorações mesmo que não ignore que a situação da maioria dos moçambicanos é precária.
Numa altura de escassez de recursos financeiros altamente condicionada pela crise financeira internacional a preocupação de muitos governos é verem suas companhias ganhando concursos de exploração de recursos naturais em Moçambique.
A guerra do passado parece esquecida e após tentativas de relativo sucesso de solução na Guiné-Bissau e em Angola, pode haver aqueles que pensem e considerem que a questão moçambicana, o “caso Renamo”, também se pode resolver de maneira similar. A eliminação física de opositores não traz a paz nem a estabilidade desejada e necessária. Só produz adiamentos, vinganças, instabilidade e intolerância.
Não podemos ficar sossegados quando os responsáveis políticos se recusam a dialogar de maneira efectiva e trazendo resultados que demonstram cometimento sério para com a paz e estabilidade no país.
Com o PR ausente, na Europa, em Maputo para que ninguém está autorizado a falar. Há um vazio perigoso no poder e esta paralisia, a falta evidente de iniciativa pela parte do governo é indicativo de ausência de uma estratégia consequente.
Se durante algum tempo os moçambicanos acreditavam que a intenção de diálogo entre Guebuza e Dhlakama era bem-vinda, o seu resultado demonstra que os políticos continuam enganando-se e perigando a paz.
Se na Costa do Marfim, Quénia, Zimbabwe, RDC rebentaram conflitos por razões distintas mas similares quem nos garante de que a pobreza estratégica de políticos moçambicanos, o emaranhando de seus interesses privados não nos coloque na rota da guerra?
Agora é altura dos “diplomatas natos” como Joaquim Chissano mostrarem o seu peso e influência entre portas. Queremos a paz e exigimos que o governo e a Renamo se coloquem à disposição do diálogo. Não vai ser o poder militar das FADM ou da FIR que vão resolver os dossier reivindicados pela Renamo.
Fugir ao diálogo, para além do potencial de provocar uma nova guerra pode significar a paragem de todo um processo democrático, interromper o ciclo eleitoral periódico e criar condições para a declaração de estado sítio, limitação das liberdades democráticas e todo um cenário inimaginável. Não queremos nada disso e nem queremos que as eleições presidências de 2014 não se realizem. Não queremos uma situação como a angolana se repetindo em Moçambique
Acreditamos que há senso e sentido de responsabilidade que vão vencer egoísmos exacerbados a bem da nação… (Noé Nhantumbo- CanalMoz- 22/10/2012)


21 outubro 2012

PROJECTO PARA CRIAÇÃO DO CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA ORAL E CIÊNCIAS SOCIAIS (BEIRA, MOÇAMBIQUE)


PROJECTO PARA CRIAÇÃO DO CENTRO DE PESQUISA E  DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA ORAL E CIÊNCIAS SOCIAIS  (BEIRA, MOÇAMBIQUE)


POR SILVA ARMANDO DUNDURO


RESUMO
A presente dissertação tem como objetivo central propor a criação do Centro de Pesquisa e Documentação de História Oral e Ciencias Sociais na cidade da Beira, em  Moçambique. Pretende-se, com o Centro, promover projetos que possibilitem a  constituição de acervos de caráter histórico e documental, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da pesquisa acadêmica e para a valorização da história e da cultura  Moçambicanas.
O Centro terá como principal ferramenta metodológica de pesquisa a história oral. O acervo a ser constituído no contexto de distintos projetos resultará, portanto, de entrevistas gravadas com atores de diferentes extratos sociais, todos eles participantes diretos de eventos relevantes da história recente de Moçambique. Essas entrevistas deverão estar disponíveis, no Centro, juntamente com outros tipos de fontes, coletadas e organizadas com o objetivo de constituir um centro  de referência sobre a história
contemporanea do país.
Toda a atividade do Centro será acompanhada de projetos de qualificação de  equipes. Neste sentido, o Centro terá de lidar com dois importantes campos: a pesquisa, produção, preservação e difusão de fontes para a história contemporânea; e o apoio  didático-pedagógico aos diversos níveis do processo de aprendizagem.
Palavras-Chave: Moçambique; história contemporânea; história oral; fontes históricas.

Clica no link para ver o texto integral:

FUNDO DE RIQUEZA DE ANGOLA DIRIGIDO PELO FILHO DO PRESIDENTE


FUNDO DE RIQUEZA  DE ANGOLA DIRIGIDO PELO  FILHO DO PRESIDENTE
José Filomeno de Sousa dos Santos, filho do actual presidente de Angola, José Eduardo dos Santos

Angola, o segundo maior produtor de petróleo da África, tornou-se o mais recente país do continente a lançar um fundo soberano.
Angola vai se juntar a um clube de elite de ricos em recursos no conjunto das nações africanas como Nigéria, Guiné Equatorial e  Gabão.
Inaugurada esta semana na capital Luanda, o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) se comprometeu a aderir aos padrões internacionais de transparência, incluindo os princípios geralmente aceites e práticas, ou "princípios de Santiago", definidas pelo grupo de trabalho internacional de fundos soberanos.
Mas, apesar dessas garantias - e uma campanha de relações públicas que apoia o lançamento - ainda restam dúvidas sobre o fundo, especialmente em relação à decisão de nomear José Filomeno de Sousa dos Santos, filho do Presidente José Eduardo dos Santos, para o seu conselho. Também há dúvidas sobre como o dinheiro vai ser gerido.
Com ponto de partida o fundo conta com  activos de  5 bilhões de dólares  que visa financiamento interno e de projetos internacionais.
A idéia é direcionar uma parcela autonomizada das receitas petrolíferas de Angola, o equivalente a 100 000 barris de petróleo por dia, em mercados financeiros globais para construir uma parcela de poupança para o futuro.
Este fundo representa um programa de investimento estratégico nacional para estimular a economia do país, que, apesar do crescimento do pós-guerra impressionante, permanece dependente do petróleo e extremamente vulnerável a choques de preços globais. O petróleo responde por 98% das exportações e 40% do produto interno bruto.

Diversificação económica
O foco será dado ao turismo e infra-estrutura, considerada como duas áreas-chave para a criação de emprego e a diversificação económica.
Uma número estimado em dois terços dos angolanos vivem na pobreza e o país tem uma das maiores taxas de mortalidade infantil no mundo.
O presidente do conselho de administração do fundo de Administração, Armando Manuel, que também é o secretário de assuntos econômicos  reconheceu os desafios do desenvolvimento de Angola e disse que o fundo estará comprometido em  ganhar dinheiro e investi-lo para o povo angolano.
"Angola é rica em recursos naturais, mas entendemos que estes são finitos e por isso é imperativo que a riqueza que eles geram seja usado para apoiar o desenvolvimento social e económico do país", disse Manuel.
O fundo é, na verdade, uma versão nova marca do Fundo Petrolífero que criado formado por um decreto presidencial em março de 2011.
Este fundo foi criado anteriormente para receber a receita equivalente a 100 000 barris por dia, para investimento em um projeto de água e desenvolvimento de electricidade.  Dezoito meses mais tarde, o fundo tem um novo nome e logotipo, com sede própria em Luanda, enfeitada com matérias-seda de papel de parede, mobiliário de design e uma escada em espiral de vidro, e com disponiblidade de 5 bilhões dolares em ativos prontos para o investimento.

Cultura de transparência
O principal partido da oposição de Angola, a Unita, acolheu a idéia de investir as receitas petrolíferas em vez de gastá-los, mas o porta-voz Alcides Sakala disse que havia preocupações sobre a forma como o dinheiro seria administrado.
"Angola não tem um bom registro para administrar o dinheiro público e não há uma cultura de transparência, então nós temos nossas reservas sobre como esse fundo será supervisionado", disse ele.
"Precisamos saber os detalhes de como isso vai funcionar e se os membros do Parlamento devem fazer parte de um debate sobre uma instituição importante como esta."
Transparência, responsabilidade, compromisso e integridade são citados como quatro valores fundamentais do fundo e o objetivo é ganhar uma avaliação do índice de transparência Linaburg-Maduell, Instituto que avalia o fundo soberano.
Dos Santos Jr, que já trabalhou na Glencore, multinacional anglo-suíça de negociação de commodities  e empresa de mineração, até agora tem se mantido longe dos olhos do público. Mas ele rebateu afirmações de que ele tinha garantido o seu trabalho através de vínculos familiares e influência.
Ele disse ao Mail & Guardian : "Estou aqui por conta própria, obviamente, que já  ouvi esses comentários e compreendo de onde eles vêm.

Progressão

"A minha vida profissional, o facto de ter me envolvido em negócios no sector dos seguros e bancário e fazendo coisas muito semelhantes ao que se pretende no fundo, então vejo isso mais como uma progressão que uma consequência de ser filho de um presidente. "
Detalhes sobre como o fundo funcionará continuam incompletas porque o quadro legal final ainda está para ser ratificado, mas de acordo com a documentos preliminares vai priorizar investimentos nos setores de infra-estrutura e turismo.
Há também uma forte ênfase no desenvolvimento social sob slogans como "crescimento para o nosso futuro" semelhante a promessa do MPLA nas últimas eleições  "cada vez mais para distribuir melhor".
Embora o presidente dite as políticas de investimento, o presidente do conselho será o signatário final para o fundo, que é supervisionado por um conselho consultivo composto por vários ministros do governo.

Louise Redvers viajou para Luanda como convidado do Fundo Soberano de Angola, FSDEA.

Nota do blog: Porquê é que filho do presidente tem que fazer parte na gestão deste fundo? Angola não possui quadros capazes?


“É DANDO QUE SE RECEBE”: A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS E O NEGÓCIO DA FÉ EM MOÇAMBIQUE


“É DANDO QUE SE RECEBE”:  A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS E O  NEGÓCIO DA FÉ EM MOÇAMBIQUE

POR DOWYVAN GABRIEL GASPAR

Inaugurado em março de 2011, o Cenáculo da Fé, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), em Maputo, fica na avenida 24 de julho, 3.108, esquina com avenida Mohamed Siad Barre.


RESUMO
Este trabalho visa compreender a presença e métodos de  ação da Igreja Universal do Reino de Deus em Maputo, Moçambique. Destaca-se sua história em contexto marcado por uma pluralidade étnico/religiosa, aspectos teológicos e sobretudo a aproximação entre a “Economia e a Religião”, operada pela IURD, sustentada na chamada “Teologia da Prosperidade”. A dissertação procura, de um
lado, relacionar o perfil social dos crentes com sua atuação indicando métodos de proselitismo e arrecadação de recursos financeiros, e de outro, a busca de prosperidade financeira ainda nesta vida. 

Clica no link abaixo para ver o texto integral:

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O ESTADO EM MOÇAMBIQUE


REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O ESTADO EM MOÇAMBIQUE


Por Gabriel Mithá Ribeiro

Este texto apresenta os resultados preliminares de uma pesquisa ainda em curso sobre a dimensão política do pensamento social em Moçambique. Com base num estudo de caso na cidade de Tete, o texto analisa (e problematiza) as condições de validação e de pertinência dos pressupostos teóricos adoptados no estudo do pensamento social sobre o «político», naquele contexto social. Com efeito, são levantadas diversas questões teóricas e metodológicas destinadas a suscitar debate académico e contribuir para o aprofundamento das problemáticas relacionadas com o estudo da «dimensão subjectiva» da política, tal como os comportamentos e práticas sociais que lhes são associadas.
Clica  no link para ver o texto completo:

MITHÁ RIBEIRO, GABRIEL – “É PENA SERES MULATO!”: ENSAIO SOBRE RELAÇÕES RACIAIS. CADERNOS DE ESTUDOS AFRICANOS. LISBOA. ISSN 1645-3794. 23 (2012) 21-51.

MITHÁ RIBEIRO, GABRIEL – “É PENA SERES MULATO!”: ENSAIO SOBRE RELAÇÕES RACIAIS. CADERNOS DE ESTUDOS AFRICANOS. LISBOA. ISSN 1645-3794. 23 (2012) 21-51.

RESUMO
O texto analisa a racialização da sociedade moçambicana em torno das demarcações entre a esmagadora maioria negra e a minoria mestiça/“mulata”. O fenómeno social oscila entre a aceitação mútua (carga neutra) e a elaboração de estereótipos depreciativos também mútuos (carga negativa). Dos estereótipos dos “mulatos” – objecto da análise – destacam-se o de serem “filhos de uma quinhenta” (período colonial); “mulato não tem bandeira” (gerado na conjuntura de transição para a independência em 1974-1975); e “mulato ou é mecânico ou é ladrão” (gerado na transição do monopartidarismo e da guerra para a paz e o multipartidarismo na primeira metade da década de noventa). A instrumentalização simbólica da minoria “mulata” tem servido para domesticar ansiedades colectivas da população negra. 

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