Luís Bernardo Honwana |
O LIVRO “Nós
Matamos o Cão Tinhoso” serviu como fonte de inspiração para uma geração de
escritores que mudou a dinâmica da literatura moçambicana, passando, por isso,
a ser visto como um milagre na forma de retratar os fenómenos. Este
posicionamento justifica-se pelo facto de a obra, cuja primeira edição foi
lançada em 1964, ser apontada como aquela que inaugurou uma forma de escrever
alinhada e com uma postura de afronta directa as situações que ocorriam no
período colonial.
Para
celebrar os 50 anos do livro, a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) juntou
segunda-feira contemporâneos de Luís Bernardo Honwana, o autor do livro,
académicos, estudantes e leitores para lançar mais uma edição da obra, banida
pelo regime colonial.
Para a
Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), através do seu secretário-geral,
Ungulani Ba Ka Khosa, a celebração dos 50 anos desta obra não pode ser vista
apenas como uma comemoração, mas um reconhecimento pela sua grande contribuição
na literatura moçambicana.
“O livro não
pode ser abandonado e todos temos que fazer para que ele esteja presente em
todos as locais para que esteja acessível a todos os cidadãos nacionais e não
só”, disse.
No evento
organizado pela UEM figuras como Rui Baltazar, Mário Machungo, Álvaro Carmo
Vaz, Mota Lopes e os jovens Albino Macuacua e Osvaldo das Neves deram o seu
testemunho sobre a sua relação com este livro.
Na sua
alocução, Rui Baltazar, que já foi reitor da UEM, disse que “Nós Matamos o Cão
Tinhoso” ilustra dois milagres na história da literatura nacional, primeiro por
ter sido escrita por um jovem e, segundo por se ter tornado um marco da
literatura moçambicana e africana em geral.
Para Rui
Baltazar, o autor deste livro, Luís Bernardo Honwana, passou a representar para
Moçambique o que Cervantes representa para a Espanha, dada a qualidade da
escrita, que se mantém actual 50 anos depois da sua criação.
Acrescentou
que este livro não inspirou apenas aos jovens escritores moçambicanos, mas
também há muitos das então colonias portuguesas, tal é o caso de Ondjaki,
escritor angolano que escreveu “Nós Choramos o Cão Tinhoso”.
“O livro
conseguiu aquilo que o mapa cor-de-rosa não conseguiu fazer, unir povos e
gerações diferentes”, concluiu Rui Baltazar, acrescentando que o seu autor é um
genuíno herói da cultura e da luta de libertação colonial.
Livro
inspirou estudantes nacionais na “metrópole”
Para o
antigo primeiro-ministro, Mário Machungo, “Nós Matamos o Cão Tinhoso” veio
inspirar e motivar os estudantes moçambicanos em Lisboa e estes sentiram-se
revigorados a defenderem os ideiais nacionalistas.
Machungo é
de opinião que em 1964, quando foi lançada a primeira edição do livro, os
moçambicanos e não só, sobretudo os jovens, conseguiram recuperar a sua
dignidade e defenderem os seus interesses de manter digna a sua
moçambicanidade.
Exemplo
disso, segundo Mário Machungo, é que a obra foi banida pelo regime colonial e o
seu autor preso por um período de três anos sob suspeitas de envolvimento com a
Frente de Libertação de Moçambique.
“Somos
contemporâneos do autor deste livro e o nosso testemunho deve-se ao facto de
termos testemunhado as injustiças que marcaram a época em que o livro foi
escrito. Saudar a inspiração do Luís e afirmar que a obra contínua actual”,
afirmou Mário Machungo.
A cerimónia
contou com intervenções dos professores Álvaro Carmo Vaz, que também apresentou
o testemunho do engenheiro Eugénio Lisboa e de Mota Lopes que contaram que
parte do livro foi discutida na sala de aulas onde estudaram no tempo colonial.
Orgulho me
da autoria desta importante obra
Nós matamos o cão tinhoso |
No entanto,
para Luís Bernardo Honwana, a diversidade de faixas etárias, estratos sociais no
testemunho do livro mostra a importância que ele representa na história e a sua
longevidade é justificada pelo interesse que a obra representa.
“Orgulho me
da autoria do livro e reconheço a importância que muitos aqui presentes tiveram
na sua valorização. Reconheço me também devedor de todos os colegas escritores
que têm feito muito ainda pela literatura moçambicana”, disse Honwana.
Para Honwana
a importância do livro também mede-se pelo esforço feito pela Associação dos
Escritores Moçambicanos e pela UEM que decidiram dar vida a este livro que,
segundo testemunhos, foi fonte de inspiração no contexto da literatura e da
cultura moçambicana.
ALCIDES TAMELE In: Notícias, Quarta, 03 Setembro 2014
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