CONCP, A SOLIDARIEDADE ENTRE IRMÃOS
A CONCP, Conferência
das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, quando se criara,
assentava em organizações nacionais e visava coordenar, em particular, a
acção diplomática. A sua criação, em 1960 em Rabat, no Marrocos, deu maior
projecção à nossa causa comum de libertação nacional. Numerosos países e
organizações da África, da Ásia e do Leste da Europa assistiram à criação da CONCP.
De Angola participou como
fundador o MPLA. Elegeu-se para Presidente Mário Pinto de Andrade,
que dirigia o MPLA. Agostinho Neto, na altura sem qualquer
julgamento detido pela PIDE e deportado para Cabo Verde, não
ocupava posições nos órgãos de direcção do MPLA, embora a
organização o houvesse designadoPresidente de Honra. Marcelino dos
Santos representou aUDENAMO e elegeram-no Secretário-Geral
da CONCP. No número 6 da Rua Paul Tirard, em Rabat,
instalou-se a sede da CONCP, que aí funcionou até 1965, altura em
que se mudou para a Argélia.
O Governo Marroquino, o
Rei Mohamed V, o Ministro para Assuntos Africanos, Dr. Abdel Remane Khatibe e o
poeta e Ministro da DefesaAhardane, apoiaram a CONCP, ofereceram o
seu país para o treino dos combatentes do PAIGC e do MPLA.
O Grupo de Casablancaque integrava os Estados mais progressistas do
continente e que reconheciam o GPRA, Governo Provisório da
República Argelina. O Gana, a Guiné (C), o Mali, o Egipto, o Marrocos e o GPRA integravam
o grupo.
A II Conferência
da CONCP realizou-se em Dar Es Salaam em 1965, onde se elegeu Mondlane
como Presidente, em substituição de Mário de Andrade. Samora substituiu
Mondlane depois da sua morte.
A CONCP progressivamente
se esvaiu. A tarefa essencial para os três movimentos tornara-se a luta armada
de libertação nacional, e a cooperação nesse campo não podia existir, para além
de trocas de experiências. A CONCP garantiu, porém, uma
coordenação política e diplomática entre os partidos, que se mostrou de grande
importância em momentos críticos.
A CONCP desempenhou
um papel positivo para uma intervenção coordenada na arena internacional. A Conferência
Internacional de Roma, em 1970, e o encontro com Sua Santidade Paulo VI o
demonstram isso e uma das missões mais importantes que se levou a cabo no plano
externo. A retirada do reconhecimento daOUA ao GRAE, o
apoio para que a independência da Guiné (B) triunfasse na arena internacional
devem-se situar entre os grandes sucessos alcançados pela CONCP, de
par com a concertação e frente comum para que se proclamasse a independência de
Angola, e Luanda ganhasse o seu assento legítimo na OUA em
1976. A CONCP bateu-se pela causa timorense, quando só havia
as nossas vozes a clamarem no deserto.
Durante a luta de
libertação entre a FRELIMO e o MPLA assegurou-se
algum apoio mútuo na frente militar, sobretudo no concernente a suprimentos
pontuais no campo da logística, pois que isso se tornava exequível entre a Frente
Leste de Angola e a Frente de Tete em Moçambique,
dado que o desdobramento dos fornecimentos ocorria na Zâmbia. Delegações da FRELIMO visitaram
Angola e as do MPLAMoçambique. O Presidente Neto visitou
Nachingweia, coube-me, a mim, e ao camarada Munhepe a alegria e grande honra de
o acompanhar durante a visita. O MPLA esteve representado no
nosso II Congresso.
Em 1975, para assegurar a
independência a CONCP, através dos Governos de Moçambique,
Guiné-Bissau e Cabo-Verde desempenhou um papel de grande relevo. Numa primeira
fase tropas da Guiné (B), a que se juntaram as da Guiné (C) e do Congo (B),
partiram para Angola para assegurar a defesa da faixa a sul de Luanda, ameaçada
pela invasão sul-africana. Para a faixa Norte, onde a ameaça partia das forças
de Mobutu, do FLNA e dos mercenários, Moçambique despachou
todos os seus BM 21 e aviões de transporte, os NORD
ATLAS, assim como meios adicionais de artilharia e munições. Estes meios
mostraram-se importantes para a derrota em Quinfangondo da invasão conjunta do FLNA,
Zaire e mercenários.
Na Ponta Vermelha,
a 9 de Novembro de 1975, reuniram-se os Presidentes Samora, Neto, Luís Cabral e
Pinto da Costa. Aristides Pereira, de Cabo Verde, chegou mais tarde, a 10, pois
o Zaire de Mobutu havia interditado o sobrevoo do seu espaço aéreo. Isto não
impediu Cabo Verde de se solidarizar a 100% com o posicionamento comum.
Na noite de 11, todos
ouvimos, pela Rádio Moçambique em directo, na Ponta Vermelha, o Presidente Neto
proclamar a independência angolana. Aristides Pereira e Xavier Amaral estavam
presentes.
Os dirigentes presentes
em Maputo confirmaram o seu apoio para que a 11 de Novembro, o MPLA proclamasse
a independência em Luanda e Samora encarregou Marcelino de acompanhar Neto a
Luanda no dia 9 e só regressar após proclamada a independência, transmitindo de
imediato o nosso reconhecimento da República Popular de Angola.
Aos camaradas que iam
para Angola, incluindo os voluntários nesse momento crítico e, isso também me
deu como ordem, Samora disse:
Cumpram
a tarefa. Em Moçambique dispomos de muita terra para fazermos monumentos, em
Angola, não têm terra para recuar!
Um abraço à valorização
da nossa tradição internacionalista,
Sérgio Vieira
JORNAL DOMINGO –
15.09.2013
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