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Caros amigos o blog Historiando: debates e ideias visa promover debates em torno de vários domínios de História do mundo em geral e de África e Moçambique em particular. Consta no blog variados documentos históricos como filmes, documentários, extractos de entrevistas e variedades de documentos escritos que permitirá reflectir sobre várias temáticas tendo em conta a temporalidade histórica dos diferentes espaços. O desafio que proponho é despolitizar e descolonizar certas práticas historiográficas de carácter eurocêntrico, moderno e ocidental. Os diferentes conteúdos aqui expostos não constituem dados acabados ou absolutos, eles estão sujeitos a reinterpretação, por isso que os vossos comentários, críticas e sugestões serão considerados com muito carinho. Pode ouvir o blog via ReadSpeaker que consta no início de cada conteúdo postado.

04 dezembro 2012

MEMÓRIAS - “DE TODOS SE FAZ UM PAÍS”: A RECONSTRUÇÃO DE UMA ERA SEGUNDO ÓSCAR MONTEIRO


MEMÓRIAS - “DE TODOS SE FAZ UM PAÍS”: A RECONSTRUÇÃO DE UMA ERA SEGUNDO ÓSCAR MONTEIRO


A HISTÓRIA de um país é escrita por todos os seus sujeitos, contribuintes conscientes ou inconscientes do rumo que o seu tempo toma. Esta premissa não se cinge apenas à ciência que testemunha as acções do homem na sua passagem pela Terra, por poder aplicar-se a tudo quanto tenha a ver com os demais aspectos da construção da nação.

O veterano da luta de libertação nacional Óscar Monteiro, que, tal como começa a acontecer com muitos militantes do movimento que conduziu a luta pela afirmação de Moçambique como nação, apresenta o seu testemunho sobre o processo que levou à definição e construção do nosso país.
O testemunho de Óscar Monteiro é feito precisamente através do livro “De Todos se Faz um País”, que será lançado amanhã em Maputo pela Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). Nesta obra, que consiste essencialmente em memórias do autor sobre uma era peculiar na busca da liberdade e de um rumo para o país, Monteiro aborda ainda a sua colaboração – e a da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), movimento em que militou activamente – na busca da liberdade também para outros países, como África do Sul e a Namíbia.
De origem goesa – a Índia portuguesa, como era chamada Goa em tempos de Portugal imperial -, José Óscar Monteiro é filho de um emigrante que se veio fixar à actual cidade de Maputo, onde nasceu o autor do livro a que nos referimos em 1941. Os contornos do colonialismo levaram-no à uma consciência nacionalista activa, que nos primeiros anos da sua juventude já era marca em muitos homens e mulheres da sua geração.
Óscar Monteiro, membro activo da Frelimo mesmo depois da independência nacional, vincou a sua trajectória nacionalista principalmente a partir dos seus tempos de estudante de Direito em Coimbra, Portugal. Com a consciência contestatária que naquela universidade portuguesa se construía na camada estudantil, adicionada às vivências e à realidade no seu país, este militante da Frelimo, jurista e professor de Direito, foi trocando impressões com outros jovens com quem partilhava ideais ou tinham as suas pátrias a viverem as anomalias ditadas pelo sistema colonial.
Pelo papel activo e consciente em acções anti-coloniais, Óscar Monteiro deixou Portugal e seguiu para outras paragens, tendo inclusive se tornado em representante da FRELIMO na Argélia, país que se destacou na preparação de guerrilheiros que viriam a desencadear a luta armada no terreno. No quadro das suas acções, recebeu naquele país do norte de África vários compatriotas e cidadãos de outros países que tinham também a necessidade de independência. Com o desenrolar da guerra e, ante os sinais já evidentes de que militarmente os portugueses não a ganhariam, teve papel de destaque nas negociações públicas e secretas com as autoridades de Lisboa no âmbito dos Acordos de Lusaka, tendo depois integrado o leque de quadros da FRELIMO no governo de transição que seria constituído no âmbito desse entendimento de 1974 e que duraria até Junho de 1975, quando foi proclamada a independência nacional.
Estes e outros dados testemunhados numa visão que tem o condão de contribuir grandemente para a historiografia nacional são agora partilhados em “De Todos se Faz um País”, livro que será lançado amanhã no Centro de Conferências da empresa Telecomunicações de Moçambique (TDM).

O FUTURO DA MEMÓRIA OU O DEBATE DO FUTURO ATRAVÉS DA MEMÓRIA

A publicação deste depoimento, parte do aglomerado que construiu – e constrói – o nosso país, inaugura a Coleção Memórias (editada pela Associação de Escritores Moçambicanos - AEMO), que, espera-se, seja um espaço no qual o registo histórico desempenha um papel de excitador do debate e da discussão que traz a luz.
E melhor do que arrancar com Óscar Monteiro não poderia haver: Este saboroso texto que inicia na história, passa pela literatura e pela política e desemboca na biografia, denuncia um autor que se consegue mostrar mais alto, maior, alheio à tentação de exaltação do Eu e capaz de contornar a corrupção que a pena exerce sobre quem publica.
Comemorar os 30 anos da AEMO arrancando uma nova coleção e com uma obra a este nível, é uma forma de abrir a janela na qual se mantêm presentes as oportunidades de renovação de mentalidades, ideias, mensagens e pessoas, que não têm, infelizmente, sido aproveitadas pelos cidadãos em serviço por estes dias.
Neste livro, o escriba apropriou-se de protocolos com que alimentamos a ficção e tratou a realidade, através da melhor e mais poderosa arma que o homem sempre teve: A palavra.  E para fechar esse estilo já de per si inédito, contou a sua história através dos outros. É essa virtude que, somando o pouco de cada um que integra o Todos, permite a Óscar Monteiro rasgar ao meio o deserto do mundo.
Oxalá a Coleção Memórias acomode o amor entre Deus e o Diabo e não se afirme exclusivamente como um momento narcisista, corrido, hermético, despido do que nos move como autores: A criação e a recriação da vida.  

Jorge de Oliveira - Secretário-geral da AEMO

Maputo, Quarta-Feira, 5 de Dezembro de 2012:: Notícias


Um comentário:

Anônimo disse...

a que horas sera o lançamento?